terça-feira, 25 de julho de 2023

 Festa dos tabernáculos – Lv 23.33-44 


Introdução

As festas judaicas são símbolos do que Deus realizou na vida do seu povo. No décimo quarto dia de Nisã, temos a páscoa, que era a libertação do povo da escravidão do Egito e a morte do cordeiro sem defeito, em substituição ao primogênito de cada casa. No dia seguinte, décimo quinto dia de Nisã, temos a festa dos pães asmos, ou seja, nada se podia comer em sete dias contendo fermento, que era símbolo do pecado, da devassidão do Egito. E, no décimo sexto dia, a festa das primícias, o povo colhia as primícias do seu plantio e oferecia ao Senhor, o sacerdote sacudia os primeiros ramos diante de todos em agradecimento a Deus. 

A festa de Pentecoste (quinquagésimo) “contém sete semanas completas. Contem cinquenta dias..”(Lv 23.15-16). Era a festa da colheita que se iniciava com a festa das primícias, durante 49 dias o povo colhia o seus frutos, cantando alegremente ao Senhor, utilizando o Salmo 67. Portanto, as festas da páscoa, do pão ázimo, e das primícias e a festa do pentecostes são festas da primeira, são os primeiros frutos do ano e o começo da colheita, ocorriam nos primeiros meses do ano religioso.

A festa das trombetas, são festas do outono que ocorre no sétimo mês do calendário judaico, mês de Tishri (equivalente ao nosso setembro e outubro), a festa das trombetas acontecia no primeiro dia de Tishri, era também chamada de festa da “lua nova”. A trombeta era o “shofaz” chifre de carneiro. Lembrava Abraão no monte Moriá, quando Deus substituiu um carneiro, por Isaque. Lembrava a presença de Deus no Monte Sinai na entrega da lei ao povo. E, lembrar, da intervenção de Deus em Jericó pelos israelitas, destruindo os muros diante dos seus olhos. 

A segunda festa do outono é a festa da expiação, ou Yom Kippur. Acontecia no décimo dia do sétimo mês do calendário religioso. Era tão importante quanto a festa da páscoa, pois nesse dia o sumo sacerdote entraria no santo dos santos para oferecer sacrifícios, primeiro por si, depois por todo o povo de Deus. Era sacrificado um novilho pelo sacerdote e dois bodes pelo povo. O primeiro bode era imolado e o seu sangue aspergido no propiciatório, o segundo bode lançava sobre a cabeça dele os pecados do povo, em seguida era abandonado em algum lugar do deserto.

 1)    Sukkot – festa das cabanas

Enquanto que a festa das trombetas acontecia no dia primeiro de Tishri; a festa do Dia da Expiação ocorria no dia 10 de Tishri; a festa dos Tabernáculos, ou Festa das cabanas acontecia no 15 dia do mês era uma celebração incomparável. Em vários sentidos, nenhuma das outras festas exigia tantos sacrifícios, enchia as estradas estreitas para Jerusalém com tantos peregrinos, que ao longo dos séculos, se tornou conhecida simplesmente como A Festa. 

O nome da festa, sukkot, vem das cabanas ou tendas temporárias nas quais Israel viveu durante os quarenta anos em que vagou pelo deserto. “Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos...sustentou com maná...as roupas não se gastaram e os seus pés não incharam durante esses quarenta anos” (Dt 8.2-4). Deus ordenou ao seu povo: “Sete dias habitarei em tendas de ramos... para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito” (Lv 23.42-43).

Portanto, cada família devia construir uma cabana que trouxesse á memoria a flora do deserto “para que os descendentes de vocês saibam que eu fiz os israelitas morarem em tendas quando os tirei da terra do Egito” (Lc 23.43). Era possível achar ramos de palmeiras e alguns galhos com folhas perto do Oásis. Ramos de choupo, salgueiro, murta, misturados com oliveiras tão comuns na região, eram confeccionados de modo a fornecer abrigo do sol intenso e do calor do Oriente Médio. 

Mas não foi só Israel que vivem em cabanas. O próprio Deus habitou numa tenda, uma estrutura transportável chamada Tabernáculo. O tabernáculo era uma estrutura montável e desmontável, feito de tábuas e coberto de tecidos e peles, etc. todos os componentes do tabernáculo, tais como: colunas, bases, o altar, a bacia, o candelabro, a mesa dos pães da proposição, a arca, etc... eram carregados pelos levitas. Quando Deus levantava acampamento e partia, a coluna de nuvem de dia e de fogo à noite indicava que os israelitas deviam seguir, tendo à frente os levitas com a arca da aliança. 

O tabernáculo e o templo de Salomão, construído depois que Israel entrou na terra prometida, não passavam, contudo, de tipos de algo ainda mais glorioso. Como disse Paulo: “Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo” (Cl 2.17).  

