terça-feira, 11 de maio de 2021

 Davi e o deserto – 1 Samuel 24


Introdução

Em-Gedi significa “fonte de cabritos”, é um pequeno Oásis às margens do Mar Morto, o grande lago de água salgada no extremo sudeste de Israel. A cerca de 300 metros dali, há uma elevação, com penhascos altos que chegam a mais de 600 metros de altura. Oferecia proteção, água e um mirante natural de onde se podia avistar quilômetros ao redor, a fim de proteger-se contra qualquer aproximação do inimigo. 


Davi e seus homens ocultaram entre as rochas e cavernas de Em-Gedi. Essas cavernas salpicavam os penhascos e serviam para esconder sua presença. Na batalha, o lugar mais elevado é sempre melhor que o mais baixo e era ali que Davi se encontrava – num lugar alto, escondido nas cavernas de Em-Gedi.

Em-Gedi é um Oásis, em meio ao deserto da Judéia. O deserto é um lugar inóspito, difícil de se viver. Mas, ali, era um deserto inusitadamente belo. Em meio ao deserto a percepção torna-se mais aguçada – em visibilidade, em cheiros, em sons. Voce vê melhor, ouve melhor, é mais atento às minúcias e crê mais – eis que talvez porque o deserto tem tanto importância em nossa espiritualidade. Nenhum barulho, quase ninguém.

1)    Davi corre para o deserto

Davi o famoso guerreiro que matou o gigante Golias. Tal feito tornou-se canção: “Saul matou milhares, Davi dezenas de milhares”. Diante da inveja do Rei Saul, Davi está sendo perseguido, procurado, caçado e sendo forçado entre uma vida de revidar ou uma vida de confiança em Deus. Mas, escolheu confiar em Deus. Então, ele iniciou a prática de santidade.

Santidade é, quando mais se relaciona com Deus, mais humano se torna – mais se torna “Davi”. Santo é, portanto, a melhor palavra para se descrever essa intensidade de vida e de humanidade que decorre do relacionamento com o Deus vivo. Somos mais humanos quando nos relacionamos com Deus.  Qualquer outro tipo de vida nos deixa menos humanos, menos nós mesmos. 



 2)    Uma tentação sutil

O dia estava quente, mas dentro da caverna faz frio. Estavam lá, quando, de repente, surge uma sombra à entrada. Davi e seus homens se surpreendem ao ver que se trata do Rei Saul. Ele entra na caverna, mas não enxerga: seus olhos, marcado pelo forte sol do deserto, ainda não tinham se ajustado à escuridão da caverna, e por isso não percebe as sombras dos homens ao fundo. Além disso, nesse exato momento, Saul não estava procurando por eles, mas entra na caverna para atender a uma necessidade fisiológica. Ele se vira de costas para eles...

Quando Davi e seus homens percebem o que está acontecendo, compreendem que naquele instante Saul vale tanto vive quanto morto, totalmente alheio à presença deles ali, desprotegido e desarmado. Seus homens lhe instigaram a agir:  É sua oportunidade, hoje o Senhor lhe diz: certamente entregarei o inimigo em suas mãos, para que faça com ele o que quiser” (1 Sm 24.4).

O que Davi feliz então: “Então, com todo cuidado, Davi se aproximou e cortou um pedaço da borda do manto de Saul” ( Sm 24.4). VOCE PODE IMAGINAR COMO FOI? Saul está ali agachado, cuidando dos seus negócios, olhando para fora da caverna e Davi se esgueira por trás dele e silenciosamente corta um pedaço de seu manto! Aqui, Davi tem a oportunidade de matar Saul; mas resiste. 



No entanto, ainda acha que o que fez é errado – ele “sentiu bater-lhe o coração de remorso” (1 Sm 24.5), ou “Sua consciência, porém, começou a pertubá-lo...”(NVT). “Então disse a seus soldados: que o Senhor me livre de fazer tal coisa ao meu senhor, de erguer a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor” (1 Sm 24.6). Davi não viu, ali, um inimigo; viu o magnificente, embora falho, rei ungido por Deus e lhe prestou a devida honra.

