terça-feira, 27 de junho de 2023

 A festa das primícias/ressurreição Dt 26.1-10 


Introdução

A festa da páscoa era celebrada no décimo quarto dia de Nisã. No décimo quinto dia era a festa dos pães asmos, pães sem fermento. Quase sem folego depois das cerimonias, com a barriga cheia do banquete farto e a mente e o coração atordoados com tantas verdades densas e necessárias, continuavam a festejar na sombra da redenção e esperança que as duas festas projetavam quando o décimo sexto dia de Nisã chegava de modo repentino. Era o dia das primícias, a terceira festa de primavera. 

1)     As primícias

A festa das primícias não foi celebrada no Egito, nem tampouco durante a jornada de Israel pelo deserto. Porque no deserto, Israel era um povo nômade, sem moradia fixa, e não plantava e nem colhia. Antes, era sustentado pelo Senhor com o maná que caia todos os dias e água que saia da rocha. A festa só começou quando Israel entrou na terra de Canaã, o maná cessou e foi substituído pelas dádivas rotineiras, porém, igualmente graciosas, do amor de Deus, que cresciam com fartura na terra de leite e mel.

Nos primeiros dias de Israel na terra de Canaã, era uma comemoração simples. Quando as chuvas da primavera regavam os campos e o sol do mediterrâneo aquecia as plantações, a cevada e o linho começavam a mostrar os primeiros sinais de amadurecimento na época correspondente ao sétimo mês do calendário agrícola. Quando os campos, ainda era um mar de verde profundo, começavam a mostrar as primeiras ondas douradas, o agricultor israelita ceifava o primeiro feixe de cereal maduro de sua colheita e o levava ao sacerdote. 

O sacerdote, por sua vez, o movia (estendia o primeiro feixe) diante do Senhor no dia depois do sábado em sinal de gratidão e louvor pela dádiva bondosa de Deus. Essa oferta era acompanhada de outro holocausto de um cordeiro de um ano, sem defeito, bem como de uma oferta de manjares, constituída de 4.5 litros de flor de farinha misturados com azeite e uma oferta de libação de um litro de vinho.

 Em louvor à graça maravilhosa de Deus, Deuteronômio 26.11 descreve o que acontecia em seguida: “Alegar-te-ás, então, por todas as bênçãos e produtos que o Senhor teu Deus concedeu a ti e à tua casa...” Havia muita celebração e muita alegria! O povo e os levitas, e até mesmo os estrangeiros em seu meio se alegravam “Por todo bem” que Deus havia concedido ao seu povo. 

2)     Um olhar mais adiante

A festa das primícias possuía um sentido espiritual. O povo apresentava feixes de cereais novos, uma oferta que trazia em sua essência sinais de esperança de uma nova vida. Era um modo de encarar a vida que precisava não apenas de olhos, mas também do coração para enxergar. Enquanto que os cananeus realizavam negociações angustiantes com seus deuses ou queimavam seus filhos (ao deus moloque) para garantir prosperidade. Mas, Israel não precisava negociar com Deus para garantir uma boa colheita, pois Deus havia prometido com demonstração do seu amor.

Não só isso, era uma festa de misericórdia. Lemos em Deuteronômio: “Quando estiveres ceifando a colheita em seu campo e esqueceres um feixe, não retornes para pegá-lo; permita que ele seja encontrado pelo estrangeiro, pelo órfão e pela viúva...Quando sacudirem as azeitonas das suas oliveiras, não voltem para colher o que ficar nos ramos. Deixem para o estrangeiro...orfão...viuva. E quando colherem as uvas da sua vinha, não passem de novo por ela. Deixem o que sobrar para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva. Lembrem-se de que vocês foram escravos no Egito...” (Dt 24.20-22) 

Com o passar do tempo o povo se esqueceu tanto das primícias quanto do gesto de misericórdia. O profeta Malaquias revelou a corrupção do coração de Israel quando apontou para os depósitos vazios do templo: “Pode um ser humano roubar algo de Deus? No entanto estais me roubando...” (Ml 3.8). Já nos dias de Jesus, vemos os fariseus entregarem o dizimo das ervas e temperos, “...da hortelã, do endro e do cominho”, mas se mostram hipócritas ao desconsiderar “...a justiça, a misericórdia e a fé” (Mt 23.23).

