terça-feira, 28 de outubro de 2014


HISTÓRIAS MISSIONÁRIAS: 

William Carey viaja para a Índia.



Um navio ergueu suas velas contra o vento de abril e desceu o rio Tâmisa, rumo ao canal da Mancha. Ele se dirigia à Índia, levando William Carey, o ardoroso sapateiro que se tornara pregador, e seu amigo missionário, o dr. John Thomas.

Os dois homens levantaram fundos, empacotaram suas coisas e se despediram. Agora, o navio seguia pela costa da Inglaterra antes de penetrar em mar aberto. Anos de sonhos, de orações e de preparação pareciam perto de seu cumprimento na vida de Carey.

Porém, o mar encrespado e os perigos da guerra da Inglaterra com a França colocaram fim às esperanças ambiciosas de Carey: a viagem foi cancelada. Intrépido, Carey — que chamava a si mesmo de "lutador", mas que era, na verdade, um incansável visionário — marchou por entre um sem-número de oposições e passou por todos os tipos de dificuldades para realizar seu trabalho.

Sua infância foi pobre. Seu pai era um tecelão que dava aulas para ajudar a sustentar os cinco filhos. William era o mais velho e aprendeu a ler e escrever com entusiasmo, devorava livros de aventura como Robinson Crusoe e As viagens de Gulliver. Sua saúde nunca foi muito forte, mas ele conseguiu aprender o ofício de sapateiro.

Aos dezessete anos, freqüentava uma igreja dissidente com um amigo, época em que assumiu um compromisso com Cristo. Deixou a Igreja Anglicana onde fora criado, provocando a desaprovação de seu pai, e tornou-se cada vez mais ativo junto aos dissidentes. Ele se casou e começou a pregar nas igrejas. Durante algum tempo, caminhava doze quilômetros todos os domingos para pregar em uma igreja pobre em uma cidade vizinha. Mergulhou no estudo do Novo Testamento e da língua grega e, de alguma maneira, conseguiu levar três carreiras em paralelo: sapateiro, professor e pastor.

Além da saúde debilitada, havia as dificuldades em família. Um filho morrera ainda bebê. Sua esposa passou por dificuldades, as quais se transformariam em uma seqüência de problemas mentais. Raramente tinham dinheiro suficiente para alimentação adequada. A despeito de tudo isso, Carey ficou cada vez mais obcecado pela obrigação de os cristãos levarem o evangelho às multidões em outros países.

Nas reuniões de ministros de sua área, Carey defendia a causa de que os cristãos deveriam espalhar o evangelho para as terras distantes. Ele era constantemente contestado. "Se Deus quer salvar os índios", diziam, "ele vai fazer isso mesmo que não tenha a minha ajuda ou a sua". Chegou até mesmo a ponto de publicar um tratado chamado Investigação sobre a obrigação dos cristãos de empregar meios para a conversão dos pagãos, em que defendia a idéia das missões estrangeiras. Foi um trabalho primoroso, mas que não foi bem compreendido.

Três semanas depois de o tratado ter sido publicado, a Associação dos Ministros convidou Carey para ministrar-lhes uma palestra. Carey usou o texto de Isaías 54.2,3: 'Alargue o lugar de sua tenda...". Seu tema era: "Espere grandes coisas de Deus; faça grandes coisas para Deus". Porém, seus ministros permaneceram impassíveis. Conforme a reunião se aproximava do final, Carey desabafou com grande frustração: "Será que, mais uma vez, não farão nada?". Poique ele não conseguia encontrar outras pessoas dispostas a compartilhar e levar adiante sua visão?

Uma chama, no entanto, fora acesa. Na reunião seguinte, foi formada uma sociedade missionária. O médico cristão John Thomas dispôs-se a servir na índia, mas ele precisava de um associado. Carey decidiu ir com ele.

A situação parecia absurda. Carey tinha uma esposa grávida e três filhos pequenos. Será que ele conseguiria vencer as pressões físicas de sua própria saúde debilitada? Aquilo, porém, era a realização de seus sonhos. Carey se dispôs a seguir adiante, apesar de muitos contratempos: após uma rápida incursão para levantar fundos, estes ainda eram escassos; o dr. Thomas estava sendo procurado por credores que não haviam recebido seu dinheiro; sua esposa recusou-se a viajar com ele; e, além disso tudo, a repentina interrupção da viagem do navio. Esse atraso deu a ele mais tempo para voltar para casa e convencer sua esposa, Dorothy, a acompanhá-lo.