Por mais belos que fossem, eram apenas edifícios feitos por mãos humanas que se desintegrariam com o tempo e eram incapazes de conter o Deus eterno, o Senhor de toda criação, cuja gloria encheria toda terra (Nm 14.21). Até mesmo Salomão, o construtor do templo, reconheceu sua limitação: “Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos essa casa eu edifiquei” (1 Rs 8.27). Portanto, sukkotj era uma festa baseada em estruturas temporárias, termos uma moradia eterna.

2)    Regozijo

O povo memorizava, recitava e cantava os salmos de Hallel – Aleluia - (Sl 113-118). Cada Salmo louvava a Deus da aliança pelas inúmeras dimensões de seu amor e graça, terminando o Salmo 118.26 com os olhos voltados claramente para o futuro: “Bendito o que vem em nome do Senhor”. Também, as crianças carregavam ramos de palmeiras, salgueiros e murtas e agitavam “perante o Senhor” durante os hinos no pátio do templo. Os ramos eram agitados com tanta força que as folhas caiam dos galhos. 


Essa festa inspirava grande alegria. As cabanas eram ponto de partida para várias atividades jubilosas que se estendiam por oito dias inteiros. Era uma festa, em primeiro lugar, uma celebração da provisão bondosa de Deus por meio da colheita: “...quando tiverdes recolhido os produtos da terra” (Lv 23.39). Segundo, exigiam um número extraordinário de sacrifícios, todos em múltiplo de 7.

Em Numeros 29, temos a prescrição de sacrifícios diários que abrangiam um total de 70 novilhos, 14 carneiros e 98 cordeiros, além de sete bodes como ofertas diárias pelo pecado; todos os sacrifícios deviam ser acompanhados por um total de 336 efas de farinha para a oferta de manjares. As quantidades correspondem pelo menos o dobro do que era oferecido nas outras festas e o quíntuplo de novilhos oferecidos na semana da Páscoa.

Em uma das poucas comemorações da festa dos tabernáculos mencionada no Antigo Testamento, a celebração associada à dedicação do templo de Salomão, a quantidade de sacrifícios apresentados ao Senhor é espantosa: 22 mil bois como sacrifícios pacíficos, 120 mil ovelhas, bem como holocaustos e ofertas de manjares (1 Rs 8.63-64). A demonstração de devoção impressionou o povo: “Então, se foram às suas tendas, alegres e de coração contente por causa de todo o bem que o Senhor fizera a Davi, seu servo, e a Israel, seu povo” (1 Rs 8.66).

Conclusão

A festa dos tabernáculos ou das cabanas aponta para a igreja que surgiu em Atos 2. A igreja é peregrina, pois nossa cidade está nos céus. Davi no final da sua vida, afirma: “Diante de ti somos estrangeiros e peregrinos, como nossos antepassados...” (1 Cr 29.15).  ou seja, estava em busca de um lar. Nossa vida aqui é passageira, transitória, somos peregrinos. Em hebreus, lemos: “Todos estes viveram pela fé...viram-no de longe e de longe o saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hb 11.13). 

O livro de Cantares de Salomão é poético e expressa o relacionamento dele por sua amada, Sulamita. Representa, simboliza, traduz o relacionamento da igreja com Jesus. Em Cantares 1.5, diz a amada: “Estou escura, mas sou bela...escura como as tendas de Quedar, bela como as cortinas de Salomão”. E continua Sulamita, uma representação da igreja: “Não fique me olhando assim; foi o sol que me queimou a pele” (Ct 1.6). Essa expressão: “o sol que me queimou a pele” fala das lutas, dificuldades, tribulações, provações, que a igreja de Jesus enfrenta.   

Mas ela diz: “Sou morena queimada no sol, mas sou bela”. Mesmo passando pelas dificuldades, lutas, tribulações, ela não perdeu sua essência, sua identidade de ser igreja. Paulo afirma: “De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia” (2 Co 4.8-11,17).

 

E mais: “A noite toda procurei em meu leito aquele a quem o meu coração ama, mas não o encontrei: (idas e vindas do nosso relacionamento com Cristo, o que fazer?) Vou levantar-me agora e percorrer a cidade, irei por suas ruas e praças. Buscarei aquele a quem meu coração ama. Eu o procurei, mas não o encontrei” (Ct 3.1-5). A igreja ainda é militante, ainda não está no céu...existe um anelo fervente dentro da igreja pela presença de Jesus, como diz o Salmista: “Como a corça anseia pela corrente das aguas, assim anseio por ti” (Sl 42.1).

Sulamita diz: Eu estava quase dormindo, mas o meu coração estava acordado. Escutem! O meu amado está batendo. Ele diz: “Abra-me a porta, minha irmã, minha querida, minha pomba, minha mulher ideal, pois a minha cabeça está encharcada de orvalho, o meu cabelo da umidade da noite” (Ct 5.2). O que você faz? O noivo está do lado de fora batendo! Vai abrir a porta? Como o texto de Apocalipse 3: “Eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei em sua casa...” (Ap 3.20). 

