terça-feira, 29 de junho de 2021

 Alma sombria. 1 Samuel 27     

               

Introdução:

Um dos livros mais famosos já escritos é de autoria de um homem que estava na prisão: John Bunyan e o livro é o Peregrino. Em um ponto de sua história, enquanto viaja em direção ao céu, ele cai num buraco profundo e lamacento chamado Vale das lagrimas. Se fossemos traduzir o vale de lagrimas de Bunyan em termos modernos, chamaríamos esse buraco de lama de “inferno”. E, neste lugar encontraremos Davi... “vale de lágrimas”.

1)    O que provoca as nuvens e a escuridão na alma?

O texto de 1 Samuel 27.1 começa: “Disse, porém, consigo mesmo”, ou “...uma hora dessas...”. Aqui, portanto, está o inicio de tudo. Quando consultamos somente a nós mesmos, quando somente falamos com nossos botões. A primeira razão de Davi ter caído “no vale de lagrimas, ou no inferno” é o que chamaríamos de seu ponto de vista humanista. Ele olhou a situação e a avaliou estritamente em sentido horizontal. Voce não vê Davi orando, uma vez sequer neste capítulo. 



Davi está saindo de um pico espiritual e emocional elevado...por duas vezes ele poderia ter assassinado Saul (Capitulos 24 e 26), mas não fez isso. Depois (capitulo 25), quando estava quase pra matar Nabal, Abigail felizmente o dissuadiu disso. Então, nas horas quando estamos no topo, esse é o ponto mais vulnerável da vida de qualquer ser humano.

Em seguida, Davi era pessimista. Veja o que ele diz a si mesmo: “Pode ser que algum dia eu venha a perecer às mãos de Saul” (1 Sm 27.1). Note que ele diz, “venha eu a perecer”. Ele está falando de algo futuro... mas o homem não conhece o futuro. “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida” (Mt 6.27). O raciocínio pessimista enfoca de maneira continua o lado potencialmente negativo ao futuro, sofrendo antes da hora. O futuro era sombrio para Davi: “...uma hora dessas Saul vai conseguir me capturar”. 



 O Salmo 42 salta aos nossos olhos, diante do pessimismo do Salmista: “Por que está abatida, ó minha alma? Por que está perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus. A minha alma está profundamente abatida...” (Sl 42.5-6).

No entanto, Samuel ungira Davi com azeite e lhe assegurara que um dia viria a ser rei. Deus falou com ele por meio de Abigail e disse que o Senhor “Te estabelecerá príncipe sobre Israel” (1 Sm 25.30). Deus falou com ele mais uma vez mediante Jônatas, filho de Saul, assegurando-lhe: “Voce será o próximo rei”. Até Saul, seu inimigo dissera: “Agora, pois, tenho certeza de que serás rei; e de que o reino de Israel há de ser firme na tua mão” (1 Sm 24.20). Mas, Davi ignorou todas essas promessas. Ele agora se convenceu: vou perecer, jamais reinarei sobre Israel...nunca!

POR QUE SOMOS TÃO PESSIMISTAS? PORQUE NOSSOS OLHOS ESTÃO EM NÓS MESMOS. O SENHOR NUNCA NOS LEVOU A TER UM PENSAMENTO PESSIMISTA. “SE VOCE SE MOSTRA FRACO NO DIA DA ANGUSTIA, QUÃO PEQUENA SERÁ A SUA FORÇA” (Pv 24.10).

Davi usou uma lógica racionalista. “Pode ser que algum dia venha eu a perecer nas mãos de Saul; nada há, pois, melhor para mim do que fugir para a terra dos filisteus...” (1 Sm 27.1). Voce acredita nessa declaração? Não passa de racionalismo. Ele pensou: os tempos estão difíceis. Deus me abandonou. Pensei que poderia ser rei, mas nunca chegarei lá. Vou morrer se continuar fugindo do exercito de Saul. Eles irão finalmente apanhar-me. Tenho de escapar. A melhor solução é para Filístia. 



