terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

 O Bezerro de ouro e nós. Ex. 32.1-6 

Introdução:

Vimos, nos capítulos 25 à 30 de Êxodo as instruções dados pelo Senhor quanto ao tabernáculo: a arca do Senhor, a mesa da presença, o candelabro, o véu que separava o lugar Santo do Santíssimo e, paramos no Altar de Bronze e necessidade do sangue de animais. Agora, folheando, os capítulos 35 à 40, Moisés, apresenta, os detalhes, pormenores da construção, execução do Tabernáculo. 

Aqui, deparamos com duas coisas: Primeiro, os artesãos, Bezalel e Aoliabe, o texto diz: “...Homens capazes, a quem o Senhor concedeu destreza e habilidade para fazerem toda obra de construção do santuário, realizarão a obra como o Senhor ordenou” (Ex 35.1). Segundo, em Êxodo 25, Deus deu uma ordem: “Diga aos israelitas que me tragam uma oferta. Receba-a de todo aquele cujo coração o compelir a dar”. O apostolo Paulo quando escreveu aos macedônios quanto a contribuição á igreja da Judéia, ele diz: “Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria” (2 Co 9.7). Agora, veja a resposta do povo de Israel: “E o povo continuava a trazer voluntariamente ofertas, manhã após manhã. Por isso, todos os artesãos habilidosos que trabalhavam no santuário interromperam o trabalho e disseram a Moisés: O povo está trazendo mais do que o suficiente para realizar a obra que o Senhor ordenou” (Ex 36.3,4).

E, tudo chega ao ápice quando a glória de Deus desce sobre o Tabernáculo em Êxodo 40.34-38: “Então a nuvem cobriu a tenda do encontro, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo. Moisés não podia entrar na tenda do encontro, porque a nuvem estava sobre ela, e a gloria do Senhor enchia o tabernáculo”. 

1)     Um ídolo...vaca sagrada.

Nos capítulos 32 a 34, enquanto “Quando o povo de Israel percebeu que Moisés tardava muito a voltar do monte, juntou-se ao redor de Arão...Vamos fazer-nos deuses...”(Ex 32.1). Aqui, vemos uma mancha, pecado, sombra, iniquidade...nessa narrativa grandiloquente da presença de Deus. O povo foi tirado da escravidão, 400 anos. O povo escapou da morte por meio da pascoa. O povo foi batizado no Mar Vermelho. E, no Monte Sinai, uma aliança, um casamento, entre o povo e Deus. Israel é uma nova humanidade, uma nova identidade.

Infelizmente, porém, a velha humanidade está à espreita no coração da nova humanidade. E, aqui, o povo de Deus, se comporta como a humanidade em Adão, pecadora. Enquanto Moisés está recebendo as instruções para o culto verdadeiro a Deus, o povo institue um culto alternativo e usam o seu ouro (Ex 32.2,3) para confeccionar um ídolo (V.4). Arão, irmão de Moisés, reage de modo semelhante ao primeiro Adão, culpando Eva pelo pecado.

Em Êxodo 32.4, ele diz que lançou o ouro no fogo e, como que por mágica “eu joguei no fogo e surgiu um bezerro”. Mas, o texto não diz isso: “Ele os recebeu (o ouro) e os fundiu, transformando tudo num ídolo, que modelou com uma ferramenta própria, dando-lhe a forma de um bezerro...”. Em Isaias 44 fala dessa ferramenta e nos dá detalhes: “O ferreiro apanha uma ferramenta e trabalha com ela nas brasas; modela um ídolo com martelos, forja-o com a força do braço...inclina-se diante dele e o adora. Ora a ele e diz: Salva-me; tú és o meu deus. Eles nada sabem, nada entendem; seus olhos estão tapados, não conseguem ver, e suas mentes estão fechadas, não conseguem entender” (Is 44.12,17-18). 

O povo quer deuses que “vão a nossa frente” (v.1), mas isso é exatamente o que o Senhor havia feito (Ex 14.19). O povo está privando Deus de sua glória, trocando-o por um pedaço inanimado de metal brilhante. O Salmo 106.19-20, que reflete esse episódio, diz: “Em Horebe fizeram um bezerro, adoraram um ídolo de metal. Trocaram a Glória deles pela imagem de um boi que come capim”. A expressão “VACA SAGRADA” vem dessa história; sua vaca sagrada é aquilo de que você não pode abrir mão, pois crê que sua segurança, identidade, aprovação, realização ou satisfação depende disso. Sua vaca sagrada é seu ídolo...

