terça-feira, 28 de dezembro de 2021

 Davi conquista Jerusalém -   2 Sm 5.6-10

Introdução

O “Mágico de Oz” foi um filme que marcou a infância de algumas gerações, pois o filme é de 1939. Quem não se lembra da Doroty, uma menina meiga querendo voltar para sua casa, Kansas? Ou, o espantalho, vivia em busca de um cérebro? Ou, o leão, que apesar da sua natureza, era covarde! Ou, o homem de lata, ansiava por um  coração. Além desses personagens tinha o cachorrinho de Doroty e o Magico de Oz. O magico utilizava técnicas para enganar as pessoas de Oz, até que tudo foi desvendado pelo cãozinho. Todo poder do mágico era mentiroso, fraude, embuste, que visava manter as pessoas afastadas e assustadas. 

1)     Jerusalém dos Jebuseus

Lá estava ela, uma pequena cidade fortificada, situada sobre um afloramento de rochas. Os viajantes evitavam. Era, praticamente, inacessível. Para o lado leste e sul, seu solo despencava em desfiladeiros escarpados e profundos, uma deseja natural, inexpugnável. E quem vinha da direção contrária, oeste ou norte, iria se deparar com a visão de duas imensas figuras parecendo demoníacas – corpos disformes, semblantes distorcidos – que dominavam os muros da cidadela (2 Sm 2.6). 


Uma delas era uma caricatura perversa de Jacó coxeando, por aleijar-se durante o corpo a corpo com o anjo noite afora no vau de Jaboque (Gn 32.31).  A segunda imagem era uma paródia cruel de Isaque, ego, que, na falta de visão em idade avançada, fora enganado pela mulher e filho (Gn 27.1).  Então, se alguém se aproximasse daqueles muros, as figuras  -coxo e o cego – começavam a se movimentar lentamente – movimentos espasmódicos, bruscos, balouçantes – ao mesmo tempo, que se ouvia sons desagradáveis, estridentes, gritos de terror. Era um lugar diabólico, cheio de lendas, que aterrorizava qualquer viajante.

Ninguém se metia com os Jebuseus. Viviam havia séculos se serem visitados, muito menos atacados. Filisteus, amalequitas e hebreus lutavam guerras uns contra os outros, batalha após batalha, para cima e para baixo, para frente e para trás, naquelas terras, mas os jebuseus eram uma exceção a todos eles, com suas terríveis imagens ameaçando de malignidade sobrenatural, quem quer que ousasse chegar perto. Ironicamente, a cidade se chamava-se Jerusalém “cidade da paz”. 

2)     Davi e os Jebuseus

Davi fora coroado Rei de Israel, como já era antes era de Judá, unindo assim as tribos separadas, e necessitava de um local centralizador para seu novo governo. Sua sede atual era Hebron, muito longe do Sul e mais longe ainda do Norte. Então, precisava de um local que ficava no meio, que fazia mediação entre o sul e o norte. Portanto, Jerusalém “cidade da paz” era o local ideal:  uma pequena cidade fortificada, erguida ao longo da divisa entre Israel e Judá e jamais ocupada ou possuída por tribo alguma hebraica. 

Davi não se intimidava com exibições de malignidade. Ele vencera o gigante Golias (uma potestade), temido por todos, até pelo rei Saul. Escapara da ira maligna e odiosa de Saul, por quase 13 anos. Não estava afim, agora, de ser barrado pelos ídolos perversos dos Jebuseus, aquelas criaturas terríveis que colocava medo em todos os seus inimigos. Olhando texto em questão, a expressão “cegos e aleijados” aparece por três vezes e, na terceira, colocando-os como “inimigos de Davi” (2 Sm 5.7-8).

Davi, durante seus anos de fuga de Saul, havia captado aqui e ali informações – viajantes e pessoas que fugiram da cidade - sobre os Jebuseus. Tinha bons motivos para suspeitar que aquelas gigantescas personagens na muralha não eram, afinal de contas, demônios coisa alguma, mas, sim, estruturas mecânicas ligadas a um inventivo sistema de engenharia hidráulica.

Bastava alguém mover uma alavanca para que a força da agua procedente  da nascentes de Giom e transportada até o local por um engenhoso conjunto de dutos, fizesse o estropiado Jacó e o cegueta Isaque se motivassem fantasmagoricamente balançando-se, enquanto um dispositivo qualquer de provocar ruídos produziam os sons e os gritos. Então, Davi sabia, que tudo não passava de um embuste, que nada havia senão roldanas, peças e articuladas ilusão.

Davi comandou a conquista de Jerusalém. Suas instruções foram simples. Primeiro, destruir a passagem de água “terá que utilizar a passagem de água para chegas aqueles cegos e aleijados” (2 Sm 5.8), que abastecia as estátuas móveis - isso já desligaria aquelas figuras demoníacas da sua fonte de energia. Depois, despedaçar as falsas imagens de Isaque e Jacó, o cego e o aleijado, jogando seus pedaços para fora do muro.

Então, os homens acharam a entrada secreta e destruíram todo o sistema de dutos; em seguida, fizeram em pedaços as estátuas do cego e o aleijado. Tudo terminou muito rápido. Os Jebuseus eram medrosos e se entregaram. Arma nenhuma foi preciso usar. Foi a vitória mais fácil de Davi, sem derramamento de sangue.

3)     Depois da conquista de Jerusalém

“E ele (Davi) se tornou cada vez mais poderoso, o Deus dos exércitos estava com ele” (2 Sm 5.10). “E Davi ia ficando cada vez mais forte por que Yahweh, o Deus Todo-Poderoso, estava com ele” (BKJ).