Davi é como o crente carnal, que escolhe desobedecer a Deus e agir na carne. Davi, neste ponto de sua vida, é um retrato claro de alguém que é crente no intimo, mas por fora parece um não crente em vista do seu estilo de vida. “O homem é o único animal que corre mais depressa quando perde o caminho”. Então, quando não sabemos o caminho, nos movemos apressadamente para a direção errada, na direção do inimigo...

 2)    Consequências

Quando Davi se retirou do deserto, sua casa, e retirou-se para a terra dos filisteus, ele não estava sozinho. Sua casa, sua família, foi junto e, mais seus seiscentos homens; homens marginalizados, endividados, que com o tempo tornou-se uma unidade sobre o comando de Davi. Portanto, temos sua família, mais seus homens.

Você pensa que pode fazer concessões sem que isso afete sua família? Quando tomamos uma decisão errada, afeta não somente a mim, mas todos que confiam e dependem de nós. Embora inocentes, eles ficam contaminados pelas nossas escolhas pecaminosas.

PARA ONDE DAVI FOI? Fugiu para Gate. Lembra-se de Gate? Lembra-se do Gigante? Lembra-se da cidade natal dele? O homem era conhecido como Golias de Gate. Então, foi para lá que Davi se encaminhou! Você pode acreditar nisso? Há apenas alguns anos, ele matara Golias no vale de Elá. Agora corre para Gate, justamente a cidade do gigante e decide que vai viver ali com o rei Aquis – o arqui-inimigo dos israelitas. E a musica cantada entre as mulheres: “Saul matou milhares, e Davi, dezenas de milhares” (Sm 18.7).


A primeira consequência da decisão falha de Davi foi então a de criar um falso sendo de segurança porque Saul deixara de persegui-lo: “Avisado Saul que Davi ...Gate, desistiu de o perseguir” (v.4). Agora, estamos salvos, Saul não irá nos perseguir em terra de filisteus.  O PECADO TEM SEUS PRAZERES TEMPORÁRIOS. A desobediência tem seus momentos estimulantes, mas são passageiros, duram poucos...e, nunca resultam na máxima satisfação. Nunca. Nunca!

A segunda consequência da decisão de Davi é achada no versículo 5: “se achei mercê  na tua presença, dá-me numa das cidades da terra, para que ali habite; porque há de habitar o teu servo contigo na cidade real? (v.5). então, quando escolhemos um estado de vida desobediente, quando nos entregamos à calamidade em vez de à espiritualidade, começamos a servir a causa do adversário. Davi era “SERVO” de Aquis.

 A terceira consequência é um longo período de tolerância. Você talvez diga: Ah, não faz mal. Um dia ou dois aqui e posso voltar à normalidade. O que são dois meses de carnalidade comparados a uma vida inteira de obediência? Davi foi para Gate, e acabou ficando dezesseis meses. Um ano e quatro meses...é muito tempo servindo à causa do adversário...ele não escreveu canções, não tocou sua harpa. Pouca alegria flui na vida de durante o tempo da desobediência.

3)    Escorregando os pés...

Quando a duplicidade começa a marcar os passos de Davi. O  dicionário diz que duplicidade é “engano, fingimento, dissimulação, falsidade, hipocrisia”. No fundo, Davi era um israelita, mas procura fazer com que os filisteus pensem que está do lado deles. Isso que acontece quando você passa algum tempo no “curral da deslealdade”. Por dentro, você tem sua identidade, mas por fora quer parecer como o resto do mundo. 



“Subia Davi com os seus homens, e davam contra os gersuritas, os gersitas e os amalequitas; porque eram estes os moradores da terra... habitavam a terra que se estende do Sur ao Egito...Davi feria aquela terra e não deixava com vida nem homem nem mulher” (1 Sm 27.8-9). Os gersuritas, os gersitas e os amalequitas eram inimigos de Israel, mas não dos filisteus. Quando Davi volta à cidade, o rei pede um relatório: ONDE VOCE ESTEVE? ONDE FOI O ATAQUE HOJE?