 O deserto ensinou a Davi à preciosidade da vida por meio das provações que ali viveu. O deserto mergulhou Davi em belezas tão profundas que a pequenez de uma vingança pessoal se tornou impensável. “Saul é o Rei! O rei ungido. Não importa que tenha sido injusto comigo. Não tenho o direito de fazer isso com ele”.

A segunda coisa que Davi fez foi declarar um principio de justiça. Saul estava errado? Sim! Era dever de Davi endireitar as coisas? Não. Essa tarefa era de Deus “Assim Davi conteve seus homens e não deixou que matassem Saul” ( 1 Sm 24.7). O significado literal aqui, por mais estranho que pareça é “rasgado”. Ele rasgou com suas palavras. É derivado do mesmo termo hebraico que encontramos em Isaias 53 onde lemos: “Ele foi transpassado pelas nossas transgressões”, significando, “atravessado, rasgado”. Ou seja, diante das pressões de seus homens para matar Saul, Davi não cedeu.

“Não retribua a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. Façam todo o possível para viver em paz com todos. Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, seu o teu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12.17-21).

3)    Colocando os pingos nos is

Quando Saul se retirou e tomou uma certa distancia, Davi levantou sua voz e disse: “Por que o rei dá atenção aos que dizem que eu pretendo lhe fazer mal? Hoje o rei pode ver com os próprios olhos...alguns insistiram que eu o matasse, mas eu o poupei...ele é o ungido do Senhor...Olha, meu pai, este pedaço de manto em minha mão! Cortei a ponta de teu manto, mas não o matei...não lhe fiz mal algum, embora esteja a minha procura para tirar-me a vida...O Senhor julgue entre mim e ti...dos ímpios vem coisas ímpias; por isso não levantarei a minha mão contra ti...” ( Sm 24.9-14) Pensa que sou o que? Um cão morto! Uma pulga... 


 Então, Saul lhe responde: “Meu filho Davi! Voce é mais justo do que eu, pois me pagou o mal com o bem... você foi extremamente bondoso comigo, pois o Senhor me entregou em suas mãos, mas você não me matou...Agora vejo que certamente você será o rei, e que o reino de Israel prospere sobre seu governo” (1 Sm 24.16-20).

Conclusão: O Senhor é o meu refugio

O Capitulo termina: “....mas Davi e seus homens foram para sua fortaleza” (v.22).  A versão Almeida Corrigida diz: “...porém, Davi e seus homens subiram ao lugar forte”. Em outra versão,  aparece refúgio. Todas essas expressões refletem contextualmente uma realidade física, uma expressão geográfica  - um lugar onde escapamos, Em-Gedi. Mas, no livro de Salmos, a palavra perde essa conotação geográfica, ganhando em troca, uma referencia exclusiva a Jeová. Começando pelo Salmo 2, “como são felizes todos os que nele se refugiam” (v.12); pelo salmo 5: “alegre-se, porém, todos os que se refugiam em ti” (v.11); no salmo 7: “Senhor, meu Deus, em ti me refugio” (v.1). Deus é o nosso refugio, nossa fortaleza... 



 

sábado, 8 de maio de 2021

 PÔNCIO PILATOS 


"Entao Pilatos o entregou para ser crucificado. Tomaram eles, pois, a Jesus. . . Onde o crucificaram" (Joao 19:16-18).

Pilatos era culpado. De fato, a sua culpa encontra-se em nosso credo cristão o qual declara que Jesus foi "crucificado sob Pôncio Pilatos".

