terça-feira, 25 de junho de 2019


As duas testemunhas – Ap. 11


Introdução:
Vimos, no capítulo 10, “um ano poderoso... Havia um arco-íris sobre a cabeça dele, o rosto brilhava como o Sol e suas pernas eram como colunas de fogo. E tinha um pequeno livro aberto na mão”. Em seguida, o anjo levantou a mão direita ao céu e jurou por aquele que vive para sempre e que o tempo estava cumprido: “EIS QUE NÃO HAVERÁ MAIS DEMORA” (V.6).

Então o ancião “e a voz que eu do céu tinha ouvido falar comigo” disse: “...pegue o livro da mão do anjo que está sobre o mar e a terra”. Então, o anjo forte lhe disse: “Pegue. Pode comer. Vai ser doce como o mel, mas no estomago vai parecer amargo”. Doce é a palavra de Deus quando nos alimentamos dela “Então abri minha boca, e me deu a comer o rolo...Então comi, e era na minha boca doce como o mel” (Ez 3.2-3). Amargo é quando testemunhamos e gera rejeição, zombaria, desdém dos ímpios. O testemunho sempre envolve as polaridades de doçura e amargura. Mas, a ordem é: “Profetize de novo, a muitos povos, nações, línguas e reis”.

1)    Medindo o Santuário
O termo grego NAOS “santuário” refere-se à parte central do templo e incluía o chamado Lugar Santo e o Santo dos Santos. O caniço era uma espécie de bambu fino, media 3 metros e servia como uma grande régua (Ez 40.3). 


O lugar medido – o santuário – representa visualmente a comunidade cristã em culto, ouvindo a pregação da palavra de Deus e oferecendo suas orações.  “Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem femea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28). Essa figura é a mesma que aparece dos 14000 selados (Ap 7.4) e dos homens que receberam o selo de Deus (Ap. 9.4). “Em que também vós estais, depois que ouviste a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e tendo nele também crido, foste selados com o Espírito Santo da promessa; que é o penhor da nossa herança da possessão adquirida, para louvor da sua glória” (Ef 1.13-14)

Já o pátio dos gentios era um espaço concedido aos gentios nos limites do templo. Portanto, as linhas são claras; as dimensões especificas – o lugar foi medido. Os cristãos em culto encontram seu lugar no cosmo da redenção (Ef 2.5-9). Foram estabelecidos limites para a anarquia diabólica. O lugar do culto encontra-se estabelecido, é inviolável, de forma que conseguimos reunir energia para a vida árdua de testemunho que recebemos. 


O lugar de culto está protegido, mas o testemunho, não. O pátio dos gentios, onde ele acontece, não foi medido. Lá, as coisas sagradas e aqueles que falam sobre elas são tratados com desprezo. No mundo – pátio dos gentios – os cristãos, enfrentam solidão, suspeita, alheamento e, de vez em quando, abuso. “Mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor...” (1 Co 15.28). No testemunho, a instrução é importante, mas a coragem, essencial, pois ele envolve batalha intensa (Ef 6.12).

No pátio dos gentios a cidade será pisada por quarenta e dois meses ou 1260 dias (v.2). A expressão apocalíptica: “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, ou seja, são expressões equivalentes. São três anos e meio, ou ainda, metade de uma semana completa de anos (Dn 7.25, Dn 9.27). Essas expressões: quarenta e dois meses, 1260 dias, um tempo dois tempos e metade de um tempo referem-se a um termo curto de aflição irrefreável (Mt 24.22).

2)    As testemunhas
Em Mateus 17 temos a transfiguração de Jesus. Ele levou consigo Pedro, Tiago e João. Enquanto a glória do céu brilhava através do corpo de Jesus, duas testemunhas (Mt 17.3) conversavam com ele, atestando (testemunhando) que ele era o Messias. Foram envoltos por uma nuvem, uma voz vinda do céu confirmou o testemunho: “Este é o meu Filho amado em que me agrado. Ouçam-no! ” Agora, eles, Pedro, Tiago e João, são as testemunhas.

As figuras anônimas de apocalipse 11 são as mesmas do Monte da transfiguração, Moisés e Elias. Moisés, o transmissor da lei, e Elias, exemplo de profeta. Lei e profecia são o conteúdo de toda testemunhas. A lei mostra como Deus se envolve em nossa vida. A profecia diz como nos envolvemos na dele. As duas testemunhas apontam para Cristo, que revela tudo de Deus em nós, e também é nossa total resposta a ele. 

A lei (Moisés) é a revelação da verdade de Deus. O universo não surgiu do acaso (Gn 1), e os fatos não ocorrem por sorte. Existe razão, ordem, sentido e moralidade. No livro de Êxodo temos os dez mandamentos: Não terás outros deuses além de mim; Não farás imagem de escultura; Não usem o nome de Deus em vão; Guardem o dia de sábado; Honrem seu pai e sua mãe; Não matarás; Não adulterarás; Não furtarás; Não difamar o próximo e não cobiçar a casa do próximo, esposa, etc.

Profecia (Elias) é a aplicação imediata da verdade divina na história corrente e pessoal. A profecia é um chamado para viver a verdade revelada, não apenas reconhece-la; nos detalhes das nossas vidas. A profecia se dirige à vontade, com um convite para participar da vontade de Deus. A profecia faz uma ponte entre a vida terrena e a vida eterna.

Características das testemunhas: profetizarão durante 1260 dias; usam roupas escuras de pano de saco; da boca deles sairá fogo que devorará os seus inimigos (Jr 5.14); terão capacidade de trancar o céu, de maneira que não chova durante o tempo que estiverem profetizando (1 Rs 17.1) e terão o poder de transformar agua em sangue e ferir a terra com toda espécie de pragas (Ex 7.14).

Mas as duas testemunhas são mortas pela besta (Ap. 11.7); e os cadáveres são expostos à zombaria nas ruas da cidade (vs. 9,10). A humanidade rebelde tem uma longa história de rejeição da palavra de Deus revelada e aplicada, desejando desesperadamente ser dona do próprio nariz, querendo ser “como deuses”. “As pessoas vão se alegrar com o espetáculo, gritando: Viva a liberdade! Vão pedir uma celebração com trocas de presentes, pois os dois profetas atormentavam a consciência do mundo inteiro, tornando impossível para eles desfrutar seus pecados” (A Mensagem). 

Moisés morreu – não temos que nos lembrar do objetivo da criação; Elias morreu – não precisamos pensar no destino que nos espera! ESTAMOS LIVRES PARA EXPLORAR A TERRA, OPRIMIR OS INIMIGOS, MANIPULAR OS AMIGOS, DESFRUTAR DAS NOSSAS EMOÇÕES E MIMAR NOSSOS CORPOS. “Se Deus não existe, tudo é permitido” Os irmãos Karamazov. LOGO, SOU NILISTA.

Mas a festa é interrompida antes de atingir o ponto máximo: “Depois de três dias e meio” as duas testemunhas são ressuscitadas e são levadas diante de todos ao céu, nas nuvens com Deus. E, caiu um grande temor sobre todos, medo.

Em 1572, na noite de São Bartolomeu na França, setenta mil protestantes foram mortos por ordem da rainha e a aquiescência do Papa. Em 1789, ne revolução francesa, milhares de cristãos foram mortos. Na revolução russa, de 1917, o comunismo ceifou milhões de cristãos, em nome da ideologia. No século XVIII os iluministas profetizaram a morte do cristianismo. Mas, chegou o Reavivamento e a igreja emergiu das cinzas.