Pouco tempo depois, estavam de partida novamente, chegando a Calcutá em novembro de 1793. Porém, os problemas continuaram: as condições eram horríveis; a saúde deles não estava boa; Thomas continuou a acumular dívidas, e não havia conversões. Seu filho mais jovem morreu, e os dois mais velhos eram muito indisciplinados.

Em 1800, a família Carey se mudou para Serampore, juntando-se a um grupo de missionários dinamarqueses. Ai, eles presenciaram a primeira conversão ao cristianismo, devido, em parte, aos esforços do filho mais velho de Carey Félix, agora cristão. Em pouco tempo, uma igreja foi formada, e uma tradução do Novo Testamento para a língua bengali foi concluída.

Três décadas de sucesso missionário estavam apenas começando. A época de sua morte, em 1834, Carey já havia traduzido a Bíblia para 44 línguas ou dialetos e dera início a diversas escolas. Várias frentes missionárias evangelizaram ativamente a India e os países vizinhos, Birmânia e Butão. Porém, além dessas estatísticas, Carey desenvolveu uma filosofia de missões passível de ser executada e a colocou em prática.

Ele estava muito à frente de seu tempo. Tinha um imenso respeito pela cultura da índia e via a necessidade da criação de uma igreja indiana autóctone. Em vez de utilizar muito tempo condenando o hinduísmo, proclamava a morte e a ressurreição de Cristo.

Embora tenha realizado grandes feitos individuais, Carey também foi uma pessoa que trabalhava de forma magistral em equipe. Com base na sua experiência, ele aprendeu que a equipe de missões é mais forte do que os indivíduos que fazem parte dela. Carey também enfatizou o valor das mulheres como parte dessas equipes.

Às vezes, temos a idéia, equivocada, de que Carey foi o único responsável por colocar a igreja na era das missões, mas, na verdade, ele foi um dos muitos cristãos ocidentais chamados para apoiar o trabalho de missões estrangeiras. Sua voz foi simplesmente uma das mais claras, pois suas palavras foram fundamentadas com sua própria vida.

William Booth funda o Exército de Salvação.


Com o crescimento da indústria, cresceram também os abusos contra a classe trabalhadora.
A Inglaterra saía de um estilo de vida agrícola e iniciava uma vida centrada nas fábricas, o que fez com que as favelas de Londres crescessem. Milhares de pessoas chegavam à cidade, vindas do interior, à busca de trabalho, mas, com freqüência, trabalhavam e moravam nas piores condições possíveis.

A igreja deveria ser a primeira a aliviar o sofrimento dessa gente, mas ela estava perdida. Como toda a Inglaterra, Londres fora dividida em paróquias, em distritos que não mudavam havia séculos. A despeito da crescente população da cidade, a Igreja da Inglaterra não tinha provisões para novas igrejas e novos clérigos. Para criar uma nova paróquia era preciso que houvesse a aprovação do Parlamento, o que era um processo vagaroso.

A Igreja Metodista, denominação que atendia a classe média, também não foi capaz de atingir de maneira eficiente a classe trabalhadora. Os metodistas fizeram esforços para alcançar os que haviam abandonado a Igreja da Inglaterra, mas os pobres que moravam nos becos permaneciam distantes do Evangelho.

Preocupado com o clamor dos pobres, William Booth e sua esposa, Catherine, fundaram em 1865 uma missão aos pobres, localizada em uma área periférica de Londres, o East End. Aquele começo em uma humilde tenda deu início ao ministério do Exército de Salvação.

Ao redor do casal de evangelistas estavam lares superlotados, nos quais havia violência familiar, bebedeira, prostituição e desemprego. A prosperidade, marca da classe média vitoriana, não se estendia à região de East End.
Os esforços legais pareciam não resolver o problema, e William acreditava que a situação só mudaria quando o coração das pessoas fosse transformado. Uma vez conhecendo Jesus Cristo, o comportamento das pessoas poderia melhorai; além de suas condições de vida.

Isso não significava que os Booths ignoravam os problemas ao seu redor. Eles criaram estabelecimentos comerciais chamados de Comida para os Milhões, oferecendo refeições baratas. Se a pessoa estivesse de estômago cheio, seria mais fácil ouvir a mensagem da salvação de Cristo.