 3)     Primícias e redenção

Como as outras festas, as primícias era um tipo (uma sombra) da redenção mais plena que viria com Cristo. Mais uma vez a data é significativa: a páscoa terminava em 14 de Nisã e a festa dos pães asmos era no dia 15 de Nisã. Cristo foi oferecido como cordeiro pascal na páscoa e sepultado na véspera da festa dos pães asmos. No 16 dia de Nisã, era a festa das primícias, ou seja, Jesus ressuscitou no terceiro dia dentre os mortos. 

A ressureição de Cristo foi as primícias da sepultura física. Paulo em sua cara aos Coríntios é esperançoso: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos os mais dignos de compaixão. Mas de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias do que dormem” (1 Co 15.17-20). 

Há muito, a morte marca nossa vida e nosso mundo e, um dia, todos nós teremos de encarar o fim de nossa existência física. E, pior ainda, enquanto caminhamos para a sepultura, derramamos lágrimas de tristeza pela perda de entes queridos que a morte toma de nós. A morte dói! Mas Paulo declara: esse não é o fim! “Tragada foi a morte pela vitória...Onde está, ó morte, a sua vitória? (1 Co 15.54-55)”.

Em Cristo, portanto, temos essa confiança. Agora, estamos no “reino de Deus” (Mc 1.15) e “reino dos céus” (Mt 4.17). O evangelho de João se refere ao novo tipo de vida como “vida eterna” (Jo 3.16). Paulo fala que estamos “nas regiões celestiais em Cristo Jesus” (Ef 1.3). O “novo céu e nova terra” não são apenas futuro, mas já se manifestam aqui e agora. Ainda, vivemos no mundo pecaminoso, contudo, somos de Cristo.

Paulo afirma: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17). Quando falamos de nova criatura, não nos referimos apenas no individuo; antes, devemos pensar numa “nova criação”, no novo mundo que Deus recriou e deu inicio com Cristo, e no qual todos estão em Cristo incluídos. 

Aqueles que seguem a Cristo são primícias, a vida deles produz uma colheita diferente. São movidos pelo impulso do novo mundo, são diferentes por dentro. Não são mais marcados pela raiva, malicia, violência, cobiça, concupiscência e egoísmo, ou seja, pela colheita característica da carne. Antes, sua vida revela o inicio de uma transformação autentica:

“...o fruto do Espirito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio... e os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências” IGl 5.22-24). Paulo afirma também: “Nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espirito” (1 Co 2.9-10).

Conclusão

A ressurreição de Jesus Cristo no décimo sexto dia de Nisã ressoa em dois tons. Primeiro, permitem que os cristãos experimentem e, portanto, percebam e celebrem, já no presente, as dádivas graciosas do Espirito Santo. Jonh Newton, era um comerciante de escravo na costa oeste da Africa. Um dia em meio a uma tempestade, ele se converteu a Cristo, voltou à Inglaterra e tornou-se um pastor. Ele escreveu o famoso hino: “A graça maravilhosa”:

“Graça Maravilhosa, como é doce

Que salvou um miserável como eu

Eu estava perdido, mas agora fui encontrado

Era cego, mas agora vejo”

Segundo a ressurreição de Cristo anseia por uma colheita mais abundante. Em uma de suas parábolas, Jesus falou da nova vida que seria plantada e como amadureceria. A palavra de Deus é lançada no solo como uma pequena semente e produziria: a cem, sessenta e a trinta por um” (Mt 13.8). Cada cristão leva essa semente em sua nova vida de fé, pois a igreja de Cristo ressurreto é constituída de pessoas com uma missão. 



  




terça-feira, 20 de junho de 2023

 A festa dos pães asmos e a santidade  Lv 23.4-8 

Introdução

Um homem ficou viúvo e estava se planejando para casar novamente. Seu pastor lhe perguntou: Depois do casamento, vocês dois não vão morar na sua casa, vão? Ele respondeu: Sim, é o que eu estava pensando, aliás, é mais barato. Então o pastor lhe disse que levar sua esposa para uma casa que havia sido mobiliada e decorada por outra mulher criaria uma situação constrangedora. O conselho do pastor foi simples e incisivo: “Venda essa casa, doe os moveis e rompa completamente com o passado”.