O que Sulamita faz, o que a igreja faz? “Já tirei a minha túnica; terei que vestir-me de novo? Já lavei os pés; terei que sujá-los de novo? O meu amado pôs a mão por uma abertura da tranca; o meu coração começou a palpitar por causa dele. Levantei-me para abrir-lhe a porta; minhas mãos destilavam mirra, meus dedos vertiam mirra, na maçaneta da tranca. Eu abri, mas o meu amado se fora; o meu amado já havia partido. Quase desmaiei de tristeza! Procurei-o, mas não o encontrei. Eu o chamei, mas ele não respondeu. As sentinelas me encontraram enquanto fazia a ronda na cidade. Bateram-me, feriram-me e tomaram o meu manto” (Ct 5.3-7).

E você lhe pergunto o que farás? Somos peregrinos, somos de Jesus, não fazemos parte deste mundo. Paulo exorta: “Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3.1-3). 


 

quinta-feira, 20 de julho de 2023

 Advertência desprezada 


Estou meditando no livro do profeta Jeremias e hoje nos capítulos 38 a 39. Eram dias difíceis para a nação de Israel, o exército babilônico estava do lado de fora para invadir e tomar a cidade de Jerusalém e acabar com tudo e com todos. 


O rei Ezequias era inseguro, cheio de ambiguidade, ora estava de um lado ora de outro lado. Depois que Ebede Meleque o etíope tirou Jeremias do poço, o rei mandou chamar o profeta.

E disse ao profeta: Quero lhe fazer uma pergunta, não tente esconder (Jr 38.14). Jeremias todo machucado e desconfiado diante do rei inseguro, respondeu: “Se eu lhe disser a verdade, você me matará. E, se eu lhe der conselhos, você não me ouvira. Mas Zedequias jurou pelo Senhor que não o mataria e nem lhe entregaria aos homens ímpios.

Então jeremias lhe advertiu. Advertir é informar, avisar ou fazer com que se torne conhecido, tomar conhecimento sobre, advertir alguém de um perigo. A última definição: “advertir alguém de um perigo”, cabe bem nesse contexto do profeta Jeremias.

“Se você se render aos oficiais babilônicos, você e sua família viverão, e a cidade não será queimada. Mas, se não se render, não escapará! A cidade será entregue os babilônios, e eles a queimarão de alto a baixo”. Pois aqui está a advertência: se render aos babilônicos e nada e nem a sua cidade e família ocorrerá, nada! Contudo, se não se render, tudo acontecerá de ruim em sua vida, em sua casa e em sua cidade. 

E continua o profeta: Você não será entregue a eles se obedecer ao Senhor. Sua vida será poupada, e tudo lhe irá bem. Mas, se não quiser se render...todas as mulheres que restaram em seu palácio serão trazidas para fora e entregues aos oficiais do exercito babilônico...voce será capturado e esta cidade será queimada de alto a baixo.

No dia 18 de julho de 586 a.c, quando o exercito babilônico entrou na cidade de Jerusalém, Zedequias e todos os outros soldados fugiram da cidade durante a noite, pelo caminho do jardim do rei... passarão pelo portão e fugiram em direção ao vale do rio jordão...

Contudo, os soldados babilônicos os perseguiram e alcançaram o rei Zedequias nas planicieis de Jericó. Eles o capturaram e o levararam até o rei Nabucodonosor. Em em Ribla, Ali o rei da Babilonia sentenciou Zedequias e sua família.

Obrigou zedequias a testemunhar a matança de seus filhos e de todos os nobres de Judá. Depois, arrancou os olhos de zedequias, o prendeu com correntes de bronze e o levou para Babilonia.

Os babilônios queimara a Jerusalém, destruíram o templo de Deus, incluindo o palácio real e derrubaram os muros da cidade....deportou para Babilonia o restante do povo que havia ficado na cidade...


Dá pra você imaginar o que Zedequias pensou ao presenciar a morte cruel de seus filhos. As advertências do profeta jeremias devem ter ressoado em sua mente....

É estranho constatar que você pode advertir uma pessoa próxima que está afundando cada vez mais na carnalidade “cuidado! as consequências são terríveis. Coisas horrorosas lhe acontecerão se você fazer isso”. No entanto, ela continua a agir da mesma forma.

Então, quando as consequências chegam, é tarde demais. A única coisa que resta é a lembrança assombrada de sua advertência. 



 

 

 

terça-feira, 18 de julho de 2023

 O dia da expiação – Yom Kipur  Lv 23.26-32 


Introdução

Lembro-me do meu primeiro pastoreio, no interior de SP. Chegou uma família da Igreja Batista para congregar conosco, me assustei, pois éramos pentecostais. O pai era um ancião, de cabelos grisalhos, com muito conhecimento das escrituras. A mãe, esboçava um rosto de sofrimento e para piorar, tinha um câncer terminal. E, as filhas, três mulheres, polacas. Duas já eram casadas e uma era adolescente. Todas as filhas eram oprimidas e com uma baixíssima autoestima.

