Retorno e amarguras Rt 1.6-22
Introdução
O livro de Rute é uma história da graça de Deus. De uma família
que morava em Belém (terra do pão) que por causa da fome resolve mudar para
Moabe. No desespero podemos fazer três coisas: suportá-lo, fugir dele e usar ao
nosso favor. É uma saga humana, de todos (homens e mulheres) diante de uma
situação difícil, impulsivamente mudam de pais, de cidade, de casa, etc. Contudo,
esquecemos que a conta chega....
1)
Arrependimento.
Noemi está em Moabe. Sem marido, sem filhos, sem nada. “Noemi ficou sozinha, sem seus dois filhos
e sem o seu marido” (Rt 1.5). Contudo, em Belém “O Senhor viera em auxilio do seu povo, dando-lhe alimento” (Rt
1.6). Entendendo que a fome que veio sobre Judá foi resultado da ação de Deus
pesar a mão sobre Israel a fim de fazê-lo voltar ao seu caminho, voltar à Deus.
O sofrimento é o megafone de Deus,
quando Deus pesa a mão sobre o seu povo é a fim de conduzi-lo ao
arrependimento.
Antes não havia pão na casa do pão, mas voltou a haver. Deus em sua bondade está pronto a perdoar o seu povo. No tempo dos juízes, ele mesmo levantava pessoas para liderar o povo em arrependimento. Então, diante dessa notícia: “Tem pão na casa do Pão”, Noemi pensou: “Talvez haja esperança de redenção para mim. O que mais eu poderia fazer? Ficar aqui em Moabe?” Se Deus perdoou o seu povo, que andava longe espiritualmente, e ela, que estava longe tanto física quanto espiritualmente, decide ver se ainda há espaço para ela.
Que lição preciosa. O povo de Deus sempre pode voltar.
Cristãos muitas vezes andam por um tempo longe de Cristo e de sua igreja, e
quando caem em si acham que não tem mais volta, ou temem que será vergonhoso
demais retornar. Nossa esperança não é de vivermos sem pecar. Entretanto, a
verdade libertadora da Bíblia é que “se todavia, alguém pecar, temos advogado
junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 João 2.1). O perdão de Cristo é o que
pavimenta nosso caminho.
Contudo, muitos perdem a oportunidade de voltar por conta do
seu orgulho. Mas, Noemi, engole o orgulho e decide pela vida. “Coloquei diante de vocês a vida e a morte,
a benção e a maldição. Agora escolham a vida...” (Dt 30.19).
“Vou voltar, voltar à minha terra e ver se há perdão e nova
vida para mim também. Ver se o Senhor também se lembra de mim”. Como o filho
prodigo. “Caindo em si, ele disse: quantos trabalhadores de meu pai tem comida
de sobra, e eu aqui, morrendo de fome...e lhe direi: pai pequei contra o céu e
contra ti...” (Lc 15.17). Noemi também está decidida a lidar com as consequências
do seu pecado. Voltar a lidar com a vergonha, com a pobreza resultante, com a
solidão de ser viúva e sem filhos. Nós também temos que lidar com os resultados
de nossas escolhas ruins...
2)
E
as noras?
“Vão”, disse Noemi, “retornem para a casa de suas mães! Que o Senhor seja leal com vocês, como vocês foram leais com os falecidos e comigo” (Rt 1.8). Noemi testifica que foram boas esposas e, imaginando que teriam uma vida melhor ali, sugerem que fiquem em Moabe e busquem novo marido. Elas insistem, chorando, que irão com Noemi: “Não!”, dizem, “voltaremos com vocês para junto do seu povo” (Rt 1.10). Noemi sabia que duas moabitas irem para Belém não seria bom. Orfa e Rute se veem diante de uma decisão emotiva, difícil e com consequências profundas.
Orfa faz a escolha humanamente sensata e prudente. Ela fica
com o seu povo, vai atrás de um novo marido e desaparece das paginas da
história da redenção. Uma decisão aparentemente sensata pode ser o caminho da
perdição. Ela vai atrás do humanamente certo e seguro, seguindo a mesma logica
de Elimeleque e Noemi no passado “o que é mais importante para mim é ter abundancia
material, segurança, viver a minha felicidade, do que viver a vida de acordo com a vontade de
Deus”
E, quanto a Rute? Ela escolheu o amor pactual – hesed – por Noemi e pelo Senhor Deus de Israel: “Não insista comigo para deixa-la e voltar. Aonde você for, irei; onde você viver, lá viverei. Seu povo será o meu povo, e seu Deus, o meu Deus. Onde você morrer, ali morrerei e serei sepultada. Que o Senhor me castigue severamente se eu permitir que qualquer coisa, a não ser a morte, nos separe” (Rt 1.16-17). Rute se apegou a Noemi (Rt 1.14), esse termo envolve uma aliança, usado em Gn 2.24 para se referir a como um homem se une à sua mulher no matrimonio “os dois se tornam um só”.