2)     Idolatria

Idolatria é um ato de adultério. Em Êxodo 24, o povo havia firmado uma aliança com Deus. O Senhor havia se tornado seu marido. Tinham feitos votos de aliança não muito diferentes de casamento “Quando Moisés relatou ao povo todas as palavras e leis do Senhor, responderam a uma só voz: Faremos tudo o que o Senhor ordenou” (Ex 24.3). Agora, no capitulo 32, viraram as costas para Deus e se curvaram diante de um bezerro.

Nossa idolatria como cristão não é diferente. Por meio do batismo, firmamos uma aliança com Deus. Toda vez que você toma a ceia do Senhor, reforça os compromissos dessa aliança “Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha” ( Co 11.26). E toda vez que peca e dedica sua lealdade a alguma outra pessoa ou coisa, quebra a aliança. O Apostolo Tiago, é incisivo: “Adúlteros! Ou não estais cientes de que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus? Ora, quem quer ser amigo do mundo torna-se amigo de Deus” (Tg 4.4). O apostolo João nos exorta: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois todo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provém do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2.15,16). 

ÍDOLOS não tem moralidade e, portanto, a idolatria não tem moralidade. O bezerro de ouro é mudo. Paulo em sua primeira carta aos Coríntios, comenta: “Por isso, meus amados irmãos, fugi da idolatria” e pergunta: “...Será que o sacrifício oferecido a um ídolo significa alguma coisa?”. E o apostolo responde: “O que os pagãos sacrificam é oferecido, isto sim, aos demônios e não a Deus...” (1 Co 10.1,19-20).

A idolatria leva a um colapso moral. Como afirmou Dostoievski, em seu livro “Os irmãos Karamazov”: “Se Deus não existe tudo é permitido”. De acordo com Êxodo 24.11, quando os representantes do povo, os anciãos, subiram no Monte Sinai e vislumbraram luzes “cujos pés havia algo semelhante a um pavimento de safira, como o céu em seu esplendor...depois comeram a beberam” (EX 24.9-11). Enquanto, que em Ex 32:6: “O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra” (ou orgia sexual). 


Conclusão: Por que um bezerro de ouro?

O termo traduzido por “bezerro” indica, um boi jovem. Touros e bois eram símbolos comuns de força e fertilidade. O mercado em alta na bolsa de valores, é “mercado de touro”, e dizemos que alguém é “forte como touro”. Israel lança mão de imagens das culturas ao redor para reimaginar Deus. 

O povo se dispõe a adorar a Deus, mas deseja fazê-lo em seus termos. Está disposto a prestar culto a Deus, mas deseja combinar esse culto com mundanidade e excessos. Querem um deus visível e manipulável. Ainda que não estejam substituindo Deus, eles o estão reduzindo.

O que acontece hoje? Algumas pessoas querem se beneficiar de participar da igreja, mas não querem se relacionar com Deus nos termos dele. Ou querem as bênçãos de Deus juntamente com os prazeres de satisfazer os próprios apetites. Querem perdão de Deus, mas não querem obedecer a sua vontade.

Algumas pessoas querem escolher quais partes da Biblia aceitam. Todos nós temos uma tendência natural de remodelar Deus á nossa imagem de nossa cultura, em vez de nos lembrarmos de que fomos criados a sua imagem. 


 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

 O caminho para casa – Ex. 25.1-9

Introdução:

Deus colocou o primeiro homem e a primeira mulher no jardim do Éden. Era um lugar de provisão e fartura, de segurança e proteção. Era seu lar. No meio dele, encontrava-se a arvore da vida, e a melhor coisa desse lar era que Deus estava presente com eles. A humanidade se sentia em casa com Deus.

Mas, “O Senhor Deus o mandou embora do jardim do Éden para cultivar o solo do qual havia sido tirado. Depois de expulsar o homem, colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se movia para todos os lados a fim de guardar o caminho para a arvore da vida (Gn 3.23,24). 

