terça-feira, 31 de maio de 2022

 Rute e Boz – Rt 3 

Introdução

Pense em Rute. Ela é uma mulher, em um tempo em que era muito limitado o que mulheres podiam fazer em termos de ganho financeiro. Além disso, é viúva, vive sem um homem que cuida dela. Para agravar, é estrangeira, com todos os estigmas e incompreensões que sobraram naturalmente para ela. E, também, ela vivem em um tempo difícil, o famigerado tempo dos juízes: “Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo” (Jz 21.35).

Rute está precisando de um lar, um abrigo, um refugio onde se acolher. Noemi lhe diz: “Minha filha, não acha que está na hora de procurarmos um lar para você, para que você seja feliz?” (Rt 3.1). Então, Rute está precisando de um lar, um abrigo, um refúgio, ou descanso. “Tenho de encontrar descanso, ou lugar de descanso para você”.  

Noemi vislumbra uma boa possibilidade para o casamento entre Rute e Boaz, garantindo o futuro das duas. Um homem para lhe dar casa (descanso) e proteção. Rute agora é parte do povo de Deus. Antes era uma moabita, era adorada da divindade pagã, o deus Camos. Ela não conhecia o Deus vivo, mas passou a conhecer convivendo com a sua sogra e não restava nenhuma dúvida quanto a fé dela: “Aonde quer que fores, eu irei; aonde quer que pousares, ali pousareis; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres morrerei...” (Rt 1.16-17).

1)     O plano

“Hoje à noite, ele vai debulhar cevada na eira”, disse Noemi à Rute, “por isso, tome um banho e use perfume. Arrume-se e desça para eira. Mas não deixe ele saber que você está ali depois de ter comido e bebido. Quando você o vir saindo para se deitar, observe para onde ele vai e siga-o. Deite-se aos seus pés, para que ele saiba que você está disponível para se casar com ele. Depois aguarde para ver o que ele dirá. Ele dirá a você o que fazer” (Rt 3.1-4 – A mensagem). 

Já que não havia um homem para intermediar a negociação matrimonial, como culturalmente ocorre nos países orientais. Noemi então lhe deu todo entendimento necessário. Para essa proposta de casamento seria preciso: 1) pegar Boaz sozinho (era um homem cercado de gente); 2) fazer a sugestão de forma discreta, fora da vista dos outros; 3) fazer tudo isso de forma que a conversa pudesse acabar sem muito constrangimento caso ele não aceitasse. Caso rejeitada, Rute se mandaria no escuro para casa e todos poderiam fingir que isso não aconteceu.

COMO É O PLANO? Boaz dormiria na eira, fora da cidade, local onde estariam sendo tratados os grãos. “Vá para lá, descubra os pés dele e veja o que ele diz”. Deite perto dele e descubra os pés. Mas por que descobrir os pés? É que ele acabaria acordando com o friozinho nos pés e veria Rute por ali. Então, foi o frio da noite, e não o calor do corpo de Rute, que acordou Boaz!

2)     O plano em ação

E lá se vai Rute colocar o plano em ação. Será que ela estava nervosa? Por certo estava. Afinal, ela estava indo propor casamento à Boaz! Quase todo homem que já passou pelo horror que são os minutos ou horas de agonia sem saber se ligamos ou não para convidar a moça para sair. Antigamente tinha que ir à casa da jovem e bater à porta e, para adicionar, receber um sermão do seu pai. Depois veio o telefone fixo, ficou mais fácil. Hoje, temos os aplicativos, Whatsapp... 

Rute está se ariscando e poderia sentir a terrível vergonha da rejeição. Rute está indo fazer algo seriamente contra cultural, por várias razões: por causa da diferença de idade, pela posição social, por ser uma moabita e por ser a mulher fazendo o pedido.

Mas, nada detém Rute. Ela foi até a eira e seguiu o plano da sogra. “Boaz se divertiu, comendo e bebendo, e ficou muito alegre” (Rt 3.7). No meio da noite, ele acordou: “O homem acordou de repente, levantou-se e ficou surpreso quando viu a mulher dormindo a seus pés” (Rt 3.8). Rute imediatamente explicou para Boaz o que queria: “Sou Rute, sua serva. Protege-me debaixo das suas asas. O Senhor é o meu parente próximo... tem o direito de se casar comigo”.

Sem rodeios, sem palavras dúbias. Ela não queria uma noite de fogo apaixonado sem compromisso real; queria casamento. Ela não queria seguir os caminhos de Moabe, queria seguir os caminhos do Senhor. 

“Proteja-me debaixo das suas asas” ( A mensagem). Ou, “Estenda sua capa sobre a sua serva” (NVI). Estender a capa era símbolo de compromisso para casar. Esse linguajar “estenda a sua capa sobre’ é utilizado para falar sobre Deus estendendo seu manto sobre Jerusalém nua e desprovida de cuidado “...então estendi a minha capa sobre você e cobri a sua nudez. Fiz um juramento e estabeleci uma aliança com você ....e se tornou minha”. (Ez 16.8).

E quanto ao casamento? E quanto a diferença de idade no casamento? O que dizer? Há, com certeza, dificuldade quando existe uma distancia de anos. Mas não há imposição bíblica de que os cônjuges tenham no máximo cinco ou dez anos de diferença. Boaz fica feliz com a escolha de Rute. Ela não foi em busca de um homem jovem, fosse rico ou pobre. Ela foi atrás dele, pois é homem crente sério e está na posição bíblica adequada para a situação delas.

