terça-feira, 5 de dezembro de 2023

 Quem sou eu? 1 Co 4.1-5 

Introdução

Há três caminhos para a identidade. Primeiro, há aqueles que olham para fora de si, são pessoas tradicionais que se voltam para seu dever e papel na comunidade a fim de achar o seu eu. Alguém me disse recentemente: “Nasci no catolicismo, nele vou morrer”. Segundo, há aqueles que olham para dentro, confia na competição e nas modas passageiras para achar autoestima.

O “eu moderno” é esmagador, depende do êxito, da conquista, do status, do relacionamento amoroso, é levado pelo pensamento da maioria. Qualquer evento que não dê certo, a pessoa perde sua identidade. Já o “eu tradicional” é sufocante, pesado, escravo do que a família ou a religiosidade afirmam.  Tanto o “eu moderno” quanto o “eu tradicional” são na essência inseguros. Correm sempre o risco de dissolução, por serem muito condicionados pelos que os outros pensam e dizem a seu respeito. 

Terceiro, e por fim, há aqueles que não olham nem para fora nem para dentro, mas para cima. Ele diz: “O que me importa não é o que a sociedade diz a meu respeito e nem o que penso de mim mesmo. Mas o que Deus diz e pensa.

1)     Identidade de cima

O apostolo Paulo sintetiza a identidade cristã: “Pouco me importa se sou julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; de fato nem eu julgo a mim mesmo. Minha consciência está limpa, embora isso não me torne inocente. É o Senhor quem me julga” (1 Co 4.3-4). 

Paulo diz: “Não me interessa o que você ou qualquer estrutura social organizada pensa ao meu respeito”, isto é, está rejeitando a identidade tradicional. Mas então, de modo surpreendente, afirma que tampouco se volta para dentro de si em busca de uma avaliação “nem eu julgo a mim mesmo”. Mas não pelo fato de que sua consciência está limpa, ele presume que está certo.

Paulo está negando tanto a identidade tradicional, que confere todo poder à esfera social, quanto a identidade moderna, que dá todo poder à esfera pessoal, à nossa perspectiva limitada e individual. Ou seja, não importam os que os outros pensam, tampouco o que eu penso. Só o que me interessa é o que Deus pensa de mim.

O julgamento, segundo Paulo é “Quem me julga é o Senhor”, sem ficar alarmado, mas com confiança. Por quê? Ao contrario tanto da cultura tradicional quanto da secular, a identidade do cristão não é algo que se alcança, mas que se recebe.

Quando pedimos a Deus Pai que nos aceite, que nos adote, que se uma a nós, não com base no que fizemos ou por nossos esforços morais, mas pelo que Cristo fez, recebemos um relacionamento com Deus, que é uma dádiva. Não se baseia em relações passadas, presentes ou futuras, mas nas conquistas espirituais de Cristo.

Paulo afirma que os cristãos são “achados” em Cristo, querendo dizer que Deus nos vê não com base em nosso histórico e caráter, mas “em Cristo”. Para Paulo é crucial “Conhecer a Cristo e ser achado nele, não tendo uma justiça própria que procede da lei, mas, sim, a que procede da fé em Cristo – a justiça que vem de Deus baseada na fé”(Fl 3.8-9).

E o que mais? Jesus Cristo, o Filho de Deus, detentor da honra e do nome mais exaltado, da identidade mais grandiosa possível, esvaziou-se de sua gloria e foi para cruz, onde sofreu morte degradante a fim de que pudéssemos ter um nome e uma identidade que durem para sempre  Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar...esvaziou-se a si mesmo; assumiu a posição de escravo  e nasceu como ser humano...e foi obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2.6-8). 

2)     Nova criatura

Minha identidade em Cristo tem diversas facetas. Primeiro, existe o valor que temos como criação de Deus. Muitos afirmam que o mundo veio do caos, de uma grande explosão; Albert Camus, sustenta que o mundo não tem sentido, desígnio. No entanto, para nós, o mundo tem um começo, um sentido, um desígnio. E melhor, somos a imagem e a semelhança do criador (Gn 1.26-27). 