Conclusão:
Nos versículos 9 e 10 do capitulo 11 vemos uma espécie de celebração em todas as capitais do mundo “gente de todos os povos, tribos, línguas e nações”. Agora, no soar da sétima trombeta “no céu fortes vozes que proclamavam o reino do mundo se tornou de Nosso Senhor e do seu Cristo e ele reinará pelos séculos dos séculos” (v.15). Os vinte e quatro anciãos se dobram diante do trono de Deus e louvam a Deus e o cordeiro. O capítulo, termina quando o santuário de Deus se abre e João vê a arca da aliança.


terça-feira, 18 de junho de 2019


Assembleia de Deus, uma igreja brasileira. Atos 2


Introdução

O significado do Pentecoste (Atos 2.1): “Ao cumprir-se o dia de Pentecoste...”. A palavra pentecoste (pentekostos, no grego) significa quinquagésimo dia. Ou seja, o Pentecoste era a festa que acontecia cinqüenta dias após o sábado da semana da Páscoa (Lv 23.15-16). É também chamado de Festa das Semanas (Dt 16.10), Festa da Colheita (Ex 23.16) e Festa das Primícias (Nm 28.26). 

A espera do Pentecostes (Atos 2.1): “Estavam todos reunidos no mesmo lugar...”. o horário era antes das nove da manhã (a hora do culto matutino). O derramamento do Espírito veio como um som (Atos 2.2). A palavra grega echos, usada aqui, é a mesma usada em Lucas 21.25 para descrever o estrondo do mar. O derramamento do Espírito veio como um vento (Atos 2.2). O vento é o símbolo do Espírito Santo (Jo 3.8). O derramamento do Espírito veio em línguas como de fogo (Atos 2.3). O fogo também é símbolo do Espírito Santo. Deus se manifestou a Moisés na sarça em que o fogo não consumia; Quando Salomão consagrou o Templo, desceu fogo do céu; No Carmelo, elias orou, e o fogo desceu (1 Rs 18).

1)    Os fundadores
Gunnar Vingrer
Nasceu na Suécia, em 08 de agosto de 1879, na cidade de Ostra. Filho de um jardineiro e criado em um lar evangélico. Quando estava com 17 anos, entre entrou em seu quarto e se colocou a disposição de Deus. Em 1903, por causa da “febre das Américas”, viajou para Os Estados Unidos, com o objetivo de trabalhar. Chegando lá, trabalhou como foguista e porteiro. Depois, viajou para Chicago, a fim de se formar em teologia. Em 1909, foi diplomado em teologia.

Logo, foi indicado pastor da Primeira Batista em Menominee. Atuou no período de junho de 1909 a fevereiro de 1910, oito meses. Nesses oito meses ocorreram três acontecimentos que iriam marcar toda a sequencia da vida do jovem evangelista. O primeiro foi  batismo com o Espírito Santo; o segundo, foi o pedido que encaminhou aos seus superiores para ser enviado ao campo missionário; quanto ao terceiro, em 1910 em Chicago encontrou-se com Daniel Berg. Dessa união, nasceu a fonte de uma corrente missionária, cujas aguas até hoje abençoam as terras brasileiras.

Daniel Berg
Nasceu no dia 19 de abril de 1884 na cidade de Vargon, Suécia. Como Vingren, Daniel foi contagiado pela “febre das Américas”, que era o lugar dos sonhos e esperanças de todos os aventureiros. Em 25 de março de 1902, Daniel Berg chega a Boston. Seu primeiro emprego foi na floricultura de uma fazenda, depois encaminhado para cuidar de cavalos. Em seguida, viajou para Pensilvânia e foi trabalhar numa Siderúrgica fundindo aço. Depois de alguns, nos Estados Unidos, retorna ao seu país, para rever família e amigos. Influenciando por Lewis Pethus, amigo de infância, torna-se pentecostal em 1909.

De volto aos Estados Unidos, participa de uma conferencia missionária e lá conhece o pastor Gunnar Vingren. Nessa conferencia o tema era o batismo com Espírito Santo. Após cinco dias de clmar, Vingren recebe a resposta que tanto esperava “Quando recebi o Espírito Santo, falei línguas justamente como está escrito que aconteceu com os discípulos no dia do Pentecostes. É impossível descrever a alegria que encheu meu coração. Eternamente o louvarei, pois me batizou com o Seu Espírito Santo”

Ao retornar a sua igreja em Menominee, começou a pregar o batismo com Espírito Santo. O resultado desses ensinos provocou a divisão da igreja: a metade aceitou, a outra metade rejeitou com desconfiança a nova experiência. Os que não aceitaram obrigaram o jovem pregador a abandonar a igreja. “FUI, ENTÃO PARA A IGREJA EM SOUTH BAND, INDIANA. NA NOVA IGREJA, TODOS RECEBERAM A VERDADE E CRERAM NELA. NA PRIMEIRA SEMANA JESUS BATIZOU 10 PESSOAS COM ESPÍRITO SANTO”. A igreja batista foi transformada numa igreja pentecostal.

2)    Brasil, logo ali...

O irmão Adolfo Uldin, cheio do poder de Deus, começou a falar em línguas estranhas. Através da interpretação, profetizou que Vingren e Daniel Berg deveriam fazer missões no Pará e que o povo desse lugar era simples e carecia do ensino dos primeiros fundamentos da doutrina de Cristo.

Em 19 de novembro de 1910, os dois missionários suecos chegaram ao Brasil. Depois de passar a primeira noite no hotel mais próximo do porto de Belém, conheceram o editor de um jornal pentecostal e este indicou a Primeira Batista. Conheceram o pastor da igreja que ofereceu um quartinho (porão) no fundo da igreja. “INICIAMOS ASSIM NOSSAS ATIVIDADES, DIRIGINDO CULTO E PREGANDO NA IGREJA BATISTA” (Daniel Berg). A vinda de Daniel Berg e Vingren fora resultado da oração de alguns diáconos batistas que se reuniam todos os sábados durante muito tempo.

No desconfortável quarto (porão) da igreja batista, os irmãos costumeiramente reuniam-se ali para ouvir mais sobre a novidade da cura divina e do batismo com Espírito Santo. Na incessante busca  do batismo com Espírito Santo, no dia 08 de junho de 1911, a irmã Celina de Albuquerque, orando em sua casa com outras irmãs, ao romper do dia, foi batizada com Espírito Santo. No dia seguinte, foi a vez da irmã Nazaré “arder” nas chamas do Espírito. E o vento, “que sopra onde quer”, espalhou essas chamas por todas as terras brasileiras.

3)    Ruptura

“Certa noite, o pastor da igreja apareceu no porão da igreja. Quando abriu a porta, defrontou-se com uma onda de hinos e orações. Defendeu  que a Bíblia fala realmente do batismo com Espírito Santo e na cura de enfermidades por Jesus, porém que estas coisas foram para aqueles tempos” (Daniel Berg)

A irmã Celina havia sido curada do câncer. Outros que andavam amparados por muletas também ficarão são. O pastor batista orava para Jesus dar forças aos doentes, para suportarem as enfermidades. Os missionários oravam para Jesus curá-los. E Ele curava. Essa era a diferença.

Conclusão

Então, o pastor solicitou que os missionários arrumassem suas malas e fossem embora. Dirigindo-se ao pequeno grupo, o pastor perguntou: “Quanto estão de acordo com essas falsas doutrinas? ” Todos sabiam que, ao levantarem as mãos, seriam expulsos da igreja. Repentinamente, uma mão foi levantada. Em seguida, mais outra e outra. E assim 17 pessoas levantaram suas mãos.

O primeiro culto dos 18 dissidentes da igreja batista foi realizado na rua Siqueira Mendes, 67, na casa da irmã Celina de Albuquerque. No dia 18 de junho de 1911, foi fundada a igreja Evangélica “Assembleia de Deus”.