Embora Booth seguisse muitas das idéias organizacionais da Igreja Metodista, que abandonara, ele foi além, terminando por criar uma organização que seguia as linhas militares. Um de seus seguidores fez a propaganda de uma reunião chamando-a de "o exército de aleluias lutando para Deus". O forte controle que Booth exercia sobre sua organização levou algumas pessoas a chamá-lo de general. Em 1878, o grupo assumiu o nome de Exército de Salvação. Seu general, cônscio de sua atitude, já o havia organizado com uniformes, oficiais, bandas marciais e uma revista chamada O Brado da Guerra (publicada até hoje).

Alguns cristãos sentiram-se ofendidos pelo Exército. Além do mais, as bandas que marchavam pela cidade não tinham a dignidade da música anglicana. Será que o Diabo estaria usando o Exército de Salvação para fazer com que o cristianismo parecesse uma coisa ridícula? O Exército, no entanto, fazia sucesso. As bandas podiam ser ouvidas por todas as ruas da cidade e tocavam músicas seculares, de apelo popular, com letras cristãs. "Por que o Diabo ficaria com todas as melhores músicas?", perguntava Booth.

Além disso, a vida familiar melhorou por causa da influência do Exército de Salvação. Abordava-se efetivamente os problemas da fome e da falta de habitação, e o Evangelho era pregado a muitos que nunca haviam colocado os pés em uma igreja.

Contudo, se os cristãos tinham objeções ao Exército de Salvação, alguns não-cristãos tinham reações ainda mais fortes. A medida que a classe trabalhadora se convertia a Cristo, levava adiante a política de abstinência do Exército. Isso influenciou o mercado dos fabricantes de bebidas, que se tornou particularmente hostil ao Exército de Salvação. Durante as últimas duas décadas do século xix, os oficiais do Exército foram assaltados, e seus imóveis eram depredados.

Porém, até mesmo os piores zom-badores tinham de admitir que o Exército fizera um bom trabalho ao transformar devassos e exploradores de crianças em pais estáveis e bons trabalhadores.

Catherine, esposa de Booth, a-poiou de maneira hábil os esforços de seu marido, e a missão do casal foi levada adiante por sua numerosa prole. O Exército de Salvação espalhou-se não apenas por toda a Inglaterra, mas chegou a todos os cantos do mundo.

William viajou cerca de 8 milhões de quilômetros, pregou aproximadamente 60 mil sermões e alistou cerca de 16 mil oficiais para trabalhar com ele. Seu livro mais famoso, intitulado In darkest England and the way out [A Inglaterra mais torpe e a solução para o problema] mostrou a muitos vitorianos que eles não precisavam se engajar nas missões estrangeiras para descobrir "pobres ímpios" que precisavam de Jesus Cristo. Booth fundou agências que cuidavam das necessidades físicas e sociais das pessoas, além de pregarem o Evangelho. Em toda a sua carreira, ele desenvolveu técnicas de comunicação às massas e de como compartilhar a mensagem de Cristo. Cerca de 40 mil pessoas compareceram ao seu funeral, em 1912.

Enquanto levava sua mensagem aos pobres da Inglaterra, o Exército de Salvação representava o trabalho incansável daquele que havia ministrado aos pescadores, às meretrizes e aos leprosos.



O jovem de dezessete anos tentava fazer a vida na grande cidade de Boston. Depois de caminhar pelas calçadas por várias semanas, conseguiu trabalho como vendedor de sapatos na loja de seu tio. Morava no andar de cima da loja. "Tenho um quarto no terceiro andar", escreveu, "... posso trabalhar com minha máquina de costura, e existem três edifícios antigos cheios de meninas, as mais bonitas da cidade —, que xingam como papagaios [sic]".
Uma das nove crianças criadas por uma jovem viúva na área rural de Northfield, Massachusetts, Dwight Lyman Moody não recebeu muita instrução, mas tinha sonhos e determinação. Contudo, a cidade de Boston não foi gentil para com ele. "Se o homem quiser sentir que está sozinho no mundo", escreveu Moody certa vez, "ele não precisa ir ao deserto, onde terá a companhia de si mesmo; deixe que vá para alguma dessas grandes cidades e que caminhe pelas ruas onde poderá encontrar milhares de pessoas, mas não achará ninguém que o conheça ou possa reconhecê-lo". 

"Lembro-me de quando saí por aquela cidade à busca de algum trabalho, mas não consegui encontrar nenhum. Parecia que havia um lugar para todas as outras pessoas no mundo [...] exceto para mim. Por quase dois dias tive a horrível sensação de que ninguém me queria."