Adão e Eva estava a leste do Éden. Então, quando Caim matou seu irmão “afastou-se da presença do Senhor e foi viver na terra de Node, a leste do Éden” (Gn 4.16). Os seres humanos estão mais distantes de Deus e mais distantes do Éden. E nunca mais voltaram desde então, temos um profundo anseio por nosso lar e uma profunda sensação de deslocalização e desarraigamento.

1)     O mapa do caminho para casa

O tabernáculo é um mapa que nos mostra o caminho de volta para casa. Por isso, é cheio de reflexos do Éden. Os indícios estão todos inseridos na arquitetura, na mobília e nos utensílios ... Primeiro, a lista de materiais para o tabernáculo começa com ouro e termina com ônix. Aqui vemos uma correlação com o Éden: “O ouro daquela terra é bom, também existem ali resina aromática e ônix” (Gn 2.12).

Segundo, em êxodo 25.31-39 descreve o candelabro do tabernáculo com botões e flores, ele se parece com uma arvore, descrita no meio do jardim. Terceiro, em sete ocasiões, ao logo do relato da criação lemos que “Deus disse” (Gn 1.3,6,9,14,20,24,26). E sete vezes, nas instruções do tabernáculo lemos que “O Senhor disse a Moisés” (Ex 25.1; 30.11,17,22,34; 31,1,12). Quarto, e, mormente, no tabernáculo a presença poderosa do Senhor será manifestada, assim como Deus se manifestava todos os dias para Adão e Eva.

 2)     O tabernáculo

Faça uma arca de madeira de acácia...revista-a de ouro puro...” (Ex 25.10). No versículo 21, diz: “Coloque a tampa sobre a arca e dentro dela, as tabuas da lei da aliança que lhe darei”. E mais: “Ali, sobre a tampa, no meio dos querubins que estão sobre a arca da lei da aliança, eu me encontrarei com vocês e lhe darei todos os meus mandamentos para os israelitas” (Ex 25.22).

Quando lemos “Faça uma tampa”, a palavra “tampa” tem o significado original de “cobertura”. A Bíblia King James, de 1611, traduziu o termo por “propiciatório” (lugar onde é concedida propiciação, mercê). É o lugar em que se pode encontrar misericórdia (Lv 16.14-15). Mas, o que essa tampa cobre? Ela fica acima das tábuas de pedra da arca. Cobre, portanto, a pena da lei. 

“Faça uma mesa de madeira de acácia...revista-o de ouro puro e faça uma moldura de ouro ao seu redor” (Ex 25.23). A maioria das casas tem uma mesa. Nada simboliza o lar de modo mais vivido que uma refeição, à mesa em que a família se reúne para compartilhar alimentos e conversas. E, aqui, no tabernáculo, há uma mesa preparada para refeição (v.29), e sobre a qual há alimento: “Coloque sobre essa mesa os pães da presença diante de mim em todo tempo” (Ex 25.30). 

De acordo com levítico 24.5-9, o pão da Presença era constituído de doze pães, em duas fileiras de seus, substituídos a cada semana. “Esses pães serão colocados regularmente perante o Senhor, cada sábado, em nome dos israelitas, como aliança perpétua”.  Havia um para cada tribo, para indicar que todo povo de Deus era bem-vindo para com eles.

“Faça um candelabro de ouro puro e batido. O pedestal, a haste, as taças, as flores e os botões do candelabro formarão com ele uma só peça”. Ainda que o candelabro se pareça com a arvore da vida, continua a ser uma luminária. Trouxe luz para o novo lar de Deus. O lar de Deus é aberto para misericórdia (arca), comunhão (mesa) e luz (candelabro). 

Em João 1.14 diz: “A palavra se tornou carne e fez sua habitação entre nós” A expressão literal é “armou sua tenda entre nós”. Ou seja, Jesus, a Palavra, “tabernaculou” entre nós. Jesus é o nosso lar e o caminho para o lar. Jesus é a verdadeira arca; Jesus é o verdadeiro pão; Jesus é o verdadeiro candelabro.

3)     Os guardas

O tabernáculo era a imagem do lar, mas não era o lar em si. O tabernáculo não era o Éden. Era um mapa, mas ainda havia uma jornada a realizar. A humanidade ainda estava a leste do Éden. O povo ainda estava exilado de Deus em razão de seus pecados.