UMA HISTÓRIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS


Pastor João Vicente Pereira

1 - ORIGEM: RUA AZUZA.
         O pentecostalismo, enquanto movimento religioso, tem seu momento de origem identificado pela maioria dos historiadores, no dia 06 de abril de 1906, a partir de uma igreja Metodista composta por maioria negra, na Rua Azuza, cidade de Los Angeles, Estados Unidos da América. Segundo Duncan A. Rely o surgimento do movimento pentecostal se deu:

         “...a sementeira específica foi provavelmente a escola de Topeka, Kansas, nos Estados Unidos. Nessa escola o Pastor  Charles Parham  defendia a idéia de que falar em línguas era um dos sinais que acompanhavam o batismo do Espírito Santo. Um discípulo de Parham, o pregador negro William J. Seymour foi convidado para pregar na igreja de tipo holiness da evangelista negra Nelly Terry, em Los Angeles, Califórnia. Pregando sobre Atos 2: 4, Seymour declarou que Deus tem uma terceira benção além da santificação, a saber o batismo no Espírito Santo, acompanhado do falar em línguas. Nelly Terry, escandalizada, expulsou-o da sua igreja! Seymour, porém, promoveu reuniões  em outras partes da cidade e, no dia 06 de abril de 1906 em uma reunião à rua Azuza, nº 312, um menino de oito anos falou em outras línguas, seguido de outras pessoas. Foi o início do movimento pentecostal”. 

         Essa comunidade que se formou em torno de Charles Parham, jovem ministro Metodista, em 1899, era pessoas que se reuniam em uma casa, para buscar uma experiência subjetiva com Deus. Enfatizavam exorbitantemente o livro de Atos dos Apóstolos, mormente o capítulo 2, que trata do batismo no Espírito Santo – Glossolalia, falar em outras línguas -, e a busca por uma vida regada de oração e santificação.

A Especificidade deste movimento, portanto, antes de tudo, é o falar em línguas desconhecidas, fenômeno conhecido na Igreja Cristã desde a época do Novo Testamento. Em Atos dos Apóstolos, Lucas o autor do livro, narra que os discípulos estavam no cenáculo depois da ressurreição de Jesus e, naqueles dias todos os judeus da diáspora vinham de longe para sua terra natal celebrar o Pentecostes, que ocorria depois de cinqüenta dias da Páscoa. A festa de Pentecostes celebrava a colheita e seus primeiros frutos, tudo obra de Deus. Portanto, foi neste dia que os discípulos de Jesus receberam o poder do alto  e começaram a falar em outras línguas, conhecidas por muitos povos que se achavam em Jerusalém.
         O  primeiro historiador oficial da Assembléia de Deus, Emilio Conde , narra a forma como iniciou   o movimento na rua Azuza, segundo ele, “O pastor W.J. Seymour, que servia nessa igreja, não era pregador eloqüente; porém, seu coração ardia de zelo pela pureza da Obra do Senhor, e sua mensagem era vivificada pelo Espírito Santo. Ele pregava a Palavra    de Deus, anunciava a promessa divina, o batismo com o Espírito Santo, e em seguida, voltando a sentar-se em sua cadeira no púlpito, colocava o rosto entre as mãos, e no decorrer dos trabalhos ele não parava de interceder, de pedir que Deus operasse de maneira extraordinária nos corações dos ouvintes. O que acontecia, então, é inexplicável: o poder de Deus caia sobre a congregação; a convicção das verdades divinas inundava os corações; o desejo de santidade dominava as almas; e, repentinamente, brotavam louvores dos corações; muitos eram batizados com o Espírito Santo, falavam em novas línguas; outros profetizavam; outros cantavam hinos espirituais”.

Algumas influencias

 METODISMO
         A Igreja Metodista nasce de uma divisão da Igreja Anglicana no século XVIII. Inicialmente, este movimento não pensava em fundar uma outra denominação,  apenas renovar o espírito ascético dentro da antiga.       A figura principal deste movimento foi John Wesley. Em seu diário narra sua experiência espiritual, ou seja, sua conversão: “...de tarde fui, com pouca vontade, a uma sociedade na rua Aldergate, onde alguém lia o prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos. Cerca de nove menos um quarto, enquanto ouvia a descrição que Lutero fazia sobre a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, senti meu coração estranhamente abrasado. Senti que em verdade eu cofiava em Cristo, em Cristo somente, para a salvação e uma certeza me foi dada de que ele havia tirado os meus pecados, sim os meus, de que me havia salvo da Lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todo o meu poder por aqueles que de alguma maneira especial me haviam perseguido e insultado. Então testifiquei diante de todos os presentes do que pela primeira vez sentia em meu coração.

         Segundo Robert McAlister, bispo pentecostal, referindo a influência do metodismo sobre o pentecostalismo:  “Wesley afirmou que a remissão dos pecados e o recebimento de um novo coração foram o resultado de duas experiências chamadas a “cura dupla”, em conseqüência deste reavivamento, a ênfase da reforma Luterana de Justificação pela fé mudou para santificação através de uma experiência específica. Esta doutrina preparou o caminho para a doutrina do batismo no Espírito Santo que ocorre depois e como conseqüência do arrependimento”. 

 PURITANISMO
         Os puritanos surgem dentro do seio da Igreja Anglicana e tinham como alvo purificar a Igreja de tradições e liturgias da Igreja Católica. A palavra “puritano” remonta ao ano de 1564, quando um grupo separatista foi zombeteiramente descrito como puritano, “os cordeiros imaculados do Senhor”. Em 1567 o termo foi empregado tendo como alvo aqueles que se negavam a usar as vestimentas, por eles consideradas como vestimentas do papado. Portanto,  o  puritanismo surge na Igreja no reinado da Rainha Isabel (Elizabeth I), na segunda metade do século XVI. Os puritanos entendiam que muitos “trapos do papado” continuavam na Igreja Anglicana e queriam purifica-la de acordo com a Bíblia, aceita por eles como regra infalível de fé e prática. . Eles se opunham á  guarda dos dias santos, à absolvição clerical, ao sinal da cruz, à presença de padrinhos no batismo, ao ajoelhar-se na hora da Ceia e ao uso da sobrepeliz pelos ministros. E postulavam a fidelidade às escrituras, pregação expositiva, cuidado pastoral, santidade pessoal, e piedade prática a cada área particular da vida. O termo Puritano começou a ser usado para se referir a estas pessoas que eram extremamente cuidadosas em sua maneira de viver.

         “O puritanismo é um modo de ser, de ver os homens e as coisas sob o prisma da fé religiosa. O  que mais impressionou no puritanismo foi sua visão de mundo e a sua maneira de viver nele, seu ascetismo austero e sua piedade bíblica. A teologia do puritanismo está expressa, em termos mais radicais na obra de Milton (Paraíso Perdido 1.667) e de João Bunyan ( O Peregrino 1.678)”

 PIETISMO.
         Surgiu na Alemanha, no século  XVII como reação contra a esterilidade da Escolástica Luterana, propondo uma “religião de coração”, de experiência, para substituir a “religião de cabeça”.
         O pietismo provocou um novo interesse pelo estudo, discurssão da Bíblia e aplicação dela à vida diária e no cultivo de uma vida pia. A ênfase recai sobre a função do Espírito Santo como iluminador da Bíblia e sobre as boas obras como expressão da verdadeira religião. Infundiu-se um novo vigor na Igreja Luterana. Halle tornou-se um centro de esforço missionário. Um trabalho pioneiro foi começado na África e nas ilhas do Pacifico por missionários de Halle.

OS AVIVAMENTOS.
           A  principal matriz do protestantismo norte-americano foi o puritanismo. Os puritanos, que estavam entre os primeiros colonizadores dos futuros Estados Unidos, chegaram à Nova Inglaterra a partir de 1620, estabelecendo-se  inicialmente em Massachusetts e, depois, em Connecticut. Esses puritanos calvinistas, que eventualmente criaram a Igreja Congregacional, davam muito ênfase à experiência de conversão. Somente tornavam-se membros plenos das igrejas aqueles que podiam dar um testemunho público e crível da conversão. Asssim, em sua fase inicial o puritanismo foi marcado por uma grande intensidade religiosa, uma espécie de contínuo avivamento. Essa característica do puritanismo haveria de influenciar fortemente as diferentes manifestações do protestantismo norte – americano.