Moody ouviu os abolicionistas discursarem em um lugar próximo do Faneuil Hall. Passou a freqüentar a Associação Cristã de Moços (acm), organização que, havia pouco tempo, fora importada da Inglaterra, além de começar a freqüentar a Igreja Congregational de Mt. Vernon para ouvir os sermões do famoso Edward Norris Kirk. Moody achou a pregação bastante poderosa e tocante — tão tocante que, por diversas vezes, caiu no sono. "Um jovem aluno de Harvard [...] deu-me um cutucão com o cotovelo, e, a seguir, esfreguei meus olhos com a ponta de meus dedos e acordei. Olhei para o ministro e — vejam só — achei que ele pregava diretamente para mim. Então, falei para mim mesmo: 'Quem será que contou alguma coisa sobre mim ao dr. Kirk?' [...] No final do culto [...] peguei meu casaco e saí dali o mais rápido que pude."

Seu professor da escola dominical, Edward Kimball, tomava conta do jovem Moody, insistindo em que voltasse a prestar atenção quando se desviava. Ele também desafiava Moody a ler a Bíblia com regularidade. Ele até tentou, mas não conseguia entendê-la. "Conheci poucas pessoas com mente tão obscura em termos espirituais como a daquele jovem que começara a freqüentar minha classe", escreveu Kimball mais tarde.

Em 21 de abril de 1855, Kimball achou que era hora de pedir que Moody assumisse um compromisso com Cristo. Ele foi até a loja de sapatos e parou meditativo bem em frente a ela. Pôs-se a caminhar de lá para cá e, sem mais nem menos, como se tivesse mudado de idéia, entrou de repente na loja. Encontrou Moody empacotando sapatos e colocando-os nas prateleiras. O jovem já estava pronto para ouvir. Naquele dia, D. L. Moody tornou-se cristão.

Demorou um pouco para que Moody compreendesse as implicações de sua fé. Na realidade, foi-lhe negada a filiação à igreja porque não passou no exame de admissão: ele não conseguiu explicar o que Cristo fizera por ele. Entretanto, seu coração estava transformado. Ele não tinha vergonha de ser cristão e continuava aprendendo sobre sua fé.

Não demorou muito para ele se cansar de Boston, levando seus sonhos rumo a oeste, para a cidade de Chicago. Seu jeito impetuoso era bem mais aceito ali, e ele se deu bem na venda de sapatos. Também se envolveu em trabalhos evangelísticos. Certa vez, caminhou até uma missão na rua North Wells e perguntou se poderia ensinar em uma classe de escola dominical. Disseram-lhe que a missão tinha muitos professores, mas não havia alunos suficientes. Se ele pudesse trazer alunos, então poderia ensiná-los. Isso não era problema para alguém como Moody, que possuía as habilidades de bom vendedor. Em pouco tempo, ele lecionava para uma multidão de crianças pobres.

Em 1861, Moody já trabalhava em tempo integral no ministério, tanto com a escola dominical quanto na ACM. Ele conseguiu apoio de comerciantes locais como John Farwell e Cyrus McCormick. Em 1864, sua missão foi transformada em igreja.

Em 1871, o ministério de Moody em Chicago era bastante confortável, seguro e próspero. Ele começou a pensar na possibilidade de viajar como evangelista, mas por que deixaria uma situação tão boa? O grande incêndio de Chicago fez com que mudasse de idéia. Sua igreja, sua casa e o prédio da acm se transformaram em um monte de cinzas, e o mesmo aconteceu com o comércio de seus patrocinadores. Seria muito difícil levantar dinheiro em outras cidades para reconstruir o ministério em Chicago, de modo que Moody decidiu botar o pé na estrada.

Ele viajou para a Inglaterra em 1873. Suas reuniões evangelísticas varreram as ilhas britânicas como uma verdadeira tempestade. Depois de dois anos de trabalho na Grã-Bre-tanha, voltou para os eua como uma celebridade internacional. Foi convidado a pregar em muitas cidades americanas.

Seguindo os passos da tradição avivalista estabelecida por Charles Finney, Moody trouxe o evangelismo para a era industrial. Pregava um evangelho simples, livre de divisões denominacionais. Isso expandiu sua influência, assim como o apoio que recebia. Moody fez alianças de peso com os comerciantes respeitáveis, que foram os líderes da nova geração, e não os pregadores. Ele insistia em que os homens colocassem suas riquezas em boas causas, como cuidar dos pobres em áreas urbanas. Moody trouxe técnicas de negócio para o planejamento evangelístico. Música, aconselhamento e acompanhamento eram partes de uma abor dagem organizada para atingir o coração das pessoas.