A duplicidade leva à ambiguidade, Davi responde: “Contra o sul de Judá”, implicando que estivera matando o povo de Judá, que era israelita. Mas, na verdade, não matara israelita e sim amalequitas, gersuritas e gersitas. Ele diz que esteve lutando contra o sul de Judá e “sul dos jerameelitas, e o sul dos queneus”. Isso é mentira. Ele não lutou contra essas pessoas. Era por isso, que ele matava a todos. 


Conclusão:

Quando você opera no “curral da deslealdade”, também opera sob um manto de segredo. Não quer justificar seus atos. Não quer que ninguém faça perguntas. Davi simulava tanto, que arrancava elogios de Aquis (v.12). 



  

terça-feira, 22 de junho de 2021

 A beleza de Abigail – 1 Samuel 25


Introdução

O que dizer de Abigail? Abigail significa “alegria de meu pai”, “meu pai é alegre”. Ou seja, por meio dela, a beleza do Senhor emana, ela vive de tal modo que a beleza de Deus corre como um rio por seu intermédio. Ícone é a palavra para imagem – conotando uma imagem que libera a luz de um Cristo em nossa vida de oração. Aqui, no texto, Davi está cheio de si, cego, irado e vazio de Deus, um vazio tão visível quanto a feiura. Abigail, solitária e bela, se ajoelha no caminho, detendo a ira, ou a feiura, de um ato.

1)    Cenário

Davi está no deserto fugindo de Saul, com ele ajuntou-se 600 homens, homens marginalizados que encontrou em nele, um líder. Não era toda hora, ou todo momento, que Saul perseguia Davi. Nesses hiatos de tempo, Davi e seus homens eram guardiões, protetores de propriedades e seus animais, de inimigos do povo de Israel e de bandidos e ladrões.

Foi assim que possibilitou Davi conhecer Nabal, um próspero criador de ovelhas. Os pastores que cuidavam dos seus rebanhos estavam particularmente sujeitos aos ataques dos marginais e ladrões  de gado do deserto, e Davi e seu grupo passaram a lhes proporcionar proteção. Um dos servos de Nabal, depois testificaria a respeito de Davi e seus homens: “Dia e noite eles eram como um muro ao nosso redor, durante todo o tempo em que estivemos com eles cuidando das ovelhas” (1 Sm 25.16).

Nabal significa “insensato”, tinha muito dinheiro, muitas ovelhas, muitas cabras. De fato, o texto nos diz que ele possuía 3000 ovelhas e 1000 cabras. Além de carregar um nome que lhe denunciava, o texto nos diz que “o homem era duro” (1 Sm 25.3), no original, é “inflexível, obstinado,beligerante”. Também, o texto nos diz que ele era “maligno em todo o seu trato”. Então, Nabal era exigente, enganador e injusto. 


 No entanto, sua esposa, era justamente o oposto. Ele se chamava Abigail e o texto nos diz que era tanto inteligente como bonita (1 Sm 25.3). Era formosa por dentro e por fora. O apostolo Pedro consegue resumir em sua epistola: “...o que vos torna belas e admiráveis não devem ser os enfeites exteriores, como penteados extravagantes, joias de ouro ou luxos dos vestidos, em vez disso, vistam—se com a beleza que vem de dentro e que não desaparece, a beleza de um espírito amável e sereno, tão precioso para Deus” (1 Pedro 3. 2-4).

A beleza exterior é passageira; a interior, eterna. A primeira é atraente ao mundo, a segunda, agrada a Deus. “Os encantos são enganosos, e a beleza não dura para sempre, mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada” (Pv 31.30). “Demora apenas algumas horas para você se preparar para a mais elegante das noites, mas demora uma vida inteira para preparar-se e desenvolver a pessoa escondida em seu coração”.


2)    Tosquia

Então, chegou o tempo da tosquia, uma mistura de trabalho duro com grandes festividades. Recolhida a lã, mesas de banquete se enchiam de comidas e bebidas. As difíceis e longas horas da tosquia das ovelhas tinham sua culminância numa grande celebração. 