         O auge do despertamento ocorreu na Nova Inglaterra, que há décadas vinha orando por essa visitação. Dois  nomes ficaram permanentemente ligados ao evento. O primeiro é o de Jonathan Edwards (1703-1758), jovem pastor da Igreja Congregacional de Northampton, em Massachusetts. Outro importante personagem associado ao Primeiro Grande Despertamento foi pregador inglês George Whitefield (1714-1770), que em 1740 fez uma memorável turnê evangelística através de várias colônias, encerrando-a na Nova Inglaterra.. Whitefield, um calvinista convicto que inicialmente havia trabalhado com John Wesley, pregou quase todos os dias a auditórios que chegavam a 8 mil pessoas. Essa campanha produziu um enorme impacto em todas as colônias, tornando-se o primeiro evento de amplitude “nacional” da história dos Estados Unidos.

         Passado o período da emancipação política (1776), irrompeu um novo avivamento, que veio a ser muito mais duradouro e influente que o anterior. O Segundo Grande Despertamento começou por volta de 1800, novamente entre os presbiterianos, na localidade de Cane Ridge, em Kentucky. Além do mais vasto e complexo, esse despertamento diferiu do primeiro em outros aspectos importantes. Enquanto o avivamento anterior limitou-se essencialmente aos presbiterianos  e congregacionais, este atingiu todas as denominações, especialmente os batistas e os metodistas, que tiveram um crescimento vertiginoso e tornaram-se os maiores grupos protestantes da América do Norte. Outra diferença foi a geográfica e social: enquanto o primeiro despertamento ocorreu em áreas urbanas próxima ao litoral, o segundo irrompeu na chamada “fronteira”, a região rural do meio-oeste com sua população móvel e sua instável organização social. Uma terceira diferença entre os dois avivamentos diz respeito à sua teologia. Enquanto o movimento do século XVII teve uma base solidamente calvinista, com sua ênfase na incapacidade humana e na iniciativa soberana de Deus, o Segundo Despertamento revelou um orientação nitidamente arminiana, dando grande destaque ao potencial da escolha e decisão do ser humano. Essa característica, que combinava com os ideais de liberdade e iniciativa individual da jovem nação, encontrou sua expressão mais eloqüente no avivalista Charles G. Finney (1792-1875). Finney acreditava que o avivamento poderia ser produzido pelo uso de técnicas que incluíam apelos insistentes e carregados de emoção, aconselhamento pessoal dos decididos e séries prolongadas de reuniões evangelísticas.

         As campanhas de avivamento, pretendiam, através da emoção, da ameaça do inferno, provocar a decisão da pessoa por Cristo. Nos cânticos, nas orações, se buscavam um clima de emocionalismo que levasse o individuo a sentir a presença de Deus convidando-o insistemente a tomar a sua decisão. Portanto, há muita semelhança entre os avivamentos e o movimento pentecostal. Este último, partindo de uma busca de avivamento, chega ao batismo no Espírito Santo, ao falar em línguas, ao dom de curas, profecias, etc. Para as Igrejas Históricas, que tinham com prática os avivamentos essas práticas pentecostais eram consideradas demasiadas, provocando a perda da ordem, do equilíbrio, e portanto eram conseqüentemente rejeitadas. Essa é a causa doutrinária que motivou a separação do movimento pentecostal e o surgimento de suas igrejas.
         É importante notar que “no Brasil, os verdadeiros herdeiros do reavivamento tradicional norte-americano são os pentecostais que mantiveram a ênfase no emocionalismo e a disposição de intinerância evangélica”. Revista Ulimato. 

FUNDAMENTALISMO.
         Movimento iniciado por volta de 1870, o fundamentalismo é uma gestação calvinista americana e nas primeiras décadas deste século tornou-se um traço da cultura norte – americana e politizou-se. A convicção de ser o povo escolhido de Deus tem levado o povo americano a detectar grandes conspirações contra sua cultura.

         O fundamentalismo, é o nome auto-aplicado de uma vertente do movimento protestante conservador, antiliberal, que se formou nos Estados Unidos a partir de 1870, nas primeiras denominações protestantes norte-americanas. Seu objetivo era defender o princípio da inspiração plena da Bíblia (...) o adversário interno ao campo protestante (...) foram os partidários da Teologia Liberal e dos métodos da crítica histórica (...) o adversário externo número um era a mentalidade cientifica moderna, representada emblematicamente pelo darwinismo”.

         Os fundamentalistas irão radicalizar sobre alguns pontos que consideram fundamentais (daí o nome). Esses pontos são cinco: a inerrância das escrituras, o nascimento virginal de Jesus, a ressurreição física de Jesus, a expiação dos pecados por Jesus, a autenticidade dos milagres de Jesus.

         Não é difícil perceber a influência que o fundamentalismo terá no pentecostalismo. A questão da interpretação literal das Escrituras será ponto básico para os pentecostais, tal qual o era para os fundamentalistas.

O Brasil no século XX
A SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL.
         Até 1888 o Brasil tinha um regime escravocrata. O Brasil em sua fase embrionária,  era um terreiro de Portugal (usando a analise historiográfica de Caio Prado Junior, e, portanto a clássica) . Aqui Portugal começou a plantar cana de açúcar devido a enorme procura dos países europeus.  O Brasil  se contrapõe aos Estados Unidos da América, pois lá o objetivo dos colonos era fundar uma nação, um país. Mas, no Brasil, era diferente. O Brasil era a vaca de leite de Portugal, daqui saia toda matéria prima, para passar pelo processo de industrialização na Europa. Os índios não se submeteram ao trabalho forçado, pois culturalmente os índios nunca trabalharam por imposição, pelo contrário, caçavam e pescavam visando a coletividade. Não tinham noção da mais valia, isto é, lucro. Destarte, importaram africanos pra cá, para servir de mão de obra nos plantatios de cana de açúcar. E isso perdurou por mais de três séculos, até que, em 1888, a princesa Isabel ( é bom que se diga que à abolição da escravatura no Brasil não se deveu a um gesto longânimo de nossa Rainha, mas, deveu-se principalmente pelas pressões e insurreições que estavam ocorrendo dentro do país) aboliu a escravidão dos negros.

         No século XIX Dom João VI vem ao Brasil. Subsequentemente , muitas coisas mudaram na colônia. A Inglaterra, rainha dos mares, força o governo brasileiro visando a  abolição do tráfico de escravos. Em 1850 é proibido o tráfico de escravos. Em 1871, a lei do ventre livre declara livres os filhos de mães escravas no Brasil. Mas, só foi em 1888 oficialmente que o regime escravocrata é proibido.

         Diante deste fato, não tendo mais agora os fazendeiros mão de obra pra cuidar de suas plantações, recorrem aos imigrantes europeus ou asiáticos, que por sinal já estavam aculturados (obrigatoriamente) ao novo sistema mundial capitalista, que exigia não somente braços fortes, mas também capacidade técnica para o trabalho. Além do fato da abolição da escravidão, os escravos foram abandonados em detrimento dos europeus, pois eram inaptos de se engajarem no novo modelo internacional de produção. Paralelamente a substituição da mão-de-obra escrava por mão de obra assalariada ou arrendamento (no sudeste a mão de obra foi assalariada, já no sul do país arrendada),  se inicia um processo de industrialização. Isto decorre por causa da crise por que passam os produtos ancoras da economia exportadora brasileira: o café, e, particularmente na Amazônia, a borracha.

         No século XIX, período em que há uma expansão do capitalismo a nível mundial e crescimento da industrialização nas novas potências mundiais, traz como novidade para a região Amazônica a demanda por mais um produto extrativo: a borracha. O aquecimento da economia na região promove também uma expansão demográfica na região durante o período. Esse aumento da população ocorre também por fatores externos à região, por exemplo, a seca no nordeste de 1877 a 1880. “Em 1882, a produção de gomas amazônicos já influencia poderosamente no quadro brasileiro da exportação do império. Apenas o café e o açúcar se lhe mantinham á frente. O esplendor do ciclo da borracha estava começando” .