Em 1879, Moody voltou sua atenção para a educação, criando o Seminário de Northfield, para moças, e depois a Escola Monte Hermom, para rapazes. Deu início às conferências bíblicas de verão e ao Instituto Bíblico, que hoje possui seu nome. Inicialmente, ele temia competir com os seminários já estabelecidos, porém, cada vez mais, percebia a necessidade de treinamento prático para o ministério. Seu problema não estava relacionado tanto com a linha liberal dos seminários norte-americanos, mas o que o perturbava era o isolamento dessas escolas com relação às pessoas comuns. Seu objetivo era treinar comunicadores que pudessem levar a verdade simples de Deus às massas que precisavam dela.

Essa abordagem prática persiste no foco do império que possui seu nome. O Instituto Bíblico Moody, por exemplo, continua a treinar pastores, missionários e outros obreiros. A influência de Moody, no entanto, chegou muito além disso. Ele foi o precursor de evangelistas como Billy Sunday e Billy Graham, e o aspecto social de seu evangelismo ajudou a inspirar profundo compromisso com o ministério social entre os evangélicos.



sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pássaro foi feito pra voar.




Há uma encosta rochosa à margem do lago Montana. Nela existem aberturas nas quais três andorinhas fizeram seus ninhos. Por diversas semanas, em determinado verão, os vôos  alternados daquelas aves pegavam incautos insetos um pouco acima da superfície da água e mergulhavam para o interior das cavidades no penhasco, alimentando primeiro os seus companheiros e, depois, os seus recém-chocados filhotes. Próximo a uma das cavidades na parede rochosa, um galho seco estendia-se pouco mais de um metro sobre a superfície da água.

 Havia três jovens andorinhas aprumadas lado a lado naquele galho. Os pais realizavam longas e abrangentes incursões sobre a água para a coleta de insetos e, então, retornavam para as enormes cavidades onde os ansiosos filhotes aguardavam o alimento com seus bicos bem abertos.

Esse processo prosseguiu por algumas horas até que os pais decidiram que os filhotes já estavam fartos. Então, um dos pais postou-se ao lado dos filhotes e começou a empurrá-los, sem trégua, em direção à extremidade daquele galho seco. O primeiro filhote perdeu o equilíbrio e caiu, mas em algum ponto entre o galho e a superfície da água, suas asas começam a bater e a jovem ave iniciou seu vôo independente pela primeira vez. O mesmo ocorreu com o segundo filhote. Entretanto, as coisas não foram tão naturais para o terceiro. No ultimo momento, a força com que este se agarrava ao galho esmoreceu e ele girou, mas conseguiu firmar-se novamente, ficando de cabeça pra baixo, mas segurando fortemente. A andorinha adulta não teve dó. Ela começou a bicar as garras do filhote e não parou até que as dores foram mais intensas que o medo de voar. As garras soltaram-se do galho e as asas inexperientes começaram a bater. A andorinha adulta sabia o que o filhote não tinha conhecimento – que ele podia voar e que não havia qualquer perigo em agir daquela maneira, pois o filhote fora projetado para alçar vôo.


Os pássaros possuem pés e andam. Também são providos de garras  que lhes possibilitam agarrar-se a um galho com total segurança. Porém, VOAR é sua habilidade característica e somente quando são capazes de voar é que os pássaros estão vivendo em toda a plenitude, de forma bela e graciosa. 

Parafraseado de Eugene Peterson. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Daniel e o fim do mundo. Dn 12



            O menino de quartoze anos que conhecemos no capítulo 1 agora é um ancião de oitenta e sete anos. Através de logos anos, ousou permanecer firme com Deus, estando sozinho em um ambiente hostil, pesado, cercado de inimigos. Aquele que andou com o Senhor no AMANHECER de sua vida anda muito mais perto dele no anoitecer (II Tm 4:6-7).

            Deus levou o idoso profeta a contemplar o futuro mais distante, e, no final do capítulo 11, Daniel viu um individuo perverso que surgirá no fim do mundo. Esta pessoa será completamente ímpia e muitíssimo poderosa, em todo o mundo. Infligirá perseguição inimaginável e sem precedentes contra o povo de Deus, “mas chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (Dn 11.45).

1)    O Fim do mundo (Dn 12:1-4).