 Sabe-se que Pilatos foi nomeado procurador (isto e, governador romano) da província fronteiriça da Judeia pelo imperador Tibério e serviu durante dez anos, de cerca de 26 a 36 A.D. Ele adquiriu a fama de hábil administrador, tendo um senso de justiça tipicamente romano. Os judeus, porem, o odiavam porque ele os desprezava. Eles não se esqueciam de seu ato de provocação do inicio do seu governo quando exibiu os estandartes romanos na própria cidade de Jerusalem. Josefo descreve outra de suas loucuras, a saber, que desapropriou dinheiro do templo a fim de construir um aqueduto.

 Muitos acham que foi no motim que se seguiu que ele misturou sangue de certos galileus com os seus sacrifícios (Lucas 13:1). Estas são apenas algumas amostras do seu temperamento esquentado, de sua violência e crueldade. De acordo com Filão, o rei Agripa I, numa carta ao imperador Caligula, descreveu Pilatos como: "Um homem de disposição inflexível, e muito cruel como também obstinado".  Seu objetivo principal era manter a lei e a ordem, conservar os judeus perturbadores firmemente sob controle, e, se necessário para esses fins, ser implacável na supressão de qualquer tumulto ou ameaça de motim.

 O retrato de Poncio Pilatos nos Evangelhos se encaixa nessa evidencia externa. Quando os dirigentes judaicos levaram Jesus a ele, dizendo: "Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a Cesar e afirmando ser ele o Cristo, Rei" (Lucas 23:2), Pilatos não pode deixar de lhes dar atenção. A medida que a sua investigação prossegue, os evangelistas ressaltam dois pontos importantes.

 Primeiro, Pilatos estava convicto da inocência de Jesus. Ele obviamente ficou impressionado com a nobre conduta, com o domínio próprio e a inocência politica do prisioneiro. De forma que ele declarou publicamente três vezes não achar nele culpa alguma. A primeira declaração ele a fez logo depois do amanhecer de sexta-feira quando o Sinédrio lhe levou o caso. Pilatos os ouviu, fez algumas perguntas a Jesus, e depois de uma audiencia preliminar anunciou: "Nao vejo neste homem crime algum".

 A segunda ocasião foi quando Jesus voltou, depois de ter sido examinado por Herodes. Pilatos disse aos sacerdotes e ao povo: "Apresentastes-me este homem como agitador do povo; mas, tendo-o interrogado na vossa presença, nada verifiquei contra ele dos crimes que o acusais. Nem tampouco Herodes, pois no-lo tornou a enviar. E, pois, claro que nada contra ele se verificou digno de morte." A esta altura a multidão gritou:"Crucifica-o! Crucifica-o!" Mas Pilatos respondeu, pela terceira vez: "Que mal fez este? De fato nada achei contra ele para condena-lo a morte".

 Alem disso, a conviccao pessoal do Procurador acerca da inocência de Jesus foi confirmada pela mensagem enviada por sua mulher: "Nao te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonhos, muito sofri por seu respeito" (Mateus 27:19). A insistência repetida de Pilatos sobre a inocência de Jesus e o pano de fundo essencial ao segundo ponto a seu respeito ao qual os evangelistas dão enfase, a saber, engenhosas tentativas de evitar ter de tomar um partido. Ele queria evitar sentenciar a Jesus (visto acreditar ser ele inocente) e ao mesmo tempo evitar exonera-lo (visto acreditarem os dirigentes judaicos ser ele culpado).

 Como poderia Pilatos conseguir conciliar esses fatores irreconciliáveis? Vemo-lo contorcer-se a medida que tenta soltar a Jesus e pacificar os judeus, isto e, ser justo e injusto simultaneamente. Ele tentou quatro evasões.

 Primeira, ao ouvir que Jesus era da Galileia, e, portanto, estar sob a jurisdição de Herodes, enviou-o ao rei para julgamento, esperando transferir a ele a responsabilidade da decisão. Herodes, porem, devolveu Jesus sem sentença (Lucas 23:5-12).