Davi estava nos arredores e, então, enviou dez de seus homens para pedirem algo para comer e beber, do banquete. Afinal, eles haviam protegido aqueles pastores o ano todo e certamente vinham se alimentando de pequenas rações, porquanto o deserto não tem muita opção. Um pouco de frutas frescas e dos bolos assados da mesa de Nabal seria muito bem vindo.

Como vimos, Nabal significa insensato, e em conformidade com seu nome, responde aos homens de Davi, embriagado: “...Quem é Davi?...” “Por que devo dar alguma coisa a esse servo que fugiu?” (1 Sm 25.10,11).

 Enquanto que Davi o trata com respeito como se fosse seu filho e com diplomacia (1 Sm 25.8). Mas Nabal intencionalmente se refere a ele como “esse filho de Jessé” (1 Sm 25.10). Vemos ecos na forma como Saul chamava Davi, uma forma depreciativa, pejorativa, porque seu pai era um simples camponês, com algumas ovelhas. Ele usa o pronome possessivo de forma repetida: “Tomaria eu o MEU pão, a MINHA agua e a MINHA carne do animal que abati para MEUS tosquiadores e os daria a homens que não sei de onde vem?” (1 Sm 25.11).

3)    Abigail

“Davi perdeu a cabeça cada um prepare sua espada e a coloque no cinto” (1 Sm 25.13). Perdeu todo o senso de identidade como ungido de Deus. Davi perdeu contato com a beleza da santidade do deserto. Ele, que fora capaz de ver o maníaco rei Saul como templo do Espírito Santo, não conseguia, agora, ver Nabal senão como escória, que cheirava mal em sua vida. 


Abigail é informada por um servo (1 Sm 25.14-17), os insultos de Nabal e resolveu evitar as consequências. Pegou diversas iguarias do magnifico banquete: “duzentos pães, dois odres de vinho, cinco ovelhas assadas, cerca de quinze quilos de trigo torrado, cem bolos de uva passa e duzentos bolos de figos prensados, e os carregou em jumentos” (1 Sm 25.18).

Colocou tudo sobre os lombos dos animais e partiu para interceptar Davi e seus homens. No momento em que os viu, desceu do jumento e ajoelhou-se, colocando seu rosto no chão em sinal de reverencia e respeito a Davi e lhe disse: “Por favor, por favor, não faça isso. Essa não é uma atitude digna de um príncipe de Israel. Lembre-se de quem você é. Lembre-se da unção de Deus e da sua misericórdia. Não perca tempo em batalhas vãs; sua missão é lutar as batalhas do Senhor”.

E profetiza: “...a vida do meu senhor estará firmemente segura como a dos que são protegidos pelo Senhor, o teu Deus. Mas a vida dos teus inimigos será atirada para longe como por uma atiradeira (1 Sm 25.29).


 “Se alguém quiser impedir tua caminhada,

Se alguém tentar do teu rumo te afastar.

Sabe que tua vida é segura e por Deus honrada,

Como a vida daqueles que Deus quer guardar;

Mas a dos teus inimigos será longe lançada

Como a pedra uma funda pode atirar

Em outras palavras, ela resumiu todo o que Deus fez e faria em sua vida: o chamado de Deus, as promessas de Deus, o pacto de Deus, a Palavra de Deus. A vida de Davi estava entrelaçada com a obra e a revelação de Deus que não havia como ele pudesse se separar dessa verdade e ainda continuar sendo ele mesmo.

“A vida dos teus inimigos será atirada para longe como por uma atiradeira”, essas palavras de Abigail, tocou, sem duvida, a memoria de Davi, fazendo-o retornar àquele dia algum tempo atrás, quando, em espírito de oração, no vale de Elá, derrubara Golias como uma simples pedra que lançara de sua funda.

O que Abigail estava dizendo era: “Sua missão, Davi, não é de exercer vingança; a vingança pertence a Deus, e você não é Deus. Você está aqui no deserto para compreender o que Deus está fazendo e quem é você diante de Deus. O deserto não é um lugar no qual você deva testar a si mesmo para saber quão forte e resistente é. Mas onde você deverá descobrir a foça e os caminhos fiéis de Deus operando em sua vida e mediante a sua vida. Nabal é um tolo; não se torne um tolo igual a ele. Chega de tolice nesta história”.

