terça-feira, 26 de maio de 2020


Canto fúnebre -  Lm 3.19-29


Introdução:  Vivemos tempos fúnebres. O prefeito de São Paulo comprou 38 mil caixões e abriu 13 mil valas para enterrar os mortos do covid 19. Aliás. Adquiriu 5 mil sacos reforçados para carregamento dos corpos, além de oito mil câmeras refrigeradas para guardar até mil corpos antes dos velórios.

O livro de lamentações é um canto fúnebre. O próprio titulo já sugere o tema sofrido da obra: “Eykah”, isto é, “Como...”, a primeira palavra não somente do versículo (1.1), mas também de 2.1, 4.1. Essa expressão é uma interjeição que revela todo o assombro pela devastação e o imenso vazio em que encontra a cidade.

1)    História
A história do livro tem seu contexto, em 586 a.C., quando Jerusalém caiu diante do exercito babilônico. Muitos morreram, e outros foram obrigados a caminhar 900 quilômetros até o exilio. Portanto, lamentações é a cerimonia fúnebre no enterro da cidade morta. Em 2 Reis 25, todos os eventos são narrados: o cerco à Jerusalém; a penúria; a fuga do rei Zedequias; o saque do Templo; o incêndio no templo, no palácio e outros edifícios importantes; a demolição dos muros da cidade; o assassinato dos líderes;   o exilio dos habitantes da cidade; a expectativa e a decepção quanto à ajuda externa e o estado precário da nação. 



Cadáveres amontoados por todos os lados. Canibalismo e sacrilégio – dois Terrores atacando as ruas da cidade destruída. O assassinato desesperado de crianças inocentes demonstrou a perda de esperança no valor humano, os sacerdotes mortos evidenciaram o desaparecimento pela vontade divina.

Todo sofrimento é provocado por alguma coisa. Há um evento especifico por trás de um ato de dor. O sofrimento explode e dor se espalha como os estilhaços de uma granada.

“Ó Senhor, pensa nisso! Acaso deves tratar teu povo dessa maneira? Devem as mães comer os próprios filhos, que elas criaram com tanto carinho? Devem os sacerdotes e os profetas ser mortos dentro do templo do Senhor? (Lm 2.20).

 “Estão jogados nas ruas, jovens e velhos, rapazes e moças, mortos pelas espadas, do inimigo. Tu os matastes em tua ira e os devorastes sem piedade”  (Lm 2.22).

“Como se faz convocação para um dia de festa, convocaste contra mim terrores de todos os lados. No dia, da ira do Senhor, ninguém escapou nem sobreviveu; aqueles dos quais eu cuidava e que eu fiz crescer, o meu inimigo destruiu” (Lm 2.22).

Até hoje os judeus costumam ler publicamente esta obra no jejum do dia nove do mês Abe (em meados de julho), relembrando as destruições de Jerusalém que aconteceram no ano 586 a.C., muitos judeus leem esse livro durante a semana toda, em frente ao “muro de lamentações”, o que restou do templo de Salomão.

2)    Forma
Os lamentos foram compostos em uma forma estrutura de acróstico alfabéticos. Os quatro primeiros poemas percorrem todo o alfabeto hebraico; o terceiro capitulo tem 66 versículos, empregando trezes vezes seguidas cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. O quinto não é acrostico, mas contém 22 versos, número das letras do alfabeto hebraico.   


Por quê? Era para facilitar a memorização (Salmo 119 está na forma de acróstico). Também, garantir que a tristeza e o desespero fossem manifestado por completo.   Portanto, o acróstico, com paciência e cuidado, avança pelas letras do alfabeto e cobre todo terreno do sofrimento. Leva cada detalhe em consideração. Uma expressão talmúdica fala de observar a Torá de Aleph a Tau, ou, como diríamos, de A a Z!

O primeiro capítulo começa descrevendo as dificuldades de Sião vistas do lado de fora, como se vizinho tivesse relatando: “A cidade que antes era cheia de gente agora está deserta. Antes era grande entre as nações, agora está sozinha, como uma viúva. Antes era rainha de toda terra, agora é escrava”. (Lm 1.1).

Mas, ele termina o capítulo declarando o sentimento de quem está dentro da situação, do sofrimento: “As estradas para Sião estão de luto, pois as multidões já não vem celebrar as festas. Os portões da cidade estão em silencio, os sacerdotes gemem, as moças choram. Como é amargo seu destino” (Lm 1.4)

“Voces não se comovem, todos vocês que passam por aqui? Olhem ao redor e vejam se há sofrimento maior do que me foi imposto” (v.12). “...Meus gemidos são muitos, e meu coração está enfermo” (v.22).

O Segundo capítulo estende o limite do sofrimento até a esfera divina. Não há emoção mais desagradável nem mais difícil de enfrentar do que a ira. E, quando quem está irado é Deus, a situação e muito mais difícil.

