terça-feira, 25 de julho de 2023

 Festa dos tabernáculos – Lv 23.33-44 


Introdução

As festas judaicas são símbolos do que Deus realizou na vida do seu povo. No décimo quarto dia de Nisã, temos a páscoa, que era a libertação do povo da escravidão do Egito e a morte do cordeiro sem defeito, em substituição ao primogênito de cada casa. No dia seguinte, décimo quinto dia de Nisã, temos a festa dos pães asmos, ou seja, nada se podia comer em sete dias contendo fermento, que era símbolo do pecado, da devassidão do Egito. E, no décimo sexto dia, a festa das primícias, o povo colhia as primícias do seu plantio e oferecia ao Senhor, o sacerdote sacudia os primeiros ramos diante de todos em agradecimento a Deus. 

A festa de Pentecoste (quinquagésimo) “contém sete semanas completas. Contem cinquenta dias..”(Lv 23.15-16). Era a festa da colheita que se iniciava com a festa das primícias, durante 49 dias o povo colhia o seus frutos, cantando alegremente ao Senhor, utilizando o Salmo 67. Portanto, as festas da páscoa, do pão ázimo, e das primícias e a festa do pentecostes são festas da primeira, são os primeiros frutos do ano e o começo da colheita, ocorriam nos primeiros meses do ano religioso.

A festa das trombetas, são festas do outono que ocorre no sétimo mês do calendário judaico, mês de Tishri (equivalente ao nosso setembro e outubro), a festa das trombetas acontecia no primeiro dia de Tishri, era também chamada de festa da “lua nova”. A trombeta era o “shofaz” chifre de carneiro. Lembrava Abraão no monte Moriá, quando Deus substituiu um carneiro, por Isaque. Lembrava a presença de Deus no Monte Sinai na entrega da lei ao povo. E, lembrar, da intervenção de Deus em Jericó pelos israelitas, destruindo os muros diante dos seus olhos. 

A segunda festa do outono é a festa da expiação, ou Yom Kippur. Acontecia no décimo dia do sétimo mês do calendário religioso. Era tão importante quanto a festa da páscoa, pois nesse dia o sumo sacerdote entraria no santo dos santos para oferecer sacrifícios, primeiro por si, depois por todo o povo de Deus. Era sacrificado um novilho pelo sacerdote e dois bodes pelo povo. O primeiro bode era imolado e o seu sangue aspergido no propiciatório, o segundo bode lançava sobre a cabeça dele os pecados do povo, em seguida era abandonado em algum lugar do deserto.

 1)    Sukkot – festa das cabanas

Enquanto que a festa das trombetas acontecia no dia primeiro de Tishri; a festa do Dia da Expiação ocorria no dia 10 de Tishri; a festa dos Tabernáculos, ou Festa das cabanas acontecia no 15 dia do mês era uma celebração incomparável. Em vários sentidos, nenhuma das outras festas exigia tantos sacrifícios, enchia as estradas estreitas para Jerusalém com tantos peregrinos, que ao longo dos séculos, se tornou conhecida simplesmente como A Festa. 

O nome da festa, sukkot, vem das cabanas ou tendas temporárias nas quais Israel viveu durante os quarenta anos em que vagou pelo deserto. “Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos...sustentou com maná...as roupas não se gastaram e os seus pés não incharam durante esses quarenta anos” (Dt 8.2-4). Deus ordenou ao seu povo: “Sete dias habitarei em tendas de ramos... para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito” (Lv 23.42-43).

Portanto, cada família devia construir uma cabana que trouxesse á memoria a flora do deserto “para que os descendentes de vocês saibam que eu fiz os israelitas morarem em tendas quando os tirei da terra do Egito” (Lc 23.43). Era possível achar ramos de palmeiras e alguns galhos com folhas perto do Oásis. Ramos de choupo, salgueiro, murta, misturados com oliveiras tão comuns na região, eram confeccionados de modo a fornecer abrigo do sol intenso e do calor do Oriente Médio. 

Mas não foi só Israel que vivem em cabanas. O próprio Deus habitou numa tenda, uma estrutura transportável chamada Tabernáculo. O tabernáculo era uma estrutura montável e desmontável, feito de tábuas e coberto de tecidos e peles, etc. todos os componentes do tabernáculo, tais como: colunas, bases, o altar, a bacia, o candelabro, a mesa dos pães da proposição, a arca, etc... eram carregados pelos levitas. Quando Deus levantava acampamento e partia, a coluna de nuvem de dia e de fogo à noite indicava que os israelitas deviam seguir, tendo à frente os levitas com a arca da aliança. 

O tabernáculo e o templo de Salomão, construído depois que Israel entrou na terra prometida, não passavam, contudo, de tipos de algo ainda mais glorioso. Como disse Paulo: “Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo” (Cl 2.17).  

Por mais belos que fossem, eram apenas edifícios feitos por mãos humanas que se desintegrariam com o tempo e eram incapazes de conter o Deus eterno, o Senhor de toda criação, cuja gloria encheria toda terra (Nm 14.21). Até mesmo Salomão, o construtor do templo, reconheceu sua limitação: “Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos essa casa eu edifiquei” (1 Rs 8.27). Portanto, sukkotj era uma festa baseada em estruturas temporárias, termos uma moradia eterna.