De maneira marcante  - quase inacreditável -, Davi pára, olha e ouve Abigail, no meio do nada, de joelhos diante dele, falar, trazendo Deus de volta à sua vida por meio de oração e poesia. A beleza de Abigail surpreende Davi, e ele volta a ver e ouvir Deus de novo.

 Conclusão:

No espelho de Abigail, Davi vê a si mesmo como Deus o vê. Abigail recobra a Davi a identidade que Deus lhe havia dado. Abigail de joelhos fez Davi de novo ajoelhar-se.



terça-feira, 15 de junho de 2021

  A PRESENÇA E O PODER DE DEUS – EX. 33.1-11


Introdução:

Se um “cristão” não lê a Bíblia, não ora, nem vive como discípulo de Cristo, tanto faz ser católico ou evangélico. Sua vida e seu destino serão o mesmo. Então, surge uma pergunta: somos evangélicos por causa do evangelho ou somos evangélicos por causa de uma cultura religiosa evangélica que nem sempre é coerente com o evangelho.

1)    O bezerro de ouro

“Disse o Senhor a Moisés: vai sobe daqui t e teu povo que tiraste da terra do Egito para a terra a respeito da qual eu jurei a Abraão, a Isaque e a Jacó dizendo: À tua descendência a darei. Enviarei o anjo diante de ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Sobe para uma terra que mana lei e mel; eu não subirei no meio de ti, porque és povo de dura cerviz, para que não te consuma eu no caminho. OU vindo o povo estas más noticias pôs-se a prantear e nenhum deles vestiu seus atavios” (Ex 33.1-4).

Sempre ligamos o PODER DE DEUS À PRESENÇA DE DEUS. Mas, pelo texto, estas duas coisas nem sempre parecem se complementar e nem sempre se manifestam ligadas. Aqui, Moisés tinha subindo ao Monte para estar com Deus e, durante quarenta dias, o povo se cansou, e se desesperou. Pediram a Arão que lhes fabricasse: “faça para nós deuses que nos guiem” (Ex 32.1). Arão, então, diante da pressão, ordenou: “Tirem as argolas de ouro das orelhas de suas mulheres e de seus filhos e tragam para mim” (Ex 32.2). Então, construíram um bezerro de ouro, uma divindade Cananéia e egípcia. 



A ira de Deus se acendeu, porque além do pecado da idolatria: “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas aguas debaixo da terra” (Ex 20.4). O povo também se entregou à orgia (Ex 32.5). O texto em hebraico diz que eles estavam literalmente NUS, parecia o carnaval de Salvador.

 Diante disso, vem a intercessão de Moisés que pede ao Senhor misericórdia , pois sente que a ira de Deus era presente: “... e eu lançarei contra eles minha ira ardente...” (Ex 32.9). Moisés, intercede pelo povo ingrato e desobediente: “Ah, que grande pecado cometeu este povo! Fizeram para si um deus de ouro. Mas, agora, eu te rogo, perdoa-lhes, se não, risca-me do teu livro que escreveste” (Ex 32.31,32). Depois disto, o verso 34, do capítulo 32, termina com uma promessa: “VAI, POIS, AGORA, E CONDUZE O POVO PARA ONDE TE DISSE: EIS QUE MEU ANJO VAI ADIANTE DE TI; PORÉM NO DIA DA VISITAÇÃO VINGAREI NELES O SEU PECADO”. 



2)    Discernindo a manifestação do poder de Deus.

“Mandarei à sua frente um anjo e expulsarei os inimigos...mas Eu não irei com vocês”.  O poder de Deus se manifesta por causa da fidelidade exclusiva de Deus, eu jurei e vou cumprir a minha Palavra  apesar desses desobedientes e ingratos. Mateus, escreve: “No dia do juízo, muitos me dirão: “Senhor! Senhor! Não profetizamos em teu nome? Não expulsamos demônios em teu nome  e não realizamos milagres em seu Nome? Eu, porém, responderei: Nunca os conheci. Afastem-se de mim, vocês que desobedecem à lei” (Mt 7.24-25). 