1)     A cerimonia

A festa dos pães asmos começava com a seguinte ordem: “Ao primeiro dia, tirareis o fermento das vossas casas” (Ex 12.15). Nessa festa havia uma tensão dinâmica entre ordens afirmativas e negativas. Por um lado, a festa incluía uma ordem afirmativa: Israel deveria comer o pão asmo todos os dias. Por outro lado, a observância da festa envolvia uma negativa séria: Israel devia retirar todo fermento da casa. 

Antigamente, o fermento era produzido por meio da mistura da água à farinha de trigo que era deixada ao ar livre, o que, depois de alguns dias, provocava fermentação. Essa massa levedada era guardada em casa e misturada à massa nova, quando se fosse fazer o pão. Em Êxodo 12.15, diz que no primeiro diz da festa, devia tirar o fermento de sua casa: “...pois qualquer que comer coisa levedada, desde o primeiro dia até ao sétimo dia, essa pessoa será eliminada de Israel”. Eliminar é pena de morte. 

Então, o povo fez a refeição da Páscoa vestido com roupa de viagem e comeram com pressa, pois o castigo de Deus não tardaria a sobrevir aos deuses do Egito e a vida nova de Israel começaria em meio aos gritos de morte por toda terra. Israel precisava preparar pão para viagem, mas não tinha tempo para a fermentação. 

A remoção de todo vestígio de fermento das casas seria testemunho visível de sua fé e confiança em Deus. Não estavam levando nada do Egito consigo e nenhum poder vivente do passado (ídolos) escravo acompanharia o povo recém libertado na jornada. 

2)     Mais do que migalhas

“Remover o fermento das casas” se transformou numa prática familiar que transmitia o significado central da festa, um significado pedagógico. Na refeição pascal, um dos filhos perguntava ao Pai: “Por que esta noite é diferente?” O pai respondia: “Asmos era remoção do Lêvedo da casa”. Havia uma liturgia praticada pelas famílias nesse dia:

Depois da limpeza normal da casa, a mãe deixava de proposito vários pedaços de pão de fermento espalhados pela casa, alguns grandes em lugares fáceis paras as crianças pequenas e outros minúsculos e em outros lugares mais difíceis para os filhos mais velhos. O pai liderava a aventura. Usando uma vela, uma colher de pau, uma pena e um pedaço de tecido de linho, toda família procura diligentemente pela casa toda até encontrar os pedaços de pão. 

Era muito divertido, as crianças transbordavam de animação, riam cada vez que encontravam uma migalha. Depois de achada todas as migalhas, o pai com todo cuidado e gestos dramáticos, varria o fermento para dentro da colher com a pena (ninguém podia tocá-lo) como se estivesse desativando um explosivo poderoso; depois todas as migalhas eram queimadas. 

O fermento representa a idolatria e a influencia do Egito e seus deuses. Deus ordenou que deixássemos todas essas coisas para tras quando nos tirou de lá pelo sangue do cordeiro. “Nunca se esqueçam disso!” Apesar do Egito fazer parte do passado distante, o poder do fermento ainda estava vivo e continuava representar um risco na vida nova em Canaã. Lá, Israel encontraria os Baalins. “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima dos céus, nem embaixo na terra...” (Ex 20.3-5).

3)     Acautelai-vos do fermento

Séculos depois, Jesus voltou a alertar sobre o fermento. Advertiu seus discípulos a se guardarem do fermento dos fariseus, dos saduceus e herodes: “Estejam atentos e tenham cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes” (Mc 8.15). Aqui, Jesus estava se referindo aos ensinamentos desses religiosos que escravizam o povo. Paulo também exorta a igreja de Corinto: “Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova e sem fermento, como realmente são” (1 Co 5.7). Paulo está exortando aos coríntios a se livrarem do fermento da imoralidade sexual que estava acontecendo diante dos seus olhos. 