Boaz reconhece que Rute é um tesouro. “Todos na cidade sabem que você é uma mulher corajosa – uma peróla” (A mensagem). Você é uma mulher virtuosa, algo que todos reconhecem. Lemuel pergunta: “Mulher virtuosa quem acharás! É muito mais valiosa que os rubis” (Pv 31.10). . Ele afirma que ela é falada na cidade, mas muito bem falada. Ela não era uma peça de porcelana, uma taça de cristal. Mas, tinha firmeza, pulso de aço e mãos prontas para o trabalho. Rute tem boa fama. Era conhecida na cidade por ser firme, por sua escolha de seguir Yahweh. “MELHOR TER PASSADO A VIDA TODA LONGE, MAS SE TORNAR VIRTUOSA, DO QUE ESTAR SEMPRE POR PERTO E NUNCA SER DE FATO DO SENHOR”. 

3)     O RESGATADOR

O resgatador era também chamado de Goel, uma figura descrita em Levitico 25: “Se o teu irmão cair na pobreza e tiver de vender algo do seu patrimônio, o seu parente mais próximo virá a ele, a fim de exercer seus direitos de família sobre aquilo que vende seu irmão” (v.25). O goel pagaria as dívidas da família e resgataria suas posses. Poderia casar com uma mulher da família, assumindo as posses e mantendo vivo o nome do falecido, caso não houvesse filhos ainda.

Boaz é rápido, ele deseja, sim, se unir a ela “juro pelo nome do Senhor que eu a resgatarei” (Rt 3.13). Um homem reconhecido por sua piedade, pronto a se casar com a viúva moabita. 

Hoje, nas igrejas, muitos pensam que, para ser uma boa opção, é preciso que uma moça, ou um rapaz, tenham nascido em lar evangélico, tenham levado uma vida ilibada e seja virgem. Mas Deus não exige isso. Deus manda que homem cristão se casas com mulher cristã. A Biblia diz que aqueles que estão em Cristo são novas criaturas. Acreditamos mesmo em nova vida? Quê isso, a pessoa é moabita, vai ser casar com ela? O que importa, verdadeiramente, é que as coisas velhas passaram e tudo se fez novo!

Conclusão

Rute chega sem fazer barulho, bem vestida, perfumada. Estava escuro, não havia ninguém por perto, o coração ia alegre com o vinho, e ali diante dele estava Rute disposta a se casar com ele. Ele, no entanto, aproveita rapidamente a situação, não para dar vazão à carne, mas para abençoar Rute, para trazer o Senhor para a situação, para o namoro...

Boaz se importa com a reputação dos dois (v.13-14). Ele não quer que ninguém saiba que ela esteve na eira. Mas também dá a ela seis medidas de cevada “não volte para a sua sogra de mãos vazias” (Rt 3.17). Ele quer casar, mas tem um parente – goel – na frente dele, a lei tem que ser respeitada. Não ousa violar a lei de Deus.  


ibliografia: As boas Novas em Rute - Emilio Garofalo Neto - Editora Monergismo
Comentário de Rute - Hernandes dias Lopes - editora Hagnos
Biblia Nova Versão Internacional
Biblia King James
Biblia A Mensagem - Eugene Petersen

 

terça-feira, 24 de maio de 2022

 

Reconstrução Rt 2 

Introdução

Elimeleque saiu com sua família de Belém (casa do pão) para morar em Moabe, afim de escapar de uma fome em Belém. Lá, seus filhos se casaram com moabitas e a vida deu uma volta brutal. Primeiro, com a morte de Elimeleque, depois com a morte de seus filhos. Agora, Noemi estava viúva (sem marido) e sem filhos e, também sem dinheiro; somente restaram suas duas noras.

Então, ela ficou sabendo que em Belém tinha pão “O senhor viera em auxilio do seu povo” (Rt 1.6), resolveu então retornar para casa. E as suas noras? Orfa decide ficar em Moabe, enquanto que Rute é leal (hesed) à Noemi e lhe faz um juramento: “....aonde fores irei; onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus! Onde morreres morrerei; e ali serei sepultada” (Atos 1.16.17).

O capitulo primeiro termina com a chegada de Noemi e sua nora Rute à Belém e o espanto dos belemitas: “...todo povoado ficou alvoroçado por causa delas. Será que é Noemi” (Rt 1.19). Mas, não era a mesma Noemi que saíra de Belém há dez anos “de mãos cheias eu parti”. Agora, ela diz: “Não me chame de Noemi, melhor que me chamem de Mara, pois o Todo-Poderoso tornou a minha vida muito amarga” (Rt 1.20).

1)     Inicio

O que fazer agora? Será que alguém vem nos ajudar? Eles estão na terra prometida, mas a despensa está vazia. O verso 2 diz: “Rute, a moabita, disse a Noemi: Vou recolher espigas no campo daquele que me permitir”. Por vezes é muito difícil para quem já esteve em boa situação financeira dar o passo duro de fazer um serviço que seja aparentemente mais humilde. A situação não é nada fácil. Napoleão Bonaparte dizia: “a vitória sem luta não tem glória”.

Mas Rute tem força em seu corpo, tem vigor para andar debaixo do sol e fazer o que for necessário. Paulo coloca esse princípio: “...se alguém não quiser trabalhar, também não coma... trabalhem tranquilamente e comam o seu próprio pão” ( Ts 3.9-10).  Ela não vai perder tempo em murmuração, nem vai ficar dependendo da bondade alheia, nem mesmo ficar na autocomiseração das amarguras. Ela vai fazer o que pode, por ela e por Noemi.

Mas o que ela vai fazer, exatamente? Apanhar espigas! Na colheita havia a seguinte divisão de trabalho: os homens agachavam e cortavam os feixes e as mulheres juntavam e atavam os feixes. Nisso, um pouco do produto ia ficando pelo caminho. Desse algo que sobrava, os forasteiros e outros podiam apanhar para a sua própria provisão. Olha que diz a lei: “Quando fazem a colheita...não ajuntem as espigas caídas de sua colheita...nem apanhem as uvas que tiverem caído. Deixem-nas para o necessitado e para o estrangeiro” Lv 19.9-10).

