terça-feira, 27 de setembro de 2022

 Elias e os profetas de Baal – 1 Reis 18.16-3

Introdução

Uma grande tempestade ameaçava um transatlântico. A tripulação e os passageiros corriam, aflitos, de um lado para o outro. os marinheiros se esforçavam para salvar o navio. A grande maioria dos viajantes estava desorientada, pois o desespero se apoderara de todos. Alguém, entretanto, encontrou em um os salões, uma menina que brincava despreocupadamente, indiferente à aflição de todos. Ao perguntar-lhe se não temia morrer no naufrágio, sem largar o brinquedo que tinha na mão, levantou cabeça, olhou para a pessoa por cima dos ombros, e respondeu: Papai é o piloto do navio.

1)     Perturbador de Israel”

Finalmente, depois de três longos anos, Deus fala com seu servo e diz: “Vai, apresenta-te a Acabe”. Três anos antes Deus havia dito: “Nem orvalho nem chuva haverá nestes anos, segundo a minha palavra”. Agora ele está dizendo: “Darei chuva sobre a terra”. “Partiu, pois, Elias a apresentar-se a Acabe; e a fome era extrema em Samaria... e foi Acabe ter com Elias. Vendo-o, disse-lhe: És tu, ó perturbador de Israel” (1 Rs 18.16-17).

A forma nominal do verbo hebraico que significa “perturbar, trazer calamidade”. Há ocasiões em que esta palavra hebraica é usada com o sentido de “víbora, áspide ou cobra”. Portanto, “perturbador” é outra maneira de dizer “é você sua víbora rastejante?” Para ele, o profeta é uma cobra. Ele é o culpado de todo mal que está acontecendo em Samaria. 

E o que estava acontecendo? Três anos sem uma gota e chuva em toda a terra de Israel. A terra estava desolada, seca, sem vida. Todos os rios haviam secado. Quando o profeta Elias saiu de Sarepta, Sidom, em direção ao palácio de Acabe, com toda certeza passou por carcaças de animais (vaca, cavalos, cachorro, etc). Imagine o cheiro de morte que havia no ar. É somente pensar nas reportagens do jornal na televisão sobre as devastadoras secas de algumas regiões do Brasil e do mundo – morte e doença por todos os cantos ...um cenário de morte. 

O rei Acabe com os olhos flamejantes, encontra o profeta e descarrega toda a sua ira sobre Elias: “Seu perturbador de Israel. Sua cobra miserável”. Elias respondeu: “Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor e seguistes os baalins”.

Ou seja, não venha me culpar pelo que já aconteceu, Deus trouxe esta seca como julgamento de pessoas como você. Por sua causa não choveu. Deus fechou os céus porque você não cumpriu os mandamentos dele. Você se esqueceu do Senhor e está adorando ídolos.

2)     Oscilando entre dois pensamentos

“Agora, pois, manda ajuntar a mim todo o Israel no Monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas do poste-ídolo que comem da mesa de Jezabel” (1 Rs 18.19).

A multidão que se reuniu no monte Carmelo para testemunhar o grande duelo era composta de dois grupos: os profetas e sacerdotes dos falsos deuses, Baal e Aserá, e os “filhos de Israel”, o publico em geral, ou um grupo representativo do povo da terra. “Então, Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (1 Rs 18.21).

O povo de Israel já estava contaminado com a idolatria, estavam divididos e indecisos. Alguns estavam seguindo os postes ídolos. Outros seguiam Baal. Outros ainda estavam hesitantes quanto ao Deus dos céus. Estavam indecisos. E, hoje, os crentes que vivem de um lado para o outro sem sabe a quem adorar? Vivem correndo de um lado para o outro atrás de pregadores e novidades...

Por causa disso, Elias os confronta com a verdade. “Ouçam. Até quando vocês estarão mornos? Por quanto tempo vão vacilar ou hesitar? Não é possível seguir os dois caminhos. Se o Senhor é Deus, então sigam-no. Se Baal é Deus, então sigam Baal. Fiquem de um lado ou de outro. É hora de decisão”. “Até quando coxeareis entre dois senhores?”; ou, “ficareis estacionados entre duas possibilidades” (BKJ). “Até quando vão oscilar de um lado para o outro” (NVI). 