“O Senhor cobriu a cidade de Sião com a nuvem de sua ira! Lançou-se por terra toda beleza e alegria de Israel... Não se lembrou do estrado de seus pés no dia do seu furor” (Lm 2.1). O termo “estrado de seus pés” é o templo”.

“O Senhor é como um inimigo; ele tem devorado Israel, tem devorado todos os seus palácios e destruídos as suas fortalezas, tem feito multiplicar os prantos e as lamentações da filha de Judá” (v.5).

Aquilo que supúnhamos ser pequenos delitos inofensivos, durante a desolação de Jerusalém passou a ser considerado pecado grave. Os chacas que perambulavam pelos corredores destruídos do templo de Sião (5.18) constituem evidencia de um grande mal que se insinuou em silencio  e com discrição na vida do povo de Deus. A VISÃO DOS PECADOS ESCONDIDOS DURANTE DECADAS NOS CORAÇÕES, QUE AGORA APARECIA NAS RUAS, PROVOCA ARREPENDIMENTO: “Ai de nós, porque temos pecado” (5.16). 


O terceiro capítulo intensifica o acróstico, pois cada uma das três linhas de cada estrofe começa com a mesma letra e não são 22 versos, mas 66 versos! De repente, surge um homem! Por fim, um indivíduo capaz de lamentar de verdade, com profundidade, o que vivenciara. É o lamento mais pessoal e demonstra profunda individualização.

“Eu sou o homem que viu a aflição trazida pela vara da sua ira” (3.1)
“Então por que nós, humanos, nos queixamos quando somos castigados por nossos pecados? (V.39)

“Em vez disso, examinemos nossos caminhos e voltemos para o Senhor”. (v. 40).

O capítulo 4 ameniza a intensidade da emoção do poema anterior e volta à terceira pessoa. O folego humano não consegue suportar a intensidade do capítulo 3. O acrostico continua a explorar o sofrimento, mas agora a distância.

“Como o ouro perdeu o brilho! Como o ouro fino ficou embaçado! As pedras sagradas estão espalhadas pelas esquinas de todas as ruas” (4.1). Vejam, que o verso 2 interpreta o v.1: “Como os preciosos filhos de Sião, que antes valiam eu peso em ouro, hoje são renegados a condição de vasos de barro, obras das mãos de simples oleiro” (v.2).

As metáforas assumem um aspecto familiar: “ouro reluzente perdeu o seu brilho”. Agora, “...antes valiam seu peso em ouro, hoje são renegados... vasos de barro” (vs. 1 e 2).

“A língua que mama fica preso ao céu da boca, de tanta sede... os que fartavam de alimentos de alta qualidade... desfalecem nas ruas famintos... seus príncipes eram mais brilhantes que a neve ao sol... sua pele enrugou-se sobre os seus ossos, e agora parecem lascas finas de madeira seca... os mortos à espada estão melhor do que os que se arrastam esfomeados...” (vs. 4-9).

Conclusão: uma oração
O quinto capítulo é uma oração. O último lamento coloca toda situação diante de Deus.  “O FIM DAS POSSIBILIDADES HUMANAS PRESSUPOE CLARAMENTE AS POSSIBILIDADES DE DEUS”.

“Ó Deus, lembra-te do que tem acontecido conosco; olha para nós e contempla o nosso absoluto estado de desgraça” (5.1).

“Somos órfãos de pai, nossas mães são como viúvas” (v.3)

“Ó Deus, restaura-nos para ti mesmo, Senhor, para que retornemos; renova os nossos dias como os de antigamente” (v.21).

Se o mal tem início, também tem fim. Após percorrer todas as letras no alfabeto hebraico. Depois de usar todas, começa-se a perceber que o terreno já foi todo explorado. A tristeza e o sofrimento têm fim. Há um esquema alfabético que pode ser contado: Assim, quando você está no, A, sabe que, embora distante, o Z está à sua frente e que ali a progressão terá fim. QUE AS LÁGRIMAS CORRAM, MAS QUE TAMBÉM CESSEM! 




terça-feira, 19 de maio de 2020


Em Deus espero – Sl 62



Introdução: felicidade segundo o mundo, e segundo Deus.

Qual é a felicidade segundo o mundo? Ser feliz é quando eu ganho, quando meu time ganha, quando sou promovido no trabalho, quando exploro livremente minhas opções de sexualidade, quando fico horas no salão de beleza, quando compro um carro novo, etc. Qual é a felicidade segundo Deus? Quando não conformamos com este século, mas busca a renovação da mente de Cristo, quando não aceitamos os modelos atuais de prazeres de pecado e defendemos a bandeira do evangelho de Jesus Cristo.

1)    Espera silenciosa
“A minha alma espera somente em Deus”. Oração é comunhão com Deus, exclusiva e centralizadora. A oração ela tem um único alvo: somente Deus.

Há outra vontade maior, mais sábia e mais inteligente que a minha. Enquanto espero, descubro a existência de mais realidade fora do que dentro de mim; há um tipo de espera que nada tem a ver com a oração, é a postura do gato que espreita o pássaro, ou da cobra que espera para dar o bote, quando decidimos agir por nós mesmos. No entanto, ao orar tenho consciência da ação de Deus e sei que quando as circunstancias estiverem preparadas, os outros no lugar certo e meu o coração pronto, Ele me convocará para entrar em ação.

“A minha alma espera silenciosa”. Tantas palavras parecem urgentes, mas depois de dizê-las, me afasto para prosseguir minha rotina diária, depois de despejar em Deus um montão de palavras. Mas, na oração falar é essencial, mas também parcial, o silencio se constitui na liturgia da oração. Elias, em 1 Rs 19, quando estava sozinho na caverna, ouviu o som do vento, do terremoto e do fogo, no entanto, Deus se manifestou no sussurro de uma brisa. 


Há barulhos demais neste mundo. Conversamos demais, somos cercados por torrentes de lixo verbal: youtube, instagram, televisão, rádio, etc. Raramente desligamos a gritaria das mídias para aproveitar o silencio. O silencio é o pré-requisito para ouvir. Na ausência de som humano torna-se possível ouvir o logos, a Palavra de Deus que confere forma e sentido à nossa existência.

Por quê espera silenciosamente? Primeiro, Porque em Deus vem a minha salvação (v.1). Segundo, deve vem a minha esperança (.5). A primeira “vem a minha salvação” entende que o passado dá conteúdo ao presente. A segunda, está convencida de que o futuro (esperança) molda o presente. Por outro lado, a felicidade segundo o mundo, se equilibra numa corda bamba. Enquanto que a oração alarga essa linha do tempo e no espaço e desenvolve familiaridade com o passado e convicção com o futuro.

“Não serei abalado”. “Somente ele é a minha rocha que me salva; ele é a minha torre segura! Jamais serei abalado” (v.2). Os três elementos, ou metáforas: rocha, torre segura e salvação – termina afirmando: “jamais sereis abalado”. É a mesma palavra usado no Salmo 46 como atributo da cidade de Deus, que nunca será abalada. “Nada temeremos, ainda que a terra trema e os montes afundem no coração do mar, ainda que encrespem as águas e se lancem com fúria contra os rochedos. Há um rio cujos canais alegram a cidade de Deus, o santo lugar onde habita o Altíssimo. Nela habita o Eterno e, por isso, não poderá ser abalada” (Sl 46.2-5).

A felicidade segundo o mundo, ao contrário, acaba sendo um impulso e, de forma nenhuma, resulta em afirmação. O ego procura excitamento, gratificação, divertimento, liberdade, mimos, elogios, recompensas e satisfação própria. A motivação segundo o mundo oscila entre emoções e hormônios e modas e tendências.  A MEDIDA QUE NOS ACOSTUMAMOS A ORAR, DEIXAMOS DE SER LEVADOS POR TAIS BAGATELAS.

2)    SOBRIEDADE E SAGACIDADE
“Até quando todos vocês atacarão um homem que está como um muro inclinado, como uma cerca prestes a cair? Todo proposito deles é derrubá-lo de sua posição de sua posição elevada; eles se deliciam com mentiras. Com a boca abençoam, mas no íntimo amaldiçoam” (vs. 3 e 4)  

Essas pessoas repetem o tempo todo que precisamos desenvolver nosso potencial e aproveitar ao máximo as oportunidades. Na verdade, estão mentindo “com a boca abençoam, mas no íntimo amaldiçoam”. “Vocês recitam versos, mas cada “benção” exala uma maldição” (A mensagem). 


“Os homens de origem humilde não passam de um sopro, os de origem importante não passam de mentira; pesados na balança, juntos não chegam ao peso de um sopro. Não confiem na extorsão, nem ponham a esperança em bens roubados; se as suas riquezas aumentam, não ponham nelas o coração”.

As pessoas se dividem em vencedoras e perdedoras. Alguns enriquecem, outros empobrecem. Uns recebem todos os prêmios e outros ficam com todas as obrigações. Ou, sentiremos inveja dos ricos ou pena dos pobres. Mas a balança do mundo é ilusória...

Coloquemos de um lado da balança um “ser humano, perfeito, imagem de Deus. No outro, a pessoa mais rica o mundo, com a carteira repleta de dinheiro e o cofre cheio de ações. Mas pelo texto tem um contraponto: “os de origem importante não passam de mentira”, não tem peso para Deus! 


Agora, tome o individuo mais desgraçado, que sofre todo tipo de discriminação e desprezo. Por certo, privados de todas as recompensas e bens terrenos e coloque na balança, outro contraponto: “os de origem humilde não passam de um sopro”! Em qualquer situação, tudo é mentira, tudo é um sopro!

Somente somos autênticos, verdadeiros, quando nos entregamos ao relacionamento de confiança com Deus definido e ordenado em sua palavra, participando do seu poder: “Confie nEle em todos os momentos, ó povo; derrame diante dele o coração” (v.8).

Conclusão:

“Uma vez Deus falou,
Duas vezes eu ouvi,
Que o poder pertence a Deus
Contigo também, ó Senhor,
Está a fidelidade
É certo que retribuirás
A cada um conforme o seu procedimento” 



Por duas vezes, ouvi: “que o poder pertence a Deus”. Diante desse salmo, o que fazer? Incentivar milhões de indivíduos a viverem segundo a felicidade do mundo, ou acreditar que Deus está realizando uma vontade muito melhor, mais duradora, mais prazerosa, que tanto está no mundo visível quanto no mundo invisível, cuja recompensa é eterna.


sábado, 16 de maio de 2020


Em que cremos em tempo de pandemia?


Em tempos sombrios, excruciante, indefinido, como o nosso, em que cremos? Temos a sociedade secularizada, cujo mundo é imanente, somente acredita nas aparências das coisas, no que é visível; acreditam que o que salva é a ciência e, somos, autossuficientes. Nós nos achamos capazes de controlar o próprio destino, capazes de discernir entre o certo e o errado, e acreditamos que Deus tem obrigação de arranjar as coisas de modo a nos beneficiar, especialmente se nossa vida é decente o bastante segundo os padrões que nós mesmos escolhemos.

E, temos os cristãos, o cristianismo continua oferecendo aos sofredores recursos bem mais eficientes do que qualquer cultura secular possa oferecer. Esses recursos, no entanto, repousam em crenças bíblicas robustas e características.

Primeiro, em um Deus pessoal, sábio, infinito e, portanto, inescrutável, que controla os acontecimentos mundiais — e isso é bem mais reconfortante do que acreditar que estamos nas mãos do destino volúvel ou do acaso.

O segundo princípio vital é que, em Jesus Cristo, Deus veio ao mundo e sofreu conosco e por nós de modo sacrificial — e isso é bem mais reconfortante do que a ideia de um Deus afastado e indiferente. A cruz também prova que, apesar de ser tão inescrutável, Deus está do nosso lado.

A terceira doutrina é que, por intermédio da fé na obra de Cristo na cruz, temos certeza da salvação — e isso é bem mais reconfortante do que as filosofias do carma. Estamos seguros de que as dificuldades da vida não são punições dos pecados de outrora, pois Jesus pagou por todos eles.

A quarta grande doutrina é a da ressurreição para todos os que creem. Ela completa o espectro de nossas alegrias e consolações. Um dos desejos mais profundos do coração humano é não sofrer a separação das pessoas amadas. Nem é preciso dizer que a perspectiva da ressurreição é bem mais reconfortante do que a crença de que a morte nos levará à inexistência ou nos transformará em substância espiritual impessoal. A ressurreição vai além da promessa de uma eternidade desencarnada e etérea. Receberemos nossos corpos de volta, revestidos de tanta beleza e poder que hoje nem conseguimos imaginar.

O corpo ressurreto de Jesus era físico; podia ser tocado e abraçado, e ele se alimentou de comida. No entanto, ele atravessou portas fechadas e podia desaparecer no ar. É uma existência física, mas que vai além da nossa imaginação. Pensar no céu pode ser um consolo durante o sofrimento, uma recompensa pela vida que perdemos. Contudo, a ressurreição não é apenas um consolo; é uma restauração. Contudo, a ressurreição não é apenas um consolo; é uma restauração. Receberemos tudo de volta — o amor, os entes queridos, os bens, as belezas desta vida — porém em escala de glórias, alegria e força nova e inimaginável.


terça-feira, 12 de maio de 2020


Nossa leve e momentânea tribulação 2 Co 5.1-10


Introdução:
Em segunda Corintios 4, Paulo nos consola: “Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia” (v16).

Corpo fraco, espírito renovado. O nosso homem exterior é o nosso corpo, a nossa carne; o nosso homem interior é o nosso espírito. O corpo fica cansado, doente e envelhecido, mas o espírito mais maduro, mais forte, mais renovado. Certa feita, um pastor foi visitar um crente piedoso no seu leito de morte, perguntou-lhe: “Como você vai irmão? ” Ele respondeu: “Estou indo muito bem. A casa onde moro está desmoronando, mas já estou de malas prontas para mudar à uma mansão, não feita por mãos humanas, eternas nos céus”.

“Porque nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso e glória, acima de toda comparação” (v.17). “Pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles” (Atualizada).  No presente enfrentamos tribulação, choro, dor, mas, então, Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima. A tribulação por mais pesada e constante posta sob a ótica da eternidade torna-se leve e momentânea. “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória em que nós será revelada” (Rm 8.18).

“Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (v.18). Ou seja, as coisa que agora vemos está aqui hoje, mas desaparecerão amanhã. As coisas que não vemos agora irão durar para sempre. “Foi por isso Abraão não se encantou com a planície de Sodoma; foi por isso que Moisés abandonou as glórias do Egito para receber uma recompensa superior (Hb 11.27).