São inúmeras as fontes de corrupção dentro de nossas casas, muitos fermos espalhados. Podemos citar a presença de maus hábitos de família, o que assistimos na televisão, o que vemos no computador e no celular, as musicas que ouvimos. Somam-se isso más companhias que nos corrompem com más conversações: “...as más companhias corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). O pastor Luiz Sayao publicou algo em seu Instagram: “Em 1981 estava na USP cursando linguística...eu tinha 18 anos. E todos da Universidade pelo meu comportamento, de ler Biblia, livros bons, frequentar a igreja, etc. E diziam: você é jovem, vai se divertir. Algum tempo depois, uma dessas pessoas tentava tirar a própria vida, mas fui até ele e falei do amor de Jesus, e se converteu”.

Paulo também adverte contra conversação torpe, as palavras vãs, as chocarrices (as bem conhecidas piadinhas), a linguagem obscena “Não haja obscenidade nem conversas tolas nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas , ao invés disso, ação de graças” (Ef 5.4). 

Além disso, devemos considerar que o fermento corruptor não vem apenas das coisas que nos cercam. Na verdade, seu maior poder está muito mais perto, está dentro de nós, naquilo que a Bíblia chama de coração. A Biblia ensina que fomos concebidos e nascemos em pecado (Sl 51.5). Nosso coração é fermentado pelo mal. O profeta Jeremias descreve o coração do homem como sendo “...enganoso...mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jr 17.9). O apostolo Paulo afirmou: “Não há justo, nem um sequer” (Rm 3.10).

Jesus afirmou para um religioso chamado Nicodemos que era preciso nascer de novo para entrar no reino de Deus. O poder de transformação opera de dentro para fora do novo coração. A pessoa nasce de novo no reino de Deus; entra de modo miraculoso num novo tipo de vida originada e mantida a partir do céu pelo Espirito Santo de Deus, em Cristo temos a “vida eterna”.

Conclusão

A instrução para vasculhar nossa “casa”; quer inclua os pensamentos, os comportamentos morais, as famílias ou as igrejas, parece uma maneira apropriada de honrar essa festa. Quando fazemos isso, buscamos a santidade e, ao mesmo tempo, estamos debaixo da redenção de Cristo caracterizada pela ausência de fermento.

Considere as palavras do sermão do monte: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt 5.20). O bisturi de Jesus corta fundo, vai além das aparências: há mais coisas envolvidas no homicídio do que se vê a superfície: “Não matarás” (Mt 5.21). A ira e o julgamento são evidencias do mesmo pecado: “Qualquer um que se irar contra o seu irmão estará sujeito ao julgamento...ou chama-lo de Raca ... louco...corre o risco de ir para o fogo do inferno” (Mt 5. 21.22). 

Há mais coisa envolvida no adultério do que trair a esposa; o hábito de tantos homens de medir uma mulher de alto a baixo com os olhos cheios de deseja sensual “só para brincadeira”. “Qualquer que olhar para uma mulher para deseja-la, já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mt 5.28). E acaba corrompendo o amor conjugal que deve ser puro, fiel e verdadeiro. 



Por que Jesus nos faz passar sem anestesia por essa cirurgia da alma? Seu exame visa revelar o fermento em nossa vida. Suas palavras não são apenas conselhos que podemos “aceitar ou rejeitar”. Refletem seu direito como rei. Em seu reino, não há lugar para o fermento. Seu exame é exigente: “Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte d seu corpo do que ir todo ele para o inferno” (Mt 5.29-30). 



 

terça-feira, 13 de junho de 2023

 Pascoa e Jesus -  Lv 23.1-8 


Deus estabelece para o povo de Israel sete festas (Lv 23), estas festas estão relacionadas com o calendário agrícola de Israel, demarcam o inicio da agrícola e o fim da colheita. O Senhor diz que a Palestina era uma “terra de trigo e cevada, videiras e figueiras e romãzeiras, azeite de oliva e mel” (Dt 8.8). No capitulo 23 encontra-se a palavra “santo” dez vezes, ressaltando o propósito da festa. Também se destaca o numero sagrado “sete”, que significa: “totalidade, culminância ou perfeição”: sábado (sete dias), sétimo ano (descanso), havia sete semanas entre a pascoa e o pentecoste, a pascoa durava sete dias e a festa do tabernáculo, sete dias.