A atitude de Rute deve nos ensinar algo sobre a humildade e a dignidade que existem em qualquer emprego honesto. Apanhar sobras de espigas é serviço humilde e um tanto inglório, mas não está abaixo dela, não é algo que ela se ressente. Muitos reclamariam: “Deus, eu deixei tudo pelo Senhor e agora terei de colher espigas? Sobras? Eu abandonei a segurança da minha terra para isso? Mas, a postura de Rute é muito importante e revela algo precioso sobre quem ela é. É a tranquilidade de confiar sua a vida a Deus ao invés do vitimismo do coração que acha que Deus e o mundo lhe devem tudo.

Trabalho envolve humildade, muitas e muitas vezes. Aliás, é bom lembrar: trabalho não é resultado de queda! É, sim, algo bom e dado por Deus. Adão recebeu incumbências mesmo antes do pecado (Gn 2.15,19). No texto, Rute trabalha o dia todo e segue trabalhando depois de achar alguém que a favorece. Portanto, não é falta de fé buscar meios e trabalhar. Pelo contrário, esta é a real expressão de fé “a fé sem obras é morta”. E a igreja? Igreja tem muito trabalho, com esforço de todas as partes. Somos um corpo, e Deus espera que cada membro do seu corpo faça sua parte, que assuma responsabilidades: oração, evangelismo, discipulado, etc

2)     O Deus que intervém

Rute vai trabalhar no campo de um homem chamado Boaz, e trabalha duro, o diante todo. Quando chega o dono do campo, Boaz, ele pergunta: “Quem é essa?” (Rt 2.5). “É a moça moabita que veio com Noemi e pediu para colher espigas. E, olha, ela está trabalhando firme! Fez uma pequena pausa para descansar ... mas segue firme”.

Primeira coisa, Rute não sabia quem era o dono daquele campo. Diz o texto: “Casualmente entrou justo na parte da plantação que pertencia a Boaz, que era parente de Elimeleque” (Rt 2.3). O ponto é que o Senhor a dirigiu até aquele campo que ela nunca imaginara ser de um possível parente resgatador. E o campo lhe era propicio, onde havia grãos e espigas para ela catar. Boaz era temente a Deus e a sua lei, e o seu campo era do Senhor. Ou seja, Rute vai trabalhar no campo de um homem que entende que tudo o que ele tem veio da mão do Senhor. “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1). 


Segundo, notem os servos de Boaz. Eles falam bem dela, quando não tem nada a ganhar com isso. Eles não discriminam por ser uma moabita. Eles não atentam contra ela... era um campo afastado da cidade...poderia ter acabado mal para Rute. Lembre-se, é o período dos juízes. Cada um fazia o que era reto a seus próprios olhos.  Pois, Rute está sexualmente vulnerável, sem dinheiro, está financeiramente sem nada, sem amigos, é solitária, e fora do seu país, ela não tem protetor, marido, tribo, família ou comida. Ela é uma mulher de fibra. Vulnerabilidade é a parte do custo de hesed. O amor traz risco. HUMANAMENTE DESPROTEGIDA, MAS DIVINAMENTE AMPARADA!

3)     Encantamento

Boaz era um homem de posses, mas não um avarento, mesquinho; mas generoso. Ele tem diversos funcionários e os trata bem e dignamente. Ele invoca as bênçãos do Senhor sobre os seus: “O Senhor esteja com vocês” (Rt 1.3). Além disso, era respeitado por seus funcionários. Era de homem de caráter e que levava a sério a Palavra do Senhor.

Rute atrai a atenção dele. Boaz puxa conversa e fala sobre a proteção que ele está disposto a oferecer-lhe: “...não colha em outro lugar...aqui ninguém vai tocar em você...”(Rt 2.8-10). Ele havia ficado impressionado com a sua história: “Contaram-me tudo o que você tem feito por sua sogra, sua viuvez, deixou o seu povo para viver com um povo que não conhecia bem” (Rt 2.11-12). Então, o que chamou a atenção de Boaz, foi justamente sua linda história de fé.

Em cima disto, uma pergunta aos solteiros: “o que os impressiona em alguém a ponto de fazê-los parar para olhar?” em que ponto a piedade, espiritualidade entra na sua lista de elementos atrativos? Uma pergunta aos casados: “o que buscam incentivar em seus cônjuges?” é a piedade e seus frutos? Ou, fazer com que ele (a) fique cada vez mais corpulenta?

Boaz vai mais longe. Ele disse aos seus trabalhadores: “Mesmo que ela recolha entre os feixes, não a repreendam. Ao contrário, quando estiverem colhendo, tirem para ela algumas espigas dos feixes e deixem-nas cair para que ela as recolha, e não a impeçam” (Rt 2.15-16). Ou seja, Boaz está dizendo: Deixem buscar mesmo onde não seria normalmente permitido; deveriam pegar intencionalmente algumas espigas dos molhos e deixar de proposito para ela, sem repreende-la.

Também Boaz leva Rute para comer junto com ele. “Venha cá”! “Se aproxime” “Pegue um pedaço de pão e molhe no vinagre” (Rt 2.14). Coma, coma, coma! E ela encheu sua pancinha moabita de pão. Uma refeição nesse tempo é muito mais do que se alimentar. Na mesa de Boaz há comunhão, koinonia, comunidade, alegria. Esse homem está se expondo. Está cuidando de alguém que precisa de cuidados. Está protegendo essa mulher desprotegida, sem querer nada em troca. Rute volta para casa levando 13 KG DE COMIDA EM UM DIA DE TRABALHO.