“Cada vez mais poderoso”. Indica, na verdade, um amadurecimento cada vez maior de Davi. O que a gente entende com essa proposição “cada vez mais poderoso” é que a vida nos acrescenta, nos amadurece e não nos diminui. Estimula o desenvolvimento, o aprofundamento, a extensão, o alargamento. Ou seja, todas as circunstancias adversas na vida de Davi serviram como esterco para metabolizar mais espiritualidade, mais oração, mais salmos e mais dependência de Deus. 

“Davi alargou seus passos”. E realizou o inesperado ao conquistar Jerusalém. Era um território que se evitava. Mas, Davi era visionário, e não evitou. Tomado de indignação – diante das paródias sobre os patriarcas e o fato de ser subestimado – deu um gigantesco passo em direção à Jerusalém e destruiu as imagens  de seus ancestrais, Isaque e Jacó, erguidas sobre a muralha da cidade.

“Davi ampliou o seu abraço”. Inclui mais e mais povos sob sua governança e seu amor. Reuniu todos os filhos de Deus, não somente aqueles que tinham estado ao seu lado, ajudando-o durante seus anos de dificuldade. O amadurecimento transformou-me em generosidade, alcançando todas as tribos de Israel, as 12.

Aqui, Davi está com 37 anos. Durante sete anos e meio, Davi governou como Rei da tribo de Judá, depois da morte de Saul.

Antes, fora chefe de um bando de 600 homens. Por mais de uma década, tinha sido um fugitivo no deserto da Judéia, escondendo-se da maldade de Saul.

Antes, fora músico no Palácio de Saul e famoso como guerreiro, aliás, as mulheres de Jerusalém cantavam uma canção, toda vez que Davi voltava de suas lutas: “Saul matou milhares, Davi matou dezenas de milhares” (1 Sm 18).

Antes, era pastor de ovelhas, cuidando zelosamente das ovelhas do seu pai. Até que, corajosamente, em nome de Deus, enfrentou o gigante Golias, o gigante temido por todos os homens de Judá, cortou o cabeça do gigante... 

Antes, estava atrás das ovelhas, até que alguém chegou desesperado, querendo que se apresentasse ao seu pai, Jessé. Porque tinha o profeta Samuel em sua casa, e quando Davi chegou, sentiu um óleo ser derramado sobre sua cabeça copiosamente, ungindo- como rei de Israel...

Aqui, nesta história há uma imersão, um aprofundamento na condição humana. Com toda sua gloria e sofrimento, suas promessas e dificuldades. Mas, Davi, não está sozinho....a presença de Deus é notória na vida de Davi; cumprindo seus propósitos no decorrer da história.

Conclusão:

Aprendemos a ler nas entrelinhas, onde muito da história se acha implícito. Mas uma coisa é indiscutível – DAVI NÃO É DAVI SE ESTIVER AFASTADO DE DEUS. NENHUM DE NÓS O É. A MAIOR PARTE DO QUE LEMOS SOBRE DAVI É DE DEUS EM DAVI. 


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

 Maria e o nascimento de Jesus Lc 1.26-39 

Introdução

Estamos diante de um dos personagens mais complexos da história cristã, Maria. Ao longo da história, dois pontos podem ser vistos a seu respeito: aqueles que a colocam numa posição acima do que as escrituras revelam, chamando-a de mãe de Deus, imaculada, intercessora, corredentora e rainha do céu; e, aqueles que não dão a ela o reconhecimento necessário que a Palavra de Deus menciona, como nesse texto de Lucas 1.

Então, olhando para o texto do doutor Lucas, que fala da anunciação, muito de Maria se assemelha a nós, ou não. Porque ela ainda não conhecia a pessoa terrena de Jesus, e recebe uma mensagem do anjo Gabriel a respeito do seu nascimento e seu caráter, então quero convidar a todos para atenrarmos para o texto.

1)    Anunciação

O que aprendemos com o anjo sobre quem é Jesus? Primeiro, “Ele é o salvador do mundo” (Lc 1.31). Seu nome será Jesus, pois ele será o salvador do seu povo, ou seja,  “Deus que salva”. Os fundadores de todas as demais religiões vem ao mundo na condição de seres humanos, como guias para nos mostrar o caminho da salvação. Nenhum deles – Maomé, Budá, Confucio, etc – JAMAIS AFIRMOU SER DEUS OU MESMO UM REDENTOR OU SALVADOR. Mas, a Biblia sustenta que Jesus é o caminho da salvação “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (Jo 14.6). “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11.25). 

Segundo, “Ele é incomparavelmente grande” (Jo 1.32). João Batista seria grande diante do Senhor (Lc 1.15), mas Jesus é grande de forma incomparável (Lc 1.32). Pois Ele é o próprio Deus feito carne “O verbo se fez carne e habitou entre nós...” (Jo 1.14). Deus de Deus, Luiz de luz, COIGUAL, COETERNO E CONSUBSTANCIAL COM DEUS. Ele é a exata expressão do ser de Deus e o resplendor da glória (Hb 1.3). Nele habitou toda plenitude da divindade. 

Terceiro, “Ele é o Filho do Altíssimo” (Lc 1.32). Ele é igual ao Pai em todas as coisas. Como Deus, Jesus não teve mãe; como homem, ele não teve pai. Ele é Eterno e preexiste ao universo: “Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (Cl 1.17). “Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele” (Cl 1.16).