A primeira festa é a páscoa, que é comemorada no mês de abril (abibe), nela se celebra o livramento do povo de Deus do Egito. A segunda, é a festa dos pães ázimos um período que o povo de Israel, logo a pascoa, ficava comendo pão sem fermento, dando a idéia de separação, consagração. A terceira festa é a festa das primícias, quando inicia a colheita do trigo e da cevada, a primeira parte da colheita era levada perante o Senhor. A quarta festa é a de pentecoste (quinquagésimo, cinquenta dias da pascoa), também celebrava as colheita final. A quinta festa é a das trombetas que era uma convocação, shofazes tocavam sete dias seguidos anunciando a festa da expiação. E a sexta festa é a expiação, confissão nacional, um cordeiro era morto. E a sétima festa é a festa dos tabernáculos em que o povo se lembrava dos quarenta anos no deserto. 

1)     Libertação

O povo de Israel estava escravizado no Egito. Os egípcios “lhes fizeram amargar a vida”. “Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e Jacó” (Ex 2.24). O povo de Deus, no entanto, o apagou de sua memória. Na sarça ardente, Moisés perguntou: “Qual é o seu nome?” E Deus respondeu: “Eu sou o que sou”. Portanto, Moisés deve voltar ao Egito, falar tanto com Israel e quanto com Faraó e apresentar YHWH como o Deus que é, de fato, em comparação com os deuses que não são. 

YHWH envia dez pragar sobre o Egito, atingindo frontalmente suas divindades: A primeira praga transformou a agua do Nilo em sague (Ex 7.14-24), confrontando o deus Hapi. Na segunda praga, Deus enviou rãs (Ex 8.1-15), mostrando o desprezo de Deus ao deus Heqt (deusa rã).

Na terceira praga vieram os piolhos (Ex 8.16-19), um soco no deus Geb; na quarta praga, uma onda de moscas (Ex 8.20-32), um ataque ao deus Khepfi (deus dos insetos). A quinta praga todo rebanho foi afetado, mostrando a impotência de apis (o deus touro). A sexta praga vieram ulceras que afligiam homens e mulheres (Ex 9.8-12), um gancho direto no queixo de Imthotep, a divindade da cura.

A sétima praga o granizo (Ex 9.13-35), destruí todas as plantações e devastou o Egito e confrontou Nut (deusa da colheita). Na oitava praga os gafanhotos praticamente comeram quase toda plantação, humilhou Anubis, deus dos campos. E, com a nona praga, uma escuridão palpável, e tão densa qu era (Ex 10.21-29), revelou a fragilidade do grande Amon-Rá, o deus sol e pai dos Faraós. 

2)     A pascoa

A ultima praga seria a morte de todo primogênito cuja casa não possuía o sangue. Se o seu povo confiasse de fato em YHWH, viveria pelo sangue do cordeiro. Se duvidasse e não marcasse as portas com sangue seu primogênito seria morto com os primogênitos do Egito. Deus deu algumas instruções:

Tratava-se de uma celebração familiar e cada homem deveria escolher um cordeiro para a sua casa e só compartilhá-lo com o vizinho se sua família fosse pequena demais para consumir o cordeiro inteiro (Ex 12.3-4). Portanto, a participação era exclusiva a comunidade do povo de Deus

O cardápio era simples: um cordeiro ou um cabrito de um ano “sem defeito” (Ex 12.5), escolhido no décimo dia do mês mas imolado no décimo quarto dia. Por que separado no décimo dia? Dois propósitos: o cordeiro teria que conviver com a família durante quatro dias; tinha que ficar para ser avaliado, não podia ter defeito, mácula. 

Então no décimo quarto dia o cordeiro era imolado, assado ao fogo e consumido por inteiro: “cabeça, pernas e vísceras” (“fressuras”) (Ex 12.9). Se não conseguisse comer todo cordeiro, o resto deveria ser queimado. Também ervas amargas e pães asmos. As ervas amargas constituíam os acompanhamentos simples. As ervas amargas o lembrariam de sua própria história, dos séculos de opressão cruel e tirania severa. Os pães asmos contariam outra história, sobre um novo começo, um rompimento com o passado infeliz e o ingresso numa vida radicalmente nova e diferente. 