A adolescente era alegre, sincera e ansiava por um relacionamento com Deus. No entanto, não conseguia manter uma espiritualidade consistente. Até que um dia essa adolescente me procurou, depois do culto, e relatou que o seu pai cometia incesto com ela, também, cometera incesto com as outras duas irmãs. Então percebi que o câncer da esposa poderia ser consequente de todo esse sofrimento; também, os casamentos disfuncionais das filhas e a baixa auto estima da adolescente, tudo, absolutamente tudo, que concernia a família, estava ligado diretamente ao incesto do pai. 

Infelizmente, história como essa são comuns hoje em dia. As estatísticas sugerem que uma entre quatro mulheres sofreu abuso de alguma figura paterna ou de alguma autoridade na família. UMA ENTRE QUATRO. Isso evidencia que a corrupção do pecado não é exclusividade da atual geração, não, mas desde que o homem desobedeceu ao Senhor.

1)    Novilho, bode, cerimonias e sacrifícios

No primeiro dia do sétimo mês (Tisri) celebrava a “festa das trombetas”, ou festa da “Lua Nova”, ou Ano Novo no calendário civil. No décimo dia do sétimo mês, Israel celebrava o Yom Kipur “...o décimo dia deste mês é o Dia da Expiação” (Lv 23,27). Era um feriado nacional. Um dos feriados mais importante, depois da Páscoa. Inspirava tamanha reverencia a ponto de ser chamada simplesmente de “O dia”. “O dia” que o Sumo Sacerdote entrava no “Santo dos Santos” para oferecer sacrifícios para si e para o povo, o dia da expiação dos pecados. 

 Em levíticos 16 as ordenanças para a festa são apresentadas com um breve, porém melancólica, história:  “Falou o Senhor a Moisés, depois que morreram os dois filhos de Arão, tendo chegado aqueles diante do Senhor” (Lv 16.1). Os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, acenderam seus incensários não com o fogo do altar do holocausto, mas com o fogo comum (Lv 10.1). “De repente, partiu diante do Senhor, uma labareda que os aniquilou, e pereceram ali mesmo” (Lv 10.2). Deus é santo e insistia em ser honrado como tal por seu povo e, em particular, por aqueles separados para o sacerdócio.

Apesar de serem homens comuns, eram separados para uma tarefa extraordinária. Suas vestimentas eram confeccionadas dos mesmos tecidos usados no tabernáculo. Desde as roupas que vestiam até a maneira como deviam se comportar era parte da própria estrutura do tabernáculo. “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo povo” (Lv 10.3).  

A primeira parte da cerimonia do Yom Kipur era uma oferta de purificação em favor de Arão e dos sacerdotes. “Arão deve entrar no lugar Santo com um novilho como oferta e com um carneiro como holocausto” (lv 16.3).  Eram contaminados tanto pelos próprios pecados como pelo envolvimento sacrificial com os pecados do povo. Arão não precisava ser lembrado desse fato. Sua participação infeliz no episodio do bezerro de ouro e os pecados de seus dois filhos traz à tona a culpa e a impureza de sua família. 

Arão devia se preparar com um banho cerimonial com agua (Lv 16.4) e, em seguida, vestir as roupas sagradas: “Ele vestirá a túnica sagrada de linho, com calções também de linho por baixo; porá o cinto de linho na cintura e também o turbante de linho” (Lv 16.4). Não devia se vestir com as magnificas vestimentas de cores como em outras ocasiões, mas vestir a túnica de linho branco, que representava a pureza absoluta, requisito para entrar na presença do Deus Santo.

Depois de oferecer sacrifício por si e pela sua casa. Deveria separar dois bodes. Pelo lançamento de sortes, ou seja, urim e tumin, um deles era escolhido “para YHWH”, ou seja, para ser imolado e o outro, “para bode emissário” ou “Azazel”. O bode para “YHWH” era uma oferta pelo pecado e devia ser imolado pelo sumo sacerdote em favor do povo (Lv 16.15). Enquanto que o bode emissário era mantido vivo e, mais tarde, levado para o deserto como bode expiatório. 

A aspersão no lugar santíssimo não era um procedimento limpo, pois espirrava sangue por todo o cômodo. Tratava-se, contudo, de um desalinho intencional, pois o ritual visava fazer expiação pelo lugar santíssimo devido à impureza e rebeldia dos israelitas – a contaminação do pecado havia saturado a estrutura do espaço, o tecido que revestia a parede e tudo precisas ser purificado. “Pegará um pouco do sangue do novilho e com o dedo aspergirá sobre a parte da frente da tampa...depois aspergirá o sangue sete vezes diante da tampa...depois o bode...aspergirá a tampa e na frente dela...” (Lv 16.14-15). 


Uma vez terminado o ritual de purificação no tabernáculo, o sumo sacerdote levava para fora o bode expiatório. Colocava as mãos sobre a cabeça do bode e confessava sobre ele “...todas as iniquidades dos filhos de Israel” (Lv 16.21). O segundo bode era a substituição. O bode não era morto, mas enviado ao deserto e levava sobre si “...todas as iniquidades para a terra solitária” (Lv 16.22). Azazel é “remissão, tirar e enviar a outra parte”. Ou seja, o banimento do pecado para longe do povo de Deus. 