“Faça um véu de tecido azul, roxo e vermelho, de linho fino trançado, com querubins bordados por um artesão. Pendure-o com gancho de ouro em quatro colunas de madeira de acácia revestidas de ouro sobre quatro bases de prata. Pendure o véu pelos colchetes e coloque atrás do véu a arca da lei da aliança. O véu separará o lugar santo do lugar santíssimo” (Ex 26.31-33).

Quem entrasse no tabernáculo depararia, em primeiro lugar, com uma cortina grossa que bloqueava o caminho até a presença santa de Deus. De que maneira essa cortina era decorada? “Com querubins bordados por um artesão” (v.31). Trata-se de um reflexo de Genesis 3.24: “Depois de (O Senhor Deus) expulsar o homem, colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se movia para todos os lados a fim de guardar o caminho para a arvore da vida”. AQUI, NO TECIDO DA CORTINA, OS QUERUBINS AINDA GUARDAM O CAMINHO DE VOLTA PARA DEUS. 

Como vimos em Ex. 19, o Sinai foi dividido em três áreas limitadas: a área que o povo permaneceu corresponde ao pátio do tabernáculo; o monte onde os anciãos se encontraram com Deus corresponde ao lugar santo. E, o topo do monte, onde Deus desceu, corresponde ao lugar santíssimo. Esses limites foram estabelecidos para proteger o povo da presença santa de Deus “para que o Senhor não se voltasse contra eles” (Ex 19.22-24). Os querubins não protegem Deus de nós. Eles nos protegem de Deus.

4)     O caminho para casa

Primeiro, vimos a arca, depois a mesa, e o candelabro, são descritos. São a promessa de um novo lar. Em seguida vimos um obstáculo representado pela santidade de Deus e o nosso pecado, quando nos deparamos com os querubins bordados no véu do santuário.

 Então, no capitulo 27, o altar de bronze é descrito. Ou seja, o caminho de casa passa pelo sangue do sacrifício. Quando o adorador entrava no pátio, a primeira coisa que ele via era o altar de bronze, o lugar do sacrifício. Ele merecia morrer em razão de seus pecados. Merecia ser eternamente excluído da presença de Deus. No sacrifício, contudo, um animal morria no lugar do adorador. O animal recebia o castigo pelos pecados que a pessoa havia cometido, morria no lugar dela. 

Conclusão

O tabernáculo e o templo que o substituiu tinham um véu, o símbolo imponente da inacessibilidade de Deus (Ex 26.31-33). Ao se colocar diante do véu, à sua direita você veria o “pão da presença” e à esquerda, o candelabro, duas promessas de relacionamento com Deus. Diretamente à sua frente, porém, estavam o véu que impedia esse relacionamento. SEU OBJETIVO ERA PROTEGER VOCE DE DEUS, POIS É IMPOSSIVEL PESSOAS PECADORAS SOBREVIVEREM A UM ENCONTRO COM O DEUS SANTO.

Ouça, agora, a descrição por Mateus da morte de Jesus: “Depois de Jesus ter bradado novamente em alta voz, entregou o seu espírito. Naquele momento, o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo” (Mt 27.50-51). Quando Jesus morreu, a arquitetura foi radicalmente alterada. O caminho para Deus está aberto... 


Um fato importante, o tabernáculo e o pátio são voltados para o leste. Em Êxodo 27.13-15 deixa claro: a entrada deve ficar “do lado leste, para o nascente”(v.13). E onde está a humanidade? De acordo com Genesis, estamos do lado leste. Portanto, o tabernáculo é aberto para nós. Sua entrada é voltada para nós e nos convida ao lar...

 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

 A lei e a graça – Ex. 24.1-8

Introdução

Nos capítulos 20-24 de Êxodo encontramos códigos, leis, preceitos, pertinentes ao trabalho no campo, à escravidão e à lei moral. Vejamos algumas:  “Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá de ser executado” (Ex.21.17). “Se emprestarem dinheiro a alguém do meu povo que seja necessitado, não tratem como se fosse um negócio; não cobrem juros” (Ex 22.25). “Celebrem as festas de pães asmos sem fermento” (Ex 23.15). “Não cozinhem o cabrito no leite da própria mãe” (Ex 23.19). 

Surgem algumas perguntas: “os cristãos devem obedecer a essas ordens? Devemos tentar impô-las na sociedade? Como interagir com a lei de Moisés?