Conclusão:

A colheita de cevada durava cerca de um mês e emendava na do trigo – culminando em Pentecostes. Rute, uma moabita estava sendo incorporada na comunidade do pacto. O que aconteceria séculos depois na festa de Pentecostes em Jerusalém. Um dia Deus faria uma colheita abundante entre os gentios quando sua graça se estenderia para a totalidade das nações.

Deus nos oferece muito mais que colher as espigas no caminho, ele nos convida para o banquete de sua própria mesa. Quando nos encontramos com o povo de Deus para cultuar, participamos de um banquete preparado por Deus. Alimentamo-nos de sua palavra, recebemos bênçãos advindas do culto e comungamos com os nossos irmãos.

 

ibliografia: As boas Novas em Rute - Emilio Garofalo Neto - Editora Monergismo
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terça-feira, 17 de maio de 2022

 Retorno e amarguras Rt 1.6-22 

Introdução

O livro de Rute é uma história da graça de Deus. De uma família que morava em Belém (terra do pão) que por causa da fome resolve mudar para Moabe. No desespero podemos fazer três coisas: suportá-lo, fugir dele e usar ao nosso favor. É uma saga humana, de todos (homens e mulheres) diante de uma situação difícil, impulsivamente mudam de pais, de cidade, de casa, etc. Contudo, esquecemos que a conta chega....

1)     Arrependimento.

Noemi está em Moabe. Sem marido, sem filhos, sem nada. “Noemi ficou sozinha, sem seus dois filhos e sem o seu marido” (Rt 1.5). Contudo, em Belém “O Senhor viera em auxilio do seu povo, dando-lhe alimento” (Rt 1.6). Entendendo que a fome que veio sobre Judá foi resultado da ação de Deus pesar a mão sobre Israel a fim de fazê-lo voltar ao seu caminho, voltar à Deus. O sofrimento é o megafone de Deus, quando Deus pesa a mão sobre o seu povo é a fim de conduzi-lo ao arrependimento.

Antes não havia pão na casa do pão, mas voltou a haver. Deus em sua bondade está pronto a perdoar o seu povo. No tempo dos juízes, ele mesmo levantava pessoas para liderar o povo em arrependimento. Então, diante dessa notícia: “Tem pão na casa do Pão”, Noemi pensou: “Talvez haja esperança de redenção para mim. O que mais eu poderia fazer? Ficar aqui em Moabe?” Se Deus perdoou o seu povo, que andava longe espiritualmente, e ela, que estava longe tanto física quanto espiritualmente, decide ver se ainda há espaço para ela.  

Que lição preciosa. O povo de Deus sempre pode voltar. Cristãos muitas vezes andam por um tempo longe de Cristo e de sua igreja, e quando caem em si acham que não tem mais volta, ou temem que será vergonhoso demais retornar. Nossa esperança não é de vivermos sem pecar. Entretanto, a verdade libertadora da Bíblia é que “se todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 João 2.1). O perdão de Cristo é o que pavimenta nosso caminho.

Contudo, muitos perdem a oportunidade de voltar por conta do seu orgulho. Mas, Noemi, engole o orgulho e decide pela vida. “Coloquei diante de vocês a vida e a morte, a benção e a maldição. Agora escolham a vida...” (Dt 30.19).

“Vou voltar, voltar à minha terra e ver se há perdão e nova vida para mim também. Ver se o Senhor também se lembra de mim”. Como o filho prodigo.  “Caindo em si, ele disse: quantos trabalhadores de meu pai tem comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome...e lhe direi: pai pequei contra o céu e contra ti...” (Lc 15.17). Noemi também está decidida a lidar com as consequências do seu pecado. Voltar a lidar com a vergonha, com a pobreza resultante, com a solidão de ser viúva e sem filhos. Nós também temos que lidar com os resultados de nossas escolhas ruins...

2)     E as noras?

“Vão”, disse Noemi, “retornem para a casa de suas mães! Que o Senhor seja leal com vocês, como vocês foram leais com os falecidos e comigo” (Rt 1.8). Noemi testifica que foram boas esposas e, imaginando que teriam uma vida melhor ali, sugerem que fiquem em Moabe e busquem novo marido. Elas insistem, chorando, que irão com Noemi: “Não!”, dizem, “voltaremos com vocês para junto do seu povo” (Rt 1.10). Noemi sabia que duas moabitas irem para Belém não seria bom. Orfa e Rute se veem diante de uma decisão emotiva, difícil e com consequências profundas.  

Orfa faz a escolha humanamente sensata e prudente. Ela fica com o seu povo, vai atrás de um novo marido e desaparece das paginas da história da redenção. Uma decisão aparentemente sensata pode ser o caminho da perdição. Ela vai atrás do humanamente certo e seguro, seguindo a mesma logica de Elimeleque e Noemi no passado “o que é mais importante para mim é ter abundancia material, segurança, viver a minha felicidade,  do que viver a vida de acordo com a vontade de Deus”

E, quanto a Rute? Ela escolheu o amor pactual – hesed – por Noemi e pelo Senhor Deus de Israel: “Não insista comigo para deixa-la e voltar. Aonde você for, irei; onde você viver, lá viverei. Seu povo será o meu povo, e seu Deus, o meu Deus. Onde você morrer, ali morrerei e serei sepultada. Que o Senhor me castigue severamente se eu permitir que qualquer coisa, a não ser a morte, nos separe” (Rt 1.16-17).  Rute se apegou a Noemi (Rt 1.14), esse termo envolve uma aliança, usado em Gn 2.24 para se referir a como um homem se une à sua mulher no matrimonio “os dois se tornam um só”.  