2)    Um sacrifício maior

O que aprendemos com o dia da expiação? Primeiro, a extensão da contaminação do pecado “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). E o sangue tem que ser aspergido no lugar santíssimo. Segundo, Deus salvaria o seu povo pela graça (através de um substituto). Mas, a graça tinha um alto preço: sangue e morte. Terceiro, a propiciação (o sangue aspergido na tampa da arca – o propiciatório -) apaziguaria a ira justa de Deus e a expiação (o bode emissário) para purificar de toda culpa.

Contudo, a lição mais dolorosa que só foi entendida pela epístola de hebreus no Novo Testamento é que toda a purificação, todos os rituais, todo o sangue e morte, não eram capazes de remover um pecado sequer. Isto é, a morte de um animal não tinha poder de fazer expiação pelo pecado do povo, muito menos um sumo sacerdote corrupto, que precisava fazer expiação por si mesmo, não podia fazer por outros.

Por que não? o autor de hebreus explica que as ofertas e os sacrifícios apresentados não eram capazes de purificar a consciência do adorador “pois as ofertas e os sacrifícios ... não podem criar no adorador uma consciência totalmente limpa” (Hb 9.9). Em outras palavras, os sacrifícios oferecidos ao longo do dia da expiação não tinham poder de tornar a pessoa pura por dentro, onde o fermento do pecado se encontra arraigado.

Jesus, o Messias, é o sacerdote maior, sem defeito e o seu sacrifício é maior: “...não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no santo dos santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Hb 9.12). Cristo, portanto, ofereceu um sacrifício maior: entregou a si mesmo como sacrifício “sem mácula” a Deus. Esse sacrifício purificou “a nossa consciência das obras mortas, para que adoremos o Deus vivo. Pois, pelo poder do Espirito Eterno, Cristo ofereceu a si mesmo como as sacrifício perfeito” (Hb 9.14). 


Cada sacerdote do Antigo Testamento “se apresenta” constantemente para repetir os mesmos sacrificios, cerimonia após cerimonias, ano após ano. Jesus, porém, “ofereceu a si mesmo como único sacrifício pelo pecado, válido para sempre. Então, sentou-se no lugar de honra à direita de Deus” (Hb 10.11-12). E somos convidados: “entremos com o coração sincero e plena confiança, pois nossa consciência culpada foi purificada, e nosso corpo, lavado com agua pura” (Hb 10.22).

Conclusão:

Deus nos convida a todos para entrarmos em seu lugar sagrado e celestial. Ele pendurou na porta uma placa de boas-vindas. Não existe mais nenhum véu. Não nenhuma sinalização dizendo: “Fique longe, exceto uma vez por ano, quando você enviar o seu representante, o sumo sacerdote”. Agora, a placa diz: “Voce é bem vindo a qualquer hora, na verdade, gostaria que você vivesse dentro dessa casa”.

Quanto a adolescente da minha história, seu pai foi denunciado. Ela conseguiu vencer todas suas crises, culpas, obstáculos, baixa estima. Disse para ela, essa história não precisa se repetir em ciclos constantes na sua casa. E tem gozado do favor de Cristo em sua vida. 


 

terça-feira, 11 de julho de 2023

 A festa das trombetas  Lv 23.23-25 



Introdução

As festas judaicas são celebração “ou santas convocações” que aconteciam no calendário do povo judeu. A festa da pascoa celebrava a libertação do povo da escravidão no Egito, um cordeiro de um ano e sem defeito era imolado, seu sangue aspergido nos umbrais das portas. A festa do pão ázimo, durava sete dias e o povo não podia comer pão sem fermento; fermento era símbolo da corrupção, pecado. Agora, saindo do Egito, indo em direção a terra prometida o povo deveria viver em consagração ao Senhor.

A festa das primícias começa a colheita da lavoura em Israel, o povo está na terra prometida. Traziam os primeiros frutos da terra, como cevada e trigo; os primeiros frutos eram levados ao templo e o sacerdote chacoalhava os primeiros frutos diante do Senhor. Apontava para a ressurreição de Cristo, os primeiros frutos. E, finalmente, a ultima festa da primavera: a festa do pentecostes (quinquagésimo). Que acontecia cinquenta dias depois da Páscoa; celebrando nesses quarenta nove dias a colheita dos frutos da terra. 

No fim da primavera era um período de muito vento em Israel. Jesus conta a parábola do trigo e joio. “O agricultor semeou boas sementes em seu campo...o inimigo veio, semeou joio no meio do trigo e foi embora” (Mt 13.25). Dias depois os servos disseram: “O campo em que o Senhor semeou está cheio de joio...devemos arrancar o joio?” (Mt 13.27-28). Respondeu o agricultor: “Deixem os dois crescerem até a colheita” (Mt 13.30).

Colheita aqui é pentecostes. No dia da colheita o joio é tirado e queimado no fogo e o trigo, ajuntado em feixes e levado ao celeiro. Duas lições: Primeiro, eles sabiam diferenciar o trigo do joio. Então por quê tolera? O joio não tem raiz, logo, prende suas raízes na raiz do trigo. Por causa do trigo, o agricultor tolera o joio. Segundo, no dia da colheita o vento sopra forte, o trigo se inclina, dobra, por causa dos frutos. Mas, o joio, é rígido, não verga, não dobra, mantém-se em pé. Quem está encurvado é trigo, quem está de pé é joio. 

1)     A festa da trombeta

 As festas da páscoa, pão ázimo, primícias e pentecostes são festas da primavera, são os primeiros frutos do ano e começo da colheita, ocorrem nos primeiros meses do ano. Já a festa das trombetas, é a primeira de três festas de outono celebradas no sétimo mês do calendário de Israel. É chamada de “festa do outono” ou da “lua nova”, “festa do ano novo”. No calendário judaico está no sétimo mês, mês de tisai.

Em Israel havia dois tipos de trombetas. As trombetas de prata, eram instrumentos de metal. Em geral, eram usadas para fins comunitários: convocavam Israel para se reunir e transmitiam instruções durante a peregrinação do povo pelo deserto. A segunda trombeta, mais importante para a vida da fé dos israelitas, era o chifre de carneiro ou shofar. A festa das trombetas (“Yom ruah”, ou “dia de soprar”) era um festival estruturado, originalmente em torno do som desses instrumentos. Os levitas eram músicos habilidosos, era uma festa insistente, bela, majestosa e sonora. 

O som da trombeta de chifre de carneiro possuía um significado arraigado na história da redenção. Quando ordenou que Abraão sacrificasse Isaque sobre o altar (Is 22), Deus ofereceu um carneiro como substituto para o filho. Por meio do seu sangue, o animal proporcionou livramento divino. Desde esse dia, a trombeta de chifre de carneiro passou a despertar e renovar a lembrança. Esse seria o som da presença de Deus.

O som da trombeta de chifre sinaliza a presença de Deus no meio do seu povo. Acampado no sopé do Monte Sinai, convocado para o monte pelo som do shofar (Ex 19.13), o povo de Israel foi ao encontro do Deus que o havia remido e, portanto, possuía direitos reais de governar sobre eles, como  Senhor: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex 20.2).

“Subiu Deus por entre aclamações, o Senhor, ao som de trombetas. Salmodiai a Deus, cantai louvores; salmodiai ao nosso rei, cantai louvores. Deus é o rei de toda a terra; salmodiai com harmonioso cântico. Deus reina sobre as nações; Deus se assenta no seu santo trono” (Sl 47.5-8).

O som da trombeta de chifre de carneiro era uma convocação para lembrar. Lembrar da queda de Jericó. Depois de marchar sete vezes em torno da cidade (Js 6), o povo foi instruído a soar a trombeta de chifre de carneiro. O som de shofar invocou a intervenção de Deus e convocou Israel a agir com a coragem que nasce da fé. Quando as muralhas caíram, a mensagem era essa: foram derrubadas pela mão forte de Deus. As ruinas de Jericó serviriam para lembrar o povo do som da trombeta e do Deus que era seu rei e redentor. 

No entanto, com o passar do tempo o povo não se lembrou de Deus. O esquecimento representou um rompimento da aliança com Deus. Moisés havia advertido solenemente: “guarda-te, para que não esqueça o Senhor que te tirou da terra do Egito” (Dt 6.12). Deus enviou profetas cuja voz comparada ao toque do shofar para advertir a cidade do julgamento. O profeta Jeremias anunciou como uma trombeta: “...tocai a trombeta em Tecoa e levantai o facho... porque do lado do norte surge um grande mal, uma grande calamidade. A formosa e delicada, a filha de Sião eu deixarei em ruinas” (Jr 6.1-2).

2)     A trombeta do evangelho

O som da trombeta ecoa pelos testamentos. No Novo Testamento a trombeta é a pregação do evangelho por vozes humanas. No grego “Kerusso”, forma verbal, transmite a ideia do anuncio feito por um arauto investido de autoridade real, que declara sua chegada com toques de trombeta e anuncia a palavra de um rei. Portanto, a pregação, ou o “Kerugma” é o novo som do antigo shofar. 

Falavam em sinagogas, nas ruas, em esquinas, perto do rio, nas praças ou lugares de reunião. Como o apostolo Paulo pregou sobre Cristo para filósofos da sua época (Atos 17). A pregação tinha um caráter real, pois anunciava que Deus, o rei tinha vindo na pessoa de Jesus Cristo e que a sua chegada requeria uma resposta do ouvinte.

