terça-feira, 18 de julho de 2023

 O dia da expiação – Yom Kipur  Lv 23.26-32 


Introdução

Lembro-me do meu primeiro pastoreio, no interior de SP. Chegou uma família da Igreja Batista para congregar conosco, me assustei, pois éramos pentecostais. O pai era um ancião, de cabelos grisalhos, com muito conhecimento das escrituras. A mãe, esboçava um rosto de sofrimento e para piorar, tinha um câncer terminal. E, as filhas, três mulheres, polacas. Duas já eram casadas e uma era adolescente. Todas as filhas eram oprimidas e com uma baixíssima autoestima.

A adolescente era alegre, sincera e ansiava por um relacionamento com Deus. No entanto, não conseguia manter uma espiritualidade consistente. Até que um dia essa adolescente me procurou, depois do culto, e relatou que o seu pai cometia incesto com ela, também, cometera incesto com as outras duas irmãs. Então percebi que o câncer da esposa poderia ser consequente de todo esse sofrimento; também, os casamentos disfuncionais das filhas e a baixa auto estima da adolescente, tudo, absolutamente tudo, que concernia a família, estava ligado diretamente ao incesto do pai. 

Infelizmente, história como essa são comuns hoje em dia. As estatísticas sugerem que uma entre quatro mulheres sofreu abuso de alguma figura paterna ou de alguma autoridade na família. UMA ENTRE QUATRO. Isso evidencia que a corrupção do pecado não é exclusividade da atual geração, não, mas desde que o homem desobedeceu ao Senhor.

1)    Novilho, bode, cerimonias e sacrifícios

No primeiro dia do sétimo mês (Tisri) celebrava a “festa das trombetas”, ou festa da “Lua Nova”, ou Ano Novo no calendário civil. No décimo dia do sétimo mês, Israel celebrava o Yom Kipur “...o décimo dia deste mês é o Dia da Expiação” (Lv 23,27). Era um feriado nacional. Um dos feriados mais importante, depois da Páscoa. Inspirava tamanha reverencia a ponto de ser chamada simplesmente de “O dia”. “O dia” que o Sumo Sacerdote entrava no “Santo dos Santos” para oferecer sacrifícios para si e para o povo, o dia da expiação dos pecados. 

 Em levíticos 16 as ordenanças para a festa são apresentadas com um breve, porém melancólica, história:  “Falou o Senhor a Moisés, depois que morreram os dois filhos de Arão, tendo chegado aqueles diante do Senhor” (Lv 16.1). Os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, acenderam seus incensários não com o fogo do altar do holocausto, mas com o fogo comum (Lv 10.1). “De repente, partiu diante do Senhor, uma labareda que os aniquilou, e pereceram ali mesmo” (Lv 10.2). Deus é santo e insistia em ser honrado como tal por seu povo e, em particular, por aqueles separados para o sacerdócio.

Apesar de serem homens comuns, eram separados para uma tarefa extraordinária. Suas vestimentas eram confeccionadas dos mesmos tecidos usados no tabernáculo. Desde as roupas que vestiam até a maneira como deviam se comportar era parte da própria estrutura do tabernáculo. “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo povo” (Lv 10.3).  

A primeira parte da cerimonia do Yom Kipur era uma oferta de purificação em favor de Arão e dos sacerdotes. “Arão deve entrar no lugar Santo com um novilho como oferta e com um carneiro como holocausto” (lv 16.3).  Eram contaminados tanto pelos próprios pecados como pelo envolvimento sacrificial com os pecados do povo. Arão não precisava ser lembrado desse fato. Sua participação infeliz no episodio do bezerro de ouro e os pecados de seus dois filhos traz à tona a culpa e a impureza de sua família. 

Arão devia se preparar com um banho cerimonial com agua (Lv 16.4) e, em seguida, vestir as roupas sagradas: “Ele vestirá a túnica sagrada de linho, com calções também de linho por baixo; porá o cinto de linho na cintura e também o turbante de linho” (Lv 16.4). Não devia se vestir com as magnificas vestimentas de cores como em outras ocasiões, mas vestir a túnica de linho branco, que representava a pureza absoluta, requisito para entrar na presença do Deus Santo.

Depois de oferecer sacrifício por si e pela sua casa. Deveria separar dois bodes. Pelo lançamento de sortes, ou seja, urim e tumin, um deles era escolhido “para YHWH”, ou seja, para ser imolado e o outro, “para bode emissário” ou “Azazel”. O bode para “YHWH” era uma oferta pelo pecado e devia ser imolado pelo sumo sacerdote em favor do povo (Lv 16.15). Enquanto que o bode emissário era mantido vivo e, mais tarde, levado para o deserto como bode expiatório. 