Segundo, somos filhos, adotados na família de Deus. Pela fé em Cristo, nos tornamos filhos amados de Deus “Pois todos vocês são filhos de Deus por meio da fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26). Deus é agora, um perfeito Pai para nós, dando-nos a segurança inabalável que só um relacionamento Pai-filho pode conferir. Ele se regala em nós, alegrando-se em nós com jubilo. 

Cante, ó filha de Sião! Grite bem alto, ó Israel! Alegre-se e exulte de todo coração, ó preciosa Jerusalém! Pois o Senhor removerá as acusações contra você e dispensará os exércitos de seu inimigo. O Senhor, o rei de Israel, estará em seu meio, e você nunca mais temerá a calamidade. Naquele dia, se anunciará em Jerusalém: anime-se, ó Sião! Não tenha medo! Pois o Senhor, seu Deus, está em seu meio; ele é um salvador poderoso. Ele se agradará de vocês com exultação e acalmará todos os seus medos com amor; ele se alegrará em vocês com gritos de alegria” (Sf 3.14-17).

O Senhor jamais nos deixará ou abandonará, mesmo se cairmos ou pecarmos. Por quê? Deus é perfeitamente justo e santo, mas Jesus tomou nosso pecado e pagou, tendo sido ferido por nossas transgressões e esmagado por nossas iniquidades (Is 53.5,6). Agora “já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).

Em Isaias 49.15 Deus fala ao seu povo e faz a seguinte comparação assombrosa: “Pode a mãe esquecer do filho que ainda mama? Pode deixar de sentir amor pelo filho que ela deu à luz? Mesmo que isso fosse possível, eu não me esquecerei de vocês!” Usa-se uma analogia (o amor de uma mãe), uma comparação, muito frágil para mensurar o tamanho do amor de Deus. Mas não há comparação, equivalência, mensuração, comparação, analogia, parábola, nada! Como disse o apostolo João “Deus amou o mundo de tal maneira....” (Jo 3.16). Paulo em Efésios fala em medidas para compreender o amor de Deus: altura, comprimento, profundidade e largura.

O nosso verdadeiro “eu” é aquele que somos perante Deus. “Eu sou o Deus todo-poderoso”, disse o Senhor a Abraão em Genesis 17.1, “anda diante de mim com fidelidade”. Andar com alguém em hebraico, significa fazer amizade com esse alguém e se por a caminhar com ele lado a lado. Andar na presença de alguém inclui tanto transparência, porque aquele com quem você anda pode vê-lo, quanto segurança e amizade intima. Andar com Deus significa que só os olhos e a opinião dele importam. 

Andar com Deus é nos “despir do velho eu”, distorcidos por desejos desordenados, escravizantes, e nos “revestir do novo eu, criados para ser semelhantes a Deus” (Ef 4.22,24).

Se outros disserem coisas excessivamente negativas ou positivas a seu respeito, você não se sente destruído nem fica todo cheio de si (2 Co 12.10). Voce se conhece como pecador repleto de fraquezas, mas também como cidadão da cidade celestial, filho do rei do universo e amigo intimo daquele que o formou “Pois as nossas aflições leves e passageiras estão produzindo para nós uma glória incomparável, de valor eterno...fixamos os nossos olhos, não naquilo que se pode enxergar, mas nos elementos que não são vistos; pois os visíveis são temporais, ao passo que os que não se veem são eternos” (2 Co 4.17-18).

Conclusão

Quem sou eu? Sou um cristão, sou quem sou perante Deus. O que Deus afirma é meu verdadeiro eu; o que ele proíbe são as intromissões da matéria estranha do pecado e não parte da pessoa que fui criado para ser e que o Espirito está formando. Enfrentamos lutas “Ainda que o nosso exterior esteja se desgastando, o nosso interior está sendo renovado todos os dias. Pois nossas dificuldades leves e passageiras produzem para nós uma gloria eterna, de valor incomparável” (2 Co 4.16,17).

Não há nada mais valioso do que essa nova identidade. “O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro”, disse Jesus, e perder o seu verdadeiro eu, perder a sua alma, sua identidade, sua essência.

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário