terça-feira, 5 de maio de 2020


Espiritualidade em meio ao caos – Jeremias 15.


Introdução:

No capítulo 14, Jeremias profetiza a chegada da seca, da fome e da guerra sobre Jerusalém. No meio da calamidade, o profeta se dirige a Deus: “Por que ages como um guerreiro que não podes salvar? ” (v.9) Ele se acha numa encruzilhada: “Se parto para o campo, vejo os que foram mortos pela espada; se adentro à cidade, vejo os debilitados pela fome. O profeta e o sacerdote percorrem a terra e não compreendem nada!  Então, o profeta questiona a Deus: “...Por que nos feriste, sem que haja possibilidade de cura para nós? Aguardamos a paz, mas não chegou bem algum; aguardávamos um tempo de cura, mas há somente terror” (vs. 18-19).

1)    Um profeta que orava
Há sete passagens no livro de Jeremias que são denominadas confessionais, confissão à Deus (Jr 8.18 -9.3; 11.18-23; 12.1-6; 15.10-12, 15-21; 17.14-18, 18-23; 20.7-18). “Oh! Se eu pudesse consolar-me na minha tristeza! O meu coração desfalece em mim” (8.18) ... Em cada uma delas, o profeta fala na primeira pessoa, abrindo seu coração.

Quando olhamos para Jeremias em sua vida particular, não o encontramos em companhia de alguns amigos pessoais, em animada conversa, trocando histórias sobre Deus, porquanto Deus não é algo para ser discutido, mas vivido. O que vemos, portanto, é Jeremias em constante oração: dirigindo-se para Deus e ouvindo sua resposta. 


A oração é o meio pelo qual nos aproximamos de Deus como um ser pessoal, como alguém com quem se pode conversar. O ato de orar é dar atenção para aquele que nos escuta e assiste. É a decisão e nos aproximarmos de Deus como Nosso Senhor e Salvador.

2)    O quarto secreto
Imagine você com mais alguém sentado em um restaurante dialogando coisas particulares, enquanto isso o garçom serve uma comida toda especial. Não há mais ninguém, somente vocês e uma luz é refletida sobre a mesa e todo o resto do recinto está em escuro.

Assim é a oração, ela nunca ocorre na mais completa e absoluta solidão, mas na intimidade. A oração é o desejo de ouvir a Deus, de falar com Ele, em primeira mão, e então, estabelecer um tempo reservado. Este sentimento origina-se na convicção de que o Deus vivo é, imensamente, importante para mim, e o que acontece entre nós exige minha atenção exclusiva.

Mas, o que acontece na prática é totalmente diferente. Os detalhes são os mesmos, com duas diferenças: a pessoa sentada à mesa é o seu ego, e o garçom é Deus. Ele é alguém para quem você dá ordens, faz suas reclamações. E, talvez, no final, diga obrigado. A pessoa que lhe absorve é o eu – suas idéias, seus sentimentos, interesses e satisfações ou a falta deles. 


Surge uma pergunta: O que acontecia estes momentos íntimos entre Jeremias e Deus? Sabemos que o profeta se encontrava com Deus em segredo, mas o que ele falava? Quando olhamos para Jeremias em oração, vemos um homem assustado, solitário, ferido e irado. Senão, vejamos:

A)    perseguido
“Tú, ó Senhor, o sabes; lembra-te de mim, ampara-me e vinga-me dos meus perseguidores” (Jr 15.15 a)
O profeta está assustado: “Não profetizas no nome do Senhor, para que não morras às nossas mãos” (Jr 11.21). Amaldiçoado e perseguido, não havia mais lugar segura para ele. É como se ele dissesse a Deus: “Voce é que me colocou nisto, agora me tira desta confusão”.

Ele prossegue, ao comparar o seu próprio sentimento de urgência e a deliberada paciência de Deus: “Não me deixes ser arrebatado, por causa da tua longanimidade, sabe que por amor de ti tenho sofrido afronta” (15 b). Uma outra tradução traz mais luz a este texto: “Por sua paciência estou sendo destruído! Considere! Por tua causa estou sofrendo abusos”. Em outras palavras: “Não sejas tão generoso com os meus perseguidores, dando-lhe tempo para me destruir”.

“OS MOINHOS DA AÇÃO DIVINA GIRAM MOROSAMENTE, ENQUANTO OS MOTORES DA PERSEGUIÇÃO OPERAM DE FORMA FRENÉTICA”

b) solidão
“Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó Senhor, Deus dos exércitos. Nunca me assentei na roda dos que se alegram, nem me regozijei; oprimido por tua mão, eu me assentei solitário, pois já estou de posse das tuas ameaças”’   (vs. 16,17).

Uma vez, tendo provado o gosto supremo pela Palavra de Deus, ele não podia retornar à insipida dieta de fofocas e boatos. Era uma jornada sem volta e solitária.

c) sofrimento e ira
“Porque dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura? ” (v.18)

“Serias tu para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam? ” (.18 b).
Jeremias já havia pregado que Deus era “manancial de águas puras” e, tudo que tinha além de Deus era “cisternas rotas, que não retém água” (Jr 2.13), agora, o profeta o acusa de ser “um ribeiro ilusório”, como um desses pequenos cursos d’água que, à distância, parecem existir no deserto, mas quando se chega mais próximo de suas margens, descobre-se que o leito está seco. “Tu me iludiste, Senhor, e eu fui iludido. Foste mais forte do que eu e prevaleceste. Sou motivo de riso o dia inteiro; todos zombam de mim” (Jr 20.7).

3)    Deus responde
“Portanto, assim diz o Senhor: se tu te arrependeres, eu te farei voltar e estarei diante de ti” (v.19 a).

Deus responde: “eu compreendo toda a sua dor, solidão, sofrimento e ira, mas não serei indulgente com você com base nisso. Abandone-as e arrependa-se. Se você parar com tal conversa, então eu te restaurarei, o farei voltar ao oficio profético.

Deus sente as nossas dores, mas ele não é complacente com a nossa autopiedade. Arrependa-se, desvie desse tipo de sentimentos, pois são nocivos, perigosos ou destrutivos. Então, eu o restaurarei; o colacarei em pé, pronto a servir novamente, em minha presença.

Conclusão:
“Se apartares o precioso do vil, serás a minha boca; e eles se tornarão a ti, mas tu não passarás para o lado deles” (v.19 b). 

“Tu serás a minha boca”, deixem que eles mudem para o seu lado, não passe para o lado deles. O fato de Deus estar em primeiro lugar faz toda diferença, neste mundo. QUEM ESTÁ EM PRIMEIRO LUGAR? DEUS OU POVO? O que realmente desejo fazer com a minha vida? Amar e bajular os outros, agradar aos outros ou a Deus? A oração é o lugar onde as prioridades são restabelecidas. 



“Eu te porei contra esse povo como forte muro de bronze; eles pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; por que eu Sou contigo para te salvar, para te livrar deles, diz o Senhor. Eis que eu mesmo te livrarei das mãos dos ímpios e te resgatarei das garras dos perversos e sanguinários” (vs. 20,21).

Jeremias já havia ouvido estas palavras antes, em sua juventude: “Eis que te coloco a partir de hoje, como uma coluna de ferro, como uma muralha de bronze, diante de toda terra...” (Jr 1.18). Precisamos ouvir novamente, a oração é o ato no qual ouvimos de novo.



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