         “Entre 1906 e 1910, o valor da produção de café no Brasil (...) foi de 2,1 bilhões de cruzeiros. A borracha (...) rendeu nesse qüinqüênio 1,3 bilhões de cruzeiros. Entre 1853 e 1912, a união retirou da Amazônia saldo de 749 bilhões de cruzeiros (em moeda da época)”.

PRODUÇÃO DE BORRACHA NA REGIÃO AMAZÔNICA

PERÍODO
PRODUÇÃO EM TONELADAS
1827
31
1850
1.000
1870
8.000
1891 A 1900
21.400
1900 A 1910
34.500
1910 A 1920
32.800
1920 A 1930
20.200
         Com a entrada da Ásia na concorrência do mercado da borracha, pois em 1910 a Ásia detinha 13% da economia mundial, mas em 1915 chega a 68%. Diante desse quadro econômico que começava a rastejar a região amazônica, sente, pois entre 1890 a 1900 houve uma migração liquida de mais 110 mil pessoas vindas principalmente do Ceará, a partir de então há um retraimento de extração de borracha. Portanto, de agora em diante, ocorre todo um processo migratório em direção aos seus Estados. E, é nesse momento que os missionários suecos chegam ao Pará.

A SITUAÇÃO SOCIAL: Pará.

         Em 1888 o fim da escravidão não representou para o povo trabalhador na extração da borracha libertação. À semelhança dos africanos, esses trabalhadores foram objetos de exploração. A riqueza que chegou à Amazônia não chegou até os seringueiros, responsáveis diretos por sua produção. Esse período pra Manaus foi assazmente próspero, pois, as grandes construções como o Teatro Municipal e outras construções importantes, procederam por causa da exuberância material da extração da borracha. Outrossim, a situação no nordeste era de crise profunda por conta das secas de 1877 a 1880. O maior fluxo de migrantes em direção às áreas de borracha do Amazonas veio ocorrer nas décadas seguintes, especialmente durante os períodos de 1890-1900.

         O sistema de aviamento consistia em um adiantamento oferecido pelos intermediários para que o migrante pudesse ter condições de produzir, sendo o pagamento efetuado com a produção da borracha. Mas, os preços dos produtos tanto os adiantados como o da borracha eram fixados pelos intermediários, o que resultava num endividamento cada vez maior do seringueiro. A crise da borracha provoca falências nas empresas aviadoras e nos governos locais, além de grandes prejuízos aos bancos. Entretanto, a população vai sofrer na pele as conseqüências desse período crítico.

         Em tempos de tamanha crise o apelo religioso se mostra como uma solução para os problemas enfrentados no dia-a-dia. A doença, a fome, a exploração trazem a perspectiva da morte para próximo dos indivíduos, e uma doutrina que traz resposta para a vida com grande ênfase para a vida eterna, terá enorme sucesso. A experiência do batismo com o Espírito Santo, momento de êxtase, algo indizível, inexplicável racionalmente falando, levam os homens, apesar da falta de esperança e apesar da fome, miséria, doença, a um estado de interioridade inefável, que sobrepõe a tudo.

A SITUAÇÃO RELIGIOSA.
         A relação Igreja-Estado, desde o descobrimento do Brasil esta assentada no regime do Padroado. A Instituição do Padroado é uma concessão oferecida pelos papas aos soberanos portugueses que oferecia a estes o direito de administração dos negócios eclesiásticos nas terras descobertas.

         Essa simbiose (união)  de Igreja-Estado se encontra desde o momento em que o Imperador Romano Constantino oficializou o cristianismo como a religião do Império. Quando o Império Romano caiu no século V, faltou autoridade pra se impor aos bárbaros e foi nessa brecha que os Bispos começaram a se ascender como líderes espirituais e políticos. Doravantemente esses dois poderes – temporal e o espiritual -, lutam constantemente visando o poder absoluto.

         A época era para o comércio e portanto a Igreja estava subordinada ao Estado que tinha intenções mercantilistas pra novas terras invadidas pelos europeus . Savanarola expressou-se certa vez, que no começo os homens eram de ouro e os copos de madeira, mas, em sua época (XV) os homens eram de madeira e os copos de ouro. Destarte, as virtudes já não surtiam efeitos nas mentes dos homens, portanto, o que importava era o lucro. A aliança entre a Igreja e o Estado  resultou em uma associação poderosíssima, capaz de uma empresa de imposição cultural e política que foi a conquista da América. A igreja defendeu o direito divino dos reis, enquanto a coroa respaldou a autoridade universal da Igreja Católica. Na prática o Rei, agraciado com o poder do padroado, se constituía no chefe espiritual da Igreja em todas as possessões do reino, o que lhe garantia  ingerências total dentro dos negócios eclesiásticos das colônias.

         A Igreja, portanto, ficava a mercê do Estado. Por exemplo: nenhum clérigo podia partir de Portugal para o Brasil sem autorização e sem prestar juramento ao rei. Os bispos não podiam corresponder-se diretamente com Roma. Havia problemas para a admissão de noviços  nos conventos, além de ser proibido a criação de novos conventos. O número e a localização dos missionários era decidido de acordo com a necessidade de expansão colonial e não necessidade missionária.

         Durante esse tempo a reforma do século XVI de Lutero e Calvino ainda não fizera efeito no Brasil, não obstante às varias tentativas -  principalmente dos huguenotes franceses calvinistas no século XVI, que na verdade foram derrotados  por causa de controvérsias teológicas e autoritarismo  dentro do próprio grupo -. Os reformadores com a doutrina da predestinação deram incentivos ao capitalismo, levando essa teologia, fique claro nunca ensinada por João Calvino na ótica econômica, mas sim espiritual, a vertebralização do liberalismo. E essas novas idéias liberais já povoavam a cabeça da elite brasileira. De tal modo que na “ constituição de 1824, embora dos 90 constituintes, 19 fossem padres e a religião católica reconhecida como a religião oficial do Estado (...) Reconhecia a Constituição do Brasil como nação cristã em todas as profissões cristãs. Estabelecia, também que, respeitada a religião oficial, ninguém seria perseguido por questão de religião” .

 “Nesse período já está instalado um clima de tensão acentuado. Duas correntes vão aprofundar essas diferenças passo a passo. De um lado os regalistas que defendem o poder absoluto do Rei, e, do outro, os utramontanos que defendem a autoridade suprema do papa. Tem inicio um processo de volta a Roma por parte da Igreja, os bispos se reúnem e se afirmam estreitamente ligados ao papa. Esse processo de volta a Roma – romanização – tem um desenvolvimento cada vez mais radical chegando ao clímax no Concilio Vaticano I (1969-1870) onde foi decretada a infabilidade papal”.
         A partir da Independência do Brasil e com a proliferação de idéias liberais, e o avanço da maçonaria, das quais o próprio Imperador D. Pedro I era simpatizante, a Igreja vai perdendo, pouco a pouco, seus privilégios, e vai ganhando corpo uma idéia de cisão.

A CHEGADA DOS MISSIONÁRIOS SUECOS NO PARÁ.
“Em 1911, a Igreja Católica celebrava missa em latim, a Igreja Luterana, cultos em Alemão, a Igreja Anglicana em inglês e as demais igrejas protestantes num “teologuês” anglo-saxônico. Até mesmo a única igreja pentecostal da época, a Congregação Cristã do Brasil, celebrava seus cultos em italiano”.

            Quando os dois missionários chegaram no Brasil as Igrejas Históricas já estavam arraigadas em território brasileiro. Quanto ao Estado do Pará  já contava com a Igreja Batista, fundada em fevereiro de 1897, pelo missionário Eurico Alfredo Nelson, que chegou a Belém em 19 de novembro de 1891, a bordo do navio esperança. Na época da chegada dos missionários a igreja Batista contava com 170 membros arrolados. Quanto a Igreja Episcopal, já havia se estabelecido no Brasil em 1890. A Igreja Presbiteriana também se estabelecera em Belém do Pará no ano de 1904.