A mesma pessoa que orou por um canceroso e ele ficou curado, um dia vai ouvir de Jesus: “Nunca vos conheci”. Pois, quem opera o milagre e cura o doente não é aquela que ora impondo as mãos, mas O TODO PODEROSO.  Pedro afirmou no primeiro milagre da igreja primitiva: “Pela fé no Nome de Jesus, este homem que vocês veem e conhecem foi curado. A fé no Nome de Jesus o curou diante dos seus olhos” (Atos 3.16).

 3)    Discernindo a presença de Deus

O texto de Êxodo 33.7-11 descreve a relação cotidiana de Moisés com Deus. Ele arma sua tenda fora do arraial e para lá vai todos os dias. A Palavra de Deus diz que o povo se colocava de pé, cada um em sua tenda, observando Moisés indo à tenda da congregação. Todo povo via quando a coluna de nuvem descia sobre a tenda de Moisés: “Eis que o Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala ao seu amigo” (Ex 33.11).

Vejamos a diferença entre o texto de Exôdo 33.17, quando Deus diz a Moisés “Eu te conheço pelo teu nome”, e o de Mateus 7.23, quando o Senhor diz: “Nunca vos conheci”. Aqueles queriam e usavam apenas o poder, ao passo que Moisés usa o poder e vive a presença de Deus. A presença de Deus é resultado de intimidade com Ele; de vida com Ele; de tempo na presença dEle; de mente que busca e se conforma com o caráter dEle.

E, quanto mais buscamos mais nos aprofundamos em experiência  com Ele. “O Senhor confia os seus segredos aos que o temem” (Sl 24.14). Em Exôdo 33.18-23 vemos Moisés se aprofundando diante da presença de Deus. Moisés, roga: “Rogo-te que me mostres a tua glória. Respondeu-lhe: Farei passar toda a minha bondade e anunciarei diante de você, o meu nome, Senhor” (Ex 33.18-19).  E o Senhor continua: “Pois terei misericórdia de quem eu quiser, e mostrarei compaixão a quem eu quiser. Mas você não poderá olhar diretamente para minha face, pois ninguém pode me ver e continuar vivo” (Ex 33.18-20). Isso é graça, puramente a graça de Deus!

O verso 21 nos fala de uma fenda numa rocha, isso tudo ocorre enquanto Moisés intercedia e falava com Deus. “Quando passar a minha glória, eu te porei numa fenda da rocha, e com a mão te cobrirei; até que eu tenha passado” (Ex 33.21,22). “...com a mão te cobrirei..” Olha o cuidado de Deus, seu zelo por Moisés, como uma mãe protege o filho. Portanto, a experiência da presença de Deus é graça pura, é alegria no espírito, é gozo, é contentamento, é paz, são línguas estranhas, é um poder tão maravilhado que ficamos sem fala, sem voz....arrebatados... 


 4)    O poder de Deus sem a presença de Deus

“Enviarei o anjo diante de ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuzeus. Sobe para uma terra que mana leite e mel...EU NÃO SUBIREI NO MEIO DE TI” (Ex 33.2-3).

O anjo do Senhor estaria com eles, mas o próprio Senhor não iria. O anjo vai efetuar o poder liberado de Deus, mas o Senhor não está no meio deles. É como se Deus falasse: “Voces querem prosperidade? Voces querem uma terra que mana leite e mel? Vocês querem um anjo poderoso  que vá com sua espada desembainhada derrubando obstáculos? Todavia, não irei; pois vocês são um povo duro, casca grossa, rebelde e a minha presença não estará convosco. Se eu for no meio de vós, minha PRESENÇA IRÁ CONSUMI-LOS. Porque não posso estar no meio do adultério, da imoralidade sexual, do homossexualismo, da violência, da mentira, da preguiça, da cobiça e da traição. 