Quarto, “O Senhor lhe dará o trono do seu pai Davi e ele reinará para sempre” (Lc 1.32-33). O filho de Maria não é apenas o filho do Altissimo, mas também o rei cujo reinado é eterno. Seu reino não é terreno ou politico, mas espiritual, um reinado da graça e da verdade estabelecida no coração de todos aqueles que tem o Deus de Jacó como refugio. No sonho de Nabucodonosor em que ele viu a estatua e os quatro reinos, ou seja, Babilonia, medo-persa, Grécia e romano, diz o profeta: “O Deus dos céus estabelecerás um reino que jamais será destruído e que nunca será dominado por nenhum outro povo. Destruirá todos esses reinos e os exterminará, mas esse reino durará para sempre” (Dn 2.44). 

Quinto, “Ele é santo em seu ser” (Lc 1.35). “O poder do Altissimo te cobrirá com a sua sombra; por isso aquele que nascerá será santo e será chamado filho de Deus”. Ele é o único ser humano que entrou no mundo ser herdar o pecado original. Ele é a semente da mulher “Porei inimizade entre você e a mulher (Deus falando para Satanás), entre a tua descendência e a descendência dela...”(Gn 3.15) e não a semente do homem. Ele é essencialmente santo, pois não herdou o pecado da raça humana nem cometeu pecado algum. Não conheceu o pecado (2 Co 5.21), não cometeu pecado (1 Pe 2.22) e nele não existe pecado (1 Jo 3.5).

2) A reação de Maria

 A cidade natal de Maria é Nazaré, com uma população de apenas algumas centenas de pessoas. Nazaré era tão obscura que nunca é mencionada no Antigo Testamento nem na lista de Josefo das 56 cidades da Galileia. Nazaré tampouco é mencionada no Talmude, que lista 63 cidades. 

Na época Maria tinha seus 14 anos e era muito pobre. Era uma camponesa que, além de toda essa situação, enfrentará a desgraça com a noticia que o anjo lhe deu. No entanto, essa simples mulher do campo, gravida e solteira é hoje um dos seres humanos mais famosos do mundo. O que a torna tão extraordinária? O modo como reagiu a Deus e sua mensagem. Ela fez quatro coisas:

Primeiro, Logo após a aparição do anjo, o texto diz:Mas, ao ouvir essas palavras, ela ficou muito perturbada  e começou a pensar que saudação seria essa” (Lc 1.29). Ouviu o que? “Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você”, ou “Achaste graça diante de Deus” e não “Ave Maria, cheia de graça”, como se ela fosse uma fonte inesgotável de graça para outras pessoas. A expressão COMEÇOU A PENSAR significa usar a lógica, raciocinar com intensidade. Quer dizer que Maria tentava descobrir como tudo isso poderia ser verdade. 

A noticia com certeza não se encaixava no que sabia, porque a mensagem dizia que um ser humano seria divino. A idéia de que o Deus do Monte Sinai se tornaria humano era impossível para a razão e repugnante para a sensibilidade moral dos judeus. Como fora difícil aos discípulos aceitarem a ressurreição de Jesus!

O Deus criador do universo está entrando no útero de uma moça para nascer como ser humano através dela. Assim, a anunciação toma de assalto todas as narrativas e exige um duro trabalho intelectual. Maria não se esquiva, foge disso. Pondera as evidencias, pesa a consistência interna das afirmações e conclui que é verdade. 

Segundo, Ela questiona o anjo: “Como acontecerá, já que sou virgem”. Ou seja, como pode ter um filho se não faz sexo? Isso mostra a disposição para ser sincera acerca de suas incertezas e questionamentos. Há dois tipos de duvidas: as desonestas e as honestas.

As desonestas são ao mesmo tempo orgulhosas e covardes; demonstrando desdém e arrogância. Como: “Que idéia maluca!” e ir embora,  ou, “Isso é impossível”, ou uma versão contemporânea “Que burrice”. No entanto, as duvidas sinceras são humildes, porque levam você a indagar, não erguer um muro apenas. E, quando você propõe uma pergunta sincera, fica vulnerável de certa forma. A pergunta de Maria para o anjo na verdade solicita informações e deixa aberta para a possibilidade de uma boa resposta que talvez mudasse seus pontos de vista.

 Se ela nunca tivesse expressado uma duvida que fosse, o anjo jamais teria pronunciado uma das grandes declarações da Bíblia “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37). Quanto mais você estiver disposto a expressar suas duvidas com sinceridade e humildade, quanto mais apresentar questionamentos francos, mais longe você e as pessoas a seu redor chegarão. 

Terceiro, após ouvir que “para Deus nada é impossível”, ela age. Voce crê em Deus, Maria? Sim. Bem, se há um Deus que criou o mundo, libertou o seu povo e o protegeu durante séculos, por que ele não pode fazer isso? E isso fez sentido para ela. Por isso Maria diz: “... Aqui está a serva do Senhor, cumpra-se em mim a tua palavra...” (Lc 1.38).  

As vezes as pessoas comentam: “Gostaria de ser cristão, mas terei de fazer isso? Serei obrigado a abrir mão daquilo? Terei de orar, deixar de lado o sexo, desistir do meu emprego, mudar meus pontos de vista/ Na versão King James, lemos: “Eis aqui a serva do Senhor; que se realize em mim tudo conforme a tua palavra”.

“Quando se trata de seguir a Jesus, o mais difícil de entregar é entregar-se a si mesmo. Deus chega para Abraão e ordena: Abraão, sai da tua terra, da terra dos caldeus, e segue-me. Abraão pergunta: Onde estou indo. Ao que Deus responde apenas: eu lhe mostrarei mais tarde. Deus quer que Abraão abra mão do direito de determinar por si próprio a melhor maneira de viver.