1)    Olhando para cima
“Estamos certos de que esta nossa temporária habitação terrena for destruída, temos da parte de Deus, uma casa eterna nos céus, não construída por mãos humanas”. (2 Co 5.1).

Muitos pensam que a morte é o fim da existência.
Outros pensam que depois da morte a alma fica vagando em busca de luz.
Outros pensam que depois da morte a alma se reencarna em outra pessoa.
Outros que pensam que depois da morte a alma vai para o purgatório
Outros que pensam que alma fica dormindo com o corpo na sepultura
E, finalmente, os que pensam que alma dos ímpios serão aniquiladas. Todas essas teorias não têm fundamento bíblico|

Neste versículo Paulo chegou a uma perfeita compreensão sobre a temporalidade e fragilidade do nosso corpo e o equiparou a uma simples tenda nômade. Nossa habitação no céu, no entanto, é sólida e permanente.  Então, quando morrermos, mudaremos do que é temporário para o que é permanente, da tenda para casa. “Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E quando este corpo corruptível se revestir da incorruptibilidade, o que é mortal se revestir da imortalidade então se cumprirá que está escrito: tragada foi a morte pela vitória” (1 Cor 15.53,54). 


2)    Enquanto isso, gememos
“Enquanto estivermos morando nessa tenda, gememos...”(v.2). O verbo “gemer” está no presente e isso enfatiza o contínuo gemer da vida terrena: doença, pandemia, fraqueza, dor, morte, etc. Paulo fala que a criação está gemendo aguardando a libertação do seu cativeiro (Rm 8.22). Os crentes estão gemendo aguardando a redenção do seu corpo e o Espírito Santo leva nossos gemidos à Deus (Rm 8.26). 



Para que?
“Aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial ... queremos ser revestidos ... para que o mortal seja absorvido pela vida” (vs. 2-4). Paulo muda a figura da tenda para a figura das vestes. Para ele, morrer é como ficar nu, mas na segunda vinda, os que estiverem vivos serão revestidos da imortalidade. Nosso corpo será glorioso como o fulgor do firmamento, como as estrelas, sempre e eternamente (Dn 12.3).

Paul descreve seu anseio pelo novo corpo usando duas metáforas. Primeira, a metáfora do vestir um vestuário extra, que recobre o que já está usando: “os que estamos neste tabernáculo... queremos ser revestidos”. A segunda metáfora, é de uma coisa que é devorada por outra, de tal forma que a primeira cessa de existir como era antes, mas é absorvida e transformada pela outra.

“Gememos angustiados não pelo desejo de morrer, mas pelo desejo de sermos tragados pela imortalidade. Gememos não para sermos despidos do corpo mortal, mas para sermos revestidos do corpo imortal. Ansiamos não pela morte, mas pela transformação”.

3)    Temos uma garantia
“Ora, foi o próprio Deus que nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito” (2 Co 5.5)

O penhor do Espírito é a garantia de que a obra que Deus começou a fazer em nós será concluída (Fl 1.6). O termo “penhor” trata-se da primeira prestação com garantia de que as demais serão efetuadas. Assim o cristão pode gozar aqui o sabor da vida eterna. Ele tem um pé nesta época; e o outro na eternidade. Seu corpo está sobre a terra, mas seu coração está no céu. 



“Temos, portanto, sempre bom animo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor... preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2 Co 5.6-8). “Acham que uns buracos na estrada ou algumas pedras no caminho irão nos parar? Quando chegar a hora, estaremos prontos para trocar o exilio pelo nosso verdadeiro lar” (v.8, a mensagem).

Estamos peregrinando nesse mundo, nessa tenda frágil e temporária, estamos ainda ausentes do Senhor. Agora, nós o vemos apenas pelos olhos da fé. Mas, quando mudarmos desse tabernáculo terreno para a nossa mansão celestial, semelhante ao corpo de Cristo, haveremos de estar com ele fisicamente, vendo-o face a face.

“É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis” (vs. 9). Ou, “mas nem o exilio nem o nosso verdadeiro lar são o que mais importam. Servir a Deus com alegria é o principal e o que desejamos fazer, a despeito das circunstancias” (a mensagem).

Conclusão: O tribunal de Cristo 


“Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem e o mal que tiver feito por meio do corpo” (v.10) A palavra grega para tribunal é “bema” , significa assento, plataforma, tribunal. Era em um tribunal onde se tomavam as decisões oficiais. Algumas qualidades do tribunal de Cristo:

O tribunal de Cristo será justo. Aqui os homens torcem as leis, escapam da justiça e torcem o direito do inocente. Mas quem poderá escapar do tribunal de Cristo? O que plantamos aqui, colheremos na eternidade!

O tribunal de Cristo será imparcial. Aqui a justiça está de ponta cabeça. Vemos Herodes no trono e João Batista na prisão; vemos Nero dando ordens para decapitar um homem da estatura do apostolo Paulo. Mas o tribunal de Cristo é imparcial, todos terão que comparecer diante dele para ser julgados segundo as suas obras.

O tribunal de Cristo será meticuloso e revelador. Meticuloso porque nossas palavras, ações, omissões e pensamentos serão julgados; o que nós semearmos, isso será o que colheremos (Gl 6.7-8). Será revelador, o termo traduzido por “comparecer” pode ser traduzido por “revelar”. A revelação envolverá tanto o caráter do nosso serviço (1 Co 3.13), quanto as motivações que nos impeliram (1 Co 4.5).

  

sábado, 9 de maio de 2020


Emily: quando o mundo desaba. 


Se antes de setembro alguém me perguntasse quais eram meus motivos de gratidão, eu responderia que era grata por minha família, minha casa, meu emprego e por Deus. E ainda, pelo marido que me amava e cuidava de mim, por quatro filhos (de catorze, onze, nove e cinco anos de idade) saudáveis e alegres, por um lar que nunca imaginei ter na vida, por uma carreira profissional que me permitia trabalhar em casa, usar meu cérebro e melhorar a vida da empresa e de meus clientes, e pelo Deus que proveu tudo isso para mim, apesar de eu não merecer nada.  

Em setembro, da noite para o dia, meu marido me deixou, e aos nossos quatro filhos, por outra mulher (que também abandonou o marido e dois filhos). Eles eram nossos amigos; tínhamos passado férias juntos três vezes. Eu pensava que eles fossem nossos amigos.

Meu coração morreu dentro de mim. Isso não podia estar acontecendo. Meu marido cristão, o homem que, junto comigo, explicou aos nossos filhos que, embora o divórcio fosse uma realidade, nunca aconteceria conosco. Havíamos feito uma aliança, prometido a Deus e um ao outro que — não importa o que acontecesse — continuaríamos juntos como casal e família. Chorei e implorei a ele que não nos abandonasse, que buscaríamos a solução. 



 Não teve jeito; ele estava nos deixando. Perguntei o que ele ia dizer às crianças; ele respondeu que não sabia. Eu disse a ele: “Você não pode ir embora sem dar uma explicação a elas”. Achei que isso iria sacudi-lo; ele não conseguiria encarar os filhos preciosos e dizer que os estava abandonando... mas foi o que fez. Ele chamou as crianças, que estavam na cama, e avisou que estava saindo de casa. Elas não entenderam... Ele iria viajar a trabalho? Quando voltaria? Não, crianças, estou me mudando desta casa; não vou mais voltar. E foi embora. Ficamos destroçados. 




Depois de dois meses, meu coração continuava esmagado. Senhor Deus, esse é mesmo teu plano? Como? Sei que vais curar meu coração, sei que alguma coisa boa resultará disso tudo, mas como e por que ISSO? Sinto tua presença, sinto que as pessoas estão orando...mas o que será de nós? Nunca fiquei tão irada. Nossos filhos, coitados, estão sofrendo terrivelmente; os “desejos” do pai estão acima das “necessidades” deles. “Continuo amando meus filhos”, ele diz. É mesmo? Como você pode amá-los e magoá-los tanto assim?

Depois de quatro meses, Deus começou a me curar de um jeito que não me agradou muito. Quero justiça, mas não sou eu quem deve aplicá-la. Estou começando a tentar orar por ele... não a respeito dele. Oro para que seu coração seja curado. Para que ele volte, não para mim, mas para Deus. Tenho de prosseguir sem ele, por enquanto e talvez para sempre, mas, para ficar livre da amargura, preciso perdoá-lo. Não serei uma mulher amargurada pelo resto da vida.

Mas como fazer isso? Deus me manda orar, então eu oro. Amo meus filhos, e sempre vou amar o homem com quem me casei. Oro por um milagre — para que ele se liberte disso e encontre o caminho de volta ao lar — mas também estou prosseguindo sem ele. Planejo e tento continuar com minha vida, com tudo o que precisa ser feito do ponto de vista prático, espiritual, emocional e financeiro. Continuarei a orar por ele regularmente, continuarei a amá-lo (mas não serei um capacho). Vou ser um apoio para meus filhos e seguir o plano de Deus para nossa vida. Vou perdoar, mas não esquecer, pois se esquecer, não estarei capacitada a ajudar quem estiver passando pelo mesmo horror.

Tenho de sofrer, permitir que Deus cure a dor, e então me transforme na pessoa que ele sempre quis que eu fosse. Por algum motivo, eu me sinto animada. Não faz nenhum sentido; ficar empolgada enquanto atravesso esse pesadelo. Seis meses se passaram, minha situação piorou, mesmo assim eu me sinto
verdadeiramente abençoada.

Meu marido não voltou; continua a viver com a namorada. Ele avisou que os dois farão parte da vida dos nossos filhos, que eu preciso me acostumar e não odiá-la. Disse que, se eu for inimiga dela, seria dele também. Meus filhos continuam lutando com o impacto acusado pelo pai; estão deprimidos, furiosos, confusos e frustrados. O mais velho começou a questionar a fé; está se rebelando contra todo tipo de autoridade e descontando nos irmãos. Minha casa está à venda; venda a descoberto (venda de imóvel financiado em que o credor aceita um valor menor — a descoberto — do que o valor devido para liberar o proprietário da hipoteca), e que pode terminar em execução da hipoteca. Não tenho a mínima ideia de onde vamos morar.

Ainda assim, em meio ao turbilhão, estou conhecendo a Deus num nível diferente, vejo o Senhor trabalhar de um modo que eu só ouvia falar. Experimentar isso é simplesmente extraordinário. Eu nunca havia passado por uma tragédia; nunca precisei depender de Deus. Quer dizer, claro que eu orava e via Deus agir, mas não assim. Nunca precisei confiar em Deus, simplesmente cair em seus braços e descansar nele. Quando precisava do consolo de Deus, eu me via agarrada a Jesus, enquanto ele me abraçava. Hoje, eu me vejo completamente prostrada, enquanto ele me carrega nos braços — e isso é espetacular.

Em meio a essa situação horrível, na qual toda minha identidade e meus filhos foram atacados, eu vislumbro o que Deus está fazendo e como minha vida, nossas vidas, serão transformadas, e estou entusiasmada para ver como serei quando tudo isso acabar. É como se você estivesse numa corrida; de repente começa a chover e você encontra uma poça de lama. Não dá para contornar a poça, você tem de atravessá-la; a chuva e a lama diminuem seu ritmo; você não consegue atravessar rapidamente; é preciso se concentrar em cada passo doloroso... porém, ao mesmo tempo, alguma coisa mantém você em pé, animando-o a continuar. À distância, você vê o que parece ser uma cortina de água (como a que sai da máquina de um lava-rápido) e então ele aparece: o sol; numa visão perfeitamente clara...

Quando chegar lá, você será uma pessoa mais forte, com mais conhecimento sobre como deve correr essa carreira, e terá contentamento/paz. É verdade que estará exausta, mas também revigorada pela experiência. Mal posso esperar para colocar em prática o que Deus está me ensinando; mal posso esperar para aprender mais. Foi dessa maneira que expliquei a situação para meus filhos: todos os contos de fadas têm um acontecimento trágico, e a protagonista enfrenta a adversidade, a derrota e fica mais forte por causa dela. Deus está escrevendo nosso conto de fadas — como vocês acham que ele vai terminar? 


Fonte: Thimothy Keller

terça-feira, 5 de maio de 2020


Espiritualidade em meio ao caos – Jeremias 15.


Introdução:

No capítulo 14, Jeremias profetiza a chegada da seca, da fome e da guerra sobre Jerusalém. No meio da calamidade, o profeta se dirige a Deus: “Por que ages como um guerreiro que não podes salvar? ” (v.9) Ele se acha numa encruzilhada: “Se parto para o campo, vejo os que foram mortos pela espada; se adentro à cidade, vejo os debilitados pela fome. O profeta e o sacerdote percorrem a terra e não compreendem nada!  Então, o profeta questiona a Deus: “...Por que nos feriste, sem que haja possibilidade de cura para nós? Aguardamos a paz, mas não chegou bem algum; aguardávamos um tempo de cura, mas há somente terror” (vs. 18-19).

1)    Um profeta que orava
Há sete passagens no livro de Jeremias que são denominadas confessionais, confissão à Deus (Jr 8.18 -9.3; 11.18-23; 12.1-6; 15.10-12, 15-21; 17.14-18, 18-23; 20.7-18). “Oh! Se eu pudesse consolar-me na minha tristeza! O meu coração desfalece em mim” (8.18) ... Em cada uma delas, o profeta fala na primeira pessoa, abrindo seu coração.

Quando olhamos para Jeremias em sua vida particular, não o encontramos em companhia de alguns amigos pessoais, em animada conversa, trocando histórias sobre Deus, porquanto Deus não é algo para ser discutido, mas vivido. O que vemos, portanto, é Jeremias em constante oração: dirigindo-se para Deus e ouvindo sua resposta. 


A oração é o meio pelo qual nos aproximamos de Deus como um ser pessoal, como alguém com quem se pode conversar. O ato de orar é dar atenção para aquele que nos escuta e assiste. É a decisão e nos aproximarmos de Deus como Nosso Senhor e Salvador.

2)    O quarto secreto
Imagine você com mais alguém sentado em um restaurante dialogando coisas particulares, enquanto isso o garçom serve uma comida toda especial. Não há mais ninguém, somente vocês e uma luz é refletida sobre a mesa e todo o resto do recinto está em escuro.

Assim é a oração, ela nunca ocorre na mais completa e absoluta solidão, mas na intimidade. A oração é o desejo de ouvir a Deus, de falar com Ele, em primeira mão, e então, estabelecer um tempo reservado. Este sentimento origina-se na convicção de que o Deus vivo é, imensamente, importante para mim, e o que acontece entre nós exige minha atenção exclusiva.