2)    Regozijo

O povo memorizava, recitava e cantava os salmos de Hallel – Aleluia - (Sl 113-118). Cada Salmo louvava a Deus da aliança pelas inúmeras dimensões de seu amor e graça, terminando o Salmo 118.26 com os olhos voltados claramente para o futuro: “Bendito o que vem em nome do Senhor”. Também, as crianças carregavam ramos de palmeiras, salgueiros e murtas e agitavam “perante o Senhor” durante os hinos no pátio do templo. Os ramos eram agitados com tanta força que as folhas caiam dos galhos. 


Essa festa inspirava grande alegria. As cabanas eram ponto de partida para várias atividades jubilosas que se estendiam por oito dias inteiros. Era uma festa, em primeiro lugar, uma celebração da provisão bondosa de Deus por meio da colheita: “...quando tiverdes recolhido os produtos da terra” (Lv 23.39). Segundo, exigiam um número extraordinário de sacrifícios, todos em múltiplo de 7.

Em Numeros 29, temos a prescrição de sacrifícios diários que abrangiam um total de 70 novilhos, 14 carneiros e 98 cordeiros, além de sete bodes como ofertas diárias pelo pecado; todos os sacrifícios deviam ser acompanhados por um total de 336 efas de farinha para a oferta de manjares. As quantidades correspondem pelo menos o dobro do que era oferecido nas outras festas e o quíntuplo de novilhos oferecidos na semana da Páscoa.

Em uma das poucas comemorações da festa dos tabernáculos mencionada no Antigo Testamento, a celebração associada à dedicação do templo de Salomão, a quantidade de sacrifícios apresentados ao Senhor é espantosa: 22 mil bois como sacrifícios pacíficos, 120 mil ovelhas, bem como holocaustos e ofertas de manjares (1 Rs 8.63-64). A demonstração de devoção impressionou o povo: “Então, se foram às suas tendas, alegres e de coração contente por causa de todo o bem que o Senhor fizera a Davi, seu servo, e a Israel, seu povo” (1 Rs 8.66).

Conclusão

A festa dos tabernáculos ou das cabanas aponta para a igreja que surgiu em Atos 2. A igreja é peregrina, pois nossa cidade está nos céus. Davi no final da sua vida, afirma: “Diante de ti somos estrangeiros e peregrinos, como nossos antepassados...” (1 Cr 29.15).  ou seja, estava em busca de um lar. Nossa vida aqui é passageira, transitória, somos peregrinos. Em hebreus, lemos: “Todos estes viveram pela fé...viram-no de longe e de longe o saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hb 11.13). 

O livro de Cantares de Salomão é poético e expressa o relacionamento dele por sua amada, Sulamita. Representa, simboliza, traduz o relacionamento da igreja com Jesus. Em Cantares 1.5, diz a amada: “Estou escura, mas sou bela...escura como as tendas de Quedar, bela como as cortinas de Salomão”. E continua Sulamita, uma representação da igreja: “Não fique me olhando assim; foi o sol que me queimou a pele” (Ct 1.6). Essa expressão: “o sol que me queimou a pele” fala das lutas, dificuldades, tribulações, provações, que a igreja de Jesus enfrenta.   

Mas ela diz: “Sou morena queimada no sol, mas sou bela”. Mesmo passando pelas dificuldades, lutas, tribulações, ela não perdeu sua essência, sua identidade de ser igreja. Paulo afirma: “De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia” (2 Co 4.8-11,17).

 

E mais: “A noite toda procurei em meu leito aquele a quem o meu coração ama, mas não o encontrei: (idas e vindas do nosso relacionamento com Cristo, o que fazer?) Vou levantar-me agora e percorrer a cidade, irei por suas ruas e praças. Buscarei aquele a quem meu coração ama. Eu o procurei, mas não o encontrei” (Ct 3.1-5). A igreja ainda é militante, ainda não está no céu...existe um anelo fervente dentro da igreja pela presença de Jesus, como diz o Salmista: “Como a corça anseia pela corrente das aguas, assim anseio por ti” (Sl 42.1).

Sulamita diz: Eu estava quase dormindo, mas o meu coração estava acordado. Escutem! O meu amado está batendo. Ele diz: “Abra-me a porta, minha irmã, minha querida, minha pomba, minha mulher ideal, pois a minha cabeça está encharcada de orvalho, o meu cabelo da umidade da noite” (Ct 5.2). O que você faz? O noivo está do lado de fora batendo! Vai abrir a porta? Como o texto de Apocalipse 3: “Eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei em sua casa...” (Ap 3.20). 

O que Sulamita faz, o que a igreja faz? “Já tirei a minha túnica; terei que vestir-me de novo? Já lavei os pés; terei que sujá-los de novo? O meu amado pôs a mão por uma abertura da tranca; o meu coração começou a palpitar por causa dele. Levantei-me para abrir-lhe a porta; minhas mãos destilavam mirra, meus dedos vertiam mirra, na maçaneta da tranca. Eu abri, mas o meu amado se fora; o meu amado já havia partido. Quase desmaiei de tristeza! Procurei-o, mas não o encontrei. Eu o chamei, mas ele não respondeu. As sentinelas me encontraram enquanto fazia a ronda na cidade. Bateram-me, feriram-me e tomaram o meu manto” (Ct 5.3-7).

E você lhe pergunto o que farás? Somos peregrinos, somos de Jesus, não fazemos parte deste mundo. Paulo exorta: “Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3.1-3). 


 

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