De acordo com o sermão profético do Senhor Jesus, o fim do mundo pode ser compreendido por meio do cumprimento de vários sinais: engano religioso, guerras, terremotos, pestilências, apostasia, perseguição, esfriamento do amor, a pregação do evangelho em todo o mundo e o aparecimento do anticristo.

A Bíblia nos fala que, naquele tempo, todas as hostes malignas terão liberdade para agir contra a igreja de Jesus Cristo. Mas não é só isto; “naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que foi achado inscrito no livro” (Lc 10.20; Ap 20.15). São os nomes daqueles a quem Deus amou eternamente e por quem deu o seu Filho. São as ovelhas por quem o pastor morreu, aqueles que o seu Espírito chamou para crerem e serem salvos.

O que será mais importante nesse tempo de “grande tribulação”? Somente o fato de os nossos nomes estarem naquele livro. Não daremos importância à nossa reputação e realizações entre os homens e mulheres. Nossas posses terão sido todas destruídas na grande tribulação.

O dia do aniquilamento do anticristo (Dn 11.45) será também o dia quando nosso Senhor descerá do céu com uma palavra de ordem, a voz do arcanjo e o som da trombeta de Deus (1 Ts 4.16; 1 Co 15.51,52).

O último dia será o dia da ressurreição. “Muitos dos que dorme no pó ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno”. O dia da ressurreição será um dia de divisão. O Rei em sua glória separará os membros da raça humana uns dos outros, como um pastor separa os cabritos  e as ovelhas (Mt 25.32). Todos os túmulos entregarão os seus mortos (Jo 5.28-29). Onde quer que tenham sido colocados, os mortos serão chamados ao grande julgamento (Ap. 20.13-15).

Quem são os “sábios” do versículo 3? Quem são os que “a muitos conduzirem à justiça”? Para compreender isto, precisamos retornar ao capítulo 11, verso 33. Ali fomos informados que nos dias mais severos da opressão de Antíoco Epifânio havia aqueles que circulavam entre o povo, instruindo-os na verdade de Deus. Embora, perseguidos, aprisionados, torturados e assassinados. Durante os dias do anticristo, HAVERÁ OUTRAS PESSOAS “sábias”, que a muitos conduzirão à justiça. Apesar das consequências.  POR MANTEREM A LUZ BRILHANDO NA HORA MAIS ESCURA, “resplandecerão como o fulgor do firmamento; “... como as estrelas, sempre e eternamente” (v.3).

Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro”, diz o nosso Senhor. Estas são as coisas que te revelei na visão. Sela-as”. O velho costume persa era que, uma vez copiado um livro e colocado a público, selava-se uma cópia e colocava-se na biblioteca. Assim, as futuras gerações poderiam lê-lo. É importante notar que isto era feito somente depois que muitas pessoas o tivessem lido.  O QUE O FUTURO NOS TRARÁ ESTÁ GRAVADO NO LIVRO QUE TEMOS CONSIDERADO.

“...O saber se multiplicará” (v.4). Nunca antes houve tanto conhecimento acessível às pessoas. Porém, jamais houve tanta ignorância quanto ao futuro. Em toda sua esperança e temor, os homens tem se mostrado incapazes de adinhar os eventos futuros.

2)    O final do livro de Daniel.
Jesus Cristo permaneceu com Daniel durante todo o tempo da revelação. Mas agora, encontra-se acompanhado por dois outros visitantes celestiais, um de cada lado do rio (v.5). Jesus Cristo não está em nenhuma das margens, mas sobre as águas do rio (v.6). Será que, ao andar sobre as águas, na época dos evangelhos. Jesus tencionava chamar a atenção para passagem e identificar com Aquele que falou com Daniel?



      Enquanto Daniel olha, escuta um dos anjos recém-chegados perguntar a seu Senhor: “Quando se cumprirão estas maravilhas? “ O anjo está indagando quando se cumprirão os eventos profetizados a respeito do fim do mundo.  “O homem vestido de linho”, responde levantando ambas as mãos (v.7). Levantar uma das mãos no Antigo Testamento, era o sinal de um solene juramento. LEVANTAR AMBAS AS MÃOS SIGNIFICAVA QUE O JURAMENTO É EXCEPCIONALMENTE SOLENE. Jesus levanta as duas mãos jurando “por aquele que vive eternamente”.