“Passem, então, um pouco de sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas nas quais comerão o animal” (Ex 12.7). as nove horas da manhã do dia 14 de Nisã, o cordeiro era amarrado, onde ficava aguardando a imolação na hora do sacrifício da tarde. As três horas da tarde o cordeiro era morto, sua garganta era cortada e seu sangue aspergido sobre as portas.  O sangue era cobertura, protegendo seu povo da justiça a ser executada pelo anjo da morte. O termo hebraico para Páscoa é “Pessach”, que retrata a imagem vivida de um Deus que “abre as asas” sobre o seu povo a fim de protege-lo e salvá-lo. 

3)     Eis o cordeiro que tira o pecado do mundo

João Batista estava junto ao rio jordão batizando para o arrependimento, mas “Quando viu Jesus passar, olhou para ele e afirmou: Vejam é o cordeiro de Deus” (Jo 1.36). Paulo afirma que “...Cristo nosso cordeiro pascal, foi sacrificado” (1 Co 5.7). Jesus morreu na pascoa. E no livro de hebreus fala sobre o seu sacrifício: “pois não temos um sumo sacerdote que não seja capaz de compadecer-se das nossas fraquezas, mas temos o sacerdote supremo que, à nossa semelhança, foi tentado de todas as formas, porém, sem pecado algum” (Hb 4.15). 

Em João 14.6, Jesus afirma: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”. No Antigo Testamento o tabernáculo era dividido em três partes: o átrio, o lugar santo e o lugar santíssimo. No átrio ficava o altar do holocausto e a pia da purificação. Quando Jesus diz: “Eu sou o caminho”, ele está apontando para o átrio, ou seja, lugar do sacrifício, lugar da morte e da purificação. Então, ninguém pode chegar ao lugar santíssimo se não passar pelo átrio. 

“Eu sou a verdade” que é um símbolo do “O lugar santo”, onde ficava a mesa dos pães da preposição (que alimentava os sacerdotes), o castiçal de ouro (símbolo da luz que não apaga) e o altar do incenso (que subia um incenso aromático o tempo todo, símbolo da oração).

“Eu sou a vida” E, por fim, temos o “Santo dos Santos”, onde ficava a arca do concerto, lugar da presença de Deus, da sua manifestação, onde o sangue era aspergido em cima da tampa da propiciação e os pecados eram perdoados. Só o Sumo sacerdote entrava uma vez no ano para oferecer sacrifício no dia da expiação. Assim, Jesus daria a sua vida por todos nós.

 Conclusão

Jesus reuniu seus discípulos para comemorem a pascoa. Então “Jesus pegou o pão, deus graças, quebrou-o, e o deu aos seus discípulos, recomendando: tomai e comei; isto é o meu corpo. Em seguida tomou o cálice, deu graças e o entregou aos seus discípulos, proclamando: Bebei dele todos vós... é o meu sangue... para remissão de pecados” (Mt 26.26-28).

O cordeiro para o povo era preso à estaca às nove horas da manhã. No momento em que o sumo sacerdote estava amarrando o animal na estaca, Jesus estava sendo pregado na cruz do outro lado do muro, diante dos olhos do mundo. À tarde, às 15 00 hs, no horário tradicional da imolação do “cordeiro para o povo”, o sumo sacerdote cortou a garganta do animal e conclui a oferta da paz com a declaração litúrgica: “Está consumado”.

Exatamente no mesmo instante, do outro lado do muro, Jesus, o sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, clamou: “Está consumado!” e deu seu ultimo suspiro (Jo 19.30). 

O cordeiro perdoou nossos pecados. Estávamos presos no Egito, escravizados. Hoje, o pecado continua sendo um capataz cruel. A libertação é possível por meio da morte, não apenas do cordeiro, mas também dos deuses que os nossos corações insensatos se curvam.

O cordeiro tem graça para nos conceder. É a graça que salvou, é a graça que buscou o mais vil pecador no mais denso pecado e transportou para o reino do filho amado. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9).

O cordeiro nos justifica de todo pecado. Paulo afirma: “Tendo sido, pois, justificado pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da gloria de Deus” (Rm 8.1).

O cordeiro nos concede a verdade liberdade. Disse Deus: “Este mês será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano” (Ex 12.2). tudo começou com o poderoso livramento que Deus deu ao seu povo. Fomos redimidos, comprados, libertados do pecado. “...Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito, e sem macula, o sangue de Cristo” (1 Pe 1.18.19).  