A aspersão no lugar santíssimo não era um procedimento limpo, pois espirrava sangue por todo o cômodo. Tratava-se, contudo, de um desalinho intencional, pois o ritual visava fazer expiação pelo lugar santíssimo devido à impureza e rebeldia dos israelitas – a contaminação do pecado havia saturado a estrutura do espaço, o tecido que revestia a parede e tudo precisas ser purificado. “Pegará um pouco do sangue do novilho e com o dedo aspergirá sobre a parte da frente da tampa...depois aspergirá o sangue sete vezes diante da tampa...depois o bode...aspergirá a tampa e na frente dela...” (Lv 16.14-15). 


Uma vez terminado o ritual de purificação no tabernáculo, o sumo sacerdote levava para fora o bode expiatório. Colocava as mãos sobre a cabeça do bode e confessava sobre ele “...todas as iniquidades dos filhos de Israel” (Lv 16.21). O segundo bode era a substituição. O bode não era morto, mas enviado ao deserto e levava sobre si “...todas as iniquidades para a terra solitária” (Lv 16.22). Azazel é “remissão, tirar e enviar a outra parte”. Ou seja, o banimento do pecado para longe do povo de Deus. 

2)    Um sacrifício maior

O que aprendemos com o dia da expiação? Primeiro, a extensão da contaminação do pecado “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). E o sangue tem que ser aspergido no lugar santíssimo. Segundo, Deus salvaria o seu povo pela graça (através de um substituto). Mas, a graça tinha um alto preço: sangue e morte. Terceiro, a propiciação (o sangue aspergido na tampa da arca – o propiciatório -) apaziguaria a ira justa de Deus e a expiação (o bode emissário) para purificar de toda culpa.

Contudo, a lição mais dolorosa que só foi entendida pela epístola de hebreus no Novo Testamento é que toda a purificação, todos os rituais, todo o sangue e morte, não eram capazes de remover um pecado sequer. Isto é, a morte de um animal não tinha poder de fazer expiação pelo pecado do povo, muito menos um sumo sacerdote corrupto, que precisava fazer expiação por si mesmo, não podia fazer por outros.

Por que não? o autor de hebreus explica que as ofertas e os sacrifícios apresentados não eram capazes de purificar a consciência do adorador “pois as ofertas e os sacrifícios ... não podem criar no adorador uma consciência totalmente limpa” (Hb 9.9). Em outras palavras, os sacrifícios oferecidos ao longo do dia da expiação não tinham poder de tornar a pessoa pura por dentro, onde o fermento do pecado se encontra arraigado.

Jesus, o Messias, é o sacerdote maior, sem defeito e o seu sacrifício é maior: “...não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no santo dos santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Hb 9.12). Cristo, portanto, ofereceu um sacrifício maior: entregou a si mesmo como sacrifício “sem mácula” a Deus. Esse sacrifício purificou “a nossa consciência das obras mortas, para que adoremos o Deus vivo. Pois, pelo poder do Espirito Eterno, Cristo ofereceu a si mesmo como as sacrifício perfeito” (Hb 9.14). 


Cada sacerdote do Antigo Testamento “se apresenta” constantemente para repetir os mesmos sacrificios, cerimonia após cerimonias, ano após ano. Jesus, porém, “ofereceu a si mesmo como único sacrifício pelo pecado, válido para sempre. Então, sentou-se no lugar de honra à direita de Deus” (Hb 10.11-12). E somos convidados: “entremos com o coração sincero e plena confiança, pois nossa consciência culpada foi purificada, e nosso corpo, lavado com agua pura” (Hb 10.22).

Conclusão:

Deus nos convida a todos para entrarmos em seu lugar sagrado e celestial. Ele pendurou na porta uma placa de boas-vindas. Não existe mais nenhum véu. Não nenhuma sinalização dizendo: “Fique longe, exceto uma vez por ano, quando você enviar o seu representante, o sumo sacerdote”. Agora, a placa diz: “Voce é bem vindo a qualquer hora, na verdade, gostaria que você vivesse dentro dessa casa”.

Quanto a adolescente da minha história, seu pai foi denunciado. Ela conseguiu vencer todas suas crises, culpas, obstáculos, baixa estima. Disse para ela, essa história não precisa se repetir em ciclos constantes na sua casa. E tem gozado do favor de Cristo em sua vida. 


 

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