 O voto de Rute é belíssimo e custoso. Ela abandonou seu povo (moabitas), seus deus (Quemoz, Bal, etc), sua terra (Moabe). Não foi um simples: “vou morar ali uns meses; se não gostar, eu volto”. Não! Rute se compromete a viver e morrer em terra distante. “O teu Deus será o meu Deus”, ela está abandonando sua ligação com os deuses moabitas e se apegando ao Deus de Israel. Rute está deixando tudo, absolutamente tudo: uma provavelmente segurança financeira, seus pais, Um futuro com outro homem, deixando tudo, sem garantias de receber algo melhor.

Ela está jurando que que não voltará: “Onde quer que morreres, morrerei eu e ai serei sepultada”. Ela não disse: quando você morrer eu morrerei, ou seja, onde você morrer eu morrerei. Não estou indo passar simplesmente um tempo em Belém, como vocês foram para Moabe para passar um tempo, estou indo de vez, eu estou mudando de lado. Serei enterrada com seu povo, pois agora seu povo é meu povo e seu Deus é o meu Deus. 

Que poesia, que belíssimo juramento! É algo que nasce de um coração que encontrou a beleza e o poder do Deus verdadeiro. Um coração que teve um encontro pessoal com Cristo. Vejam: um moabita, um povo mal falado, um povo que veio da descendente de Ló com a sua filha! Mas, aqui tem uma moabita  que teve um encontro com Deus, que teve uma vida transformada, mudada pelo poder de Deus. Que fé, que devoção, que desapego “Se alguém quer ser meu seguidor, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23).

E, quanto aqueles que cresceram na igreja, acostumados com a pregação do evangelho, acostumados com o ritmo da igreja, será que tem a mesma devoção de Rute? A ligação deles com Deus é algo demasiadamente normal, sem sobrenatural, sem renuncias. Uma pergunta: Quanto estamos dispostos a deixar a fim de nos apegarmos ao Deus vivo? Deixar emprego, família, posição, dinheiro, liberdade e, por vezes, a própria vida. Por vezes, deixar Moabe significa fechar muitas portas. O caminho para Belém é estreito, mas leva à vida eterna.

3)     Voltando para casa

O que será que passou pela cabeça de Noemi em sua viagem de volta de Moabe à Belém? “E agora? Como vou falar com Maria, com Isabel? E quanto a Jacó, irmão do meu falecido marido? O que vou dizer? E explicar nossa pobreza para todo mundo que perguntar? A volta depois do pecado pode ser difícil, mas vale a pena. 

O verso 19 mostra grande alvoroço com seu retorno “...toda cidade se agitou por causa delas. Será que é mesmo Noemi? Perguntavam as mulheres?” Logo toda a cidade está falando delas. É mesmo a Noemi? Cadê o marido, cadê os filhos? Quem é essa mulher com ela? O povo começou a falar. Aliás, o povo de Deus gosta de falar da vida dos outros!  Uma pergunta: como você recebe os que estão voltando? Até onde sabemos ninguém foi até elas, ninguém abraçou, envolveu, recebeu, ofereceu ajuda. Como você recebe os que tem vivido fora da igreja, quando voltam em humildade e mostram arrependimento? Voce fala algo como: “Eu já sabia, teve o que merecia”. Ou você recebe como o pai na parábola do filho prodigo, que exulta em que alguém perdido foi achado (Lc 15.11-32).

“Será que é mesmo Noemi?”. Mas ela rapidamente diz: “Não me chamem de Noemi, respondeu ela. Chamem-me de Mara” (Rt 1.20). A palavra “Mara” significa amarga. Vem lá de Exodo 15 das aguas amargas “Quando chegaram a Mara, descobriram que a agua era amarga demais para beber. Por isso chamaram aquele lugar de Mara” (v.23). Antes seu nome era Noemi, que significa “agradável”. Quem é o culpado? “O todo Poderoso tornou minha vida muito amarga” (Rt 1.20). Portanto, amargura descreve nosso descontentamento com a vida e com tudo e todos. Parece que Deus está querendo o nosso mal. A amargura, às vezes, vem devagar e corroí a alma.


Conclusão:

“Sou como uma filha prodiga, perdi tudo”. Mas não é não. Noemi não está voltando vazia coisa nenhuma! E essa mulher que jurou viver por você ao seu lado? Ela não voltou vazia, voltou com Rute, mais sensata, preciosa e fiel do que seu marido e que seus filhos. Auto piedade míope pode nos impedir de ver o que de bom o Senhor tem feito e  nos tem  dado, pessoas que estão do nosso lado.  


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terça-feira, 10 de maio de 2022

 Escolhas e tragédias – Rt 1.1-5 

Introdução

O que dizer do livro de Rute? É uma das Jóias mais ricas e encantadoras de toda literatura mundial; é um livro inspirado que encerra lições magnificas. O livro de Rute é a história perfeita da graça de Deus. Este livro que contém apenas 85 versículos é como um jardim engrinaldado de rosas perfumadas, cuja beleza e conteúdo jamais podem ser suficientemente enaltecidos. “Nenhum poeta do mundo escreveu um conto mais belo”. Neste livro temos vários temas: crise financeira, imigração, doença, morte, viuvez, pobreza e amargura contra Deus. Mas temos também: amizade, providencia divina e a exaltação da virtude.

1)     No tempo dos Juízes

A vida está seguindo em Belém, então surge uma situação difícil. O verso 1 nos indica que se trata de um momento conturbado, difícil, turbulento; crises política, econômica e social. Afinal era i tempo dos Juízes! Nesse tempo o povo não tinha um governo centralizado, enfrentavam muitas batalhas internas e externas; o povo vivia como um elevador, ora caminhando para cima, ora caminhando para baixo. E o lema era: “Naqueles dias não havia Rei em toda terra de Israel e cada pessoa fazia o que lhe parecia direito”. 