 




terça-feira, 6 de junho de 2023

 O sábado e Jesus  Mt 11.28-30 

Introdução

Em nosso país temos um conjunto de festas em nosso calendário; por exemplo, páscoa, natal, corpus cristis, etc. E quando o povo de Deus estava no deserto indo em direção a terra prometida, Deus estabeleceu no calendário do seu povo um conjunto de festas. Cada uma das celebrações, fornecia um indicio, um vislumbre daquele que estava por vir. O apostolo Paulo, mais na frente, chamou as festas de sombras (Cl 2.17).

“Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo” (Cl 2.17). Pense num homem andando em direção ao oeste numa manhã ensolarada. Enquanto o sol aquece as costas do andarilho, sua sombra se estende adiante e chega antes dele. A sombra não é apenas um exemplo dele, mas sim, um elemento ligado de modo inseparável à sua pessoa. Anuncia que a sua chegada é iminente. 


Jesus é o personagem principal da Bíblia, aquele que faz sombras enquanto se move pela história da humanidade rumo à sua encarnação em Belém da Judéia. A sombra apareceu no antigo Israel em seus sacrifícios e festas. A sombra era a promessa daquele que estava por vir, um retrato bastante real da “realidade” que é “encontrada em Cristo”.

1)   No começo

De acordo com Genesis “Criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Deus conferiu a responsabilidade de exercer domínio ativo ao sol (o luzeiro maior). Estabeleceu limites para o processo reprodutivo no reino vegetal e animal. Adão devia exercer domínio responsável sempre em sujeição a Deus, o soberano (Gn 1.26-28). “Sejam férteis e multipliquem! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes...as aves e todos os animais...” 

Sob seu cuidado, a criação devia louvar a Deus de novas maneiras. No tocante à sua identidade, Adão era portador da imagem de Deus; seu trabalho, portanto, refletiria a imagem divina. O mandato cultural de Adão e seus descendentes era que cuidasse e zelasse da criação. E quando Deus terminou a criação, declarou: “é muito bom” e, no sétimo dia, descansou (Gn 2.2-3). Aqui o sábado aparece pela primeira vez para marcar alegria e o prazer porque a criação era perfeita e desfrutava Shalom – paz.

Mas a alegria durou pouco. O pecado se infiltrou e corrompeu tudo o que Deus havia criado e desvirtuou tudo o que antes era “bom”. A mulher, criada para descansar nos braços carinhosos do marido e se regozijar com o dom vivificador de dar à luz, gemeria de dores de parto. O homem criado, para se relacionar com o seu criador, agora esconde-se de Deus, o homem criado para ser feliz e produtivo em seu trabalho, provaria da amargura e angustia da labuta.   

Dos escombros de um mundo que se desintegrou, cintila uma claridade tênue, uma luz, Deus anuncia seu plano: esmagará satanás e será vitorioso por meio do “descendente da mulher”. A restauração da alegria e do descanso acarretará em conflito: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferira a cabeça, e você lhe ferira o calcanhar” (Gn 3.15). Precisamos saber o preço do nosso pecado e aprender, pela fé, a ansiar pela redenção de Deus.

2)   Sombras vindouras

Ao longo de todo o Antigo Testamento, Deus interveio de modo direito com mão forte, porém terna, a fim de estimular a fé do seu povo. Deus libertou o seu povo da escravidão de Faraó, Deus levou seu povo para o deserto, cuidou do seu povo. Nesse tempo de deserto, de peregrinação, Deus instituiu festas que serviriam para estruturar, organizar a vida e, ao mesmo tempo, retratar a redenção.

Deus chamou as festas de “santas convocações”, ou     “santas assembleias” (Lv 23.1-2). Vários termos hebraicos se acham por trás dessa tradução para a nossa língua. O primeiro as “festas fixas” instituídas pelo Senhor e regulamentadas por suas ordenanças. Dentre elas, havia as Haggim, festas de peregrinação, ocasiões em que o povo de Israel devia se encaminhar para um lugar central, templo e Jerusalém. 