 Segunda, ele tentou meias-medidas: "Portanto, depois de o castigar, solta-lo-ei" (Lucas 23:16, 22). Ele esperava que a multidão se satisfizesse com algo menos que a penalidade máxima, e que o desejo de sangue do povo fosse saciado ao verem as costas de Jesus laceradas. Foi uma ação mesquinha. Pois se Jesus era inocente, devia ter sido imediatamente solto, não primeiramente acoitado.

 Terceira, ele tentou fazer a coisa certa (soltar a Jesus) com o motivo errado (pela escolha da multidão).Lembrando-se do costume que o Procurador tinha de dar anistia de pascoa a um prisioneiro, ele esperava que o povo escolhesse a Jesus para esse favor. Então ele podia solta-lo como um ato de clemencia em vez de um ato de justiça. Era uma ideia astuta, mas inerentemente vergonhosa, e o povo a frustrou exigindo que o perdão fosse dado a um notório criminoso e assassino, Barrabás.

 Quarta, ele tentou protestar sua inocência. Tomando agua, lavou as mãos na presença do povo, dizendo:"Estou inocente do sangue deste justo" {Mateus 27:24). E então, antes que suas mãos se secassem, entregou-o para ser crucificado. Como pode ele incorrer nessa grande culpa imediatamente depois de ter proclamado a inocência de Jesus?

 E facil condenar a Pilatos e passar por alto nosso próprio comportamento igualmente tortuoso. Ansiosos por evitar a dor de uma entrega completa a Cristo, nos também procuramos subterfúgios. Deixamos a decisão para alguém mais, ou optamos por um compromisso morno, ou procuramos honrar a Jesus pelo motivo errado (como mestre em vez de Senhor), ou ate mesmo fazemos uma afirmacao publica de lealdade a ele, mas ao mesmo tempo o negamos em nossos corações.

 Tres expressoes na narrativa de Lucas iluminam o que, finalmente, Pilatos fez: "o seu clamor prevaleceu", "Pilatos decidiu atender-lhes o pedido", e "quanto a Jesus, entregou a vontade deles" (Lucas 23:23-25). O clamor deles, pedido deles, vontade deles: a estes Pilatos, em sua fraqueza, capitulou. Ele desejava soltar a Jesus (Lucas 23:20), mas tambem desejava "contentar a multidao" (Marcos 15:15). 

A multidão venceu. Por que? Porque lhe disseram: "Se soltas a este, não es amigo de Cesar; todo aquele que se faz rei e contra Cesar" (Joao 19:12). A escolha era entre a honra e a ambição, entre o principio e a conveniência. Ele  estivera em dificuldades com Tibério Cesar em duas ou tres ocasioes previas. Ele nao podia arcar com mais uma. Claro, Jesus era inocente. Claro, a justiça exigia a sua liberdade. 

Mas como podia ele patrocinar a inocência e a justiça se, fazendo-o, estaria negando a vontade do povo, desfeiteando os dirigentes da nação e, acima de tudo, provocando um levante, o que o levaria a perder o favor imperial? Sua consciência afogou-se nas altas vozes da racionalizacao. Ele fez concessoes por ser covarde.



Bibliografia: A cruz de Cristo - John Stott - Editora Vida



terça-feira, 4 de maio de 2021

 Davi e o santuário 1 Sm 21.1-9


Introdução

Davi está fugindo. Sabe agora, com toda certeza, que a intenção do rei Saul é de mata-lo: “Enquanto o filho de Jessé viver, nem você nem o seu reino serão estabelecidos. Agora mande chama-lo e traga-o a mim, pois ele deve morrer” (1 Sm 20.31). Agora, a cabeça de Davi está a premio. Então, Davi, está em fuga. Fugiu com a roupa do corpo, sem poder traçar um destino, correndo depressa para se salvar. Mas ele foge para onde? Para Nobe, onde há um santuário e um sacerdote.