1)     A velha e a nova aliança

A aliança com Deus confirmada em Êxodo 24 não é a aliança debaixo da qual vivemos. Vivemos debaixo daquilo que Jesus chama “nova aliança” (Lc 22.20). Em Êxodo 24, Moisés transmite essas leis aos israelitas, que assumem o compromisso de guarda-las “Nós obedeceremos a todas as palavras proferidas por Deus” (Ex 24.1,3,7) e Moisés asperge o sangue sobre o povo “Moisés tomou do sangue e o aspergiu sobre o povo, e proclamou: Este é o sangue da Aliança que Deus fez convosco, por meio de todos esses mandamentos” (EX. 24.8). 

Contudo, essa “antiga aliança” deu lugar a uma “nova aliança” quando Jesus foi sacrificado. Por isso, quando Jesus deu o vinho a seus discípulos, na última ceia, disse: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramada em favor de vocês” (Lc 22.20). Em Hebreus 8 o autor diz, fazendo comparação da antiga e da nova aliança: “Porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados...Jesus, no entanto, havendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus” (v.4,12). 


Na nova aliança, a lei de Moisés escrita em tabuas de pedra é substituída pela lei do Espirito escrita em nosso coração: “Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel... uma nova aliança. Não conforme a aliança que fiz com seus antepassados... gravarei as minhas leis na sua mente e as escreverei em seu coração...” (Hb 8.7-10).

 Agostinho de hipona, teólogo do quarto século, destacou a relação entre Sinai e Pentecostes. Israel chegou ao Sinai cinquenta depois de oferecer o cordeiro pascoal. O Espírito veio em Pentecostes cinquenta dias depois que Jesus foi oferecido como cordeiro pascal. Ambos os acontecimentos ocorrem cinquenta dias depois da Páscoa. Em ambos houve um fenômeno intenso: um tremor violento do solo e um vento forte. Em ambos, houve fogo. Vejamos nas palavras de Agostinho:

“Observemos como aconteceu lá e como aconteceu aqui. Lá, o povo ficou à distância; havia um ambiente de temor, e não de amor. Estavam tão aterrorizados que disseram a Moisés: Fale você mesmo conosco, e ouviremos. Mas que o Senhor não fale conosco, senão morreremos. Então, como está escrito, Deus desceu no Sinai em fogo; mas foi assustador para o povo que estava à distância, e as leis foram registradas em tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus, “e não no coração” (Ex 3.18). 

Agora, o africano fala da nova aliança: “Aqui, porém, quando veio o Espírito Santo, os fiéis estavam reunidos, e ele não os aterrorizou  em um monte, mas veio a eles em uma casa. De fato, veio um som repentino do céu e uma violenta rajada de vento soprou sobre eles; houve um ruído, mas ninguém se apavorou. Ouça o som, seja igualmente o fogo, pois ambos, o fogo e o som, estavam presentes no Monte; lá, no entanto, havia fumaça, enquanto aqui, era apenas fogo. As Escrituras dizem que “viram o que parecia línguas de fogo que se separaram: aterrorizando-os à distância? De modo nenhum. Porquanto “pousaram sobre cada um deles, e todos começaram a falar em línguas, à medida que o Espírito lhes dava expressão” (Atos 2.1-4). Ouça alguém falar em línguas e entenda que o Espírito está escrevendo não em pedra, mas no coração”.

2)     O Filho, O Espírito e a vontade de Deus.

Na carta  aos Gálatas, Paulo fala de alguns falsos mestres que estavam voltando à lei de Moisés e impondo-a como guia para os cristãos: “Meus filhos queridos, pelos quais sofro novamente dores de parto até que Cristo seja formado em vocês...” (Gl 4.19). Portanto, não é a lei de Moisés que dá forma à vida cristã, mas Jesus. Somos chamados a ser semelhantes a Cristo e não guardar a lei. Paulo resume em Gálatas: “a lei de Cristo” (Gl 6.2).

 A lei de Cristo não é uma série de regras ou mandamentos. Romanos 7.6 menciona: “Mas agora, ao morrer para aquilo que antes nos prendia, fomos libertos da lei para que sirvamos conforme o novo caminho do Espirito e não conforme a velha forma do código escrito”. Agora o Espírito Santo ilumina a Palavra de Deus, para que conheçamos a vontade de Deus.