Ela está jurando que que não voltará: “Onde quer que morreres, morrerei eu e ai serei sepultada”. Ela não disse: quando você morrer eu morrerei, ou seja, onde você morrer eu morrerei. Não estou indo passar simplesmente um tempo em Belém, como vocês foram para Moabe para passar um tempo, estou indo de vez, eu estou mudando de lado. Serei enterrada com seu povo, pois agora seu povo é meu povo e seu Deus é o meu Deus.
Que poesia, que belíssimo juramento! É algo que nasce de um
coração que encontrou a beleza e o poder do Deus verdadeiro. Um coração que teve
um encontro pessoal com Cristo. Vejam: um moabita, um povo mal falado, um povo
que veio da descendente de Ló com a sua filha! Mas, aqui tem uma moabita que teve um encontro com Deus, que teve uma vida
transformada, mudada pelo poder de Deus. Que fé, que devoção, que desapego “Se alguém quer ser meu seguidor, negue-se
a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23).
E, quanto aqueles que cresceram na igreja, acostumados com a
pregação do evangelho, acostumados com o ritmo da igreja, será que tem a mesma
devoção de Rute? A ligação deles com Deus é algo demasiadamente normal, sem sobrenatural,
sem renuncias. Uma pergunta: Quanto estamos dispostos a deixar a fim de nos
apegarmos ao Deus vivo? Deixar emprego, família, posição, dinheiro, liberdade
e, por vezes, a própria vida. Por vezes, deixar Moabe significa fechar muitas
portas. O caminho para Belém é estreito, mas leva à vida eterna.
3)
Voltando
para casa
O que será que passou pela cabeça de Noemi em sua viagem de volta de Moabe à Belém? “E agora? Como vou falar com Maria, com Isabel? E quanto a Jacó, irmão do meu falecido marido? O que vou dizer? E explicar nossa pobreza para todo mundo que perguntar? A volta depois do pecado pode ser difícil, mas vale a pena.
O verso 19 mostra grande alvoroço com seu retorno “...toda cidade se agitou por causa delas.
Será que é mesmo Noemi? Perguntavam as mulheres?” Logo toda a cidade está
falando delas. É mesmo a Noemi? Cadê o marido, cadê os filhos? Quem é essa
mulher com ela? O povo começou a falar. Aliás, o povo de Deus gosta de falar da
vida dos outros! Uma pergunta: como você
recebe os que estão voltando? Até onde sabemos ninguém foi até elas, ninguém
abraçou, envolveu, recebeu, ofereceu ajuda. Como você recebe os que tem vivido
fora da igreja, quando voltam em humildade e mostram arrependimento? Voce fala
algo como: “Eu já sabia, teve o que merecia”. Ou você recebe como o pai na parábola
do filho prodigo, que exulta em que alguém perdido foi achado (Lc 15.11-32).
“Será que é mesmo Noemi?”. Mas ela rapidamente diz: “Não me chamem de Noemi, respondeu ela. Chamem-me de Mara” (Rt 1.20). A palavra “Mara” significa amarga. Vem lá de Exodo 15 das aguas amargas “Quando chegaram a Mara, descobriram que a agua era amarga demais para beber. Por isso chamaram aquele lugar de Mara” (v.23). Antes seu nome era Noemi, que significa “agradável”. Quem é o culpado? “O todo Poderoso tornou minha vida muito amarga” (Rt 1.20). Portanto, amargura descreve nosso descontentamento com a vida e com tudo e todos. Parece que Deus está querendo o nosso mal. A amargura, às vezes, vem devagar e corroí a alma.
Conclusão:
“Sou como uma filha prodiga, perdi tudo”. Mas não é não. Noemi não está voltando vazia coisa nenhuma! E essa mulher que jurou viver por você ao seu lado? Ela não voltou vazia, voltou com Rute, mais sensata, preciosa e fiel do que seu marido e que seus filhos. Auto piedade míope pode nos impedir de ver o que de bom o Senhor tem feito e nos tem dado, pessoas que estão do nosso lado.
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