Mas, o que acontece na prática é totalmente diferente. Os detalhes são os mesmos, com duas diferenças: a pessoa sentada à mesa é o seu ego, e o garçom é Deus. Ele é alguém para quem você dá ordens, faz suas reclamações. E, talvez, no final, diga obrigado. A pessoa que lhe absorve é o eu – suas idéias, seus sentimentos, interesses e satisfações ou a falta deles. 


Surge uma pergunta: O que acontecia estes momentos íntimos entre Jeremias e Deus? Sabemos que o profeta se encontrava com Deus em segredo, mas o que ele falava? Quando olhamos para Jeremias em oração, vemos um homem assustado, solitário, ferido e irado. Senão, vejamos:

A)    perseguido
“Tú, ó Senhor, o sabes; lembra-te de mim, ampara-me e vinga-me dos meus perseguidores” (Jr 15.15 a)
O profeta está assustado: “Não profetizas no nome do Senhor, para que não morras às nossas mãos” (Jr 11.21). Amaldiçoado e perseguido, não havia mais lugar segura para ele. É como se ele dissesse a Deus: “Voce é que me colocou nisto, agora me tira desta confusão”.

Ele prossegue, ao comparar o seu próprio sentimento de urgência e a deliberada paciência de Deus: “Não me deixes ser arrebatado, por causa da tua longanimidade, sabe que por amor de ti tenho sofrido afronta” (15 b). Uma outra tradução traz mais luz a este texto: “Por sua paciência estou sendo destruído! Considere! Por tua causa estou sofrendo abusos”. Em outras palavras: “Não sejas tão generoso com os meus perseguidores, dando-lhe tempo para me destruir”.

“OS MOINHOS DA AÇÃO DIVINA GIRAM MOROSAMENTE, ENQUANTO OS MOTORES DA PERSEGUIÇÃO OPERAM DE FORMA FRENÉTICA”

b) solidão
“Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó Senhor, Deus dos exércitos. Nunca me assentei na roda dos que se alegram, nem me regozijei; oprimido por tua mão, eu me assentei solitário, pois já estou de posse das tuas ameaças”’   (vs. 16,17).

Uma vez, tendo provado o gosto supremo pela Palavra de Deus, ele não podia retornar à insipida dieta de fofocas e boatos. Era uma jornada sem volta e solitária.

c) sofrimento e ira
“Porque dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura? ” (v.18)

“Serias tu para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam? ” (.18 b).
Jeremias já havia pregado que Deus era “manancial de águas puras” e, tudo que tinha além de Deus era “cisternas rotas, que não retém água” (Jr 2.13), agora, o profeta o acusa de ser “um ribeiro ilusório”, como um desses pequenos cursos d’água que, à distância, parecem existir no deserto, mas quando se chega mais próximo de suas margens, descobre-se que o leito está seco. “Tu me iludiste, Senhor, e eu fui iludido. Foste mais forte do que eu e prevaleceste. Sou motivo de riso o dia inteiro; todos zombam de mim” (Jr 20.7).

3)    Deus responde
“Portanto, assim diz o Senhor: se tu te arrependeres, eu te farei voltar e estarei diante de ti” (v.19 a).

Deus responde: “eu compreendo toda a sua dor, solidão, sofrimento e ira, mas não serei indulgente com você com base nisso. Abandone-as e arrependa-se. Se você parar com tal conversa, então eu te restaurarei, o farei voltar ao oficio profético.

Deus sente as nossas dores, mas ele não é complacente com a nossa autopiedade. Arrependa-se, desvie desse tipo de sentimentos, pois são nocivos, perigosos ou destrutivos. Então, eu o restaurarei; o colacarei em pé, pronto a servir novamente, em minha presença.

Conclusão:
“Se apartares o precioso do vil, serás a minha boca; e eles se tornarão a ti, mas tu não passarás para o lado deles” (v.19 b). 

“Tu serás a minha boca”, deixem que eles mudem para o seu lado, não passe para o lado deles. O fato de Deus estar em primeiro lugar faz toda diferença, neste mundo. QUEM ESTÁ EM PRIMEIRO LUGAR? DEUS OU POVO? O que realmente desejo fazer com a minha vida? Amar e bajular os outros, agradar aos outros ou a Deus? A oração é o lugar onde as prioridades são restabelecidas. 



“Eu te porei contra esse povo como forte muro de bronze; eles pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; por que eu Sou contigo para te salvar, para te livrar deles, diz o Senhor. Eis que eu mesmo te livrarei das mãos dos ímpios e te resgatarei das garras dos perversos e sanguinários” (vs. 20,21).

Jeremias já havia ouvido estas palavras antes, em sua juventude: “Eis que te coloco a partir de hoje, como uma coluna de ferro, como uma muralha de bronze, diante de toda terra...” (Jr 1.18). Precisamos ouvir novamente, a oração é o ato no qual ouvimos de novo.