DANIEL BERG
Imigrante sueco afetado pela “febre das Américas”, em que milhares de europeus pobres vão à busca de riqueza na “terra prometida”, no caso os Estados Unidos da América. Nasceu em 19 de abril de 1884, Suécia. De família batista muito pobre, sofre na infância a marginalização de ser “pagão” (só se batizou aos quinze anos). Numa sociedade em que batizava as crianças e, em que, a Igreja Luterana, estatal, controlava escolas, igrejas. Em seu diário ele narra que “fixou os olhos na moradia do pastor Luterano. Lá estava o suntuoso edifício, com todo o seu esplendor. Representando ele o símbolo do poder local, que tomava conta tanto das questões espirituais como das do mundo, todos os moradores da vila faziam-lhe reverencias”. Esse relato mostra que Daniel Berg por ser da Igreja Batista se considerava um pagão ante a religiosidade de seu país, que era luterana. Chega aos Estados Unidos da América com 18 anos, tendo-se especializado em fundição de aço. Influenciado por Lewis Pethus, um amigo de infância, torna-se Pentecostal em 1909. Vem ao Brasil como propagador da mensagem Pentecostal em 1910 com 26 anos de idade, onde vive por 52 anos, vindo a falecer em 1963, na Suécia. 

GUNNAR VINGREN, O LÍDER.
Este é inverso de Daniel Berg. Líder, com formação teológica no seminário Batista sueco de Chicago (1909), Gunnar Vingren nasceu em 8 de agosto de 1879, em Ostra Husby, na Suécia. Em 1903, já com 24 anos, vai para os Estados Unidos, e, depois de formado, inicia seu ministério Pastoral junto à Primeira Igreja Batista de Chicago. Foi nessa Igreja que Vingren teve a experiência Pentecostal. Veja a sua descrição:

 “É impossível descrever a alegria que encheu meu coração. Eternamente o louvarei, pois Ele me batizou com o seu Espírito Santo e com fogo’. Depois que recebeu o batismo com o Espírito Santo na conferência em Chicago, retornou para a Igreja da qual era pastor em Menominee, Michigan. Vingren começou a ensinar a verdade pentecostal de que Jesus batiza com o Espírito Santo e com fogo. Alguns creram, outros duvidaram, mas alguns não desejaram aceitar a mensagem. O grupo que recusou a pregação, obrigou o jovem pastor a deixar a congregação. Deixando-a, Gunnar dirigiu-se a igreja em South Bend, Indiana. Nessa Igreja, todos receberam a verdade e creram nela. Na primeira semana Jesus batizou dez pessoas com o Espírito Santo e com fogo, e naquele verão, vinte. Assim, afirma Vingren: ‘Deus transformou a igreja batista de South Bend em uma igreja pentecostal”.

 Após esta igreja pastoreou duas igrejas Batistas nos Estados Unidos (1º Igreja Batista de Menomie, Michigan e South Bend, Indiana), onde em seus sermões, enfatizava o batismo do Espírito Santo, sendo, como conseqüência expulso da congregação batista onde atuava como pastor. Teve uma passagem pela Igreja de Durhan, líder do movimento pentecostal recém nascido e veio a conhecer Daniel Berg em 1909, em Chicago. Viveu vinte e dois anos no Brasil (1910-32), e além do pastorado na Igreja-mãe em Belém, também pastoreou a Igreja do Rio (capital federal, na época) por nove anos, vindo a falecer em 29 de junho de 1933, na Suécia. 


A chegada no Brasil.
Daniel Berg e Gunnar Vingren se achavam em meio a um grande avivamento pentecostal. Daniel Berg volta á Suécia em 1908, não para ficar, mas em suas palavras “matar saudades da família e da sua querida e bucólica Vargon”. Lá encontra  um amigo de infância, Lewis Pethus. E, pela primeira vez, é lhe exposto a doutrina do Batismo no Espírito Santo.  Em 1909 no regresso aos Estados Unidos da América, Daniel recebeu o Batismo no Espírito Santo.

Essa mensagem – Batismo no Espírito Santo -, soava de maneira inefável e complexa. Inefável e complexa, pois se  refere ao Batismo em si, que se exteriorizava de forma não racional, línguas não entendidas pelos homens, incompreensíveis!! Para se ter uma idéia “em 1854, em Boston e adjacências já se falava nisso; em 1892, na cidade de Merehead; em 1903, em Galena, Kansas; em Orchad e Hustok, nos anos de 1904 e 1905”.

Gunnar Vingren, antes de vir ao Brasil, intentou-se ir à China, influenciado pelo tio que morava em Kansas City. Mas, postergou-se dessa chamada, de tal modo que até a noiva rompeu com ele. Numa reunião convencional, uma senhora  se aproximou falando em línguas desconhecidas e lhe disse que antes de seguir em viagem, deveria ser revestido do poder.

Portanto, foi numa conferencia em Chicago que Daniel Berg e Gunnar Vingren se encontram. Alguns dias se passaram, até quando um crente batizado no Espírito Santo chamado Adolfo Uldin, narrou-lhes um sonho, em que os dois amigos eram personagens, e em que lhe aparecera bem legível, um nome muito estranho: Pará! Uldin jamais lera ou ouvira tal palavra. Mas, entendeu tratar-se de um lugar. No dia seguinte, dirigiram-se a uma biblioteca, a fim de consultar os mapas. Ao verificarem a distância do país em que ficava o Pará, chegaram a ser abalados pelas dúvidas, mas após uma semana de oração convenceram-se quanto ao destino tomar.

Inicio: ASSEMBLEIA DE DEUS!
Do ponto de vista de Antonio Almeida, que escreve a história da Primeira Igreja Batista de Belém, Gunnar Vingren e Daniel Berg teriam usado de má fé por se apresentarem como batistas, uma vez que haviam se desligado desta Igreja nos EUA, tendo-se filiado à Assembléia de Deus. Todavia, quando os dois missionários chegam ao Brasil, ainda não existia Assembléia de Deus no Brasil e, muito menos nos Estados Unidos da América. Só havia movimentos pentecostais, e a institucionalização estava ainda em fase embrionária.

         De tal modo que quando os dois missionários chegam ao Brasil, se denominaram de Batistas e foram aceitos e recolhidos pela Igreja Batista de Belém. Mas, fica a pergunta. Se Gunnar Vingren realmente foi expulso da Igreja Batista nos Estados Unidos, será que não agiu de má fé? Não! Sendo a Igreja Batista uma igreja congregacional (isto é, cada igreja local tem independências às demais) o ato de expulsão de uma congregação não poderia ser entendido como expulsão da Igreja Batista. Sendo pastor, uma vez “demitido” de uma Igreja local, está em disponibilidade para ser contratado por outra congregação que se interesse pelos seus serviços. A expulsão da Igreja Batista como um todo se dá na Convenção que reúne representantes de todas as igrejas locais.

Ora, se ele havia perdido as credencias de pastor  como poderia ter sido admitido por outra Igreja Batista? É mais razoável crer-se que ele tenha sido demitido de uma igreja local, sendo perfeitamente normal ser convidado por outra igreja local para assumir ali o pastorado.

Para Antonio Almeida, todavia, “a primeira Igreja Batista foi enganada pelos dois missionários que aportaram a Belém com a declaração de serem batistas, como registraram as duas atas dessa Igreja ( atas nºs 216, de 03.03.1911 e nº 217 de 12.03.1911 ) em que ambos solicitaram suas cartas demissionárias de igrejas batistas imaginárias, pois nem eles identificaram ditas igrejas de onde procediam e nem o secretários interessou-se por isso”.