O Asno de Buridan é uma pequena parábola que Jean Buridan inventou para falar da dificuldade de tomar uma decisão. A parábola nos conta que o pequeno animal foi colocado diante de dois montes de feno. Eram ambos muito atraentes e de aparência deliciosa. Ele olhava para um, ora para o outro, mas não se decidia. A lição aprendida é que ele não conseguiu se decidir por nenhum deles e acabou morrendo de fome. 


3)     O grande dia

Elias propôs um desafio: Voces pegam um novilho, cortem em pedaços e ponham sobre ele sobre a lenha e, eu farei o mesmo. Então vocês invocarão o nome do seu Deus, e eu do meu Deus. O Deus que responder por fogo é Deus. Os profetas de Baal aceitaram o desafio. Então, desde o começo da manhã até o meio-dia eles clamaram: “Baal, responde-nos”. Nada. Os céus estavam cerrados. Não houve trovões nem fogo, nem mesmo uma faísca no céu. Ninguém respondeu...

O silencio lá em cima era ensurdecedor. Desesperados, os profetas de Baal começaram a pular em volta do altar. Saltavam loucamente, implorando, procurando chamar a atenção de Baal, tentado dar um jeito de seu deus mandar fogo do céu. “Ó Baal, responde-nos, gritavam. E dançavam em volta do altar que haviam feito. Mas não houve nenhuma resposta ninguém respondeu” (1 Rs 18.26). 

Elias disse: “Gritem mais alto, já que ele é um deus. Quem sabe está meditando, ou ocupado, ou viajando. Talvez esteja dormindo e precise ser despertado” (1 Reis 18.28). “Meditando” ou em muitos pensamentos, preocupado com outras coisas. “Ou viajando”, talvez esteja fora do país. Elias vai um pouco mais longe: Talvez o seu deus esteja de férias. Ou quem sabe, pegou no sono. Vocês só precisam gritar um pouco mais alto para que ele acorde. Diante disso, “...passaram a gritar ainda mais alto e a ferir-se com espada e lanças...até sangrarem... mas não houve resposta alguma, ninguém respondeu, ninguém deu atenção” (1 Rs 18.29).

“Então Elias disse a todo povo: Aproxime-se de mim” (1 Rs 18.30). A primeira coisa que Elias fez, diante de todo o povo, foi reconstruir o altar do Senhor, que fora destruído durante o período de idolatria na terra de Israel; um altar derrubado, sem sacrifícios, sem holocaustos, sem culto ao Senhor. Como está o altar de Deus em sua vida? A quem você está cultuando? Assim, usando doze pedras que representavam cada tribo de Israel, Elias construiu um altar que seria usado unicamente para a gloria de Deus. Para o fogo descer, o altar tinha que ser reconstruído... 

Depois, deu a seguinte ordem: “Encham de água quatro jarras grandes e derramem-na sobre o holocausto e sobre a lenha... façam novamente....façam pela terceira vez...a agua escorria do altar, chegando a encher a valeta” (1 Rs 18.33-25). 

Conclusão

Elias orou: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, fique hoje, sabido que tu és Deus em Israel, e que eu sou o teu servo e que, segundo a tua palavra, fiz todas essas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo saiba que tu, és Deus e que a ti fizeste retroceder o coração dele” (1 Rs 18.36-37).

E o que aconteceu? “Então, caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e a terra, e ainda lambeu a água que estava na valeta. O que vendo todo o povo, caiu de rosto em terra e disse: O Senhor é Deus! o Senhor é Deus

Há uma diferença entre a oração dos profetas de Baal e a de Elias. Eles mostravam a estupidez da fé religiosa por meio o absurdo dos seus atos; por outro lado vimos a oração de Elias tão simples, sem ruído, jogo de luzes, se fumaça, sem frenesi; somente uma fé verdadeira em seu Deus.

Voce ora? Não lhe perguntei se a sua mãe ora? Ou seu pai? Mas você! Você é capaz de olhar para os sete últimos dias e destacar momentos em que se dedicou voluntariamente a oração? Howard Taylor escreveu sobre a disciplina que seu pai tinha no que se refere a oração: “Durante quarenta anos o sol nunca se pôs na China sem que deixasse de ver meu pai em oração”. 


 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

 Elias e Obadias – 1 Reis 18.1-18

Introdução

A vida tem várias escolas na vida do profeta Elias. A escola do confronto: “...não cairá orvalho nem chuva nos anos seguintes”, diz ao Rei Acabe. A escola da dependência absoluta em Deus: “...vá para o leste e esconda...Querite.... você bebera do riacho, e dei ordens aos corvos para o alimentarem” (1 Rs 17.3). A escola da multiplicação e do milagre; “Vá...Sarepta...ordenei uma viúva...que lhe forneça comida” (1 Rs 17.9). E, a escola de que você não está sozinho, tem muitos ainda que estão de pés diante do Senhor (1 Rs 19.10-14).

Um famoso pregador disse que Deus lhe havia dito que ele não poderia falhar, porque se falhasse Deus não teria outro. Resultado: ele falhou, mas a obra de Deus continua sendo realizada. 

1)     O retorno de Elias

Depois de um longo tempo, no terceiro ano da seca, a palavra do Senhor veio a Elias: Vá apresentar-se a Acabe, pois enviarei chuva sobre a terra”. Em 1 Reis 17.3, lemos: “Retira-te daqui”, e, em 1 Reis 18.1, diz: “Vai, apresenta-te a Acabe”! Essas duas palavras do Senhor evidenciam claramente duas situações opostas. Na primeira, Deus ordena ao profeta se distanciar do rei ímpio, na segunda, a ordem é para aproximar-se de Acabe. Na primeira, a grande seca é predita; na segunda, a chuva vai voltar.

E Elias foi” (1 Rs 18.2). Elias, está em perigo de morte, obedeceu a Palavra de Deus e seguiu diretamente para o encontro com Acabe. Aos olhos de Acabe, só havia um responsável por toda calamidade, isto é, falta de verde no campo, de frutos nas arvores, de pastagem para os animais, pelo solo rachado e improdutivo e por tantas mortes ...era o “perturbador de Israel” (1 Reis 18.17). Quando deveria pensar que a verdadeira causa de tamanha calamidade era a idolatria, o pecado. 

2)     Quem era Obadias

O nome “Obadias” quer dizer “servo de Deus”. Diz-nos o texto que Obadias era “o responsável pelo seu palácio” (1 Rs 18.3). Ele era ministro ou oficial de alta patente, um camareiro ou mordomo do palácio de Acabe. Era o homem que providenciava alimento, roupa e alojamento para a família real, assim como para todos os servos e animais do Palácio. Acabe o chama para percorrer e a terra a fim de achar “erva...salvemos ...os cavalos e mulas...”. 

Mas temos outra informação sobre Obadias: “temia muito ao Senhor” (1 Rs 18.3). A prova disso foi o fato de esconder e alimentar cem profetas do Senhor, a fim de não serem mortos por Jezabel “...reuniu cem profetas e os escondeu em duas cavernas, cinquenta em cada uma, e lhes forneceu comida e água” (1 Rs 18.4). Embora tivesse escassez de pão e água, não foi nada fácil esconder cem profetas sem ser notado. Mas fez isso, embora pudesse ser descoberto a qualquer momento.

Voce pode perguntar. “Como alguém consegue temer ao Senhor e, ao mesmo tempo, ser mordomo de um rei ímpio?” A resposta está na própria história bíblica. Isto é, da mesma forma que Noé foi homem justo e integro entre os seus contemporâneos, que estavam dominados pela maldade (Gn 6.5,9). Como José serviu a Faraó do Egito e foi reconhecido homem de Deus (Gn 41.37-45). E, também da maneira que Daniel foi fiel ao Senhor no palácio de Nabucodonosor (Dn 1.18). 

E o que dizer dos cristãos na casa de César (Fp 4.22), a serviço do imperador de Roma, o mesmo que perseguia aos cristãos? Uma pergunta. “Onde nossa luz deve brilhar?” “Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo” (Fp 2.15).