O povo nesse período somente buscava a Deus nos tempos de necessidade, de aflição. Agora, nos tempos de bonança material, o povo virava as costas para Deus, adorando seus ídolos; provocando a ira do Senhor. Surge uma pergunta para nós: Será que essa situação não descreve bem a situação das famílias atuais? Vemos crianças e adolescentes fazendo o “que é certo a seus próprios olhos”. Maridos abandonando esposa, esposa abandonando marido fazendo o “que é certo a seus próprios olhos”, ou em busca da minha “vida”, “felicidade”. O tempo de Juízes para os nossos dias são de 3000 anos, mas, infelizmente, parece que vivemos nos tempos dos juízes!

Então, no texto que estamos estudando, surge uma dificuldade: “Na época dos juízes houve fome na terra” (Rt 1.1). Aliás, fome era um fato que se repetia constantemente, como na época de Abraão, Jacó, Isaque, etc. Mas aqui especificamente no tempo dos juízes, essa fome era uma forma de Deus pesar a mão sobre o povo dele a fim de que se voltem para ele. Como afirmou C.S.Lewis: “Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é o seu megafone para despertar o homem surdo”. 

O povo havia conquistado a terra prometida, pactualmente dada por Deus com condições de obediência que gerariam bênçãos e maldições. Deus havia alertado seu povo, dizendo que, para viver na terra prometida, eles deveriam andar perto do Senhor, ou ele iria fazer secar os campos e os ventres de Israel. “Vossa terra não dará mais os seus produtos, e as arvores do campo não darão mais os seus frutos” (Lv 26.20).

2)     Escolhas

Belém (Beth = casa, lehem = pão) significa “casa do pão”. O livro de Rute inicia assim, com uma surpreendente declaração: Não havia mais pão na casa do pão. Faltou pão onde menos esperávamos. Belém era conhecida por ser um grande celeiro, com produção de uvas, oliveiras, trigo e muito mais. E agora o celeiro está vazio. O tempo dos juízes já era complicado, agora está desolador. Economia em frangalhos. Desemprego. Filhos para alimentar. Eram muitas as perspectivas que nos assombram a respeito do futuro. 

O texto nos apresenta a um homem com uma mulher e dois filhos. Seu nome é Elimeleque, sua esposa é Noemi e seus filhos Malom e Quiliom. Ele decide sair de Belém de Judá e ir habitar na terra de Moabe. Por que ir a Moabe? Essa região ficava do outro lado do Mar Morto, local de terras baixas e férteis. Era uma região que experimentava boa colheita, mesmo sendo uma região pagã! O texto nos diz que ele foi apenas habitar, o verbo utilizado indica uma mudança temporária, não uma mudança definitiva. 

Provavelmente Elimeleque e família poderiam ter aguentado mais na terra de Judá; ainda não estava passando fome, eles eram de posse “...de mãos cheias eu parti...”(Rt 1.22). No entanto, a atitude dele era: para mim é mais importante tem abundancia do que estar na terra que Deus nos chamou para viver. Será que Elimeleque pediu conselho para o sacerdote? Afinal, a terra que ele pisava era a terra prometida por Deus à Abraão, Isaque e Jacó, é a terra que “mana leite e mel”. O povo passara quatrocentos anos de escravidão ansiando por essa terra; no deserto, andaram 40 anos para tomar posse da terra.

Deixar a terra prometida e ir para a terra de Moabe. Quem eram os moabitas? Primeiro, Moabe (o nome significa “do pai”) é fruto de incesto entre pai e filha, Ló e sua filha (Gn 19). Também, os moabitas impediram o povo de Israel passar por dentro do território deles para chegar à terra prometida; os moabitas contrataram o profeta Balaão para amaldiçoar o povo de Deus, mas não conseguiu “Não há magia que possa contra Jacó, nem encantamento contra Israel” (Nm 23.23). Depois o profeta contratou as mulheres moabitas para seduzir os homens e também fizeram com que adorasse Ball-Peor, tudo isso resultou na morte de 4000 pessoas.

Em Moabe não havia local de adoração a Deus. Os moabitas adoravam Quemoz. Portanto, a família de Elimeleque iriam passar muito tempo longe da possibilidade de adorar com o povo de Deus. Não havia sacerdote em Moabe da descendência de Arão; não havia um sistema sacrificial em Moabe como em Israel. Em Moabe não comemorariam as festas religiosas: pascoa, tabernáculo, pentecoste, Yom Kippur, etc. Em Moabe não havia ninguém adorando e cantando e recontando as maravilhas do Senhor. Aqui vale lembrar a declaração explicita de 1 Ts 4.3, que afirma que a vontade de Deus é sempre nossa santificação, obediência e crescimento.

3)     Tragédias

Elimeleque significa “Deus é meu rei”. Será? Infelizmente, ele age como alguém que não confia na proteção e cuidado do seu rei; preferindo tomar em suas próprias mãos a vida de sua família. E vai em direção a Moabe. Contra as promessas de Deus. A rota para chegar à Moabe era passar pelas ruinas de Jericó, um lembrete do poder de Deus a quem serve, o Deus do impossível. Mas eles seguem adiante. 

Quantas vezes pensamos algo como: “Deus não me impediu de chegar ao local. Então, logo deve ser da vontade dele”. Como Jonas rumamos para longe do que Deus manda e nos confortamos em que tudo parece estar indo bem, até que chega à tempestade da vida. Essa ânsia de “se descobrir”, por si mesmo querer levar o barco da vida sem a direção de Deus nos coloca dentro de uma jaula. O CAMINHO DA VIDA NÃO É SIMPLESMENTE BUSCAR O MELHOR PARA SI, MAS BUSCAR VIVER O AMOR SACRIFICIAL DO CAMINHO PROPOSTO PELO SENHOR, MESMO QUE ESSE CAMINHO SEJA DURO, DIFICIL.

