Davi e o deserto – 1 Samuel 24
Introdução
Em-Gedi significa “fonte de cabritos”, é um pequeno Oásis às margens do Mar Morto, o grande lago de água salgada no extremo sudeste de Israel. A cerca de 300 metros dali, há uma elevação, com penhascos altos que chegam a mais de 600 metros de altura. Oferecia proteção, água e um mirante natural de onde se podia avistar quilômetros ao redor, a fim de proteger-se contra qualquer aproximação do inimigo.
Davi e seus homens ocultaram entre as rochas e cavernas de Em-Gedi.
Essas cavernas salpicavam os penhascos e serviam para esconder sua presença. Na
batalha, o lugar mais elevado é sempre melhor que o mais baixo e era ali que
Davi se encontrava – num lugar alto, escondido nas cavernas de Em-Gedi.
Em-Gedi é um Oásis, em meio ao deserto da Judéia. O deserto é
um lugar inóspito, difícil de se viver. Mas, ali, era um deserto inusitadamente
belo. Em meio ao deserto a percepção torna-se mais aguçada – em visibilidade,
em cheiros, em sons. Voce vê melhor, ouve melhor, é mais atento às minúcias e
crê mais – eis que talvez porque o deserto tem tanto importância em nossa espiritualidade.
Nenhum barulho, quase ninguém.
1) Davi corre para o deserto
Davi o famoso guerreiro que matou o gigante Golias. Tal feito
tornou-se canção: “Saul matou milhares, Davi dezenas de milhares”. Diante da
inveja do Rei Saul, Davi está sendo perseguido, procurado, caçado e sendo
forçado entre uma vida de revidar ou uma vida de confiança em Deus. Mas,
escolheu confiar em Deus. Então, ele iniciou a prática de santidade.
Santidade é, quando mais se relaciona com Deus, mais humano se torna – mais se torna “Davi”. Santo é, portanto, a melhor palavra para se descrever essa intensidade de vida e de humanidade que decorre do relacionamento com o Deus vivo. Somos mais humanos quando nos relacionamos com Deus. Qualquer outro tipo de vida nos deixa menos humanos, menos nós mesmos.
O dia estava quente, mas dentro da caverna faz frio. Estavam lá, quando, de repente, surge uma sombra à entrada. Davi e seus homens se surpreendem ao ver que se trata do Rei Saul. Ele entra na caverna, mas não enxerga: seus olhos, marcado pelo forte sol do deserto, ainda não tinham se ajustado à escuridão da caverna, e por isso não percebe as sombras dos homens ao fundo. Além disso, nesse exato momento, Saul não estava procurando por eles, mas entra na caverna para atender a uma necessidade fisiológica. Ele se vira de costas para eles...
O que Davi feliz então: “Então, com todo cuidado, Davi se aproximou e cortou um pedaço da borda do manto de Saul” ( Sm 24.4). VOCE PODE IMAGINAR COMO FOI? Saul está ali agachado, cuidando dos seus negócios, olhando para fora da caverna e Davi se esgueira por trás dele e silenciosamente corta um pedaço de seu manto! Aqui, Davi tem a oportunidade de matar Saul; mas resiste.
No entanto, ainda acha que o que fez é errado – ele “sentiu
bater-lhe o coração de remorso” (1 Sm 24.5), ou “Sua consciência, porém,
começou a pertubá-lo...”(NVT). “Então
disse a seus soldados: que o Senhor me livre de fazer tal coisa ao meu senhor,
de erguer a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor” (1 Sm 24.6). Davi
não viu, ali, um inimigo; viu o magnificente, embora falho, rei ungido por Deus
e lhe prestou a devida honra.
A segunda coisa que Davi fez foi declarar um principio de
justiça. Saul estava errado? Sim! Era dever de Davi endireitar as coisas? Não.
Essa tarefa era de Deus “Assim Davi conteve seus homens e não deixou que
matassem Saul” ( 1 Sm 24.7). O significado literal aqui, por mais estranho que
pareça é “rasgado”. Ele rasgou com suas palavras. É derivado do mesmo termo
hebraico que encontramos em Isaias 53 onde lemos: “Ele foi transpassado pelas
nossas transgressões”, significando, “atravessado, rasgado”. Ou seja, diante
das pressões de seus homens para matar Saul, Davi não cedeu.
“Não retribua a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é
correto aos olhos de todos. Façam todo o possível para viver em paz com todos. Amados,
nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: minha é
a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, seu o teu inimigo
tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso,
amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele. Não se deixem vencer pelo mal, mas
vençam o mal com o bem” (Rm 12.17-21).
3)
Colocando
os pingos nos is
Quando Saul se retirou e tomou uma certa distancia, Davi levantou sua voz e disse: “Por que o rei dá atenção aos que dizem que eu pretendo lhe fazer mal? Hoje o rei pode ver com os próprios olhos...alguns insistiram que eu o matasse, mas eu o poupei...ele é o ungido do Senhor...Olha, meu pai, este pedaço de manto em minha mão! Cortei a ponta de teu manto, mas não o matei...não lhe fiz mal algum, embora esteja a minha procura para tirar-me a vida...O Senhor julgue entre mim e ti...dos ímpios vem coisas ímpias; por isso não levantarei a minha mão contra ti...” ( Sm 24.9-14) Pensa que sou o que? Um cão morto! Uma pulga...
Conclusão: O Senhor é o meu refugio
O Capitulo termina: “....mas Davi e seus homens foram para sua fortaleza” (v.22). A versão Almeida Corrigida diz: “...porém, Davi e seus homens subiram ao lugar forte”. Em outra versão, aparece refúgio. Todas essas expressões refletem contextualmente uma realidade física, uma expressão geográfica - um lugar onde escapamos, Em-Gedi. Mas, no livro de Salmos, a palavra perde essa conotação geográfica, ganhando em troca, uma referencia exclusiva a Jeová. Começando pelo Salmo 2, “como são felizes todos os que nele se refugiam” (v.12); pelo salmo 5: “alegre-se, porém, todos os que se refugiam em ti” (v.11); no salmo 7: “Senhor, meu Deus, em ti me refugio” (v.1). Deus é o nosso refugio, nossa fortaleza...
Nenhum comentário:
Postar um comentário