3)     O encontro de Elias com Obadias

A primeira atitude de Obadias para com Elias foi de respeito: “Inclinou-se até o chão e perguntou: És tu mesmo, meu senhor Elias” (1 Rs 18.7). Eles já se conheciam, mas para Obadias o profeta já estava morto havia muito tempo (1 Rs 18.10). Para Obadias foi uma surpresa achar o profeta, mesmo porque ele estava procurando erva e não um homem.

A palavra de Elias foi um peso para Obadias: “Vai dizer ao seu senhor: Elias está aqui” (1 Rs 18.8). Elias sabia que Obadias tinha acesso ao rei, afinal era seu ministro. Assim, então, pediu que o ajudasse a anunciar ao ímpio rei que ele breve apareceria ao palácio para falar com o rei, Jezabel o estaria aguardando. “Com frequência o teste da coragem não é morrer, mas viver” (Vitório Alfier). “A mais forte, mais generosa e mais orgulhosa de todas as virtudes é a verdadeira coragem” (Michel Montaigne). 

Obadias temeu diante das palavras de Elias. Ele viu nessas palavras o anuncio de sua própria morte (1 Rs 18.9). E de onde vinha esse medo? Obadias achava que o Espírito do Senhor poderia arrebatar Elias a qualquer momento para outro lugar (1 Reis 18.12). Se Elias não tivesse no lugar combinado, Obadias poderia pagar com a própria vida.

Disse Elias, tão certo como vive o Senhor dos Exércitos, perante cuja face estou, deveras, hoje me apresentarei a ele” (1 Rs 18.15).  Essa palavra foi uma espécie de “juramento” por parte do profeta. Empenhou sua palavra fazendo uso do nome do Senhor. É a primeira vez que Elias se refere a Deus como o “Senhor dos Exércitos”. O que há por trás desse nome? No hebraico a palavra JEOVÁ SABAOTH aparece 247 vezes no Antigo Testamento e duas vezes no Novo Testamento. Foi um nome muito usado por Isaias, jeremias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Esse nome revela duas qualidades do caráter de Deus. 

Primeiro, Poder. Exércitos se refere aos exércitos celestiais de anjos que servem ao Deus Todo Poderoso. O Salmo 24 menciona quem Deus é: “Quem é o rei da glória? O Senhor forte e valente nas guerras. Abram-se, ó portais; abram-se, ó portas antigas, para que o rei da gloria entre. Quem é esse rei da glória? O Senhor dos exércitos; ele é o rei da glória” (Sl 24.8-10). As frequentes guerras de Israel para conquistar suas promessas e preservar o que foi conquistado fizeram com que uma verdade fosse revelada:

Um só homem dentre vós perseguirá mil, pois o Senhor, vosso Deus, é quem peleja por vós, como já vos prometeu” (Jr 23.10). Voce se lembra do que Davi disse a Golias: “Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos Exércitos de Israel, a quem tens afrontado” (1 Sm 17.45). Ou seja, Deus tem um exército, Ele comanda esse exercito para pelejar no céu e na terra, em favor do Seu povo.

Segundo, santidade. A visão que Isaias teve de Deus no capitulo 6 é mais que suficiente para a nossa segunda afirmativa: “No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono...e clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.1-3). Portanto, Elias estava dizendo a Obadias duas verdades acerca de Deus: Deus está nos guardando e nos protegendo com seu exército; Ele é um Deus santo, por isso não posso mentir na presença Dele, pois estou “perante a sua face”.  

 Conclusão: Elias perante Acabe

Acabe foi ao encontro de Elias. Quando viu Elias, disse-lhe: é você mesmo perturbador de Israel?” (1 Rs 18.17). Acabe estava lidando com Elias. Infelizmente, o pecador nunca reconhece que é ele mesmo quem perturba o seu próprio íntimo, sua própria saúde, e seu próprio ambiente social. Sempre culpa quem lhe desperta a consciência. Mas, Elias responde: “Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai; porque deixastes os mandamentos do Senhor e seguistes os baalins” (1 Rs 18.18). 