Novamente, o apostolo Paulo, depois de escrever em Gálatas que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”, Paulo acrescenta: “contra essas coisas não há lei” (Gl 5.22-23). Em outras palavras, o Espírito cultiva em nós virtudes que não podem ser criadas nem mesmo expressas por lei alguma. É impossível codificar amabilidade, paciência e bondade. Então, é o Espirito que nos concede poder para que obedeçamos à vontade de Deus. 

O símbolo maior de participação na lei mosaica era a circuncisão. Agora, porém, Paulo diz: “Circuncisão é a do coração, realizada pelo Espírito, e não pela lei escrita” (Rm 2.29). Em outras palavras, pertencemos ao povo de Deus e fazemos a vontade de Deus “pelo Espírito, e não pela lei escrita”. DIANTE DISSO, as palavras da lei de Moisés não se aplicam mais aos cristãos como se aplicavam a Israel.

Por exemplo, Êxodo 20.8-10 diz: “Lembra-te do dia de sábado, para santifica-lo. Seis dias trabalharás e farás todo o teu trabalho, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor, teu Deus. Nele não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho ou filha, nem teu servo ou serva, nem teus animais, nem o estrangeiro que moras em tuas cidades”. No Novo Testamento, porém, Paulo diz que essa questão tornou-se indiferente. 

“Uma pessoa considera um dia mais santo que o outro; outra considera todos os dias iguais. Cada uma deve estar plenamente convicta em sua mente” (Rm 14.5). De fato, em Gálatas 4.8-11, Paulo diz: “Impor dias especiais sobre as pessoas é o mesmo que voltar a escravizá-las. Isso não as leva de volta ao Sinai, mas ao Egito!” “Portanto”, diz ele em Colossenses 2.16, “não permitam que ninguém os julgue ... com respeito a alguma festa religiosa, celebração da lua nova ou sábado”.

 O autor de hebreus expressa a mesma idéia de modo ainda mais enérgico, ao falar sobre a nova aliança que o Espirito escreve em nosso coração, ele diz em Hebreus 8.13: “Ao proclamar nova esta aliança, ele transformou em antiquada a primeira. E o que se torna superado e envelhecido, está próximo do aniquilamento”. No capitulo nove, o autor particulariza: “Eram tão somente ordenanças que tratavam de comida e bebida e de várias cerimonias de purificação com água; esses mandamentos exteriores foram impostos até a chegada do tempo da nova ordem” (Hb 9.10).

Conclusão: 

Então, isso significa que podemos arrancar essas páginas de nossa Bíblia? Se são “antiquadas” e não se aplicam mais, podemos descartá-las? Podemos pulá-las em nossas leituras devocionais? Não! Paulo declara: “Tudo que foi escrito no passado, foi escrito para nos ENSINAR, de forma que por meio da PERSEVERANÇA ensinadas nas escrituras e do ANIMO que elas proveem, tenhamos esperança” (Rm 15.4).

 Em 1 Corintios Paulo expondo esses capítulos de Êxodo, nos adverte: “...Não quero que ignoreis que nossos antepassados estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual, e todos beberam da mesma bebida espiritual...entretanto, Deus não se agradou da maioria deles; e, por isso, seus corpos ficaram espalhados pelo chão do deserto”. A grande advertência para nós é: “Tudo isso lhes aconteceu como exemplo, e foi escrito como advertência para nós sobre quem o final dos tempos já chegou” (1 Co 10.11). 


terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

 Quando o culto acontece Ex 19 

Introdução

Pense no ultimo culto de domingo em sua igreja. Você o estava aguardando com expectativa? Ou, para você ir ao culto é algo rotineiro, não tão essencial? Ou, você  foi, porque se não fosse, alguém provavelmente “pegaria no seu pé”? Aqui, em Êxodo 19, chegamos a primeira reunião, assembleia ou congregação. Aliás, o termo para as três coisas é o mesmo em hebraico e grego. Moisés descreve esse capitulo como o “dia da assembleia”. No culto de êxodo temos três personagens principais: O Senhor, o povo e o mediador.

1)     O Senhor

Em Êxodo 19.9, Deus diz a Moisés: “Virei a você numa densa nuvem, para que o povo me ouça falar-lhe e confie sempre em você”. Deus virá e Deus falará. Tudo é planejado para que o povo possa ouvir e falar. Em Deuteronômio 4.12, Moisés celebra ao povo esse dia: “O Senhor falou a vocês do meio do fogo. Vocês ouviram o som das palavras, mas não viram forma alguma; havia apenas uma voz”. 