A decisão de Maria era aceitar e acolher essa criança e tudo o que viesse com ela. O que custou de verdade ter “Deus conosco” em seu meio” (Mt 1.23)?O que custou estar com ele? A resposta do texto é coragem. E disposição para fazer a vontade dele a qualquer preço. 

 Conclusão:  Quarto, Maria visita Isabel - comunhão

Quando Maria chega as montanhas da Judéia para passar algum tempo com Isabel, em sua saudação a criança no ventre de Isabel se agitou de alegria. Logo, Isabel lhe diz: “Bendito és tu entre todas as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre” ()v.42). Maria não parece compreender o que está passando até visitar outra irmã na fé e elas conversam e adoram juntas.  

Maria irrompe um cântico magnifico, ele costuma ser chamado de Magnificat. Ela se põe adorar e exaltar a Deus de todo coração: “...a minha alma engradece ao Senhor, e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador”(vs. 46,47).

 

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

 Murmuração ou gratidão Ex 15.22-27

Introdução: Tem pessoas que murmuram de suas dificuldades insignificantes, põem defeito no governo, nas condições das ruas, na igreja, nos irmãos, nos obreiros, no comportamento dos jovens ou das crianças. Ou seja, tem várias queixas para tudo e todos. Mas, pior de tudo são as pessoas que reclamam de pessoas que reclamam. Então, ao reclamar dos reclamadores, torno-me o maior reclamador de todos.

Imaginamos que a murmuração é um erro no qual apenas outras pessoas caem. O que nós expressamos são queixas justificadas ou criticas construtivas, MAS não murmuramos. Consideramo-nos a exceção; na verdade, porém, a maioria de nós murmura, e alguns de nós murmuramos a maior parte do tempo.

Em Êxodo 15.22 -17.7, encontramos três histórias de murmuração, queixas: “E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: O que vamos beber” (Ex 15.24).”No deserto, toda comunidade murmurou contra Moisés e Arão” (Ex 16.2). “Mas o povo estava sedento por água e murmurou contra Moisés” (Ex 17.3). 

1)    A história de Mara

Por vezes, diz-se que, na maioria das sociedades ocidentais, são necessários apenas três dias de prateleiras vazias para começar uma rebelião civil. Sem dúvida foi desse jeito entre os israelitas. Eles viajam três dias desde o mar vermelho sem encontrar agua (Ex 15.22). Então, no terceiro dia, encontram agua, mas não é potável “Mas não puderam beber das águas de lá porque eram amargas” (Ex 15.23). Chamam o lugar de “mara” que significa “amarga”. Não é só a água que é amarga; eles também estão amargos e, portanto, murmuram (Ex 15.24). 

Os israelitas foram salvos da escravidão no Egito de modo maravilhosamente portentoso. Viram a mão de Deus dividir o mar Vermelho e derrotar o exercito egípcio. Então cantaram ao Senhor: “Cantarei ao Senhor, pois triunfou gloriosamente. Lançou ao mar o cavalo e o seu cavaleiro! O Senhor é a minha força e a minha canção; ele é a minha salvação! Ele é o meu Deus e eu o louvarei...” (Ex 15.1-2). 

Em apocalipse 15, temos  o cântico de Moisés: e entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro: "Grandes e maravilhosas são as tuas obras, ó Senhor Deus, o Todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te temerá, Senhor? Quem não glorificará teu nome? Pois só tu és santo. Todas as nações virão e adorarão diante de ti, pois teus feitos de justiça foram revelados". Apocalipse 15:3,4

Grandes são as Tuas obras
Senhor Todo-Poderoso
Justos e verdadeiros são os Teus caminhos
Grandes são as Tuas obras
Senhor Todo-Poderoso
Justos e verdadeiros são os Teus caminhos

Ó Rei das nações, quem não temerá?
Quem não glorificará Teu Nome?
Ó Rei das nações, quem não Te louvará?
Pois só Teu Nome é santo

Mas isso tudo foi há três dias. Hoje estão famintos e murmurando. E nós? Talvez no domingo nós cantamos sobre o amor leal de Deus. Mas três dias depois (ou três horas), estejamos queixando, murmurando. Agora, pense em tudo o que Deus fez por você. Pense em tudo o que lhe prometeu. Mas pense também em como é fácil perder a perspectiva correta. Só vemos água amarga, só vemos nosso problema ou nossa carência. E, dizemos: “Mara” – minha vida é amarga.

Qual é a reação de Deus? Ele mostra a Moisés um pedaço de madeira “ele o lançou na água e esta se tornou boa” (Ex 15.25). Se confiamos em Deus, descobriremos que ele é o Deus “que os cura” “Se vocês derem atenção ao Senhor, ao seu Deus e fizerem o que ele aprova, se derem ouvidos aos seus mandamentos e obedecerem a todos os seus decretos, não trarei sobre vocês nenhuma das doenças que eu trouxe sobre os egípcios, pois eu sou o Senhor” (Ex. 15.25). Da mesma forma que “curou” a agua amarga (Ex 15.26).

2)    O maná

Contudo, Israel não aprendeu a lição. Depois de um breve parada em Elim: “onde havia doze fontes e setentas palmeiras” (Ex 15.27). Novamente o povo queixa, murmura: “Quem dera a mão do Senhor nos tivesse matado no Egito! Lá nos sentávamos ao redor das panelas de carne e comíamos pão à vontade, mas vocês nos trouxeram a este deserto para fazer morrer de fome toda esta multidão” (Ex 16.3). Aqui, há uma queixa incisiva, uma declaração terrível. Estão dizendo que sua situação era melhor no Egito, que o Êxodo havia piorado as coisas. Efetivamente, estão dizendo a Deus: “Queríamos que o Senhor não tivesse dado o trabalho de nos salvar. Preferíamos que tivesse nos deixado onde estávamos”.