Os dois missionários se instalaram no sombrio e sufocante porão da Igreja Batista da Rua João Baby, 406. Ali, começaram a fazer o que deveras, os impulsionara ao Brasil. Ensinavam a doutrina do batismo no Espírito Santo, afirmavam que Jesus ainda cura, viviam em constante oração, enfim, o porão não tinha nenhuma harmonia doutrinária com a Igreja da frente, ou seja, a Igreja Batista. Pois a mesma postulava que essas coisas ocorreram somente nos dias dos apóstolos, depois, cessaram.

Essas reuniões eram marcadas por “vozeirões”, “orações altas”, “línguas esquistas”, “exorcismo”, “cura” (sublinhei diante do ceticismo dos batistas, essas manifestações não se encaixam no imaginário deles). Um dia, como outro dia qualquer, o dirigente provisório da Igreja Batista ( pois o pastor da mesma estava viajante para o norte e nordeste do país ), repentinamente aparece. Depois de discurssões, ele afirmando que pessoas civilizadas e sensatas não agem dessa maneira, enquanto que os missionários inexoralvemente não abriam mão de suas convicções....até que o dirigente solicitou que os missionários deixassem o porão e conseqüentemente também a Igreja Batista. Além dos dois missionários outros membros da Igreja Batista foram também expulsos.

Há várias versões sobre os acontecimentos que resultaram na expulsão de um grupo de membros da Igreja Batista por estarem professando a crença na glossolalia.

 A ata da Igreja Batista onde se registra a expulsão de 13 de seus membros por “incompatibilidade doutrinária” diz o seguinte: “o irmão Antunes pediu a todos que aderiram ao movimento pentecostal que se manifestassem para a Igreja excluí-los por incompatibilidade doutrinária. Levantaram-se 13 pessoas: José Plácido da Costa, que ocupara o cargo de moderador até aquela sessão; Manuel Maria Rodrigues, ex-secretário, José Batista de Carvalho, ex-tesoureiro, Antonio Mendes Garcia, todos estes diáconos; Lourenço Domingos, João Domingos, Maria dos Prazeres Costa, Maria Pinto de Carvalho, Alberta Ribeiro Garcia, Manuel Rodrigues Dias, Jerusa Rodrigues. O irmão secretário deixou para o fim os nomes das irmãs Celina Cardoso de Alburquerque e Maria de Jesus Nazaré, que ao mencioná-los fez este aditivo: ‘as profetizas’e os chefes da seita, Gunnar Vingren e Daniel de Tal, que não compareceram a sessão” (ata nº 222 de 13.06.1911 da primeira Igreja Batista do Pará, citada por Almeida, A.B., op. Cit., pág. 56)

         Dos que saíram da Igreja Batista Há discrepâncias nos relatos dos historiadores: Emilio Conde (primeiro historiador da Assembléia de Deus), 17; Daniel Berg, 18; Gunnar Vingren, 18; Abraão de Almeida (segundo historiador oficial da Assembléia de Deus), 19; Joanir de Oliveira ( terceiro historiador da Assembléia de Deus), 19. Em todos os livros (à exceção de Mesquita) há listas dos nomes, mas as mesmas não combinara com o número informado. Conde registra 17 excluídos, mas relaciona 20 nomes. A explicação provável está no próprio Conde quando diz que “dessa lista, 17 eram membros e outros menores”.
Relação de Antonio Almeida, Ata 222             Relação de Abraão de Almeida**
        
1 José Plácido da Costa
1. José Plácido da Costa
2. Manuel Maria Rodrigues
2. Manuel Maria Rodrigues
3. José Batista de Carvalho
3.José Batista de Carvalho
4. Antonio Mendes Garcia
4. Antonio Mendes Garcia
5. João Domingos
5.João Domingos
6. Maria Prazeres da Costa
6. Prazeres da Costa
7. Maria Pinto de Carvalho
7. Maria Batista de Carvalho
8. Manuel Rodrigues Dias
8. Manoel Rodrigues Dias
9. Jerusa Rodrigues
9. Jerusa Rodrigues
10. Celina Albuquerque
10. Celina Albuquerque
11. Maria de Jesus Nazaré
11. Maria de Nazaré
12. Lourenço Domingues
12. Piedade da Costa
13. Alberta Ribeiro Garcia
13. Teresa Silva de Jesus

14. Emília Dias Rodrigues

15. Ana Silva

16. Isabel Silva

17. Benvinda Silva

18. Joaquim Silva
         Segundo Antonio Almeida “dos 13 excluídos oficialmente da Igreja Batista, 11 compareceram à convocação feita por Gunnar Vingren para “a casa onde instalava-se a congregação Batista da cidade velha para organizar uma nova igreja e mais 03 membros da Igreja Batista, e mais quatro congregados (ainda não membros oficiais da Igreja Batista), o que perfaz o mesmo total de 18 pessoas que oficialmente instalaram a Igreja Assembléia de Deus. Essa reunião se deu em 18 de junho de 1911”.

         Dos 13 que foram excluídos quatro era diáconos. Desses quatro um era secretário da Igreja Batista, outro o tesoureiro e outro ainda o moderador da igreja. A igreja possuía nessa ocasião um total de nove diáconos, o que significa uma perda de quase metade de seus membros , que ocupavam de cargos de oficiais. Isso certamente foi uma perda que causou um grande abalo no trabalho batista do Pará.

         Após a exclusão da Igreja Batista o grupo se reuniu por um período de três meses na casa de Celina Albuquerque, a primeira pessoa a ter a experiência do batismo com o Espírito Santo; depois transferiu-se para a Avenida São Jerônimo, 224.No dia 11 de janeiro de 1918, foi registrada oficialmente, juridicamente como Assembléia de Deus.        Gunnar Vingren, o líder dessa igreja que estavam em sua fase embrionária nos conta,         “o ano de 1918 foi de suma importância para a continuação do movimento pentecostal no grande país. O Trabalho já contava com alguns anos. Agora chegou o tempo de registrar a igreja oficialmente, para que fosse pessoa jurídica. Isto aconteceu no dia 11 de janeiro de 1918, quando a igreja foi registrada oficialmente com o nome de Assembléia de Deus”.

         Com ar bastante ufanista o segundo historiador da Assembléia de Deus, Abraão de Almeida, falando da expulsão, comenta: “Estes irmãos  resolveram organizar-se em igreja no dia 18 de junho de 1911. Inicialmente chamada de Missão de Fé Apostólica. No dia 11 de janeiro de 1918, foi registrada oficialmente como Assembléia de Deus           

         “Quanto á denominação Assembléia de Deus, o pioneiro Manoel Rodrigues lembrava, em fim dos anos setentas, sobre a primeira vez que se ventilou o assunto. Um grupo de irmãos saia da congregação Vila Coroa e se encontrava na parada de Bonde de Bernal do Couto. Vingren indagou a respeito da questão e informou que nos Estados Unidos haviam adotado o nome Assembléia de Deus ou Igreja Pentecostal. Houve unanimidade em torno do primeiro nome. Em 11 de janeiro de 1918 o titulo Assembléia de Deus foi oficialmente registrado”.

         Sutilmente,o sociólogo  Gedeon Freire infere uma proposição que está nas entrelinhas dessa nova postura em relação a mudança de nome, “a missão de fé Apostólica era a igreja dos negros pentecostais americanos e a Assembléia de Deus era a Igreja dos pentecostais brancos....Há um fosso abismal entre estas duas denominações não só teológicas, mas sócio-econômicas. A Assembléia de Deus, nos Estados Unidos, nasce como uma federação de igrejas que havia se pentecostalizado e não queria identificação com o movimento negro e é, até hoje, congregacional. É, originariamente, uma igreja racista. Por que os suecos optam por essa mudança? Suecos pobres e marginais, eles não deveriam ter nenhuma afinidade com o nome de Assembléia de Deus, seria mais lógico sua identificação com a Missão da Fé Apostólica .... Pois, afinal eles estão construindo uma igreja de pobres-pretos-mulatos-mamelucos-colhedores de borracha no norte do país. Ademais, eles, suecos, são imigrantes pobres também profundamente marginalizados”.