1)    Nobe

O santuário, como o nome indica, é um lugar santo, e seu sacerdote – nesse caso Aimeleque -, tem por dever mantê-lo assim. Santo é um atributo de Deus. Por ser santo, ele é INIGUALÁVEL, é também um mistério. Deus é tão inigualável que jamais poderemos fazer uma previsão do que ele pode realizar, muito menos procurar controla-lo, seja de que modo for. 



A única forma apropriada de nos aproximarmos de Deus é com respeito e reverencia, humildade e submissa adoração. Tal aproximação é constituída por aquilo que aprendemos de Deus – bondade, verdade e beleza – ficamos também apreensivos com aquilo que está além da nossa compreensão, percebendo quão “terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31). “Isso é apenas o começo de tudo o que ele faz, um mero sussurro de sua força; quem pode compreender o trovão do seu poder” (Jó26.16).

Uma advertência: “Tenham cuidado para não se recusarem a ouvir aquele que fala. Porque, se aqueles que se recusaram a ouvir o mensageiro terreno não escaparam, certamente não escaparemos se rejeitarmos aquele que nos fala do céu...Porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12.25,30).

 2)    Davi

Davi chega ao Santuário de Aimeleque em Nobe em busca de proteção, ele se vê, ali, imerso em santidade. O santuário é um lugar onde voltamos nossa atenção para Deus, um lugar onde é preservada e honrada a Palavra de Deus, onde recordamos os acontecimentos em que Deus se tem mostrado manifestamente ativo e poderoso.

Aimeleque parece ter ficado um tanto desconcertado, talvez até abalado, com a súbita chegada de Davi no santuário: “Aimeleque tremia de medo quando se encontrou com ele...” (1 Sm 21.1). Por que Davi está chegando tão apressado assim? E porque está sozinho? O que afinal, está acontecendo? Davi acalma o sacerdote mentindo para ele: “Está tudo bem, estou a serviço do rei. Alguns soldados meus vão encontrar comigo daqui a pouco. Precisamos de comida, o que você tem? Dê-me cinco pães, ou o que você tiver aqui”. 


Quando nos deparamos com Davi mentindo, entendemos que Davi não é uma vida ideal, mas uma vida real. Davi não é modelo para nossa moralidade, mas para aprofundar o nosso sentido da realidade humana: isso que está aí é o que acontece geralmente na grande experiência de ser humano.

Uma das corrupções mais lamentáveis, e frequente, na vida espiritual é a perda de conexão entre quem é Deus e quem somos nós. Proferimos o Nome de Deus, entramos num santuário, oramos – mas frequentemente um leve tom de falsidade começa a se insinuar, uma sutil desonestidade penetra em nossa fala e em nossa ação – o lugar religioso nos dá ocasião de usarmos a Deus, em vez de nos submetermos a ele. Tornamo-nos menos, em vez de nos tornamos mais, diante de Deus.

 3)    Pão e espada

Davi pede pão, mas o sacerdote não tem, ou melhor, não tem pão comum. Tudo o que tem são pães expostos no ritual judaico, pães consagrados – o pão da proposição -, colocados no altar como oferta ao Senhor. A cada sábado, 12 pães brancos são enfileirados sobre o altar. Cada sábado, quando 12 pães novos substituem os anteriores, aos sacerdotes é permitido comer do que é retirado do altar – mas unicamente aos sacerdotes. É ilícito a qualquer outra pessoa consumi-los (Lv 24.5-9).

 


Mas é improvável que alguém os queira. Pães velhos, de uma semana – que iria deseja-los? Aimeleque quebra as normas e lhe dá o pão. Ele discernia o “espírito das leis”, e não a letra da lei, e permitiu, assim, que Davi comesse dos pães. O pão separado para um ato solene de comunhão, semelhante à Nossa Santa Ceia, agora estava sendo arrebatado por Davi, como simples alimento e avidamente devorado. Um milênio depois, Jesus, comentando o incidente, elogiou Aimeleque por haver rompido com a letra da lei e servido ao espírito da lei, no santo lugar (Mt 12.1-5).