Olhando para o texto em questão, a imagem que vem é de uma onda do mar que te dar uma bordoada e depois vem outra e mal consegue se levantar antes da terceira onda e com os olhos ardendo do sal. Também essa é a vida, as ondas do sofrimento atingem a família em sequencia desoladora. Porque, primeiro morreu Elimeleque. O plano de habitar somente por um tempo se torna algo permanente, que acabou sendo enterrado fora da terra prometida, em Moabe. 

Quando decidimos, ou tomamos uma decisão, sem consultar ao Senhor, nunca pensamos que a decisão será tão custosa quanto as pessoas imaginamos. Então, se era somente algo temporário, vira uma década. Lá em Moabe, eles meramente existem, sem um plano ou um projeto maior. Vivem sem pensar na eternidade, estão vivendo para comer, paga gastar, para possuir coisas. Etc.

Vejam, Elimeleque morreu, mas seus filhos – Malom e Quiliom – preferem permanecer em Moabe. Infelizmente, infelizmente, escolhemos conforto e estabilidade, ao invés de fidelidade. Ficar longe do contato do povo de Deus é muito perigoso para nossas almas ão deixemos de nos reunir como igreja, segundo o costume de alguns, mas nos encorajemos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêm que se aproxima o dia” (HB 10.25). O costume de ficar longe do culto vai ficando forte, até o dia que você deixa de sentir falta...

Talvez Noemi tenha pensado algo como: “Estou viúva, mas ao menos meus filhos fortes e vistosos cuidarão de mim”. Então, mais uma onda bravia chega na vida de Noemi. Morreu também os filhos, Malom e Quiliom, de maneira inesperada. Ela que já enterrara o marido em terra estranha, agora tem de viver a dor de enterrar seus filhos! Esse é um dos piores tipos de tragédia que ocorre em um mundo caído. 

Conclusão: E agora? Noemi perdeu o marido, não tem mais  filhos para cuidar dela, logo, não tem mais filhos para cuidar dela, as noras não são do seu povo, está longe de sua terra e de seu povo e não tem dinheiro, está pobre, sem nada. Está em apuros e se percebe sem saída. Sabe quando as coisas começam a ruir e não param? Quando seu castelo de areia se desmorona e você sabe que tem culpa nessa tragédia? O que fazer? Ficar lamentando? No espirito de autocomiseração? Não, vou me levantar e voltarei ao meu povo... 


ibliografia: As boas Novas em Rute - Emilio Garofalo Neto - Editora Monergismo
Comentário de Rute - Hernandes dias Lopes - editora Hagnos
Biblia Nova Versão Internacional
Biblia King James
Biblia A Mensagem - Eugene Petersen

terça-feira, 3 de maio de 2022

 Deus e a avelã – Is 40.22-26 

Introdução:

Nos dias de hoje temos dois tipos de fé: nominal e real. O que é fé nominal? É uma fé que aceita o que se diz e consegue citar um texto atrás do outro para prová-lo”; como expressou o patriarca Jó: “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito...” (Jó 42.5). Enquanto, que fé real é experiencial. A Palavra de Deus não diz: “Abraão creu no texto, e isso lhe foi creditado como justiça”. Mas, “Abraão creu em Deus” (Rm 4.3). O que contava, portanto, não era em que Abraão acreditava, mas em quem! Abraão creu em Deus, o homem de fé crê em Deus.

Diante dessa diferença entre fé nominal e fé real há uma dificuldade no seio da igreja quanto a revelação da sua Palavra. Deus nos revelou a sua Palavra, sua vontade, seus desígnios. Então, a Palavra de Deus é objetiva, não subjetiva; exterior e não interior. No entanto, precisamos andar um pouco mais. A pergunta: “Como é Deus?” Para entender essa pergunta não basta somente a revelação, mas também a ILUMINAÇÃO. Iluminação é quando o coração se abre para a Palavra. A revelação é um meio, uma estrada, mas não é o fim. Por que o fim é Deus, que nos Deus sua Palavra.

1)     Uma avelã

No livro “Revelações do amor divino”, escrito por uma mulher que viveu há mais de 700 anos de nome Juliana, enquanto ela orava, teve a seguinte experiencia: “Vi um objeto bem pequeno do tamanho de uma avelã”.  Qual é o tamanho de uma avelã? É do tamanho de uma bola de gude, não passa disso. Então, Juliana perguntou: “O que pode ser?”. Algo em seu coração respondeu: “Isso é tudo o que está feito, tudo que está feito”. 

Pascal, grande filosofo e matemático, disse o seguinte: “Estamos a meio caminho entre o incomensurável e o infinitésimo”. Por exemplo, nosso sistema solar gira em torno de outro sistema solar, e assim por diante, em vastidão infinita. Então, se você se volta para outro lado, encontrará pequenos mundos  - moléculas, o átomo e o próton, até a pequenez infinitesimal. Para o filosofo Pascal, o homem, criado a imagem de Deus, está no meio do caminho exato entre a grandeza infinita e o infinitésimo.

 Olhem para o Sol grande demais com seus planetas girando ao redor. Contudo, existem sóis tão grandes a ponto de cada um deles ser capaz de absorver o nosso sol, todos os seus planetas e todos os seus satélites que orbitam esses planetas. E, mais, dizem que existem sóis tão grandes que se poderiam colocar milhões do nosso sol dentro deles.  E quanto ao espaço....a distancia da terra em relação a lua são de 384 mil quilômetros; da terra ao sol, 149 mil quilômetros. Depois disso, no entanto, começamos a falar em anos-luz. 

2)     A imanência e a imensidão de Deus

Além do sol, do espaço e de tudo que há, existe Deus. Ele conta com os atributos de imanência e imensidão. O que é imanente? Significa que você não precisa percorrer distancia alguma para encontra-lo. Deus está em tudo. Ele está bem aqui conosco.  DEUS ESTÁ ACIMA DE TODAS AS COISAS, POR BAIXO DE TODAS AS COISAS, POR FORA DE TODAS AS COISAS E POR DENTRO DE TODAS AS COISAS.