E qual foi a resposta? “Que seria depois de um tempo, dos tempos e metade de um tempo” (v.7). Encontramos essa expressão em Dn 7.25. O que significa isto? O texto bíblico não diz: “Um ano, dois anos e metade de um ano”; fala de “tempos”! O anticristo dominará o mundo por um tempo. Ao parecer que ele já permaneceu por tanto tempo quanto lhe era possível, continuará dominando o mundo pelo DOBRO daquele tempo. Então, ter-ser-á a impressão de que ele permanecerá pelo dobro deste tempo, como se fosse ficar para sempre.

Exatamente neste ponto, o anticristo será abatido, no auge de seu poder e no ápice de sua influencia. Até então, praticamente terá destruído o povo de Deus (v.7). CHEGAREMOS AO PONTO, NA HISTÓRIA, QUANDO PARECERÁ QUE A ESCURIDÃO REALMENTE OBTEVE A VITÓRIA E QUE O ANTICRISTO PERMANECERÁ PARA SEMPRE. Parecerá que a igreja foi inteiramente aniquilada, pois não haverá mais qualquer sinal dela.  O MAL NÃO SERÁ DESTRUÍDO QUANDO ESTIVER EM BAIXA, MAS EM SEU AUGE!

O profeta Daniel ouvindo a respeito dos dias maus que virão, solicita informação sobre os estágios finais daquele período (v.8). Os dias maus, aqui descritos, estão reservados para o fim do mundo. Qual será a evidencia de que estes dias estão chegando à sua consumação? A RESPOSTA DIVINA É: “Não pergunte mais nada, Daniel. Deixe de lado este assunto. Não indagues mais, “porque estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim” (v.9).

Conclusão: “Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim” (v.13). Daniel, prossiga em sua vida espiritual, como já está fazendo”. “Pois descansarás e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança”.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Daniel e a batalha espiritual. Dn 10.

Introdução: 



Daniel é um dos maiores exemplos de oração que temos na Bíblia. Ele ora com seus amigos, e os magos são poupados da morte (Dn 2.17-18). Ele ora com as janelas abertas para Jerusalém, e Deus o livra da cova dos leões (Dn 6.10). Ele ora confessando seu pecado e os pecados do povo, pedindo a restauração do cativeiro babilônico (Dn 9.3). Agora, Daniel ora novamente em favor de sua nação (Dn 10.1-3).

1)    Quando e onde ocorre a visão (Dn. 10.1-4).

Mais de dois anos haviam se passado desde que Ciro, imperador da Pérsia, decretara o retorno dos judeus a Jerusalém,  isto se deu em 538 a.C, a fim de reconstruírem tanto a cidade como o templo.

Daniel, já estava com oitenta e seis anos, havia orado em favor dos exilados, mas não fora com eles. Deus ainda tem outra revelação para seu idoso profeta. O frágil servo de Deus contemplará coisas não vistas em qualquer de suas visões anteriores.

Por três semanas inteiras, esteve pranteando e humilhando-se. NÃO PROVOU COMIDAS OU IGUARIAS DELICIOSAS. Pôs de lado a carne e o vinho. Deixou de ungir-se com óleo, que é amplamente usado no oriente para se refrescar. Dedicou-se a sincera e profunda humilhação. Foi uma ocasião de tristeza e jejum.

·        POR QUÊ?

Daniel havia desejado e orado para que os judeus retornassem do exílio (Dn 9:3); e, com o decreto de Ciro, sua oração fora atendida. Mas somente um pequeno grupo se apropriara da oportunidade, dada por Deus, para retornarem. Isso entristeceu o coração de Daniel.

Não somente isto, mas os judeus enfrentaram dificuldades em sua tarefa de reconstruir a cidade de Jerusalém e o Templo. Os inimigos – os samaritanos e palestinos – conseguiram paralisar a construção da cidade e do Templo (Ed. 4:4-5).

2)    O que Daniel viu e ouviu e como reagiu.


A margem do Rio Tigre, levantou os olhos e viu um homem vestido de linho. A descrição do visitante continua no versículo 6. Devemos compará-la a apocalipse 1:13-17. Muitas vezes, no Antigo Testamento, o Senhor Jesus apareceu na forma de um homem. Na teologia isso se chama TEOFANIA deriva de duas palavras da língua grega: teos e fanis que significam respectivamente “Deus” e “aparecer” ou manifestar. Portanto, teofania é “uma forma visível da divindade”.