Os primeiros versículos de Atos 18 narram o testemunho de Paulo aos judeus: “...que Cristo é Jesus” (V.5). A reação da multidão foi violenta: opuseram a ele e “blasfemaram”. No capitulo seguinte (Atos 19), Lucas relata a reação à pregação de Paulo em Efésios, uma espécie de solo de trombeta: uns recusaram a mensagem do apostolo Paulo, tendo inicio uma grande revolta popular, colocando em risco a segurança de Paulo. Mas, por outro lado, muitos acreditaram: “...muitos do que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimavam diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinquenta mil denários” (Atos 19.19). 

 O profeta Isaias afirmou: “Que formosos são sobe os montes os pés do que anunciam as boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: o teu Deus reina” (Is 52.7). Deus enviou o seu filho para anunciar ao mundo a mensagem do reino de Deus. Agora, o mesmo Deus envia a sua igreja, como shofazes de Deus, para anunciar essa mensagem ao mundo de hoje.

Conclusão

Ouça o som da trombeta com frequência. Nunca deixe de ouvir a pregação da Palavra numa igreja impelida pelo evangelho. Sendo honesto: se você não é transformado pela pregação do evangelho em sua igreja; se a mensagem não está lhe moldando do poder do pecado, ou você é alguém de dura cerviz ou está no lugar errado. 

Se envolva numa igreja que entende que o seu chamado é para fazer soar a trombeta em sua cidade (em Jerusalém, Judéia, Samaria e aos confins da erra). A igreja existe para o mundo. A igreja vive para que possa anunciar louvores, pregações a um mundo perdido.

Você precisa pregar (shofar) no lugar em que Deus te colocou. Como os cristãos do século 1 que levavam a palavra para onde quer que fossem, você precisa levar o evangelho para o mundo. Você tem uma história para contar sobre seu casamento e como Deus restaurou, ou te sustentou nos momentos mais difíceis. Você tem uma história, como Deus te libertou dos vícios do pecado, dos ídolos e lhe colocou em sua maravilhosa presença. 


 


terça-feira, 4 de julho de 2023

 A festa do pentecostes – Levitico 23.16-21



Introdução

As três primeiras festas, as comemorações da Páscoa, dos pães asmos e das primícias na primavera, eram fundamentais. A páscoa era o alicerce: Israel precisava aprender que a sua própria existência se baseava na graça, pois era remida pelo sangue do cordeiro pascal. A festa do pão ázimo ensinava que o povo libertado era um povo santo, livre não apenas de nome, mas verdadeiramente livre do poder escravizador do pecado e da idolatria e chamado para viver como tal. E a festa das primícias celebrava os primeiros frutos na terra prometida, a primeira colheita que Deus estava dando ao seu povo. 

As três festas apontavam para o ministério terreno de Cristo. Ele morreu na páscoa (sexta feira) como sacrifício expiatório por nossos pecados, como nossa justificação “Ele foi entregue a morte para pagar todos os nossos pecados...” (Rm 4.25). Foi sepultado na festa dos pães asmos (sábado) como nossa santificação e, em sua graça, rompeu o controle exercido pelo pecado. Ressuscitou na festa das primícias (domingo) sendo seu próprio corpo ressurreto o primeiro feixe de cereal da nova criação por vir “...ressuscitado para nossa completa justificação” (Rm 4.25).

1)     O pentecoste

A festa das semanas (pentecoste) era uma celebração da colheita que concluía a comemoração iniciada com a festa das primícias. Da Páscoa ao pentescoste passaram-se 50 dias, portanto, pentecoste, no grego, é quinquagésimo. Então, a festa tem inicio quando Israel seguiu a orientação para “contar” os dias depois da festa das primícias: “Contem sete semanas completas. Contem cinquenta dias...então apresentem uma oferta de ceral nova ao Senhor” (Lv 23.15-16). 

A cada noite: o dia que havia terminado era marcado pelo chefe da família de uma maneira criativa para ensinar às crianças a promessa e expectativa da esperança da colheita. O povo usava o Salmo 67, onde era recitado a cada dia seus 7 versículos com 49 palavras (em hebraico) e acrescentavam um simbolismo que ia além do tema da colheita: “Que a terra dê a sua colheita, e Deus, o nosso Deus, nos abençoe” (Sl 67.6). 

Depois da contagem e da espera, enfim, o dia da festa chegava (quinquagésimo dia), no encerramento da colheita. Era o dia de santa convocação, quando toda comunidade se reunia para se regozijar com as boas dádivas da fartura divina. Israel apresentava porções simbólicas da farta colheita num momento de culto que assumia o caráter de celebração de ação de graças. Também oferecia nesse dia oferta de manjares com cereais frescos, traziam sete cordeiros (oferecidos como holocausto), dois cordeiros (ofertas de comunhão, de paz), um bode (oferta de confissão, de arrependimento). 


Com o passar do tempo, contudo, as tradições em torno da festa da colheita começaram assumir um novo caráter, duas mudanças importantes ocorreram: Primeira a festa não era mais chamada de semanas, mas de Pentecostes; segunda, a festa tornava formalmente vinculada à entrega da lei do Senhor no Sinai.

