Reconstrução Rt 2
Introdução
Elimeleque saiu com sua família de Belém (casa do pão) para
morar em Moabe, afim de escapar de uma fome em Belém. Lá, seus filhos se
casaram com moabitas e a vida deu uma volta brutal. Primeiro, com a morte de
Elimeleque, depois com a morte de seus filhos. Agora, Noemi estava viúva (sem
marido) e sem filhos e, também sem dinheiro; somente restaram suas duas noras.
Então, ela ficou sabendo que em Belém tinha pão “O senhor
viera em auxilio do seu povo” (Rt 1.6), resolveu então retornar para casa. E as
suas noras? Orfa decide ficar em Moabe, enquanto que Rute é leal (hesed) à
Noemi e lhe faz um juramento: “....aonde
fores irei; onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus será
o meu Deus! Onde morreres morrerei; e ali serei sepultada” (Atos 1.16.17).
O capitulo primeiro termina com a chegada de Noemi e sua nora
Rute à Belém e o espanto dos belemitas:
“...todo povoado ficou alvoroçado por causa delas. Será que é Noemi” (Rt
1.19). Mas, não era a mesma Noemi que saíra de Belém há dez anos “de mãos cheias eu parti”. Agora, ela
diz: “Não me chame de Noemi, melhor que
me chamem de Mara, pois o Todo-Poderoso tornou a minha vida muito amarga”
(Rt 1.20).
1)
Inicio
O que fazer agora? Será que alguém vem nos ajudar? Eles estão
na terra prometida, mas a despensa está vazia. O verso 2 diz: “Rute, a moabita, disse a Noemi: Vou
recolher espigas no campo daquele que me permitir”. Por vezes é muito
difícil para quem já esteve em boa situação financeira dar o passo duro de
fazer um serviço que seja aparentemente mais humilde. A situação não é nada
fácil. Napoleão Bonaparte dizia: “a vitória sem luta não tem glória”.
Mas Rute tem força em seu corpo, tem vigor para andar debaixo
do sol e fazer o que for necessário. Paulo coloca esse princípio: “...se alguém não quiser trabalhar, também
não coma... trabalhem tranquilamente e comam o seu próprio pão” ( Ts
3.9-10). Ela não vai perder tempo em
murmuração, nem vai ficar dependendo da bondade alheia, nem mesmo ficar na
autocomiseração das amarguras. Ela vai fazer o que pode, por ela e por Noemi.
Mas o que ela vai fazer, exatamente? Apanhar espigas! Na
colheita havia a seguinte divisão de trabalho: os homens agachavam e cortavam
os feixes e as mulheres juntavam e atavam os feixes. Nisso, um pouco do produto
ia ficando pelo caminho. Desse algo que sobrava, os forasteiros e outros podiam
apanhar para a sua própria provisão. Olha que diz a lei: “Quando fazem a colheita...não ajuntem as espigas caídas de sua
colheita...nem apanhem as uvas que tiverem caído. Deixem-nas para o necessitado
e para o estrangeiro” Lv 19.9-10).
A atitude de Rute deve nos ensinar algo sobre a humildade e a
dignidade que existem em qualquer emprego honesto. Apanhar sobras de espigas é
serviço humilde e um tanto inglório, mas não está abaixo dela, não é algo que
ela se ressente. Muitos reclamariam: “Deus, eu deixei tudo pelo Senhor e agora
terei de colher espigas? Sobras? Eu abandonei a segurança da minha terra para
isso? Mas, a postura de Rute é muito importante e revela algo precioso sobre
quem ela é. É a tranquilidade de confiar sua a vida a Deus ao invés do
vitimismo do coração que acha que Deus e o mundo lhe devem tudo.
Trabalho envolve humildade, muitas e muitas vezes. Aliás, é
bom lembrar: trabalho não é resultado de queda! É, sim, algo bom e dado por
Deus. Adão recebeu incumbências mesmo antes do pecado (Gn 2.15,19). No texto,
Rute trabalha o dia todo e segue trabalhando depois de achar alguém que a
favorece. Portanto, não é falta de fé buscar meios e trabalhar. Pelo contrário,
esta é a real expressão de fé “a fé sem obras é morta”. E a igreja? Igreja tem muito trabalho, com esforço de todas as
partes. Somos um corpo, e Deus espera que cada membro do seu corpo faça sua
parte, que assuma responsabilidades: oração, evangelismo, discipulado, etc
2)
O
Deus que intervém
Rute vai trabalhar no campo de um homem chamado Boaz, e
trabalha duro, o diante todo. Quando chega o dono do campo, Boaz, ele pergunta:
“Quem é essa?” (Rt 2.5). “É a moça moabita que veio com Noemi e pediu para
colher espigas. E, olha, ela está trabalhando firme! Fez uma pequena pausa para
descansar ... mas segue firme”.