 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

 Elias e a tragédia  - 1 Rs 17.17-24. 

Introdução

Depois da “multiplicação da farinha e do azeite”, um momento de êxtase, um milagre! O que dizer do que aconteceu? Tem palavras? Após acontecimentos assim, as pessoas ficam alegres, cantam e saltam de alegria. Vejam a alegria depois que Deus abriu o mar vermelho: “Cantarei ao Senhor, pois triunfou gloriosamente, lançou ao mar o cavalo e seu cavaleiro! O Senhor é a minha força e a minha canção; ele é a minha salvação! Ele é o meu Deus e eu o louvarei; é o Deus de meu pai; e eu o exaltarei” (Ex 15.1-2). E, quando o povo voltou do cativeiro babilônico, depois de quase 70 anos: “Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho. Então a nossa boca encheu-se de riso, e a nossa língua de cantos de alegria” (Sl 126.1-2). 


Elias estava em um quarto particular com vistas para o Mar Mediterrâneo, em Sidom, Sarepta. O que significa não apenas noites de sono bem melhores que no deserto de Querite, e também, longe da fúria do Rei Acabe. Mas, o improvável aconteceu, repentinamente... o filho da viúva morreu, uma tragédia! O que é tragédia? Grande enchente? Terremotos com morte? Tsunami? Corona vírus? Acidente na estrada? Guerra na Ucrânia? Seca no Nordeste? Desabamentos de casas em época de chuva? Grande incêndio? Tudo isso, tanto no aspecto coletivo, quanto no aspecto individual... 

1)     O filho da viúva morreu!

Algum tempo depois o filho da mulher, dona de casa, ficou doente, foi piorando e finalmente parou de respirar” (1 Rs 17.17). Alguém já disse que essa é uma das maiores dores que pode visitar o coração humano: a perda de um filho. “A gente corre o risco chorar um pouco quando se deixou cativar...” (O pequeno príncipe). Para essa viúva não poderia ser diferente. Período de fome, sem marido e agora sem filho. Quanta calamidade! A perda do filho significa para ela uma vida de muita solidão e desesperança, pois enquanto o filho vivesse, poderia contar com alguém para cuidar dela na velhice. Mas, agora, tudo acabou... 

Suas perguntas a Elias no verso 18 fazem muito sentido: “Que fiz eu, ó homem de Deus? Vieste a mim para trazeres à memória a minha iniquidade e matares o meu filho”. Ou, “Ó homem de Deus, o que você me fez? Veio aqui para castigar os meus pecados antigos matando o meu filho” (A Bíblia Viva).  As pessoas sempre associam sofrimento ao pecado. Lembro-me de uma mãe que, o filho estava preso, disse-me: “Eu me sinto culpada pela situação do meu filho”. Vejam um caso similar em João: “Ao passar, Jesus viu um cego de nascença. Seus discípulos lhe perguntaram: Mestre, quem pecou: Este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?” (Ko 9.1-2).

O fato dela chamar Elias de “homem de Deus” quer dizer que pensava que o proposito maior de Deus ao enviar o profeta à sua casa não era de livrá-la da morte por fome, mas sim punir algum pecado particular oculto, escondido, justamente em cima de seu filho. “É principalmente em tempos de adversidade que consideramos devidamente nosso estado moral; as aflições externas com frequência produzem profunda sondagem no coração”.

Não podemos associar todo sofrimento ou tragédia ao pecado. Vejam o caso de Jó: ele sofreu todas as perdas e danos não por causa do seu próprio pecado, porque era “homem integro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1.1). E os amigos de Jó, a todo o custo, tentaram encontrar uma causa para o sofrimento dele. Mas no final, disse a um deles: “A minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo” (Jó 42.7). Para os amigos de Jó o sofrimento era um castigo divino, para Deus, o objetivo da prova de Jó era testar sua fidelidade. 

2)     A resposta de Elias

“Ele lhe disse: Dá-me o teu filho, tomou-o dos braços dela, e o levou para cima, ao quarto, onde ele mesmo se hospedava, e o deito em sua cama” (1 Reis 17.19).