EXPANSÃO.
         As Igrejas históricas ou tradicionais tem uma estrutura singular ou racionalizada quanto ao envio de missionários para outros países ou mesmo pra lugares dentro do mesmo território nacional. Exigem que o futuro candidato faça um curso de missões transculturais, que significa estudar a língua do povo para onde vai, seus costumes, a política do país, a língua, etc. Entretanto, Daniel Berg e Gunnar Vingren, paradoxalmente, chegam ao Brasil sem dinheiro, sem falar uma palavra em português, vindo na terceira classe de um navio, não tem nenhum conhecido esperando-os – mas, apenas uma “visão”-, era, aliás, a forma “natural” de se fazer missões no inicio do século a partir da Rua Azuza. As Igrejas Históricas já tinham estabelecido organismo de missões, mas o pentecostalismo no começo era apenas um movimento, não havia burocratização para fazer as coisas. Isso dependia de cada um e de sua orientação espiritual que recebiam através da interpretação que faziam da palavra de Deus, ou através de uma pessoa que lhe profetizava.

         Para se ter uma noção da diferença entre essas duas igrejas – histórica e pentecostal -, as Igrejas históricas tinham a figura do missionário, e, posteriormente, o pastor, que tem a unção de Deus para os serviços de evangelização. Em contrapartida, os pentecostais são mais ousados. A conversão marca a vida do individuo profundamente. A postura muda, a fisionomia muda. É outra pessoa! Aliado a isso ganha-se um destemor incrível de anunciar a sua nova fé. Os próprios cultos facilitam isso. São cultos mais de testemunhos do que de pregações. É a hora em que cada fiel vai contar a sua “benção”, fortalecer a coragem dos irmãos e exercitar-se para desempenhar esse testemunho no seu dia-a-dia.

         Em seu trabalho de dissertação, Gedeon Freire, entrevista uma senhora que viu o nascedouro da Assembléia de Deus e, ela complementa, afirmando que: “Eu tinha 20 anos, era professora em uma fazenda e um dia fui à cidade. Lá minhas primas me chamaram para um culto na casa dos crentes, eu nunca tinha ouvido falar de protestantes, de crente, de nada... eu só conhecia a Igreja Católica. Sim, eu fui e achei muito bonito e lá aceitei a Jesus. Voltei para a fazenda e comecei  a fazer cultos...Eu tocava violão, cantava os hinos que tinha aprendido e lia o evangelho que ganhei dos irmãos lá na cidade...Depois de três meses o pastor foi lá e batizou 34 pessoas....Assim nasceu a Assembléia de Deus lá do.....”
          Expansão da Assembleia de Deus  em seus primeiros anos.

ANO
ESTADO/LOCALIDADE
PESSOA/FORMA
1911
PARÁ – INTERIOR
-se propaga acompanhando a construção da linha do trem Belém-Bragança.
1911
PARAÍBA E R.G.NORTE
-um fazendeiro, após uma revelação visita diversas cidades; depois o pastor passa batizando pessoas em 23 localidades (Vingren 1987:21)
1914
CEARÁ – Serra de Uruburetama
-         Maria de Nazaré resolve visitar parentes.
-         1914 Vingren visita o Ceará já encontra uma igreja
1914
AMAZONAS
-perto da fronteira da Venezuela havia um irmão que fora batizado no ES no Ceará (Vingren, 1987: 40)
1915
ALAGOAS
-irmão visitando parentes.
1928/29(?)
BAHIA - Canavieiras
- uma irmã visita seus parentes (Vingren, 1987:76). Em 1930 já tem uma igreja.
Antes de 1920
RIO DE JANEIRO
-Gunnar Vingren faz uma visita a uma família que veio do Norte, há um grupo de 20 pessoas (Vingren, 1973:98)
Antes de 1924
ESPÍRITO SANTO
-Daniel Berg chega em 1924 e já havia convertidos
1923 (?)
SÃO PAULO - SANTOS
- “pessoas do Norte a procura de emprego no sul”(Vingren, 1987:91).

Na Assembléia de Deus, “cada crente que se desloca carrega consigo sua igreja para planta-la no lugar onde vai morar. Não espera pela construção  de um templo, nem mesmo pela chegada de um pastor. Estabelece o culto em sua própria residência, nas periferias das cidades ou vilas, ou mesmo na área rural. Simples crente, improvisa-se  pastor. Jamais será repreendido por isso. Antes encorajado”.

         A Assembléia de Deus inicia-se em 1911 em Belém do Pará; em 1914 chega ao Ceará; em 1915 a Alagoas e em 1916 a Pernambuco e Amapá. Em 1917 chega no Amazonas e nesta época a crise da borracha estava afetando a população de Manaus.

“Alguns anos antes, o dinheiro tinha abundado aqui. Conta-se que um seringueiro costumava pegar uma nota de dez mil réis e por fogo nela para acender o cigarro. Eles ganhavam naquele tempo entre 50 e 100 mil réis por dia. Mas não tardou que aquele orgulho foi abatido pela necessidade que veio quando os preços da borracha caíram de modo que os ordenados não davam nem para a comida”

Até 1918 a borracha é o segundo produto mais importante no Brasil, representando em 1910, auge da produção, 25.7% das exportações. A partir daqui declina quando a Ásia entra no mercado, pois, em 1910 detém 13% da produção mundial, mas em 1915 chega a 68%. A região Amazônica, que de 1890 a 1900 teve uma migração liquida de 110 mil pessoas vindas principalmente do Ceará, a partir de então tem um retraimento de extração de borracha. Os missionários suecos chegam no inicio da queda da produção. Há, de agora em diante, todo um processo migratório de retorno para seus Estados de origem – e a mensagem pentecostal os acompanha.

A evangelização nos estados brasileiros  é feito através de pessoas, numa dispersão indisciplinada de pessoas, muitos retornando ao seu estado de origem. Em 1930 a mensagem pentecostal chega no Espírito Santo e nessa época lá já tinha uma igreja com 25 membros; em 1930 realiza-se o primeiro culto no estado da Bahia. Daniel Berg deixa o Pará e viaja ao Rio de Janeiro em 1920 e lá funda várias igrejas. No Estado de São Paulo, antes de 1930 já contavam com vários templos da Assembléia de Deus; no Rio Grande do Sul a mensagem pentecostal chega por um missionário norte-americano, isso se deu em 1924 e, no Estado de Minas Gerais, a mensagem pentecostal chega em 1927.        A disseminação da Igreja Assembléia de Deus no começo é desordenada, aleatória, acidental, mas persistente. Como ela não tem um órgão administrativo/ estratégico para elaborar um plano de ação, e sua liderança no primeiro momento, parece nem ter consciência do que está acontecendo, ela vai se alastrando sem nenhuma condição para este crescimento.

Assembléia de Deus no Brasil, crescimento estatístico.
DATA
Nº DE MEMBROS
FONTES
1910
início
Diários, etc
1930
14.000
Shields
1943
60.000
Conf. Do Brasil
1948
148.836
Shields
1949
120.000
Word Chrstian Handbook
1951/1952
200.000
Idem
1956
312.749
Recenceamento brasileiro
1957
345.953
Idem
1960
500.000
Assembléia de Deus
1962
702.750
Springfield, Mo.
1964
950.000
Willian Read (estimativa)
1967
1.400.000
Read, Montessoro e Johnson
1968
1.700.000
Hollenweger

         Portanto, resumindo essa tabela, a Assembléia de Deus que se inicia em 1911 com 20  membros e, em 1950, 120.000 membros, o que daria respectivamente 69,76% de crescimento em 19 anos, e 108.000% em 38 anos. No total, são mais de 600.000% de crescimento nas primeiras quatro décadas. É uma taxa de crescimento anual de 15.000% ao ano. O Censo Demográfico do IBGE de 1991 apontou 8.98 de evangélicos da população brasileira, com projeção de crescimento de 67,3%, então em 1998 teríamos 20 milhões de evangélicos no país.