Uma das características da murmuração é que, com frequência, ela propõe alternativas idealizadas e impraticáveis. No capitulo 2, os israelitas gemiam e clamavam. Agora, de repente, imaginam que o Egito é um lugar maravilhoso para viver! Esquecem os feitores egípcios. Aliás, insinuam que era Deus quem os oprimia no Egito (“quem dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor no Egito”). E Afirmam que Deus tinha más intenções: (“mas nos trouxeste a este deserto para matar de fome toda esta multidão)

Qual seria sua reação? A reação de Deus é enviar maná do céu: “Eu lhes farei chover pão do céu” (Ex 16.4). “Depois que o orvalho secou e flocos finos semelhantes a geada estavam sob a superfície do deserto” (Ex 16.14).  “Quando os israelistas viram aquilo, começaram a perguntas uns aos outros que é isso”. Então, deram o nome de “maná”, que tem o som parecido com “o que é”? em hebraico (Ex 16.15).A resposta para tal pergunta é: “Esse é o pão que o Senhor lhe deu para comer. Foi isto que o Senhor ordenou: todos devem recolher o quanto precisarem” (Ex 16.15,16). 

“Então o Senhor disse a Moisés: eu lhe farei chover pão do céu. O povo deve sair diariamente e colher o suficiente para aquele dia. Desse modo, eu os provarei e verei se seguirão minhas instruções. No sexto dia devem preparar o que recolherem, e deve ser o dobro do que recolhem nos outros dias” (Ex 16.4-5).

Primeiro, alguns recolhem mais do que precisam (v.20). “guardando um pouco até a manhã seguinte”. Na manhã seguinte, porém, o maná está cheio de bichos e começou a cheirar mal. No sétimo dia, o povo deve recolher o dobro do sexto dia, mas “alguns do povo saíram para recolhe-lo no sétimo dia, mas não o encontraram” (Ex 16.27).

Uma das maneiras pelas quais demonstramos confiança em Deus é por nossa capacidade de descansar. Podemos descansar porque confiamos que Deus proverá. Deixe inverter. Se você não é capaz de descansar, se está sempre ocupado com seu trabalho, sua família ou seu ministério, é porque não está confiando em Deus. Está tentando garantir seu futuro, criar sua identidade ou prover sua justificação. Você pode inventar desculpas, mas serão apenas isso: desculpas.

3)    Massá

“Acamparam em Refidim, mas lá não havia água para beber. Por essa razão queixaram a Moisés e exigiram: dê-nos água para beber” (Ex 17.2). Quando queixaram, “Moisés respondeu: Por que se queixam a mim? Porque colocam o Senhor à prova?” (Ex 17.2). 

 A esta altura, Moisés está desanimado com os israelitas (v.4). Ele percebe o que estão fazendo, e, por isso, escolhe apropriadamente os nomes dos lugares: “estão pondo Deus à prova, dizendo: O Senhor está entre nós ou não”? (v.7) POR QUE A MURMURAÇÃO É NOCIVA?

Primeiro, porque ela cresce, se espalha pelos ouvidos. É contagiosa. Espalhamos descontentamento. Reforçamos a murmuração uns dos outros. Até Moisés foi infectado: “Então Moisés clamou ao Senhor: que farei com este povo? Estão a ponto de apedrejar-me!” (v.4). Reforçamos a murmuração uns dos outros. Por isso é tão importante cortá-la pela raiz. Precisamos desafiar uns aos outros quando há murmuração. Precisamos dizer: “Pare. Não conte para ninguém. Vá conversar com a pessoa em questão”, ou: “converse com Deus, pois ele sabe as circunstancias que estão lhe causando preocupação”. 

Segundo, a murmuração cresce porque endurece nosso coração. Tem a presunção de por Deus à prova. Examina Deus. Assumimos o papel de juiz e colocamos Deus nos bancos dos réus.  Questiona sua bondade: “Ele não me deu a vida que desejo... mereço mais que isso... preciso de algo melhor”. Pense nisso por um momento. Quando você reclama, está julgando Deus. Tem certeza de que é isso que quer fazer? 


Conclusão: admoestação

Pois ele diz: "Não endureçam o coração, como fizeram seus antepassados em Meribá, como fizeram em Massá, no deserto. Ali eles me tentaram e me puseram à prova, apesar de terem visto tudo que fizSalmos 95:8,9

 Em hebreus 3, 12,13, tem a mesma aplicação: “Portanto, irmãos, cuidem para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo que os desvie do Deus vivo. Advirtam uns aos outros todos os dias, enquanto ainda é "hoje", para que nenhum de vocês seja enganado pelo pecado e fique endurecido” Hebreus 3:12,13 ~

Olhando para as duas admoestações percebi que há algo de muito agravante nesse texto. As palavras "prova" é a mesma tradução de Massá, ou Meribá, rebelião. O texto de Numeros 20, nos ajuda e entender com mais claridade esse agravo. Deus fala pra Moisés "dize a este rochedo que faça fluir suas águas" Nm 20.8. 

Mas, "Moisés ergueu o braço e bateu na rocha duas vezes com o seu cajado" (Nm 20.11-12). Mas, Deus lhe diz: "Como voces não confiaram em mim para honrar minha santidade à vista dos israelitas, voces não conduzirão esta comunidade para a terra que lhes dou" Nm 20.12. 