O versículo 7 deixa evidente que somente Daniel teve esta gloriosa visão. Foi revelada a alguém espiritualmente perceptivo. Quando o Senhor Jesus Cristo falou com Paulo, todos ouviram o som de sua voz, mas somente Paulo ouviu as palavras pronunciadas (Atos 9.7; 22.9). 

“Fiquei, pois, eu só e contemplei esta grande visão, e não restou força em mim; o meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma” (v.8).  Ou, “Quando fiquei sozinho depois dessa visão, abandonado pelos meus amigos, meus joelhos ficaram bambos; e o rosto, pálido, sem força nenhuma”. A mensagem.

            Um velho e fiel crente encontra-se agora sozinho diante da Segunda Pessoa da Trindade! Suas forças retraem-se de seu corpo mortal, e sua cor natural se altera em uma palidez fúnebre. A voz cujas palavras são “como o estrondo de muita gente”, fala com ele.

3)    O que disse o visitante (Dn 10:11-14).
Primeiramente, o velho profeta necessitava ser restaurado à sua consciência. Certa mão o tocou e o acordou. O gracioso salvador o chama pelo nome “Daniel, Deus o ama muito e me mandou falar com você...”. E, confortavelmente lhe assegura ser ele um homem muito amado (VV. 11 e 12).

O versículo 13 – FALA DA BATALHA ESPIRITUAL – é certamente um dos mais misteriosos do velho testamento. Quem poderia ter impedido o Senhor Jesus Cristo? A resposta apresentada é “o príncipe do reino da Pérsia”. Foi o “príncipe” e não o “rei” da Pérsia. Não foi Dario ou Ciro quem resistiram a Cristo.



Por trás dos deuses nacionais da Pérsia existiam personalidades más e sobrenaturais (1 Co 10.20). Foram estes espíritos maus que levaram as autoridades persas a apoiarem os samaritanos em suas investidas contra o pequeno grupo de fiéis judeus do exílio quando haviam retornado a Palestina.

3.1) Algumas lições sobre batalha espiritual.
Este capítulo nos mostra quem são os verdadeiros inimigos do trabalho de Deus.  Zorobabel havia retornado a Jerusalém. Todo o trabalho que ele e seus poucos companheiros esperavam empreender havia sido interrompido.

Quem eram os responsáveis?

 Os judeus desencorajados, diríamos a culpa é de vocês, pois pessoas desencorajadas são os verdadeiros inimigos da obra de Deus!
Ou culparíamos os samaritanos. Haviam morado na Palestina durante todo o tempo do exílio dos judeus na Babilônia. Esta era a última coisa que os samaritanos queriam e, portanto, esforçaram-se para evitá-la.

Ou seriam os persas os culpados? Foram as autoridades persas que primeiro autorizaram os judeus a voltarem e, então, ordenaram que o trabalho cessasse, quando os samaritanos se queixaram!

Mas os verdadeiros inimigos são revelados nos versículos 13 e 20: “O príncipe do reino da Pérsia me resistiu”; “tornarei a pelejar contra o príncipe  dos persas”.  Nossa guerra é espiritual, contra inimigos espirituais (Ef 4.12). Há um reino espiritual. Há um conflito invisível, que se torna visível em nossas próprias experiências ( 2 Co 4.4).

Temos que identificar as armas apropriadas para o conflito em que estamos engajados. “Tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e depois de terdes vencido tudo, permanecei inabaláveis” (Ef 6.13-18). E, termina, com a arma mais poderosa (Ef 6.18-19).

“Há um tremendo poder na oração. Foi pela oração que o exílio terminou  e que Ciro foi movido a fazer seu decreto histórico. Quando o trabalho de reconstrução foi interrompido, Daniel recorreu novamente à oração. Pouco depois, o trabalho recomeçou. Os inimigos perderam, e Deus enviou novos líderes para exortar e encorajar o povo. Finalmente, o templo foi reconstruído, e nada pode impedi-lo”



“PENSE NISTO! UM VELHO DE OITENTA E SETE ANOS, EM UM PAÍS DISTANTE, OROU, E A HISTÓRIA FOI MUDADA”.

Conclusão: O que ora pode esperar. O caminho da oração é solitário e difícil. A resposta que não vem de imediato também é algo desanimador. Mas há grandes consolos na oração.  No lugar da oração, Daniel viu o filho de Deus em sua completa majestade e ouviu, dos lábios dEle, que era muito amado nos céus. Daniel viu que, no futuro, tudo acabará bem porque Deus governa o futuro. Vemos isto somente no “quartinho da oração”.