Davi pede depois uma arma ao sacerdote. Continua mentindo a Aimeleque a respeito da sua verdadeira situação de fugitivo: “Não trouxe minha espada nem qualquer outra arma, pois o rei exigiu urgência” (1 Sm 21.8). Não haveria algo que pudesse usar? Havia a espada de Golias, que o próprio Davi havia trazido do vale de Elá, alguns anos antes, como troféu de guerra. 


Era na verdade, uma lembrança de uma grande ato salvifico “Não há nenhuma outra, senão a espada de Golias”. Davi não hesitou: “Não há outra melhor; dê-me essa espada” (1 Sm 21.9). O santuário além de ser um lugar destinado a meditação, reflexão é, também, um lugar para receber ajuda de emergência: alimento para jornada e uma espada para a luta.

 Pão e espada estão particularmente associados, nas escrituras, à Palavra de Deus. “Não somente de pão viverás o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4) “A Palavra de Deus é viva e poderosa. É mais cortante que qualquer espada de dois gumes, penetrando entre a alma e o espírito, entre junta e medula, e trazendo à luz até os pensamentos e desejos mais íntimos” (Hb 4.12). PRECISAMOS DE UM SANTUÁRIO PARA ONDE POSSAMOS CORRER, A FIM DE NOS SUSTENTARMOS COM O INDISPENSÁVEL À VIDA – DEUS E A SUA PROVISÃO, PARA QUE POSSAMOS VIVER NUM MUNDO PERIGOSO E HOSTIL À NOSSA FÉ.

4)    Doegue

Davi não era o único visitante do santuário de Nobe naquele dia. Havia ali outro homem, chamado Doegue o edomita. O nome Doeg soa como em seu original como “preocupação”. Ele é descrito no texto como “chefe dos pastores de Saul” (1 Sm 21.7). Ou, “chefe da guarda do Palácio de Saul”. Ele, sem dúvida, conhecia muito bem Davi. Quase sempre que Davi estava com o rei Saul, certamente Doegue estava por lá.

Doegue estava ali no santuário, naquele dia, para alguma cerimonia religiosa. Estava “cumprindo seus deveres perante o Senhor”; talvez participando de algum rito de penitencia ou purificação. Era possivelmente uma obrigação religiosa.

Ele observou atentamente cada ação de Davi. Ouviu Davi contar mentiras no santuário ao sacerdote de Deus. Viu Davi pegar e comer o pão cuidadosamente resguardado pela lei mosaica exclusivamente para uso espiritual. Viu Davi tomar para si a famosa espada de Golias – a peça de museu que nutria o orgulho nacional e carrega-la consigo para o mundo lá fora. Oculto nas sombras, observou tudo o que Davi fazia, registrando-o na memória para usar depois. 



 Um homem como Doegue, santuário não é lugar para intensificação das atividades do dia-a-dia, mas para passar um verniz em sua justiça pessoal, que dará ao seu cotidiano um polimento. Para Doegue, Santuário, não é um lugar para expor as fraquezas, mas, sim, obtém-se uma cobertura. Ele ouviu as mentiras de Davi, viu Davi tomar o pão e a espada e, sem duvida, sentiu-se um tremendo privilegiado por estar ali naquele dia, entendendo que tinha nas mãos dados, informações, que lhe seriam uteis para a diminuição de Davi e sua própria ascensão e enriquecimento na corte.

Conclusão:

Coisas maravilhosas acontecem no santuário. Quando em nossas fugas paramos num santo lugar, ali descobrimos que há mais sobre a vida do que aquilo que nossas circunstancias e sentimos nos fazem ver. Mas, coisas terríveis também acontecem nos santuários. Podemos utilizar o culto para nos isolar das pessoas que desprezamos, ou cultivar um sentimento de superioridade, ou obter uma maneira de alcançar vantagem. Quando entramos num santuário, podemos sair melhores, ou piores.