 

 

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

 A Páscoa Êxodo 12.1-14 


Introdução: Estamos caminhando pelo livro de Êxodo. Na ultima vez, vimos o aparente poder de Faraó. Até então, tudo se resumia a ele, tudo. Afinal, era a corporificação do deus Ra, o deus Sol. Contudo, as pragas, uma por uma, vão demolindo seu pretenso poder. Agora, vamos para a mais aterradora de todas elas, a morte dos primogênitos. É o golpe final, ou, o ultimo assalto, o ultimo confronto. Essa vai atingir visceralmente o Faraó, vai bagunçar com suas entranhas...

1)    A décima praga

A décima praga é anunciada em Exodo 11: “Farei vir uma praga conta o Faraó e contra o Egito...” e depois acontece em Êxodo 12.29-32: “Então, eis que à meia noite, Deus matou todos os primigênios do Egito...”. Aqui, Deus dá a Moisés instruções que protegerão os israelitas da praga mortal: “...no dia dez deste mês, que cada homem tome para si um cordeiro para cada família, um cordeiro para cada casa...”(EX 12.1-20), e Moisés transmite essas instruções (vs. 21-27), ás quais o povo obedece. 

Eis um resumo: “Cada homem deve tomar um cordeiro para sua família... macho de um ano, sem defeito...todos os membros da comunidade de Israel devem sacrificá-lo ao entardecer (v.3,5,6,21). O sangue deve ser aplicado nos batentes e nas vigas das portas das casas onde comerão os cordeiros” com um ramo de hissopo e, em seguida, “naquela mesma noite, comerão carne assada no fogo” (V.7, 8: carne, com pão ázimo e ervas amargas, 22: “..marcai a travessa da porta e suas colunas laterais com o sangue que estiver na bacia...”). 

O Senhor passará pelo Egito, trazendo a morte do primogênito de todas as criaturas. Mas, “o sangue será um sinal para indicar as casas que vocês estiverem; e, quando eu vir o sangue, passarei adiante. Nenhuma praga destruidora os atingirá quando eu ferir o Egito, v.23 (v.13: “...quando eu vir o sangue, passarei adiante..”, v.23: “...quando vir as marcas de sangue sobre a travessa e sobre as duas colunas laterais, Ele passará adiante dessa porta...”). 


Mas, duas festas, Páscoa e pão ázimo?

Deus diz que essa libertação dupla deve ser comemorada em duas festas. A Páscoa começa no décimo dia do mês de abibe e termina no 14 dia. A festa dos pães sem fermento começa no 14º dia e termina no dia 21 . O dia mais importante em ambos os casos é o 14º dia, o dia da libertação, ou seja o dia da Páscoa.

 A páscoa comemora o livramento da morte “...ele passará adiante dessa porta e não permitirá que o Destruidor entre em vossas casas, para vos ferir de morte” (Ex 12.23). E a festa dos pães sem fermento comemora a libertação da escravidão, pois encena a partida de Israel às pressas: “Celebrareis, portanto, a festa dos pães sem fermento, porque foi nesse mesmo dia que Eu tirei os exércitos de Israel do Egito...

2)    Quem morreu?

Os israelitas merecem o julgamento mortal tanto quanto os egípcios. Porque tiveram que aplicar sangue aos batentes da porta, evidenciando que eram tão culpados quanto os egípcios e, portanto, precisavam de que um substituto morresse em seu lugar a fim de evitar o julgamento mortal. Na manhã seguinte, há um corpo. A pergunta é: “Quem morreu? Foi um filho ou um cordeiro?” O cordeiro substitui o filho. 


Se o sangue fosse apenas para marcar quais casas pertenciam os israelitas, tinta vermelha teria servido. No entanto, o sangue é sinal de que foi realizado um sacrifício, de que um substituto foi oferecido. Portanto, o sacrifício do cordeiro significa que há uma pendencia. O cordeiro é simplesmente um indicador, aponta para frente. A páscoa simboliza um ato maior de redenção.

Mais de um milênio depois, quando essa pendencia aguarda uma resolução, João Batista está nas margens do rio Jordão e é indagado porque ele estava batizando. Então, ele responde: “Eu batizo com água; mas, no meio de vós, já está quem vós não conheceis. Ele é aquele que vem depois de mim, cujas correias das sandálias não sou digno de desamarrar”. Quando João está batizando vê Jesus que vinha caminhando em sua direção e diz: “Este é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.26-29). 

Alguns anos depois, Pedro afirma: “Pois vocês sabem que não foi com coisas perecíveis como prata e ouro que foram remidos de sua maneira vã de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo sangue precioso de Cristo, um cordeiro sem mancha e sem defeito” (1 Pe 1.18-19). Paulo apresenta Cristo como “nosso cordeiro pascal” (1 Co 5.7).

Quando Pedro fala de Jesus como “cordeiro sem macha” (1 Pe 1.18-19), sua intenção é enfatizar a libertação do poder do pecado. Vejam os versículos antes: “Portanto, com a mente alerta e inteiramente sóbria, depositem sua esperança na graça que lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado em sua vida. Como filhos obedientes, não se almodem aos maus desejos que tinham quando viviam em ignorância. Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos em tudo o que fizerem; pois está escrito: Sejam santos, porque eu sou santo. Uma vez que invocam um Pai que julga imparcialmente as obras de cada um, vivam com temor reverente durante seu tempo aqui como estrangeiro” (1 Pe 1.13-17).