Primeira coisa, Rute não sabia quem era o dono daquele campo. Diz o texto: “Casualmente entrou justo na parte da plantação que pertencia a Boaz, que era parente de Elimeleque” (Rt 2.3). O ponto é que o Senhor a dirigiu até aquele campo que ela nunca imaginara ser de um possível parente resgatador. E o campo lhe era propicio, onde havia grãos e espigas para ela catar. Boaz era temente a Deus e a sua lei, e o seu campo era do Senhor. Ou seja, Rute vai trabalhar no campo de um homem que entende que tudo o que ele tem veio da mão do Senhor. “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1).
Segundo, notem os servos de Boaz. Eles falam bem dela, quando
não tem nada a ganhar com isso. Eles não discriminam por ser uma moabita. Eles
não atentam contra ela... era um campo afastado da cidade...poderia ter acabado
mal para Rute. Lembre-se, é o período dos juízes. Cada um fazia o que era reto
a seus próprios olhos. Pois, Rute está
sexualmente vulnerável, sem dinheiro, está financeiramente sem nada, sem amigos,
é solitária, e fora do seu país, ela não tem protetor, marido, tribo, família
ou comida. Ela é uma mulher de fibra. Vulnerabilidade é a parte do custo de
hesed. O amor traz risco. HUMANAMENTE DESPROTEGIDA, MAS DIVINAMENTE AMPARADA!
3)
Encantamento
Boaz era um homem de posses, mas não um avarento, mesquinho;
mas generoso. Ele tem diversos funcionários e os trata bem e dignamente. Ele
invoca as bênçãos do Senhor sobre os seus: “O Senhor esteja com vocês” (Rt
1.3). Além disso, era respeitado por seus funcionários. Era de homem de caráter
e que levava a sério a Palavra do Senhor.
Rute atrai a atenção dele. Boaz puxa conversa e fala sobre a
proteção que ele está disposto a oferecer-lhe: “...não colha em outro
lugar...aqui ninguém vai tocar em você...”(Rt 2.8-10). Ele havia ficado
impressionado com a sua história: “Contaram-me tudo o que você tem feito por
sua sogra, sua viuvez, deixou o seu povo para viver com um povo que não
conhecia bem” (Rt 2.11-12). Então, o que chamou a atenção de Boaz, foi
justamente sua linda história de fé.
Em cima disto, uma pergunta aos solteiros: “o que os
impressiona em alguém a ponto de fazê-los parar para olhar?” em que ponto a
piedade, espiritualidade entra na sua lista de elementos atrativos? Uma
pergunta aos casados: “o que buscam incentivar em seus cônjuges?” é a piedade e
seus frutos? Ou, fazer com que ele (a) fique cada vez mais corpulenta?
Boaz vai mais longe. Ele disse aos seus trabalhadores: “Mesmo que ela recolha entre os feixes, não
a repreendam. Ao contrário, quando estiverem colhendo, tirem para ela algumas
espigas dos feixes e deixem-nas cair para que ela as recolha, e não a impeçam”
(Rt 2.15-16). Ou seja, Boaz está dizendo: Deixem buscar mesmo onde não seria
normalmente permitido; deveriam pegar intencionalmente algumas espigas dos
molhos e deixar de proposito para ela, sem repreende-la.
Também Boaz leva Rute para comer junto com ele. “Venha cá”!
“Se aproxime” “Pegue um pedaço de pão e molhe no vinagre” (Rt 2.14). Coma,
coma, coma! E ela encheu sua pancinha moabita de pão. Uma refeição nesse tempo
é muito mais do que se alimentar. Na mesa de Boaz há comunhão, koinonia,
comunidade, alegria. Esse homem está se expondo. Está cuidando de alguém que
precisa de cuidados. Está protegendo essa mulher desprotegida, sem querer nada
em troca. Rute volta para casa levando 13 KG DE COMIDA EM UM DIA DE TRABALHO.
Conclusão:
A colheita de cevada durava cerca de um mês e emendava na do
trigo – culminando em Pentecostes. Rute, uma moabita estava sendo incorporada
na comunidade do pacto. O que aconteceria séculos depois na festa de
Pentecostes em Jerusalém. Um dia Deus faria uma colheita abundante entre os
gentios quando sua graça se estenderia para a totalidade das nações.
Deus nos oferece muito mais que colher as espigas no caminho,
ele nos convida para o banquete de sua própria mesa. Quando nos encontramos com
o povo de Deus para cultuar, participamos de um banquete preparado por Deus.
Alimentamo-nos de sua palavra, recebemos bênçãos advindas do culto e comungamos
com os nossos irmãos.
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