UMA HISTÓRIA DA ASSEMBLEIA DE
DEUS
Pastor João Vicente
Pereira
1 - ORIGEM: RUA AZUZA.
O pentecostalismo, enquanto movimento
religioso, tem seu momento de origem identificado pela maioria dos
historiadores, no dia 06 de abril de 1906, a partir de uma igreja Metodista
composta por maioria negra, na Rua Azuza, cidade de Los Angeles, Estados Unidos
da América. Segundo Duncan A. Rely o surgimento do movimento pentecostal se
deu:
“...a
sementeira específica foi provavelmente a escola de Topeka, Kansas, nos Estados
Unidos. Nessa escola o Pastor Charles
Parham defendia a idéia de que falar em
línguas era um dos sinais que acompanhavam o batismo do Espírito Santo. Um
discípulo de Parham, o pregador negro William J. Seymour foi convidado para
pregar na igreja de tipo holiness da evangelista negra Nelly Terry, em Los
Angeles, Califórnia. Pregando sobre Atos 2: 4, Seymour declarou que Deus tem
uma terceira benção além da santificação, a saber o batismo no Espírito Santo,
acompanhado do falar em línguas. Nelly Terry, escandalizada, expulsou-o da sua
igreja! Seymour, porém, promoveu reuniões
em outras partes da cidade e, no dia 06 de abril de 1906 em uma reunião
à rua Azuza, nº 312, um menino de oito anos falou em outras línguas, seguido de
outras pessoas. Foi o início do movimento pentecostal”.
Essa comunidade que se formou em torno
de Charles Parham, jovem ministro Metodista, em 1899, era pessoas que se
reuniam em uma casa, para buscar uma experiência subjetiva com Deus.
Enfatizavam exorbitantemente o livro de Atos dos Apóstolos, mormente o capítulo
2, que trata do batismo no Espírito Santo – Glossolalia, falar em outras
línguas -, e a busca por uma vida regada de oração e santificação.
A Especificidade deste movimento, portanto, antes de tudo, é o falar em
línguas desconhecidas, fenômeno conhecido na Igreja Cristã desde a época do
Novo Testamento. Em Atos dos Apóstolos, Lucas o autor do livro, narra que os
discípulos estavam no cenáculo depois da ressurreição de Jesus e, naqueles dias
todos os judeus da diáspora vinham de longe para sua terra natal celebrar o
Pentecostes, que ocorria depois de cinqüenta dias da Páscoa. A festa de
Pentecostes celebrava a colheita e seus primeiros frutos, tudo obra de Deus.
Portanto, foi neste dia que os discípulos de Jesus receberam o poder do alto e começaram a falar em outras línguas,
conhecidas por muitos povos que se achavam em Jerusalém.
O
primeiro historiador oficial da Assembléia de Deus, Emilio Conde ,
narra a forma como iniciou o movimento
na rua Azuza, segundo ele, “O pastor W.J.
Seymour, que servia nessa igreja, não era pregador eloqüente; porém, seu
coração ardia de zelo pela pureza da Obra do Senhor, e sua mensagem era
vivificada pelo Espírito Santo. Ele pregava a Palavra de Deus, anunciava a promessa divina, o
batismo com o Espírito Santo, e em seguida, voltando a sentar-se em sua cadeira
no púlpito, colocava o rosto entre as mãos, e no decorrer dos trabalhos ele não
parava de interceder, de pedir que Deus operasse de maneira extraordinária nos
corações dos ouvintes. O que acontecia, então, é inexplicável: o poder de Deus
caia sobre a congregação; a convicção das verdades divinas inundava os
corações; o desejo de santidade dominava as almas; e, repentinamente, brotavam
louvores dos corações; muitos eram batizados com o Espírito Santo, falavam em
novas línguas; outros profetizavam; outros cantavam hinos espirituais”.
Algumas influencias
METODISMO
A Igreja Metodista nasce de uma divisão
da Igreja Anglicana no século XVIII. Inicialmente, este movimento não pensava
em fundar uma outra denominação, apenas
renovar o espírito ascético dentro da antiga.
A figura principal deste
movimento foi John Wesley. Em seu diário narra sua experiência espiritual, ou
seja, sua conversão: “...de tarde fui,
com pouca vontade, a uma sociedade na rua Aldergate, onde alguém lia o prefácio
de Lutero à Epístola aos Romanos. Cerca de nove menos um quarto, enquanto ouvia
a descrição que Lutero fazia sobre a mudança que Deus opera no coração através
da fé em Cristo, senti meu coração estranhamente abrasado. Senti que em verdade
eu cofiava em Cristo, em Cristo somente, para a salvação e uma certeza me foi
dada de que ele havia tirado os meus pecados, sim os meus, de que me havia
salvo da Lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todo o meu poder por
aqueles que de alguma maneira especial me haviam perseguido e insultado. Então
testifiquei diante de todos os presentes do que pela primeira vez sentia em meu
coração”.
Segundo
Robert McAlister, bispo pentecostal, referindo a influência do metodismo sobre
o pentecostalismo: “Wesley afirmou que a remissão dos pecados e o recebimento de um novo
coração foram o resultado de duas experiências chamadas a “cura dupla”, em
conseqüência deste reavivamento, a ênfase da reforma Luterana de Justificação
pela fé mudou para santificação através de uma experiência específica. Esta
doutrina preparou o caminho para a doutrina do batismo no Espírito Santo que
ocorre depois e como conseqüência do arrependimento”.
PURITANISMO
Os puritanos surgem dentro do seio da
Igreja Anglicana e tinham como alvo purificar a Igreja de tradições e liturgias
da Igreja Católica. A palavra “puritano” remonta ao ano de 1564, quando um
grupo separatista foi zombeteiramente descrito como puritano, “os cordeiros imaculados do Senhor”. Em
1567 o termo foi empregado tendo como alvo aqueles que se negavam a usar as
vestimentas, por eles consideradas como vestimentas do papado. Portanto, o
puritanismo surge na Igreja no reinado da Rainha Isabel (Elizabeth I),
na segunda metade do século XVI. Os puritanos entendiam que muitos “trapos do
papado” continuavam na Igreja Anglicana e queriam purifica-la de acordo com a
Bíblia, aceita por eles como regra infalível de fé e prática. . Eles se opunham
á guarda dos dias santos, à absolvição
clerical, ao sinal da cruz, à presença de padrinhos no batismo, ao ajoelhar-se
na hora da Ceia e ao uso da sobrepeliz pelos ministros. E postulavam a
fidelidade às escrituras, pregação expositiva, cuidado pastoral, santidade
pessoal, e piedade prática a cada área particular da vida. O termo Puritano
começou a ser usado para se referir a estas pessoas que eram extremamente
cuidadosas em sua maneira de viver.