Ele está acima como quem preside, ele está por baixo para sustentar; ele está por fora para abraçar e, está por dentro para preencher. Está é a imanência divina: “Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar, mesmo ali a tua mão direita me guiará e me susterá... Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás” (Sl 139.8,9-10).   

A Palavra de Deus ensina sobre a imensidão de Deus. Ela diz em Isaias: “Quem mediu as águas na concha da mão, ou com o palmo definiu os limites dos céus? Quem jamais calculou o peso da terra, ou pesou os montes na balança e as colinas nos seus pratos?” (Is 40.12). Deus é maior que todo o universo, a pequena avelã contemplada por Juliana. “Na verdade as nações são como a gota que sobra do balde...”(Is 40.15).

Voce conhece a imensa dificuldade para apavorar um cristão. É dificl entrar em pânico quem de fato crê em Deus. Agora, se for um cristão nominal, pode assustá-lo. Aliás, o Putin está assustando muita gente. “Na verdade as nações são como a gota que sobra do balde; para ele são como o pó que resta na balança; para Ele as ilhas não passam de um grão de areia”(v.15) tão pequenas que ele, o Senhor, nem as percebe. “Diante dele todas as nações são como nada; para ele são sem valor e menos que nada” (v.17). 

“Menos que nada”, no hebraico, significava “uma bolha de sabão” – algo que flutua pelo ar em uma película de espessura ínfima. Este é o sentido: todas as nações do mundo são para Deus como uma bolha de sabão. O texto continua: “Ele se assenta no seu trono, acima da cúpula da terra, cujos habitantes são pequenos, como gafanhotos. Ele estende o céu como um forro e os arma como uma tenda para neles habitar. Com quem vocês vão me comparar? Quem se assemelha a mim? Pergunta o santo. Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que põe em marcha cada estrela do seu exercito celestial, e a todas chama pelo nome. Tão grande é o seu poder e tão intensa a sua força, que nenhuma delas deixa de comparecer” (IS 40.22-26).

Voce já olhou para o universo e perguntou: “O que mantém o universo de pé?”, ou “o que mantém a coesão de todas as coisas?” Por que o universo não entra em colapso? “Maravilha-me”, disse Juliana, “como o universo conseguia perdurar, como tudo isso se mantém coeso”. Em seguida, disse: “Ocorreu-me, então. Vi que todas as coisas encontram existência no amor divino, e que Deus as fez, ama e sustenta”. Deus é o criador “No principio criou Deus os céus e a terra”; “Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (Jo 1.3).

3)     Por que não somos felizes?

Ao meditar no assunto, Juliana disse: “Se tudo isso é verdade, porque não gozamos todos de grande sossego de coração e de alma? Por que os cristãos não são pessoas mais felizes e serenas de todo o vasto mundo?” Em seguida, ela responde à própria pergunta: “Porque buscamos nosso descanso em coisas muito pequenas. A avelã em que está condensando tudo que existe. Tentamos encontrar nossos prazeres nessas coisinhas”.

O que te deixa feliz? O que o alegra e estimula seu estado de animo? É o seu emprego? O fato de ter roupas boas? De ter feito um bom casamento ou de ocupar excelente posição? Afinal, o que lhe dá alegria?

Sabemos que Deus é tão grande que, comparado a ele, tudo fica do tamanho de uma avelã. No entanto, não somos um povo feliz porque temos a cabeça voltada para as coisas. Multiplicamos coisas, aumentamos coisas e aperfeiçoamos as coisas. Temos nosso emprego e Deus; temos nosso marido e Deus; temos nosso corpo forte e Deus; temos nossa casa e Deus. Temos nossa ambição de futuro e Deus, de modo que pomos Deus como um sinal de adição depois de qualquer outra coisa. 

Nossa dificuldade está em depositarmos nossa confiança em coisas, não em Deus. Disse Juliana: “Deus me mostrou que todas as coisas têm apenas o tamanho de uma avelã. Sendo assim, porque eu haveria de depositar minha confiança em coisas tão pequenas?” Porque tudo o que está abaixo de Deus não nos satisfará! Ele nos fez a sua imagem e sua semelhança, não tem como a gente fugir dessa condição. Deus lhe fez a sua imagem e semelhança e nada menos que Deus o satisfará.

Conclusão:

“Nada menos que Deus, não quero mais nada”, afirmou Juliana. Ou seja, “Ó Deus, se tenho toda essa avelã – tudo, subindo e descendo a escala de tudo o que é belo na terra, os diamantes das minas, a madeira da floresta, o encantamento da paisagem e as riquezas da cidade – se tenho tudo isso e não tenho o Senhor, ainda tenho fome, ainda tenho sede...”

Existe um santuário dentro de nós, um santuário escondido que ninguém o conhece, a não ser você. Há “um jardim no Eden, para os lados do leste” (Gn 2.8). Ele fica nessa sua grande alma – essa alma que é maior que o universo estrelado. E, haja o que houver, você ouvirá um brado desse santuário: “Não quero mais nada. Ó Deus, ainda tenho fome, ainda tenho fome”.

Imagine passar a eternidade clamando: “Não quero mais nada, Ó Deus – para todo o sempre! Ó Deus, tenho fome e não posso comer; tenho sede e não posso beber. Manda Lazaro a fim de que molha a ponta do dedo na agua e refresque a minha língua; pois estou atormentado nesse fogo” (Lc 16.24). “Deus não quero mais nada. Tenho tudo: religião, posição, dinheiro, cônjuge, filhos, roupas, uma casa boa; mas tudo não passa de uma pequena avelã – nada. “Ó Deus, sinto falta daquilo que eu mais queria!”