Devemos ser santos porque fomos remidos da escravidão. Devemos ser santos porque podemos ser santos; o pecado não é mais nosso Senhor. A expressão “com a mente alerta” é, literalmente, “cingindo os lombos de sua mente”. Trata-se de uma imagem tirada de Exodo 12.11, os israelitas deviam comer o cordeiro pascal “...cinto atado, sandálias no pés e cajado na mão. Comereis às pressas...”. Prontos para sair do Egito. Nos também devemos ter pressa para ser santo. Devemos estar sempre pronto para entrar em ação no serviço de Cristo. 

3)    Escravo de quem?

Em Exodo 4.22-23, quando Deus diz ao Faraó por intermédio de Moisés: “Deixe meu filho ir para que me preste culto” . A palavra traduzida por “prestar culto” é a mesma usada para designar a escravidão dos egípcios . Em Êxodo 2.23, por exemplo, diz que “os israelitas gemiam debaixo da escravidão”. Agora, Israel é liberto da escravidão de Faraó para a obediência; e é liberto por meio da obediência, ao seguir as instruções de Deus, ao aplicar sangue nos batentes da porta.

O relato de Exodo passa da construção forçada de edifícios para o Faraó á construção de um edifício para Deus. A voluntariedade na construção do tabernáculo é tipificada pelas ofertas espontâneas com os quais a obras é custeada: “todos os homens e mulheres israelitas que se dispuseram trouxeram ao Senhor ofertas voluntárias para toda obra que o Senhor lhes havia ordenado por intermédio de Moisés...E o povo continuava a trazer ofertas voluntarias manhã após manhã” (Ex 35.29; 36.3).

Paulo nos exorta: “E então? Vamos pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum! Voces não sabem que, quando se ofereceram a alguém como escravos obedientes, são escravos daquele a quem obedece, quer sejam escravos do pecado que leva à morte, quer da obediência que leva à justiça? Mas graças a Deus porque, embora tenham sido escravos do pecado, obedeceram de coração à forma de ensino que agora pede sua lealdade, foram libertos do pecado e se tornaram escravos da justiça” (Rm 6.15-18). 


Conclusão:

Imagine um escravo de um senhor cruel (pecado). Um dia, outro homem (Jesus) tem misericórdia do escravo e o compra do antigo senhor cruel por um alto preço (coisas perecíveis, mas com o sangue de Jesus). Uma semana depois, o antigo senhor vê seu ex-escravo. Grita uma ordem para ele, e a reação automática do escravo é obedecer-lhe. No entanto, ele não está mais debaixo do controle do antigo senhor. Não precisa mais lhe obedecer. Precisa lembrar q quem pertence. Precisa lembrar o dia da libertação, em que a sua vida antiga chegou ao fim e sua vida nova começou. Recordar-se disso muda tudo.

 

 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

 Libertando das cadeias do Egito Ex. 7.1-6 


Introdução:

Nos cinemas do Brasil está em cartaz o flime: “Eternos” da Marvel. O que vem a mente é mais um filme de super heróis, como Batman, Homem Aranha, Capitão América, etc. São seres que protegem a terra há sete mil anos e precisam lutar contra os desviantes. Mas, no desenrolar do filme, a sutileza é onipresente. O mal está por toda parte, os homens são fracos e subserviente, são seres assustados. Os heróis são esquisitos e cada um vai viver sua vida na humanidade, do jeito que quer. Um deles se casa com outro homem e juntos adotam um filho. O herói, no final, é um vilão, que quer a destruição da terra. O que se percebe que o filme é um relato de como o mundo é, em si, enganoso.

1)    O império do Egito

Os hebreus viviam no Egito como escravos. Havia mais de quatrocentos anos. Nessa época, o Egito era, uma potencia mundial, a mais temida pelos povos. Dominando o cenário e a imaginação de povos próximos e distantes numa sociedade totalitária governada por um ditador que todos criam ser um deus. O esplendor que cercava esse deus-ditador lhe dava credibilidade: arquitetura suntuosa, arte deslumbrante, tudo magnificente, tudo feito de ouro.

Contudo, o esplendor era inteiramente externo; por dentro, o palácio estava infestado de vermes – abuso, crueldade, superstição, degradação. Os hebreus estavam lá, no meio de tudo isso, mas alheios e impotentes, no lado mais fraco. Será que alguns ainda perseveravam na fé dos patriarcas? Talvez sim, mas, para a maioria, o centro de todo o poder era o Egito. Depois de 430 anos naquela terra, a memoria de Abraão, Isaque e Jacó caira quase inteiramente no esquecimento. 

Vejam o que Moisés pergunta para Deus: “Quando eu chegar diante dos hebreus e lhes disser: O Deus dos seus antepassados me enviou a vocês, e ele me perguntarem: Qual é o nome dele? Que lhes direi?” (Ex 3.13). Para que o povo de Deus possa reconhecer a revelação e operação de Deus como Eu Sou o que Sou e responder a elas, é necessário que veja como , esse lamaçal de mentiras e opressão faraônica como ele é de fato, como um grande mal, contudo, não um mal definitivo.

É nesse ponto que entram em cena as dez pragas. Elas foram usadas para revelar a futilidade do mal, para purificar a mente dos hebreus de toda admiração invejosa do mal, ou para purificar as portas da percepção, mais ainda, segundo o apostolo Paulo, abrir os olhos das pessoas, porque “o deus deste século cegou o entendimento dos descrentes para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo” ( 2 Co 4.4).  Então, cada uma das pragas serviu de água, sabão e alvejante para efetuar uma limpeza completa. 