“O
puritanismo é um modo de ser, de ver os homens e as coisas sob o prisma da fé
religiosa. O que mais impressionou no
puritanismo foi sua visão de mundo e a sua maneira de viver nele, seu ascetismo
austero e sua piedade bíblica. A teologia do puritanismo está expressa, em
termos mais radicais na obra de Milton (Paraíso Perdido 1.667) e de João Bunyan
( O Peregrino 1.678)”
PIETISMO.
Surgiu na Alemanha, no século XVII como reação contra a esterilidade da
Escolástica Luterana, propondo uma “religião de coração”, de experiência, para
substituir a “religião de cabeça”.
O pietismo provocou um novo interesse
pelo estudo, discurssão da Bíblia e aplicação dela à vida diária e no cultivo
de uma vida pia. A ênfase recai sobre a função do Espírito Santo como
iluminador da Bíblia e sobre as boas obras como expressão da verdadeira
religião. Infundiu-se um novo vigor na Igreja Luterana. Halle tornou-se um
centro de esforço missionário. Um trabalho pioneiro foi começado na África e
nas ilhas do Pacifico por missionários de Halle.
OS AVIVAMENTOS.
A principal matriz do protestantismo
norte-americano foi o puritanismo. Os puritanos, que estavam entre os primeiros
colonizadores dos futuros Estados Unidos, chegaram à Nova Inglaterra a partir
de 1620, estabelecendo-se inicialmente
em Massachusetts e, depois, em Connecticut. Esses puritanos calvinistas, que
eventualmente criaram a Igreja Congregacional, davam muito ênfase à experiência
de conversão. Somente tornavam-se membros plenos das igrejas aqueles que podiam
dar um testemunho público e crível da conversão. Asssim, em sua fase inicial o
puritanismo foi marcado por uma grande intensidade religiosa, uma espécie de
contínuo avivamento. Essa característica do puritanismo haveria de influenciar
fortemente as diferentes manifestações do protestantismo norte – americano.
O auge do despertamento ocorreu na Nova
Inglaterra, que há décadas vinha orando por essa visitação. Dois nomes ficaram permanentemente ligados ao
evento. O primeiro é o de Jonathan Edwards (1703-1758), jovem pastor da Igreja
Congregacional de Northampton, em Massachusetts. Outro importante personagem
associado ao Primeiro Grande Despertamento foi pregador inglês George
Whitefield (1714-1770), que em 1740 fez uma memorável turnê evangelística
através de várias colônias, encerrando-a na Nova Inglaterra.. Whitefield, um
calvinista convicto que inicialmente havia trabalhado com John Wesley, pregou
quase todos os dias a auditórios que chegavam a 8 mil pessoas. Essa campanha
produziu um enorme impacto em todas as colônias, tornando-se o primeiro evento
de amplitude “nacional” da história dos Estados Unidos.
Passado o período da emancipação
política (1776), irrompeu um novo avivamento, que veio a ser muito mais
duradouro e influente que o anterior. O Segundo Grande Despertamento começou
por volta de 1800, novamente entre os presbiterianos, na localidade de Cane
Ridge, em Kentucky. Além do mais vasto e complexo, esse despertamento diferiu
do primeiro em outros aspectos importantes. Enquanto o avivamento anterior
limitou-se essencialmente aos presbiterianos
e congregacionais, este atingiu todas as denominações, especialmente os
batistas e os metodistas, que tiveram um crescimento vertiginoso e tornaram-se
os maiores grupos protestantes da América do Norte. Outra diferença foi a
geográfica e social: enquanto o primeiro despertamento ocorreu em áreas urbanas
próxima ao litoral, o segundo irrompeu na chamada “fronteira”, a região rural
do meio-oeste com sua população móvel e sua instável organização social. Uma
terceira diferença entre os dois avivamentos diz respeito à sua teologia.
Enquanto o movimento do século XVII teve uma base solidamente calvinista, com
sua ênfase na incapacidade humana e na iniciativa soberana de Deus, o Segundo
Despertamento revelou um orientação nitidamente arminiana, dando grande
destaque ao potencial da escolha e decisão do ser humano. Essa característica,
que combinava com os ideais de liberdade e iniciativa individual da jovem
nação, encontrou sua expressão mais eloqüente no avivalista Charles G. Finney
(1792-1875). Finney acreditava que o avivamento poderia ser produzido pelo uso
de técnicas que incluíam apelos insistentes e carregados de emoção,
aconselhamento pessoal dos decididos e séries prolongadas de reuniões
evangelísticas.
As campanhas de avivamento, pretendiam,
através da emoção, da ameaça do inferno, provocar a decisão da pessoa por Cristo.
Nos cânticos, nas orações, se buscavam um clima de emocionalismo que levasse o
individuo a sentir a presença de Deus convidando-o insistemente a tomar a sua
decisão. Portanto, há muita semelhança entre os avivamentos e o movimento
pentecostal. Este último, partindo de uma busca de avivamento, chega ao batismo
no Espírito Santo, ao falar em línguas, ao dom de curas, profecias, etc. Para
as Igrejas Históricas, que tinham com prática os avivamentos essas práticas
pentecostais eram consideradas demasiadas, provocando a perda da ordem, do
equilíbrio, e portanto eram conseqüentemente rejeitadas. Essa é a causa
doutrinária que motivou a separação do movimento pentecostal e o surgimento de
suas igrejas.
É importante notar que “no Brasil, os
verdadeiros herdeiros do reavivamento tradicional norte-americano são os
pentecostais que mantiveram a ênfase no emocionalismo e a disposição de
intinerância evangélica”. Revista Ulimato.
FUNDAMENTALISMO.
Movimento iniciado por volta de 1870, o
fundamentalismo é uma gestação calvinista americana e nas primeiras décadas
deste século tornou-se um traço da cultura norte – americana e politizou-se. A
convicção de ser o povo escolhido de Deus tem levado o povo americano a
detectar grandes conspirações contra sua cultura.
“O
fundamentalismo, é o nome auto-aplicado de uma vertente do movimento
protestante conservador, antiliberal, que se formou nos Estados Unidos a partir
de 1870, nas primeiras denominações protestantes norte-americanas. Seu objetivo
era defender o princípio da inspiração plena da Bíblia (...) o adversário
interno ao campo protestante (...) foram os partidários da Teologia Liberal e
dos métodos da crítica histórica (...) o adversário externo número um era a
mentalidade cientifica moderna, representada emblematicamente pelo darwinismo”.
Os fundamentalistas irão radicalizar
sobre alguns pontos que consideram fundamentais (daí o nome). Esses pontos são cinco: a inerrância
das escrituras, o nascimento virginal de Jesus, a ressurreição física de Jesus,
a expiação dos pecados por Jesus, a autenticidade dos milagres de Jesus.
Não é difícil perceber a influência que
o fundamentalismo terá no pentecostalismo. A questão da interpretação literal
das Escrituras será ponto básico para os pentecostais, tal qual o era para os
fundamentalistas.
O Brasil no século XX
A SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL.
Até 1888 o Brasil tinha um regime
escravocrata. O Brasil em sua fase embrionária,
era um terreiro de Portugal (usando a analise historiográfica de Caio
Prado Junior, e, portanto a clássica) . Aqui Portugal começou a plantar cana de
açúcar devido a enorme procura dos países europeus. O Brasil
se contrapõe aos Estados Unidos da América, pois lá o objetivo dos colonos
era fundar uma nação, um país. Mas, no Brasil, era diferente. O Brasil era a
vaca de leite de Portugal, daqui saia toda matéria prima, para passar pelo
processo de industrialização na Europa. Os índios não se submeteram ao trabalho
forçado, pois culturalmente os índios nunca trabalharam por imposição, pelo
contrário, caçavam e pescavam visando a coletividade. Não tinham noção da mais
valia, isto é, lucro. Destarte, importaram africanos pra cá, para servir de mão
de obra nos plantatios de cana de açúcar. E isso perdurou por mais de três
séculos, até que, em 1888, a princesa Isabel ( é bom que se diga que à abolição
da escravatura no Brasil não se deveu a um gesto longânimo de nossa Rainha,
mas, deveu-se principalmente pelas pressões e insurreições que estavam
ocorrendo dentro do país) aboliu a escravidão dos negros.
No século XIX Dom João VI vem ao
Brasil. Subsequentemente , muitas coisas mudaram na colônia. A Inglaterra,
rainha dos mares, força o governo brasileiro visando a abolição do tráfico de escravos. Em 1850 é
proibido o tráfico de escravos. Em 1871, a lei do ventre livre declara livres
os filhos de mães escravas no Brasil. Mas, só foi em 1888 oficialmente que o
regime escravocrata é proibido.
Diante deste fato, não tendo mais agora
os fazendeiros mão de obra pra cuidar de suas plantações, recorrem aos
imigrantes europeus ou asiáticos, que por sinal já estavam aculturados
(obrigatoriamente) ao novo sistema mundial capitalista, que exigia não somente
braços fortes, mas também capacidade técnica para o trabalho. Além do fato da
abolição da escravidão, os escravos foram abandonados em detrimento dos
europeus, pois eram inaptos de se engajarem no novo modelo internacional de
produção. Paralelamente a substituição da mão-de-obra escrava por mão de obra
assalariada ou arrendamento (no sudeste a mão de obra foi assalariada, já no sul
do país arrendada), se inicia um
processo de industrialização. Isto decorre por causa da crise por que passam os
produtos ancoras da economia exportadora brasileira: o café, e, particularmente
na Amazônia, a borracha.
No século XIX, período em que há uma
expansão do capitalismo a nível mundial e crescimento da industrialização nas
novas potências mundiais, traz como novidade para a região Amazônica a demanda
por mais um produto extrativo: a borracha. O aquecimento da economia na região
promove também uma expansão demográfica na região durante o período. Esse
aumento da população ocorre também por fatores externos à região, por exemplo,
a seca no nordeste de 1877 a 1880. “Em 1882, a produção de gomas amazônicos já
influencia poderosamente no quadro brasileiro da exportação do império. Apenas
o café e o açúcar se lhe mantinham á frente. O esplendor do ciclo da borracha
estava começando” .
“Entre
1906 e 1910, o valor da produção de café no Brasil (...) foi de 2,1 bilhões de
cruzeiros. A borracha (...) rendeu nesse qüinqüênio 1,3 bilhões de cruzeiros.
Entre 1853 e 1912, a união retirou da Amazônia saldo de 749 bilhões de cruzeiros
(em moeda da época)”.
PRODUÇÃO DE BORRACHA NA REGIÃO AMAZÔNICA
PERÍODO
|
PRODUÇÃO EM
TONELADAS
|
1827
|
31
|
1850
|
1.000
|
1870
|
8.000
|
1891 A 1900
|
21.400
|
1900 A 1910
|
34.500
|
1910 A 1920
|
32.800
|
1920 A 1930
|
20.200
|
Com a entrada da Ásia na concorrência
do mercado da borracha, pois em 1910 a Ásia detinha 13% da economia mundial,
mas em 1915 chega a 68%. Diante desse quadro econômico que começava a rastejar
a região amazônica, sente, pois entre 1890 a 1900 houve uma migração liquida de
mais 110 mil pessoas vindas principalmente do Ceará, a partir de então há um
retraimento de extração de borracha. Portanto, de agora em diante, ocorre todo um
processo migratório em direção aos seus Estados. E, é nesse momento que os
missionários suecos chegam ao Pará.
A SITUAÇÃO SOCIAL: Pará.
Em 1888 o fim da escravidão não
representou para o povo trabalhador na extração da borracha libertação. À semelhança
dos africanos, esses trabalhadores foram objetos de exploração. A riqueza que
chegou à Amazônia não chegou até os seringueiros, responsáveis diretos por sua
produção. Esse período pra Manaus foi assazmente próspero, pois, as grandes
construções como o Teatro Municipal e outras construções importantes,
procederam por causa da exuberância material da extração da borracha.
Outrossim, a situação no nordeste era de crise profunda por conta das secas de
1877 a 1880. O maior fluxo de migrantes em direção às áreas de borracha do
Amazonas veio ocorrer nas décadas seguintes, especialmente durante os períodos
de 1890-1900.
O sistema de aviamento consistia em um
adiantamento oferecido pelos intermediários para que o migrante pudesse ter
condições de produzir, sendo o pagamento efetuado com a produção da borracha.
Mas, os preços dos produtos tanto os adiantados como o da borracha eram fixados
pelos intermediários, o que resultava num endividamento cada vez maior do
seringueiro. A crise da borracha provoca falências nas empresas aviadoras e nos
governos locais, além de grandes prejuízos aos bancos. Entretanto, a população
vai sofrer na pele as conseqüências desse período crítico.
Em tempos de tamanha crise o apelo
religioso se mostra como uma solução para os problemas enfrentados no
dia-a-dia. A doença, a fome, a exploração trazem a perspectiva da morte para
próximo dos indivíduos, e uma doutrina que traz resposta para a vida com grande
ênfase para a vida eterna, terá enorme sucesso. A experiência do batismo com o Espírito
Santo, momento de êxtase, algo indizível, inexplicável racionalmente falando,
levam os homens, apesar da falta de esperança e apesar da fome, miséria,
doença, a um estado de interioridade inefável, que sobrepõe a tudo.
A SITUAÇÃO RELIGIOSA.
A relação Igreja-Estado, desde o
descobrimento do Brasil esta assentada no regime do Padroado. A Instituição do
Padroado é uma concessão oferecida pelos papas aos soberanos portugueses que
oferecia a estes o direito de administração dos negócios eclesiásticos nas
terras descobertas.
Essa simbiose (união) de Igreja-Estado se encontra desde o momento
em que o Imperador Romano Constantino oficializou o cristianismo como a
religião do Império. Quando o Império Romano caiu no século V, faltou
autoridade pra se impor aos bárbaros e foi nessa brecha que os Bispos começaram
a se ascender como líderes espirituais e políticos. Doravantemente esses dois
poderes – temporal e o espiritual -, lutam constantemente visando o poder
absoluto.
A época era para o comércio e portanto
a Igreja estava subordinada ao Estado que tinha intenções mercantilistas pra
novas terras invadidas pelos europeus . Savanarola expressou-se certa vez, que
no começo os homens eram de ouro e os copos de madeira, mas, em sua época (XV)
os homens eram de madeira e os copos de ouro. Destarte, as virtudes já não
surtiam efeitos nas mentes dos homens, portanto, o que importava era o lucro. A
aliança entre a Igreja e o Estado
resultou em uma associação poderosíssima, capaz de uma empresa de
imposição cultural e política que foi a conquista da América. A igreja defendeu
o direito divino dos reis, enquanto a coroa respaldou a autoridade universal da
Igreja Católica. Na prática o Rei, agraciado com o poder do padroado, se
constituía no chefe espiritual da Igreja em todas as possessões do reino, o que
lhe garantia ingerências total dentro
dos negócios eclesiásticos das colônias.
A Igreja, portanto, ficava a mercê do
Estado. Por exemplo: nenhum clérigo podia partir de Portugal para o Brasil sem
autorização e sem prestar juramento ao rei. Os bispos não podiam
corresponder-se diretamente com Roma. Havia problemas para a admissão de
noviços nos conventos, além de ser
proibido a criação de novos conventos. O número e a localização dos
missionários era decidido de acordo com a necessidade de expansão colonial e
não necessidade missionária.
Durante esse tempo a reforma do século
XVI de Lutero e Calvino ainda não fizera efeito no Brasil, não obstante às
varias tentativas - principalmente dos
huguenotes franceses calvinistas no século XVI, que na verdade foram
derrotados por causa de controvérsias
teológicas e autoritarismo dentro do
próprio grupo -. Os reformadores com a doutrina da predestinação deram
incentivos ao capitalismo, levando essa teologia, fique claro nunca ensinada
por João Calvino na ótica econômica, mas sim espiritual, a vertebralização do
liberalismo. E essas novas idéias liberais já povoavam a cabeça da elite
brasileira. De tal modo que na “ constituição de 1824, embora dos 90
constituintes, 19 fossem padres e a religião católica reconhecida como a
religião oficial do Estado (...) Reconhecia a Constituição do Brasil como nação
cristã em todas as profissões cristãs. Estabelecia, também que, respeitada a
religião oficial, ninguém seria perseguido por questão de religião” .
“Nesse
período já está instalado um clima de tensão acentuado. Duas correntes vão
aprofundar essas diferenças passo a passo. De um lado os regalistas que
defendem o poder absoluto do Rei, e, do outro, os utramontanos que defendem a
autoridade suprema do papa. Tem inicio um processo de volta a Roma por parte da
Igreja, os bispos se reúnem e se afirmam estreitamente ligados ao papa. Esse
processo de volta a Roma – romanização – tem um desenvolvimento cada vez mais
radical chegando ao clímax no Concilio Vaticano I (1969-1870) onde foi
decretada a infabilidade papal”.
A partir da Independência do Brasil e
com a proliferação de idéias liberais, e o avanço da maçonaria, das quais o
próprio Imperador D. Pedro I era simpatizante, a Igreja vai perdendo, pouco a
pouco, seus privilégios, e vai ganhando corpo uma idéia de cisão.
A CHEGADA DOS MISSIONÁRIOS SUECOS NO PARÁ.
“Em 1911, a Igreja Católica celebrava missa em latim, a Igreja Luterana,
cultos em Alemão, a Igreja Anglicana em inglês e as demais igrejas protestantes
num “teologuês” anglo-saxônico. Até mesmo a única igreja pentecostal da época,
a Congregação Cristã do Brasil, celebrava seus cultos em italiano”.
Quando
os dois missionários chegaram no Brasil as Igrejas Históricas já estavam arraigadas
em território brasileiro. Quanto ao Estado do Pará já contava com a Igreja Batista, fundada em
fevereiro de 1897, pelo missionário Eurico Alfredo Nelson, que chegou a Belém
em 19 de novembro de 1891, a bordo do navio esperança. Na época da chegada dos
missionários a igreja Batista contava com 170 membros arrolados. Quanto a
Igreja Episcopal, já havia se estabelecido no Brasil em 1890. A Igreja
Presbiteriana também se estabelecera em Belém do Pará no ano de 1904.
DANIEL BERG
Imigrante sueco afetado pela “febre das Américas”, em que milhares de
europeus pobres vão à busca de riqueza na “terra prometida”, no caso os Estados
Unidos da América. Nasceu em 19 de abril de 1884, Suécia. De família batista
muito pobre, sofre na infância a marginalização de ser “pagão” (só se batizou
aos quinze anos). Numa sociedade em que batizava as crianças e, em que, a
Igreja Luterana, estatal, controlava escolas, igrejas. Em seu diário ele narra
que “fixou os olhos na moradia do pastor Luterano. Lá estava o suntuoso
edifício, com todo o seu esplendor. Representando ele o símbolo do poder local,
que tomava conta tanto das questões espirituais como das do mundo, todos os
moradores da vila faziam-lhe reverencias”. Esse relato mostra que Daniel Berg
por ser da Igreja Batista se considerava um pagão ante a religiosidade de seu
país, que era luterana. Chega aos Estados Unidos da América com 18 anos,
tendo-se especializado em fundição de aço. Influenciado por Lewis Pethus, um
amigo de infância, torna-se Pentecostal em 1909. Vem ao Brasil como propagador
da mensagem Pentecostal em 1910 com 26 anos de idade, onde vive por 52 anos,
vindo a falecer em 1963, na Suécia.
GUNNAR VINGREN, O LÍDER.
Este é
inverso de Daniel Berg. Líder, com formação teológica no seminário Batista
sueco de Chicago (1909), Gunnar Vingren nasceu em 8 de agosto de 1879, em Ostra
Husby, na Suécia. Em 1903, já com 24 anos, vai para os Estados Unidos, e,
depois de formado, inicia seu ministério Pastoral junto à Primeira Igreja
Batista de Chicago. Foi nessa Igreja que Vingren teve a experiência
Pentecostal. Veja a sua descrição:
“É impossível descrever a alegria que encheu
meu coração. Eternamente o louvarei, pois Ele me batizou com o seu Espírito
Santo e com fogo’. Depois que recebeu o batismo com o Espírito Santo na
conferência em Chicago, retornou para a Igreja da qual era pastor em Menominee,
Michigan. Vingren começou a ensinar a verdade pentecostal de que Jesus batiza
com o Espírito Santo e com fogo. Alguns creram, outros duvidaram, mas alguns não
desejaram aceitar a mensagem. O grupo que recusou a pregação, obrigou o jovem
pastor a deixar a congregação. Deixando-a, Gunnar dirigiu-se a igreja em South
Bend, Indiana. Nessa Igreja, todos receberam a verdade e creram nela. Na
primeira semana Jesus batizou dez pessoas com o Espírito Santo e com fogo, e
naquele verão, vinte. Assim, afirma Vingren: ‘Deus transformou a igreja batista
de South Bend em uma igreja pentecostal”.
Após esta igreja pastoreou duas igrejas
Batistas nos Estados Unidos (1º Igreja Batista de Menomie, Michigan e South
Bend, Indiana), onde em seus sermões, enfatizava o batismo do Espírito Santo,
sendo, como conseqüência expulso da congregação batista onde atuava como
pastor. Teve uma passagem pela Igreja de Durhan, líder do movimento pentecostal
recém nascido e veio a conhecer Daniel Berg em 1909, em Chicago. Viveu vinte e
dois anos no Brasil (1910-32), e além do pastorado na Igreja-mãe em Belém,
também pastoreou a Igreja do Rio (capital federal, na época) por nove anos,
vindo a falecer em 29 de junho de 1933, na Suécia.
A chegada no Brasil.
Daniel
Berg e Gunnar Vingren se achavam em meio a um grande avivamento pentecostal.
Daniel Berg volta á Suécia em 1908, não para ficar, mas em suas palavras “matar
saudades da família e da sua querida e bucólica Vargon”. Lá encontra um amigo de infância, Lewis Pethus. E, pela
primeira vez, é lhe exposto a doutrina do Batismo no Espírito Santo. Em 1909 no regresso aos Estados Unidos da
América, Daniel recebeu o Batismo no Espírito Santo.
Essa
mensagem – Batismo no Espírito Santo -, soava de maneira inefável e complexa.
Inefável e complexa, pois se refere ao
Batismo em si, que se exteriorizava de forma não racional, línguas não
entendidas pelos homens, incompreensíveis!! Para se ter uma idéia “em 1854, em
Boston e adjacências já se falava nisso; em 1892, na cidade de Merehead; em
1903, em Galena, Kansas; em Orchad e Hustok, nos anos de 1904 e 1905”.
Gunnar
Vingren, antes de vir ao Brasil, intentou-se ir à China, influenciado pelo tio
que morava em Kansas City. Mas, postergou-se dessa chamada, de tal modo que até
a noiva rompeu com ele. Numa reunião convencional, uma senhora se aproximou falando em línguas desconhecidas
e lhe disse que antes de seguir em viagem, deveria ser revestido do poder.
Portanto,
foi numa conferencia em Chicago que Daniel Berg e Gunnar Vingren se encontram.
Alguns dias se passaram, até quando um crente batizado no Espírito Santo
chamado Adolfo Uldin, narrou-lhes um sonho, em que os dois amigos eram
personagens, e em que lhe aparecera bem legível, um nome muito estranho: Pará!
Uldin jamais lera ou ouvira tal palavra. Mas, entendeu tratar-se de um lugar.
No dia seguinte, dirigiram-se a uma biblioteca, a fim de consultar os mapas. Ao
verificarem a distância do país em que ficava o Pará, chegaram a ser abalados
pelas dúvidas, mas após uma semana de oração convenceram-se quanto ao destino
tomar.
Inicio: ASSEMBLEIA DE DEUS!
Do
ponto de vista de Antonio Almeida, que escreve a história da Primeira Igreja
Batista de Belém, Gunnar Vingren e Daniel Berg teriam usado de má fé por se
apresentarem como batistas, uma vez que haviam se desligado desta Igreja nos
EUA, tendo-se filiado à Assembléia de Deus. Todavia, quando os dois
missionários chegam ao Brasil, ainda não existia Assembléia de Deus no Brasil
e, muito menos nos Estados Unidos da América. Só havia movimentos pentecostais,
e a institucionalização estava ainda em fase embrionária.
De tal modo que quando os dois
missionários chegam ao Brasil, se denominaram de Batistas e foram aceitos e
recolhidos pela Igreja Batista de Belém. Mas, fica a pergunta. Se Gunnar
Vingren realmente foi expulso da Igreja Batista nos Estados Unidos, será que
não agiu de má fé? Não! Sendo a Igreja Batista uma igreja congregacional (isto é,
cada igreja local tem independências às demais) o ato de expulsão de uma
congregação não poderia ser entendido como expulsão da Igreja Batista. Sendo
pastor, uma vez “demitido” de uma Igreja local, está em disponibilidade para
ser contratado por outra congregação que se interesse pelos seus serviços. A
expulsão da Igreja Batista como um todo se dá na Convenção que reúne
representantes de todas as igrejas locais.
Ora,
se ele havia perdido as credencias de pastor
como poderia ter sido admitido por outra Igreja Batista? É mais razoável
crer-se que ele tenha sido demitido de uma igreja local, sendo perfeitamente
normal ser convidado por outra igreja local para assumir ali o pastorado.
Para
Antonio Almeida, todavia, “a primeira Igreja Batista foi enganada pelos dois
missionários que aportaram a Belém com a declaração de serem batistas, como
registraram as duas atas dessa Igreja ( atas nºs 216, de 03.03.1911 e nº 217 de
12.03.1911 ) em que ambos solicitaram suas cartas demissionárias de igrejas
batistas imaginárias, pois nem eles identificaram ditas igrejas de onde
procediam e nem o secretários interessou-se por isso”.
Os
dois missionários se instalaram no sombrio e sufocante porão da Igreja Batista
da Rua João Baby, 406. Ali, começaram a fazer o que deveras, os impulsionara ao
Brasil. Ensinavam a doutrina do batismo no Espírito Santo, afirmavam que Jesus
ainda cura, viviam em constante oração, enfim, o porão não tinha nenhuma
harmonia doutrinária com a Igreja da frente, ou seja, a Igreja Batista. Pois a
mesma postulava que essas coisas ocorreram somente nos dias dos apóstolos,
depois, cessaram.
Essas
reuniões eram marcadas por “vozeirões”, “orações altas”, “línguas esquistas”,
“exorcismo”, “cura” (sublinhei diante do ceticismo dos batistas, essas
manifestações não se encaixam no imaginário deles). Um dia, como outro dia
qualquer, o dirigente provisório da Igreja Batista ( pois o pastor da mesma
estava viajante para o norte e nordeste do país ), repentinamente aparece.
Depois de discurssões, ele afirmando que pessoas civilizadas e sensatas não
agem dessa maneira, enquanto que os missionários inexoralvemente não abriam mão
de suas convicções....até que o dirigente solicitou que os missionários
deixassem o porão e conseqüentemente também a Igreja Batista. Além dos dois
missionários outros membros da Igreja Batista foram também expulsos.
Há
várias versões sobre os acontecimentos que resultaram na expulsão de um grupo
de membros da Igreja Batista por estarem professando a crença na glossolalia.
A ata da Igreja Batista onde se registra a
expulsão de 13 de seus membros por “incompatibilidade doutrinária” diz o
seguinte: “o irmão Antunes pediu a todos que aderiram ao movimento pentecostal
que se manifestassem para a Igreja excluí-los por incompatibilidade
doutrinária. Levantaram-se 13 pessoas: José Plácido da Costa, que ocupara o
cargo de moderador até aquela sessão; Manuel Maria Rodrigues, ex-secretário,
José Batista de Carvalho, ex-tesoureiro, Antonio Mendes Garcia, todos estes
diáconos; Lourenço Domingos, João Domingos, Maria dos Prazeres Costa, Maria
Pinto de Carvalho, Alberta Ribeiro Garcia, Manuel Rodrigues Dias, Jerusa
Rodrigues. O irmão secretário deixou para o fim os nomes das irmãs Celina
Cardoso de Alburquerque e Maria de Jesus Nazaré, que ao mencioná-los fez este
aditivo: ‘as profetizas’e os chefes da seita, Gunnar Vingren e Daniel de Tal,
que não compareceram a sessão” (ata nº 222 de 13.06.1911 da primeira Igreja
Batista do Pará, citada por Almeida, A.B., op. Cit., pág. 56)
Dos que saíram da Igreja Batista Há discrepâncias
nos relatos dos historiadores: Emilio Conde (primeiro historiador da Assembléia
de Deus), 17; Daniel Berg, 18; Gunnar Vingren, 18; Abraão de Almeida (segundo
historiador oficial da Assembléia de Deus), 19; Joanir de Oliveira ( terceiro
historiador da Assembléia de Deus), 19. Em todos os livros (à exceção de
Mesquita) há listas dos nomes, mas as mesmas não combinara com o número
informado. Conde registra 17 excluídos, mas relaciona 20 nomes. A explicação
provável está no próprio Conde quando diz que “dessa lista, 17 eram membros e
outros menores”.
Relação
de Antonio Almeida, Ata 222
Relação de Abraão de Almeida**
1 José Plácido da Costa
|
1. José Plácido da Costa
|
2. Manuel Maria Rodrigues
|
2. Manuel Maria Rodrigues
|
3. José Batista de Carvalho
|
3.José Batista de Carvalho
|
4. Antonio Mendes Garcia
|
4. Antonio Mendes Garcia
|
5. João Domingos
|
5.João Domingos
|
6. Maria Prazeres da Costa
|
6. Prazeres da Costa
|
7. Maria Pinto de Carvalho
|
7. Maria Batista de Carvalho
|
8. Manuel Rodrigues Dias
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8. Manoel Rodrigues Dias
|
9. Jerusa Rodrigues
|
9. Jerusa Rodrigues
|
10. Celina Albuquerque
|
10. Celina Albuquerque
|
11. Maria de Jesus Nazaré
|
11. Maria de Nazaré
|
12. Lourenço Domingues
|
12. Piedade da Costa
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13. Alberta Ribeiro Garcia
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13. Teresa Silva de Jesus
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14. Emília Dias Rodrigues
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15. Ana Silva
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16. Isabel Silva
|
|
17. Benvinda Silva
|
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18. Joaquim Silva
|
Segundo Antonio Almeida “dos 13
excluídos oficialmente da Igreja Batista, 11 compareceram à convocação feita
por Gunnar Vingren para “a casa onde instalava-se a congregação Batista da
cidade velha para organizar uma nova igreja e mais 03 membros da Igreja
Batista, e mais quatro congregados (ainda não membros oficiais da Igreja
Batista), o que perfaz o mesmo total de 18 pessoas que oficialmente instalaram
a Igreja Assembléia de Deus. Essa reunião se deu em 18 de junho de 1911”.