A chegada do povo de Israel no Sinai (Ex 19), cinquenta dias depois de partir do Egito, Israel havia, de fato, acampado no sopé desse monte. O texto relata com os israelitas se aproximavam de Deus com terror. A montanha coberta de fumaça estremecia com violência enquanto raios cortavam o céu e trovões ribombavam com tamanha força que todos tremiam de medo. Israel devia manter-se afastado, pois do contrário morreria, somente Moisés poderia subir ao monte para falar com YHWH. 

2)     Uma colheita diferente

Em Atos dos Apóstolos no inicio do capitulo todo povo judeu estava em Jerusalém para comemorar a festa de pentecostes. Antes, no capitulo 1, Lucas relata as palavras de Jesus aos seus discípulos: “Não saiam de Jerusalém, mas esperem pela promessa de meu pai, da qual lhes falei” (Atos 1.4). Antes, deviam esperar “...o poder...Espirito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1.8). 

Jesus orientou seus discípulos a esperar com grande expectativa pela dádiva que faria avançar a obra graciosa da redenção, pois a dádiva à qual o Messias se referiu não era a Torá, ou a lei de Moisés, mas a vinda graciosa do Espirito Santo. No tempo da lei, de Moisés, quando Deus entregou os dez mandamentos ocorreu “houve trovões e raios, uma densa nuvem cobriu o monte...todos no acampamento tremeram de medo...com chamas de fogo” (Ex 19.16-18). 

Mas, o Pentecostes foi acompanhado “veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espirito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espirito Santo os capacitava” (Atos 2.1-4).

Aqui em Atos, Deus não tinha em mente e no coração uma colheita de trigo e cevada, mas uma celebração da colheita da redenção, de vidas que havia se iniciado com o próprio Cristo. Se Cristo era o primeiro feixe (festa das primícias), a colheita mais plena faria os cestos transbordarem e se espalharia pra todos os cantos da terra.

Em Jerusalém nesse dia “Havia em Jerusalém judeus, tementes a Deus, vindo de todas as nações do mundo...partos, medos, elamitas, habitantes da mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e da Provincia da Ásia, Frigia, Panfilia, Egito e das partes da Libia próximas a Cirene; visitantes de Roma... cretenses e árabes...”(Atos 2.5-11). Ao citar o profeta Joel, o apostolo Pedro sugere uma redenção tão grandiosa que incluiria jovens e velhos, homens e mulheres e todas as nações “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Atos 2.21). 

Jesus em seu ministério terreno percorreu as estradas poeirentas da Judéia, Galileia, Peréia, Samaria, etc, e convidando o povo pessoalmente a segui-lo por meio de seus ensinamentos e curas. E, havia também explicado, que o reino de Deus estava “dentro deles”, posteriormente, o Espirito Santo se faria presente em poder onde Cristo estivera presente de forma física.

E somente pelo poder do Espirito Santo derramado o reino de Deus se expandiria da presença física de Jesus para os confins da terra; somente por meio da ousadia concedida pelo Espirito para homens comuns pregarem, o alcance pleno de sua redenção se tornaria conhecido. “Assim como um corpo sem respiração é um cadáver, a igreja sem o Espírito Santo é morta. Pois é o Espírito que produz o novo nascimento, o caráter cristão (o fruto do Espírito) e a unidade do corpo. É o Espírito quem concede os dons para o serviço e o poder para a realização do trabalho”.

Jesus fez menção de tudo isso em seus ensinamentos aos discípulos perto do final de seu ministério, ao explicar: “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (Jo 14.12). 

Os discípulos não haviam entendido. Como seria possível que eles pescadores incultos da Galiléia, pudessem realizar obras maiores do que as de seu mestre? Afinal, ele havia ressuscitado pessoas, curado paralitico, feito cego vê, o leproso fora limpo por seu toque, e, ensinou com uma sabedoria que invejavam os religiosos. Como que faremos mais obras? “Recebereis poder ao descer sobre vós, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1.8).

Conclusão

Satanás é chamado de “príncipe do mundo” (Jo 14.30). Com a morte e a ressurreição de Cristo seu poder foi quebrado “e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo publico, triunfando sobre eles na cruz” (Cl 2.15). Agora, com a ascensão de Cristo, a permissão de Satanás de enganar as nações havia chegado ao fim. Agora, toda autoridade pertence a Jesus: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.19),

Ou, quando o apostolo João está na ilha de Patmos e vê o Cristo ressurreto, ele relata: “Quando o vi, caí aos seus pés como morto. Então ele colocou sua mão direita sobre mim e disse: "Não tenha medo. Eu sou o primeiro e o último. Sou aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do Hades” (Ap. 1.17-18).

Deus não seria mais conhecido apenas por Israel, não precisaria mais como a Rainha de Sabá fez, sair da Etiópia para conhecer o Deus Todo Poderoso. O evangelho de Cristo, agora, é levado às nações com forma centrifuga, impelido para fora em todas as nações do mundo.