Elias não disse nada! De algum modo ele sabe que nada do que dissesse naquele momento satisfaria aquela mãe enlutada. Nenhuma palavra sua poderia acalmar aquele espirito abatido. Portanto, ele não discute com ela. Não a repreende. Não tenta argumentar com ela. Ele simplesmente, pega o seu filho e o leva para o seu aposento. Em silêncio, o homem de Deus, sobre os degraus que o levava onde regularmente batalhava face a face com Deus.  Era ali que o profeta tinha seu particular “seu quarto secreto” com Deus. 

 E você tem o seu quarto secreto com Deus? “...quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto...” (Mt 6.6). Voce possui um lugar isolado onde você e Deus conversam diariamente? O que você faz quando chegam as tragédias? E quando vem uma provação? Qual é a sua primeira reação? É murmurar? Culpar alguém? tenta encontrar uma saída? Você tem o mesmo hábito de Elias? Não vemos pânico em Elias, nada de pressa, medo.... dúvida.

“Ó Senhor, meu Deus, também até a esta viúva, com quem me hospedo, afligiste, matando-lhe o filho”. Elias pode ter-se calado diante da mulher, mas não de Deus. É diante dele que o profeta levanta as questões mais difíceis. Aqui, as palavras do profeta, não significam acusação, mas com certeza, uma expressão da enorme surpresa do profeta. Pois quando ele esperava que ela fosse recompensada por tudo que tinha feito e estava fazendo em prol dele, o pior acontece. Olhem a expressão: “...matando-lhe o filho”.

Elias está atribuindo a Deus a autoria ou a responsabilidade direta da morte do filho da viúva. Então é por isso que ele ora. Por quê? Porque o Deus tira a vida é o mesmo que a concede “Então ele se deitou sobre o menino por três vezes e clamou ao Senhor” (1 Rs 17.21). E depois disse: “ó Senhor, meu Deus, faze voltar a vida a este menino”. 

Elias está em cima do corpo do menino morto, por três vezes ele ora. E a certeza do profeta de que Deus irá responder tal oração é tamanha, que ele não teme a contaminação devido ao contato com um cadáver, previsto na lei: “Não poderá aproximar-se de um cadáver” (Nm 6.6). Mas, o amor está acima da lei...E enquanto estava ali, orava: “Deus, confio no Senhor para a execução de um milagre. Estou pedindo que o Senhor faça o impossível”. Elias conhecias as promessas de Deus: “Eis que eu sou o Senhor, o Deus de todos os viventes, acaso, haveria coisa demasiadamente maravilhosa para mim” (Jr 32.27).

3)     A resposta de Deus

O Senhor atendeu à voz de Elias; e a alma do menino voltou a entrar nele e reviveu” (1 Rs 17.22). Nenhuma palavra pode descrever o que aconteceu naquele quarto quando aquele menino começou a se mover, e Elias viu a vida voltando ao corpo. Temos que nos lembrar das palavras de Jesus na ressurreição de seu amigo Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra viverá” (Jo 11.25).

“Elias tomou o menino e o trouxe do quarto à casa, e o deu a sua mãe, e lhe disse: Vê, teu filho vive” (1 Rs 17.23).

Conclusão:

“Tú és homem de Deus e a Palavra do Senhor na tua boca é a verdade”. Elias precisava ouvir isso? O que significava esse testemunho da viúva na vida e no ministério do profeta? Primeiro, essas palavras evidenciam que a paz, a alegria e a fé voltaram ao coração dessa mulher tão sofrida.

E, por fim, Elias saiu fortalecido de tudo isso. Conheceu mais ainda do seu Senhor. Na verdade, os milagres servem para pelo menos duas coisas: exaltar a gloria de Deus; aumentar a fé dos homens. 


terça-feira, 6 de setembro de 2022

 Elias em Sarepta – 1 Rs 17.8-16 

Introdução

O profeta Elias saiu de Tisbé, Gileade, para profetizar juízo ao povo de Israel: “Não cairá orvalho nem chuva nos anos seguintes, exceto mediante a minha palavra”. Em seguida, Deus lhe dá uma ordem: “Saia daqui, vá para o leste e esconda-se perto do riacho de Querite”. Ali, durante algum tempo Elias foi sustentado pela água do rio e todos os dias os corvos lhe traziam pão e carne, até que o rio secou. Querite é “Cortar, ou colocar no tamanho certo”. O primeiro teste de Elias foi passar pelo Querite...