Quando Israel fosse convocado para uma das festas de peregrinação ou quando as famílias se reunissem nos lares ou nas ruas dos vilarejos para celebrar as outras festas, deviam voltar seus olhos (e sua fé) para o futuro. As festas de Israel não exigiam que Israel negociassem com Deus. Foram instituídas depois dos israelitas serem libertados da escravidão do Egito pela graça maravilhosa de Deus, remidos por essa graça para ser seu povo especial.

O PROPOSITO DAS FESTAS: OS SABADOS, A PASCOA, PÃES ASMOS, DAS PRIMICIAS, PENTECOSTES, TROMBETAS, DIA DA EXPIAÇÃO, TABERNÁCULOS E ANO JUBILEU – ERA AJUDAR O POVO A OLHAR PARA FRENTE, CONFERIR A VIDA UM SENTIDO FUTURO, APONTAR INEXORALVEMENTE PARA O MESSIAS QUE CUMPRIRIA TUDO O QUE AS FESTAS RETRATAVAM. 

3)   Sábados

O sábado não era apenas um dia para ser observado a cada semana. Na verdade, havia sábados no plural, deveriam ser comemorados no sétimo dia, no sétimo ano e ano  jubileu- o sábado dos sábados, uma celebração de um ano inteiro depois do sétimo ciclo de sete anos.

Primeiro, guardar os sábados implicava dar ouvidos ao chamado para “lembrar”. Mas o que Israel devia lembrar? O sábado era uma lembrança da criação: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar...porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Ex 20.8-11).

O que aprendemos? Que eles se esforçassem para captar a verdade maravilhosa de que todos os aspectos da criação derivavam seu significado e proposito daquele que os fez existir. Portanto, nos dias de sábado, homens e animais deviam tirar uma folga para provar a dadiva do descanso concedido por Deus num mundo exausto e recordar a bondade desfrutada antes da terra ser sufocada por ervas daninhas. No princípio, toda criação era boa; pois havia sido criada pela sua palavra. 

Segundo, quando entregou a lei pela segunda vez (Dt 5.12-15), porém, Deus definiu uma base diferente para a celebração do sábado, a saber, a lembrança do livramento do Egito: “Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali  com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasse  dia de sábado” (Dt 5.12-15).

Aqui neste texto, o sábado é caracterizado pelo livramento que se torna foco de todos os sábados. Também nesse caso, era preciso lembrar: Israel devia recordar e relatar a história dos patriarcas  (êxodo) às gerações mais novas. A observância do sábado, era um esforço de fé para vislumbrar a redenção que viria de modo mais pleno no futuro. Ele traria, por fim, o descanso verdadeiro... todos os sábados do Antigo Testamento se cumpririam nele.

Ao “guardar a lei”, como dizem as escrituras, nem mesmo as leis acerca do sábado. Deus queria que seu povo soubesse, a cada geração, que buscar descanso pelos próprios esforços era um projeto destinado a fracassar, pois eles nunca achariam repouso final da busca.

As palavras de Jesus e o modo como observou o sábado são como uma placa de neon num lugar publico para servir como advertência a todas as gerações: ESFORÇAR-SE PARA DESCANSAR NÃO ADIANTA; NEM SE DEEEM O TRABALHO DE TENTAR!

Jesus clamou: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Jesus se refere como “Senhor dos sábado” e corrobora sua afirmação ao curar, no sábado, um homem que tinha uma das mãos ressequidas. Ao rejeitar de modo desafiador as exigências dos fariseus de que honrasse o sábado com abstinência total de trabalho, insistiu que seu trabalho proporcionava descanso. 

O ensinamento principal acerca do sábado consistia no fato de que ninguém encontra descanso por seus próprios esforços, o descanso concedido por Deus seria garantido pela morte de Jesus na cruz como castigo por nossos pecados e como o fim da culpa  que deixa nossa alma tão inquieta.

Conclusão

Paulo disse aos romanos acerca de Jesus: “Foi entregue por causa das nossas transgressões” (Rm 4.25) e “foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravo” (Rm 6.6). Ele explicou a ideia em mais detalhes em sua carta aos gálatas: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.19-20). Garantiu aos romanos: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus” (Rm 5.1). Conclui que, diante da cruz de Cristo: Já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).