É possível haver prosperidade, vitória, carro, e até um anjo abrindo caminha para crentes mascarados, mas a presença do Todo Poderoso não se afina jamais com a dureza de coração e com o pecado. Moisés, não aceita o poder sem a presença: “Se a tua presença não vai comigo, não nos faça subir deste lugar” (Ex 33.15).

Conclusão: Presença mais poder

"Faço com vocês uma aliança", disse o Senhor. "Diante de todo o seu povo farei maravilhas jamais realizadas na presença de nenhum outro povo do mundo. O povo no meio do qual você habita verá a obra maravilhosa que eu, o Senhor, farei. Êxodo 34:10. Deus está dizendo: se vocês não quiserem se satisfazer apenas com o anjo e quiserem andar na minha presença, vocês verão coisas extraordinárias que nação nenhuma jamais viu, povo algum nunca presenciou, coisas estas que ainda estão para ser escritas. Mody: “O mundo ainda esta para ver o que Deus pode fazer através de um homem que se coloca nas mãos dEle”. 



terça-feira, 8 de junho de 2021

 Perseguição externa e interna – Atos 4

Introdução: A China abriu as portas para o evangelho em 1950. Havia dois milhões de convertidos em uma população de um bilhão de chineses. Então, Mao Tsé-Tung massacrou 50 milhões de cristãos. Depois da Mao morreu e as portas se abriram de novo, descobriu que havia não 2 milhões, mas quase 50 milhões de cristãos na China. A perseguição os havia multiplicado por quase vinte e cinco vezes, em 50 anos.

1)    Perseguição externa (Atos 4.7-13)

Primeiro, há  desprezo (Atos 4.13). O Sinédrio considerava Pedro e João homens iletrados e incultos. A palavra traduzida "iletrados" significa que não tinham nenhuma educação técnica, especialmente nas intrincadas normas e a casuística da Lei. A palavra que se traduz por "incultos" significa que eram leigos sem nenhuma qualificação profissional. O Sinédrio, tal como era, considerava-os homens sem educação superior e sem status profissional.  


O segundo dos ataques consistiu em ameaças: “Ordenaram-lhes que não falassem nem ensinassem em nome de Jesus” (Atos 4.18). Foi-lhes dito o que lhes aconteceria se continuassem no caminho que escolheram. Mas as ameaças do homem são impotentes para dobrar o cristão porque ele sabe que o que o homem lhe fizer será momentâneo, enquanto que as coisas de Deus duram para sempre. Pedro e João, ao enfrentar estes ataques, tinham certos argumentos em sua defesa: 

Primeiro, contavam com um fato indisputável (Atos 4.16). Era impossível negar que o homem ficou curado. A defesa e a maior prova incontrovertível do cristianismo é um cristão. Em última análise as palavras não importam muito. O maior argumento do evangelho é um homem transformado, um coxo andando, um cego vendo, um bêbado sóbrio, um drogado cheio do Espírito, um blasfemo reverente, um avarento honesto. O ateu desafiou o crente acerca de sua fé. O crente respondeu: "Traga-me um homem que foi transformado pelo ateísmo e lhe apresentarei um séquito de ladrões, prostitutas e avarentos que foram transformados por Jesus". 



 Segundo, tinham o argumento de uma fidelidade total a Deus (Atos 4.19-20). Tinham que escolher entre obedecer ao homem ou obedecer a Deus. Pedro e João não duvidavam do caminho que deviam seguir. O verdadeiro segredo do cristianismo descansa nesse grande tributo que recebeu uma vez John Knox: "Temia tanto a Deus que nunca teve medo de enfrentar o homem". Quando o carrasco de Perpétua (uma jovem cristã martirizada em Cartago, século III) a estava intimidando na arena da morte, ela disse: "Viva, eu te vencerei; na minha morte, vencer-te-ei ainda mais". 

Uma vez o enviado papal ameaçou Martinho Lutero com o que aconteceria se continuava em seu caminho e o preveniu que no final todos os seus seguidores o abandonariam. "Para onde irão então?", perguntou-lhe. Lutero respondeu: "Então como agora estarei nas mãos de Deus". Para o cristão os que são por nós são sempre mais que os que são contra nós.