2) Sarepta

O riacho de Querite, portanto, era apenas o começo. Deus tinha planos para Elias que o levariam para longe daqueles dias calmos de isolamento e meditação, onde a vida ao lado do riacho e aves que cumpriam fielmente a tarefa de garçons de suas refeições eram apenas uma rotina simples, ininterrupta e regular. Então, lhe veio a palavra do Senhor dizendo: dispõe-te, e vai a Sarepta...”

Sarepta é comumente identificada com a aldeia moderna de Sarafand, cerca de 15 km ao sul de Sidom, na costa do mar mediterrâneo. Jeronimo, um dos pais da igreja, diz-nos que o lugar ficava em uma estrada que corria ao longo da costa marítima, de Tiro e Sidom.  “Sarepta de Sidom era uma cidade litorânea entre Tiro e Sidom no território governado por Etbbal, pai de Jezabel” (1 Rs 16.31). 


Sarepta deriva de um verbo hebraico que significa “fundir, refinar”, ou “lugar de fundição”, ou na sua forma de substantivo quer dizer “cadinho”, que é justamente o lugar de fundição de metais ou outros minérios. É o lugar onde a barra de metal era colocada em fornalha de temperatura altíssima, depois era aquecida até que a escória aparecesse (resíduo inútil). Quando se removia a escória, o metal extremamente quente e maleável era enformado e remodelado em enormes prensas, onde era batido por uma séria de marteladas, até se moldar ao formato desejado.

Qual é a lição? Se andamos com o Senhor por bastante tempo, vamos descobrir que as provas se sucedem. Talvez seria melhor dizer que ocorrem uma após outra, da outra e da outra. Assim que passamos por um teste severo, pensamos “ótimo, passei por este”, somos jogados em outro, no qual as chamas estão mais quentes.

2) O plano de Deus para Elias

No meio do nada, do riacho do Querite, quando não tinha mais água, quando a água secou nos diz o texto: “Então lhe veio a palavra do Senhor” (1 Rs 17.8). Deus sabe onde nós estamos. Deus nunca nos desamparará, porque nossos nomes estão escritos em suas palmas. No entanto, há momentos que achamos que Deus esqueceu de nós. Ele, contudo, não esquece. Deus sabe onde exatamente estamos. Portanto, quando você for atingido por esses pensamentos de abandono, de autocomiseração, volte-se para Deus

“Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel” (Is 41.10). 

E, Deus conhecia aonde Elias iria. Isso é algo que não sabemos aonde estamos indo. Mas Deus sabe. “Dispõe-te, e vai a Sarepta...e demora-te ali”, é o que Deus diz a Elias. Algumas lições: “Dispõe-te” ou “levanta-te”. Isso não é difícil fazer. Sem duvida Elias estava feliz por deixar aquele riacho seco, sozinho, somente nas companhias dos corvos. Segundo, “Vai”. Isso também não é ruim, uma mudança de cenário, cidade, país. Mas, então, vem a ultima sentença: “...Sarepta e demora-te ali”. Não é uns dias, um mês, mas para ficar algum tempo lá...

Vamos recapitular: Deus manda Elias para o riacho do Querite. Em seguida, o Senhor está dizendo: “Vá para Sarepta e fique lá”. Deus disse isso quando Elias estava em Querite que ficava em algum lugar a leste do Jordão. Sarepta “que pertence a Sidom”, estava localizada bem a oeste, na costa do mediterrâneo, a pelo menos uns 150 km de Querite. Isso significa uma longa caminhada a céu aberto por uma terra árida na qual Elias era uma espécie de foragido da justiça, fugindo de Acabe e Jezabel.

“...onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida”. Deus não disse: “estou ordenando que você vá a Sarepta para poder ajudar uma viúva pobre”. Ao invés disso, era uma viúva pobre que ajudaria este famoso profeta que estivera diante da face do rei. Normalmente são as coisas mais humildes que nos preparam para as grandes tarefas...