No entanto, não é só isso: “Enquanto o som da trombeta se tornara cada vez mais forte, Moisés falou e a voz de Deus lhe respondeu” (Ex 19.19). Ou seja, Moisés falou e Deus respondeu. Há uma voz e há um diálogo. Há um relacionamento. Se você perguntasse a outros qual é a chave para um bom relacionamento, a resposta seria: comunicação. É o que vemos aqui, comunicação entre Deus e a humanidade. “Procurai o Senhor e o seu poder, buscai sempre a sua face” (1 Cro 16.11).

2)     O povo

O relacionamento com Deus não é direto, pois Deus é santo. Não podemos nos aproximar de forma leviana, ou de qualquer jeito. Israel acampa “na frente do Monte”. Sabemos que monte não em frente, mas o significado é o trono de Deus (v.2). Ou seja, os israelitas estão se aproximando da mesma forma que um súdito se aproxima de um trono.

 No versículo 10, Deus diz a Moisés: “Vá ao povo e consagre-o...eles deverão lavar as suas vestes e abster-se de sexo (V.10,11,15). É preciso haver consagração. No versículo 6, Israel é chamado para ser “reino de sacerdotes e nação santa”, e o próximo fato que acontece é sua consagração (V.10). “Santo” e “consagração” são palavras que vem do mesmo radical, isto é, Israel deve ser consagrado como reino de sacerdotes e nação santa. O apostolo Pedro reitera essas identidades do povo de Deus: “Sede santos, porque EU sou santo” (1 Pe 1.16 ) e “...serdes sacerdotes santos, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio de Jesus Cristo” (1 Pe 2.5) 

É preciso haver consagração, e é preciso haver limites. Êxodo 19.12 diz: “Estabeleça limites para o povo ao redor do monte e diga: Tenham cuidado para não se aproximar do monte nem tocar sua base. Quem tocar o monte será morto”. Mais adiante, nos versículos de 20 a 22, ele chama Moisés ao monte para repetir as instruções. Por quê? “Mesmo os sacerdotes que se aproximam do Senhor devem consagrar-se; do contrário, o Senhor se voltará contra eles” (v.22). “Mas os sacerdotes e o povo não devem ultrapassar o limite para subir ao Senhor; do contrário, ele se voltará contra eles” (v.24).

Aqui, a santidade do Senhor é como se fosse radioativa. Da mesma forma, se o povo deseja se aproximar de Deus, deve ir preparando por meio da consagração. E, ainda assim, não deve chegar muito perto. E, à medida que a glória do Senhor desce sobre o Monte Sinai; o monte é dividido em três regiões de santidade crescente e, portanto, de perigo crescente: somente Moisés pode subir até o topo; Arão e os setenta anciãos tem permissão de ir até a encosta; à beira do monte, o povo deve permanecer. A transgressão desse limite leva a morte.

Quando a glória desce

Na manhã do terceiro dia houve trovões e raios, uma nuvem densa cobriu o monte, e um som muito forte de trombeta ressoou, todos no acampamento tremeram” (Ex 19.16). Aqui, não se trata algo totalmente novo, pois “o monte Sinai estava coberto de fumaça, já que o Senhor tinha descido sobre ele em fogo. A fumaça subia dele como uma fumaça de uma fornalha, e todo monte tremia violentamente” (Ex 19.18). 

O povo tremeu de medo porque o monte tremeu com violência. No versículo 20, Moisés diz ao povo: “Não tenham medo. Deus veio para prova-los, para que o temor de Deus esteja com vocês e os guarde de pecar”. A primeira vista, trata-se de uma declaração estranha, isto é, NÃO TENHAM MEDO, MAS TENHAM MEDO!  PORQUE O TEMOR É A ATITUDE CERTA...

3)     O mediador

O terceiro personagem é o mediador, Moisés. Duas razões. Primeiro, o papel de Moisés é confirmado perante o povo. “O Senhor disse a Moisés: virei a você numa densa nuvem, para que o povo ouça falar-lhe e confie sempre em você” (Ex 19.9). Segundo, o papel de Moisés é confirmado para ele mesmo. Em Êxodo 3.12, quando Moisés teve o primeiro encontro com Deus no Monte Sinai, Deus lhe disse: “Estarei com você. E este será o sinal para você de que eu quem o enviou: quando tiver tirado meu povo do Egito, vocês prestarão culto a Deus neste monte”. 