Mas o terceiro ponto de sua defesa era o mais grandioso. Era o argumento de uma experiência pessoal de Jesus Cristo: “Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (Atos 4.20). Como disseram Pedro e João, não podiam deixar de falar a respeito daquelas coisas que tinham visto e ouvido pessoalmente.. “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” Atos 4:12

2)  Uma igreja que ora (Atos 4:23-31) 


 Primeiro, Ele é o Deus da criação (v.24); Segundo, ele é o Deus da revelação, que falou por intermédio do Espírito Santo por boca de ...Davi, e que no Salmo 2 tinha predito a oposição do mundo ao seu Cristo, com os gentios enfurecidos, povos imaginando coisas vãs, reis se levantando e autoridades ajuntando-se contra o Ungido do Senhor (vs. 25-26); Terceiro: Ele é o Deus da história, que fez com que até os seus inimigos (Herodes e Pilatos, os gentios e judeus, unidos numa mesma conspiração contra Jesus, v.27) fizessem tudo o que a mão e o propósito de Deus predeterminaram.  Vemos, tres verbos: "fizeste"(v.24), "disseste" (v.25) e "predeterminaste" (v.28). 

 A igreja fez três pedidos principais: O primeiro era que OLHASSE PARA SUAS AMEAÇAS (v.29 a). O segundo pedido era que Deus os capacitasse a serem seus servos (literalmente "escravos") para falar da sua Palavra com toda a intrepidez (v.29 b). A terceira petição era para que Deus lhes estendesse a mão para fazer curas, sinais e prodígios, por intermédio do nome... Jesus (v.30, Atos 5.12).

Em resposta a essa oração sincera e unânime: 1) tremeu o lugar e, segundo comentou Crisóstomo "aquilo os tornou mais inabaláveis"; 2) todos ficaram cheios do Espírito Santo; e 3) em resposta aos seu pedido especifico (v.29), anunciavam a palavra de Deus, com intrepidez (v.31). 

O capitulo termina falando sobre sobre a Koinonia que havia na igreja: “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (v.32). Exemplifica narrando a sobre a oferta de José, cognominado pelos apóstolos Barnabé, que significa filho da consolação. “Possuindo uma herdade, vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés dos apóstolos” (Atos 4.37). 



3) Perseguição interna

       A história da mentira e morte desse casal é importante por vários motivos. Ela ilustra a honestidade de Lucas como historiador; ele não omitiu este sórdido episódio. Nem tudo era romântico e justo!

   Esta história é mais um exemplo da estratégia de Satanás. Esse relato é um paralelo entre Ananias e Acã – aquele que roubou dinheiro e roupas após a destruição de Jericó (Js 7: 20-22).  O PECADO DE ANANIAS. Ananias reteve parte do dinheiro, o verbo empregado por Lucas é “apropriar-se indevidamente”. A mesma palavra usada na Septuaginta em relação ao roubo de Acã, esse verbo significa roubar. ·        Antes da venda, Ananias e Safira, assumiram algum tipo de compromisso no sentido de darem à igreja todo o dinheiro. HIPOCRISIA.  

 A apóstolo não denunciou a falta de honestidade mas a falta de integridade (trazer apenas uma parte, fingido que era todo o dinheiro). Eles não eram avarentos; eram ladrões e sobretudo – mentirosos. Querem o crédito e o prestigio sacrificial, sem incoveniências. “A motivação do casal, não era aliviar os pobres, mas inflar o próprio ego” (Atos 5:3-11).


Conclusão:

Vemos uma igreja ousada, com milagres e prodígios; uma igreja que compartilhava a koinonia. E, uma igreja com fissuras, ou seja, nem todos que estão dentro da igreja,   tem o mesmo espírito. São egoístas, avarentos, gananciosos e não fazem parte da engrenagem natural da igreja. Com o tempo, a mascara cai, ou não conseguem ficar por muito tempo no meio dos demais, são sufocados.