Dos 13 que foram excluídos quatro era
diáconos. Desses quatro um era secretário da Igreja Batista, outro o tesoureiro
e outro ainda o moderador da igreja. A igreja possuía nessa ocasião um total de
nove diáconos, o que significa uma perda de quase metade de seus membros , que
ocupavam de cargos de oficiais. Isso certamente foi uma perda que causou um
grande abalo no trabalho batista do Pará.
Após a exclusão da Igreja Batista o
grupo se reuniu por um período de três meses na casa de Celina Albuquerque, a
primeira pessoa a ter a experiência do batismo com o Espírito Santo; depois
transferiu-se para a Avenida São Jerônimo, 224.No dia 11 de janeiro de 1918,
foi registrada oficialmente, juridicamente como Assembléia de Deus. Gunnar Vingren, o líder dessa igreja que
estavam em sua fase embrionária nos conta, “o
ano de 1918 foi de suma importância para a continuação do movimento pentecostal
no grande país. O Trabalho já contava com alguns anos. Agora chegou o tempo de
registrar a igreja oficialmente, para que fosse pessoa jurídica. Isto aconteceu
no dia 11 de janeiro de 1918, quando a igreja foi registrada oficialmente com o
nome de Assembléia de Deus”.
Com ar bastante ufanista o segundo
historiador da Assembléia de Deus, Abraão de Almeida, falando da expulsão,
comenta: “Estes irmãos resolveram
organizar-se em igreja no dia 18 de junho de 1911. Inicialmente chamada de
Missão de Fé Apostólica. No dia 11 de janeiro de 1918, foi registrada
oficialmente como Assembléia de Deus
“Quanto á denominação Assembléia de
Deus, o pioneiro Manoel Rodrigues lembrava, em fim dos anos setentas, sobre a
primeira vez que se ventilou o assunto. Um grupo de irmãos saia da congregação
Vila Coroa e se encontrava na parada de Bonde de Bernal do Couto. Vingren
indagou a respeito da questão e informou que nos Estados Unidos haviam adotado
o nome Assembléia de Deus ou Igreja Pentecostal. Houve unanimidade em torno do
primeiro nome. Em 11 de janeiro de 1918 o titulo Assembléia de Deus foi
oficialmente registrado”.
Sutilmente,o sociólogo Gedeon Freire infere uma proposição que está
nas entrelinhas dessa nova postura em relação a mudança de nome, “a missão de fé Apostólica era a igreja
dos negros pentecostais americanos e a Assembléia de Deus era a Igreja dos
pentecostais brancos....Há um fosso abismal entre estas duas denominações não
só teológicas, mas sócio-econômicas. A Assembléia de Deus, nos Estados Unidos,
nasce como uma federação de igrejas que havia se pentecostalizado e não queria
identificação com o movimento negro e é, até hoje, congregacional. É,
originariamente, uma igreja racista. Por que os suecos optam por essa mudança?
Suecos pobres e marginais, eles não deveriam ter nenhuma afinidade com o nome de
Assembléia de Deus, seria mais lógico sua identificação com a Missão da Fé
Apostólica .... Pois, afinal eles estão construindo uma igreja de
pobres-pretos-mulatos-mamelucos-colhedores de borracha no norte do país.
Ademais, eles, suecos, são imigrantes pobres também profundamente
marginalizados”.
EXPANSÃO.
As Igrejas históricas ou tradicionais
tem uma estrutura singular ou racionalizada quanto ao envio de missionários
para outros países ou mesmo pra lugares dentro do mesmo território nacional.
Exigem que o futuro candidato faça um curso de missões transculturais, que
significa estudar a língua do povo para onde vai, seus costumes, a política do
país, a língua, etc. Entretanto, Daniel Berg e Gunnar Vingren, paradoxalmente,
chegam ao Brasil sem dinheiro, sem falar uma palavra em português, vindo na
terceira classe de um navio, não tem nenhum conhecido esperando-os – mas,
apenas uma “visão”-, era, aliás, a forma “natural” de se fazer missões no
inicio do século a partir da Rua Azuza. As Igrejas Históricas já tinham
estabelecido organismo de missões, mas o pentecostalismo no começo era apenas
um movimento, não havia burocratização para fazer as coisas. Isso dependia de
cada um e de sua orientação espiritual que recebiam através da interpretação
que faziam da palavra de Deus, ou através de uma pessoa que lhe profetizava.
Para se ter uma noção da diferença
entre essas duas igrejas – histórica e pentecostal -, as Igrejas históricas
tinham a figura do missionário, e, posteriormente, o pastor, que tem a unção de
Deus para os serviços de evangelização. Em contrapartida, os pentecostais são
mais ousados. A conversão marca a vida do individuo profundamente. A postura
muda, a fisionomia muda. É outra pessoa! Aliado a isso ganha-se um destemor
incrível de anunciar a sua nova fé. Os próprios cultos facilitam isso. São
cultos mais de testemunhos do que de pregações. É a hora em que cada fiel vai
contar a sua “benção”, fortalecer a coragem dos irmãos e exercitar-se para
desempenhar esse testemunho no seu dia-a-dia.
Em seu trabalho de dissertação, Gedeon
Freire, entrevista uma senhora que viu o nascedouro da Assembléia de Deus e,
ela complementa, afirmando que: “Eu tinha
20 anos, era professora em uma fazenda e um dia fui à cidade. Lá minhas primas
me chamaram para um culto na casa dos crentes, eu nunca tinha ouvido falar de
protestantes, de crente, de nada... eu só conhecia a Igreja Católica. Sim, eu
fui e achei muito bonito e lá aceitei a Jesus. Voltei para a fazenda e
comecei a fazer cultos...Eu tocava
violão, cantava os hinos que tinha aprendido e lia o evangelho que ganhei dos
irmãos lá na cidade...Depois de três meses o pastor foi lá e batizou 34
pessoas....Assim nasceu a Assembléia de Deus lá do.....”