Que papel é esse? Em êxodo 20.19, o povo diz a Moisés: “Fale você mesmo conosco, e ouviremos. Mas que Deus não fale conosco, senão morreremos”. Então, no versículo 21, o texto informa que: “o povo permaneceu a distância, enquanto Moisés se aproximou das trevas espessas onde Deus estava”. Moisés, portanto, era o mediador entre Deus e os homens.

Moisés sobe ao montem desce o monte sete vezes enquanto Israel está acampado no Sinai: Moisés é literalmente um intermediário. O tempo todo vai e volta entre o povo e Deus. Para onde vamos hoje quando queremos nos encontrar com Deus? Precisamos ir até o céu (simbolizando pelo monte Sinai)? No fim da vida, Moisés disse:

“O que hoje lhes ordeno não é difícil demais para vocês, nem está além de seu alcance. Não está lá em cima no céu, de modo que tenham de perguntar: quem subirá ao céu para consegui-lo e proclamá-lo a nós a fim de que lhe obedeçamos? Não, a palavra está bem próxima de vocês, está em sua boca e em seu coração, para que possam obedece-lhe” (Dt 30.11, 12,14).

Conclusão: uma advertência

Primeiro, Deus não mudou. Ele ainda deseja se relacionar com o seu povo, mas é santo. A fim de experimentarmos a maravilha da graça de Deus por nós em Cristo Jesus, precisamos experimentar antes o terror de sua santidade.

Segundo, os seres humanos não mudaram. Ainda precisamos ser consagrados – ser santificados. Por que? Porque somos profanos. Ainda existe o risco de Deus se voltar contra nós. Como podemos, então, nos relacionar com Deus?

“Vocês não chegaram ao monte que se podia tocar, e que estava chamas, nem às trevas, à escuridão e à tempestade, ao soar da trombeta e ao som de palavras tais, que os ouvintes rogaram que nada mais lhes fosse dito; pois não podiam suportar o que lhes estava sendo ordenado: "Até um animal, se tocar no monte, deve ser apedrejado". O espetáculo era tão terrível que até Moisés disse: "Estou apavorado e trêmulo! "
Mas vocês chegaram ao monte Sião, à Jerusalém celestial, à cidade do Deus vivo. Chegaram aos milhares de milhares de anjos em alegre reunião, à igreja dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus. Vocês chegaram a Deus, juiz de todos os homens, aos espíritos dos justos aperfeiçoados, a Jesus, mediador de uma nova aliança, e ao sangue aspergido, que fala melhor do que o sangue de Abel”.
Hebreus 12:18-24

Não estamos no monte Sinai, mas no Monte Sião, que é um representação do céu. A experiência do Sinai foi repleta de terror: um monte ardendo com fogo, um toque cada vez mais alto de trombeta, a voz do próprio Deus. Foi como uma erupção vulcânica, porém muito mais dramática.

Agora, estamos no Monte Sião, a cada culto de estamos na presença de Deus. A palavra “assembleia” em Hebreus 12.22 significa “reunião”, “congregação”. Pela fé, entramos no céu e, ao nosso redor, há milhares de anjos (v.22) e todos os cristãos que morreram foram aperfeiçoados (v.23). Há anjos ao seu lado quando você canta. Sempre que nos reunimos na’ terra, estamos ao mesmo tempo nos reunindo no céu, na presença de Deus “Voces chegaram ao Monte Sião...chegaram a Deus”. 

Como é o ambiente dessa reunião? Não é de medo, mas de alegria. O autor aos hebreus capta o ambiente do Monte Sinai: “escuridão” e “tempestade”(v.18), uma experiência “aterradora” que provoca estremecimento (v.21). O ambiente é bem diferente para aqueles que chegam ao Monte Sião. É uma “alegre assembleia” (v.22).

“Jesus mediador de uma nova aliança”. Lembre-se que Moises teve que voltar varias vezes ao monte, ou seja, sete vezes. Agora, Jesus é o mediador de Deus que é Deus. Em Exodo Deus desceu do céu ao monte Sinai, em Hebreus, Jesus desceu à terra. Veio habitar entre nós é Emanuel “Deus conosco”.