 2)    Discernindo

Quando nossa mente e nosso espirito sucumbem ao domínio do mal, e não apenas aos seus efeitos físicos, passamos a ser controlados por poderes demoníacos. As dez pragas foram uma forma complexa de EXORCISMO, uma explosão de Libertando a imaginação dos hebreus do domínio do mal. Como disse o apostolo Paulo: “...nossa luta não é contra seres humanos, e sim contra principados e potestades...contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6.12) 

Agora, os hebreus teriam liberdade de ouvir e seguir seu Salvador e adorar a Deus “em espirito e em verdade” (Jo 4.24). Quando Moisés começou a trabalhar com seus irmãos e irmãs hebreus, eles sofriam de uma “ânsia de espirito” (Ex 6.9), ou “angustia” (NVI), e a única “verdade” à qual tinham acesso era essa grande mentira egípcia.

Mas, o Egito e o Faraó não eram o “mundo real”. Eram o mundo real desfigurado, profanado, endemoninhado. As dez pragas descontruiriam essa fraude gigantesca, item por item, peça por peça, até que não sobrasse nada para cativar a imaginação do povo de Deus. O povo de Deus precisava de uma cirurgia radical para extirpar esse mundo profano, desfigurado e longe de Deus. A intenção era que, ao deixar o Egito, o povo tivesse não apenas fisicamente liberto da opressão, mas também, mentalmente. Como no diz o apostolo Paulo: “Ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o reino do seu filho amado”(Cl 1.13).

3)    Quem vencerá?

Quem está no controle de tudo? Quem dirige os acontecimentos da vida? Quem é o Senhor do mundo? Por acaso é o deus Rá – deus sol -, corporificado por Faraó? Ou, é Yahweh, ou “Eu sou o que Sou”, representado por Moisés? Cada uma das dez pragas fala dessa questão, como se fosse um final de Copo do Mundo para saber quem será o vencedor. Dois modos de vida estão em jogo, dois estilos de ver o mundo, e serão dez confrontos. 

 A primeira praga é quando o Nilo transforma-se em sangue. Hapi, que significa “fonte do Nilo”, é o deus da fertilidade, era associado de modo próximo ao Nilo. Sem o rio Nilo, não havia fertilidade no Egito, logo, não havia mais Egito. Contudo, o Senhor transforma o Nilo em sangue (Ex 7.19-21). Logo, todo tipo de vida, em aguas, pereceu. 

A segunda praga foi de rã, a deusa Heket, também, como Hapi, é ligada à fertilidade. Ela tinha cabeça de rã, mas as rãs pertencem ao Senhor, que lhes dá ordem (Ex 8.1-6). O touro era outro símbolo da fertilidade, com santuários em todo o Egito. O Deus Ápis era venerado em Mênfis, contudo, não fora capaz de resistir à praga sobre os rebanhos  (Ex 9.1-7). 

Talvez se esperasse que Shekhmet, deusa das pragas, com cabeça de leoa, curasse a epidemia de feridas (v.8-11). Nut, deusa do céu, não foi capaz de impedir as pragas de granizo (Ex 10.12-15). Acreditava-se que a cada dia, Ra, o deus Sol, navegasse pelo mar celeste em uma embarcação à noite, descia ao mundo dos mortos antes de ressurgir vitorioso ao amanhecer. Mas durante a nona praga (Ex 10.21-23) ele não ressurgiu. Os três dias de escuridão foram sinal claro de que havia sido derrotado. 

Cada praga sucessiva deixa evidente a impotência humilhante de Faraó. Moisés, profeta de Yahweh, desencadeia e depois repele cada uma das dez pragas. A tal “soberania” é sistematicamente desintegrada, arruinada. Ou seja, Faraó não é tudo isso, bam bam bam, que tanto se anunciava. Moisés ridiculariza o soberano do Egito “Para que narres ao teu filho e aos teus filhos de teus filhos como zombei do poder que havia no Egito... todos vós sabereis que Eu sou Yahweh” (Ex 10.2).

Ou, para usar outra imagem, as pragas são como a produção de uma peça teatral com dez cenas, a nação toda reunida para assistir, todos atentos a qualquer gesto. Em cada uma das cenas, uma bola de aço gigantesca. Balançando de uma grande altura, despedaça mais uma parte do modo de vida egípcio. Cada golpe, é uma demolição, reduzindo, humilhando o mito da invulnerabilidade egípcia, soberano do Egito. Para o povo que está assistindo, é possível que a sucessão de pragas tenha adquirido uma qualidade cósmica de desenho animado à medida que a bola de demolição faz seu trabalho:

·        Sangue (Bam!)

·        Rãs (Bam!)

·        Piolhos (Bam!)

·        Moscas (Bam!)

·        Pestilencia (Bam!)

·        Ulceras (Bam!)

·        Chuvas de pedra (Bam!)

·        Gafanhotos (Bam!)

·        Trevas (Bam!)

·        Morte (Bam!)

Faraó fora sarcástico: “Quem é o Senhor para que lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir a Israel” (Ex 5.2). Portanto, cada golpe soltava o laço da mentira egípcia-faraónica que dominava o mundo e prendia o povo, até não mais restar mais que um montão de escombro, lixos e corpos.

Conclusão:

Na história de Êxodo, os hebreus estão sendo preparados para a salvação; para continuarem na vida de salvação, precisam de imaginação disciplinada e refinada, livre de sujeira, do fedor e do abuso no qual viveram por tanto tempo; livre para ouvir a palavra da graça e do perdão, para reconhecer o mundo de providencia e benção, para viver uma vida livre de obediência e adoração jubilosa.