3) Provações

A primeira provação. “E ele foi. Quando chegou à porta da cidade, encontrou uma viúva que estava colhendo gravetos. Ele a chamou e perguntou: "Pode me trazer um pouco d’água numa jarra para eu beber?” Mas, o profeta estava com muita fome também: "Enquanto ela ia indo buscar água, ele gritou: "Por favor, traga também um pedaço de pão". (1 Reis 17:10,11)

Logo na chegada de Elias, encontramos dois testes. Primeiro, o teste da primeira impressão. Nunca subestime a primeira impressão. O riacho havia secado depois de sair de lá, viajou mais de uma centena de quilômetros por uma terra seca e árida. Ao chegar a seu destino estava desesperado por água. Quando chega à entrada da cidade vê uma mulher apanhando uns gravetos de lenha. 

“Por favor, traga-me um copo de água – disse Elias – já que a senhora vai entrar, poderia trazer um pedação de pão?” “Porém ela respondeu: tão certo como vive o Senhor, o teu Deus, não tenho cozido (ou não tenho nenhum pedaço de pão, NVI); há somente um punhado de farinha e um pouco de azeite numa botija; e vês, aqui, apanhei dois cavacos (dois gravetos) e vou preparar esse resto de comida para mim e meu filho, para que comamos e depois morramos” (1 Rs 17.12).

O profeta foi a Sarepta esperando pelo menos um pouco mais de provisões do que as que tinha em Querite. Mas, não viu nada além de uma viúva procurando gravetos para fazer uma fogueira, preparar sua ultima refeição e morrer de fome. Aparentemente, ele teria menos. Talvez ele não viesse a morrer de sede, mas parecia que ia ter uma fome de matar.

A segunda provação, é o teste das impossibilidades físicas. Elias lhe disse: “Não tenha medo. Vá para casa e faça o que eu disse. Mas primeiro faça um pequeno bolo com o que tem e traga a mim, e depois faça algo para você e para o seu filho. Pois assim diz o Senhor, o Deus de Israel: A farinha na vasilha não se acabará e o azeite na botija não se secará até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra” (1 Rs 17.13-14).

Elias estava determinado a não permitir que aquela melancolia da primeira impressão o derrotasse. A viúva mantinha os olhos na impossibilidade: um punhado de farinha, um pouco de azeite, um pouco de lenha. Elias arregaçou as mangas e se concentrou somente nas possibilidades. Como ele poderia fazer aquilo?

Porque ele estava se transformando num homem de Deus. Ele esteve no Querite. Viu a prova da fidelidade de Deus (o riacho e os corvos). Foi “cortado, colocado no tamanho certo”, do jeito de que Deus queria. Sobreviveu ao riacho seco e viajou para Sarepta sem hesitação....

Não é possível falar daquilo que não se sabe. Você não pode encorajar ninguém a crer no improvável se você mesmo não acreditou no impossível. Você não pode acender a chama da esperança em alguém se a tocha da sua própria fé não está acesa. 

Quando Elias viu a panela quase sem farinha e a botija quase sem azeite disse, dando de ombros: “Isso não é problema para Deus. Entre e faça o bolo. Faça alguns para você e para o seu filho também”. Por quê? “A farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija, até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra”.

Conclusão:

“Ela foi e fez conforme Elias lhe dissera. E aconteceu que a comida durou todos os dias para Elias e para a mulher e sua família. Pois a farinha na vasilha não se acabou e o azeite na botija não se secou, conforme a palavra do Senhor proferida por Elias” (1 Rs 17.15-16).

Em resposta àquilo que Elias dissera, ela foi e fez. Isso é obediência. Obediência do homem e fidelidade de Deus – esta é uma combinação que faz milagres!  A viúva de Sarepta conheceu a Deus na cozinha. Olhou para a panela e encontrou farinha. Olhou para botija e viu azeite. Da ultima vez que ela verificara a despensa mal havia mantimentos para uma refeição. Agora, pela manhã e à noite, ela louvava a Deus por sua provisão.