Expansão da Assembleia de Deus em seus primeiros anos.
ANO
|
ESTADO/LOCALIDADE
|
PESSOA/FORMA
|
1911
|
PARÁ – INTERIOR
|
-se propaga acompanhando a construção da linha do trem Belém-Bragança.
|
1911
|
PARAÍBA E R.G.NORTE
|
-um fazendeiro, após uma revelação visita diversas cidades; depois o
pastor passa batizando pessoas em 23 localidades (Vingren 1987:21)
|
1914
|
CEARÁ – Serra de Uruburetama
|
-
Maria de Nazaré
resolve visitar parentes.
-
1914 Vingren
visita o Ceará já encontra uma igreja
|
1914
|
AMAZONAS
|
-perto da fronteira da Venezuela havia um irmão que fora batizado no
ES no Ceará (Vingren, 1987: 40)
|
1915
|
ALAGOAS
|
-irmão visitando parentes.
|
1928/29(?)
|
BAHIA - Canavieiras
|
- uma irmã visita seus parentes (Vingren, 1987:76). Em 1930 já tem uma
igreja.
|
Antes de 1920
|
RIO DE JANEIRO
|
-Gunnar Vingren faz uma visita a uma família que veio do Norte, há um
grupo de 20 pessoas (Vingren, 1973:98)
|
Antes de 1924
|
ESPÍRITO SANTO
|
-Daniel Berg chega em 1924 e já havia convertidos
|
1923 (?)
|
SÃO PAULO - SANTOS
|
- “pessoas do Norte a procura de emprego no sul”(Vingren, 1987:91).
|
Na
Assembléia de Deus, “cada crente que se desloca carrega consigo sua igreja para
planta-la no lugar onde vai morar. Não espera pela construção de um templo, nem mesmo pela chegada de um
pastor. Estabelece o culto em sua própria residência, nas periferias das
cidades ou vilas, ou mesmo na área rural. Simples crente, improvisa-se pastor. Jamais será repreendido por isso.
Antes encorajado”.
A Assembléia de Deus inicia-se em 1911
em Belém do Pará; em 1914 chega ao Ceará; em 1915 a Alagoas e em 1916 a
Pernambuco e Amapá. Em 1917 chega no Amazonas e nesta época a crise da borracha
estava afetando a população de Manaus.
“Alguns anos antes, o dinheiro tinha abundado aqui. Conta-se que um
seringueiro costumava pegar uma nota de dez mil réis e por fogo nela para
acender o cigarro. Eles ganhavam naquele tempo entre 50 e 100 mil réis por dia.
Mas não tardou que aquele orgulho foi abatido pela necessidade que veio quando
os preços da borracha caíram de modo que os ordenados não davam nem para a
comida”
Até 1918 a borracha é o segundo produto mais importante no Brasil,
representando em 1910, auge da produção, 25.7% das exportações. A partir daqui
declina quando a Ásia entra no mercado, pois, em 1910 detém 13% da produção
mundial, mas em 1915 chega a 68%. A região Amazônica, que de 1890 a 1900 teve
uma migração liquida de 110 mil pessoas vindas principalmente do Ceará, a
partir de então tem um retraimento de extração de borracha. Os missionários
suecos chegam no inicio da queda da produção. Há, de agora em diante, todo um
processo migratório de retorno para seus Estados de origem – e a mensagem
pentecostal os acompanha.
A evangelização nos estados brasileiros
é feito através de pessoas, numa dispersão indisciplinada de pessoas,
muitos retornando ao seu estado de origem. Em 1930 a mensagem pentecostal chega
no Espírito Santo e nessa época lá já tinha uma igreja com 25 membros; em 1930
realiza-se o primeiro culto no estado da Bahia. Daniel Berg deixa o Pará e
viaja ao Rio de Janeiro em 1920 e lá funda várias igrejas. No Estado de São
Paulo, antes de 1930 já contavam com vários templos da Assembléia de Deus; no
Rio Grande do Sul a mensagem pentecostal chega por um missionário
norte-americano, isso se deu em 1924 e, no Estado de Minas Gerais, a mensagem
pentecostal chega em 1927. A disseminação da Igreja Assembléia de
Deus no começo é desordenada, aleatória, acidental, mas persistente. Como ela
não tem um órgão administrativo/ estratégico para elaborar um plano de ação, e
sua liderança no primeiro momento, parece nem ter consciência do que está
acontecendo, ela vai se alastrando sem nenhuma condição para este crescimento.
Assembléia de Deus no Brasil, crescimento estatístico.
DATA
|
Nº DE MEMBROS
|
FONTES
|
1910
|
início
|
Diários, etc
|
1930
|
14.000
|
Shields
|
1943
|
60.000
|
Conf. Do Brasil
|
1948
|
148.836
|
Shields
|
1949
|
120.000
|
Word Chrstian Handbook
|
1951/1952
|
200.000
|
Idem
|
1956
|
312.749
|
Recenceamento brasileiro
|
1957
|
345.953
|
Idem
|
1960
|
500.000
|
Assembléia de Deus
|
1962
|
702.750
|
Springfield, Mo.
|
1964
|
950.000
|
Willian Read (estimativa)
|
1967
|
1.400.000
|
Read, Montessoro e Johnson
|
1968
|
1.700.000
|
Hollenweger
|
Portanto, resumindo essa tabela, a
Assembléia de Deus que se inicia em 1911 com 20
membros e, em 1950, 120.000 membros, o que daria respectivamente 69,76%
de crescimento em 19 anos, e 108.000% em 38 anos. No total, são mais de
600.000% de crescimento nas primeiras quatro décadas. É uma taxa de crescimento
anual de 15.000% ao ano. O Censo Demográfico do IBGE de 1991 apontou 8.98 de
evangélicos da população brasileira, com projeção de crescimento de 67,3%,
então em 1998 teríamos 20 milhões de evangélicos no país.
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