terça-feira, 30 de maio de 2023

 Vencendo a capa religiosa – Lucas 15. 25-32 

Introdução

Em Lucas 15 temos dois filhos: um é considerado mau segundo os padrões tradicionais, e o outro é tido como “bom”, mas os dois estão separados do pai. O pai é obrigado a sair e convidá-los a participar da celebração do seu amor. O filho mau entra para o banquete do pai, mas o bom fica do lado de fora. Aquele que buscou a companhia de prostitutas é salvo, participa do banquete.

Por quê o irmão mais velho não quis participar do banquete? “Porque eu nunca desobedeci ao Senhor”. A barreira entre ele e o Pai não havia sido colocada por seus pecados, mas pelo orgulho decorrente de seu comportamento pautado pela moral. Portanto, o que o impede de participar do banquete do pai não é a sua iniquidade, mas sua retidão.

1)     O religioso - filho mais velho

Sabemos que muito fácil discernir o pecado do filho mais novo, porque é insensato, inconsequente, indisciplinado, em busca do seu autoconhecimento. E acaba sem dinheiro, sem amigos e sem recursos. Nessa hora, ele percebe que havia se “perdido pelo caminho” e volta para tentar reconstruir a vida. 

O filho mais velho é amargurado. No caso do irmão mais velho, o pecado é mais fundo. Mas no verso 28 deixa transparecer: “O filho mais velho encheu-se de ira”. Ou “ficou com raiva”. Quando a vida não é aquilo que queremos, não ficamos apenas “irados” ou com “raiva”, mas também cheios de amargura. Nosso raciocínio é: “Vivemos uma vida marcada pelas virtudes, pela obediência estrita aos mandamentos de Deus, logo, nossa vida não terá tantos percalços, ou solavancos, mas será um mar de rosas. 

Quando ele se defronta com a alegria do Pai pelo filho que volta, surge uma onda de revolta que explode, chegando a superfície. De repente, aparece ali nitidamente visível uma pessoa ressentida, orgulhosa, má, egoísta; alguém que permaneceu profundamente escondida apesar de estar crescendo e se fortalecendo ao longo dos anos.

O que causa mais dano: luxuria ou ressentimento? Há tantos ressentimentos entre os “justos” e os “corretos”. Há tanto julgamento, condenação, e preconceito entre os “santos” ...

O filho mais velho tem um senso de superioridade. “Mas quando volta para casa esse seu filho...” (Lc 15.30). Primeiro, ele ressalta o seu histórico de vida: “Olha! Todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens” (Lc 15.29).  Sua moral é bem superior do irmão que se envolveu com prostitutas. Sua autoimagem estava no trabalho árduo, na retidão moral ou de sentir parte do grupo da elite religiosa. Essa postura leva a um sentimento de superioridade em relação às pessoas que não tem as mesmas qualidades.

Ele não consegue perdoar o irmão mais novo porque este gastou todo seu dinheiro e desonrou o nome da família, “...esbanjou seus bens com as prostitutas” (Lc 15.30). Enquanto que ele vivia uma vida pura, casta, santa dentro de casa. “Eu jamais chegaria a esse nível de maldade”, é o que seu coração está dizendo. É impossível perdoar uma pessoa se você se sente superior a ela.

O irmão mais velho sente a necessidade de um irmão com desvios crônicos de comportamento, tem que ter sempre a ovelha negra, alguém que ele possa sempre criticar, apontar, o bode expiatório. Agora, quando o filho mais novo se desvencilha de sua postura de negação e o pai o acolhe de volta, o irmão mais velho percebe que o ciclo foi interrompido e dá vazão a toda sua fúria.

O filho mais velho não tem alegria. Quando ele chegou em casa, vindo do trabalho, ouviu a musica e danças. Percebeu que havia alegria na casa. Imediatamente, suspeitou do que estava acontecendo. A história da parábola diz: “Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo” (Lc 15.26). O servo, sem suspeitar, excitado e ansioso para dar boa nova, explica: “É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde” (Lc 15.27). Diz o texto: “Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar” (Lc 15.28). 


O filho mais velho tem uma folha de muitos anos junto ao Pai, mas não consegue esconder sua motivação nem sua postura quando diz: “Todos esses anos tenho trabalhado para o senhor feito um escravo”. Ou seja, ele revela que a sua obediência ao pai se resume ao cumprimento de deveres , obrigações, responsabilidades a cumprir. Mas, não tem alegria, nem amor, e tampouco se sente recompensado pelo simples fato de ter feito o que era do agrado do pai.

 “Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos” (Lc 15.29). Ele se submete as normas éticas, às responsabilidades da família, da comunidade e aos deveres cívicos...mas nem tudo isso passa de um trabalho árduo e enfadonho, típico de um escravo que trabalha sem alegria. Um escravo trabalha movido pelo medo...no fundo...levava uma vida baseada no medo, não no amor e na alegria. 

O filho mais velho não tem certeza do amor do pai. “O Senhor nunca me deu um banquete”. Não há dança nem banquete no relacionamento do irmão mais velho com o pai. E mais: toda as vezes que algo dá errado em sua vida ou quando sua oração não é respondida, você fica se perguntando se está vivendo corretamente nesta ou naquela área.

Mais: não suporta receber criticas de terceiro, ou de ninguém. Não somente as criticas lhe deixam para baixo, mas o deixam arrasado. Sua percepção do amor de Deus é abstrata, como disse Jó: “Antes eu lhe conhecia somente de ouvir falar”, alguém me falou, uma tradição familiar. Mas depois, da prova, ele afirma: “...mas agora os meus olhos te viram” (Jó 42.5). Agora, te experienciaram ou se relacionaram contigo, vejo Deus face a face...

Mais: talvez o sintoma mais nítido dessa falta de certeza é uma vida de oração árida. Pode ser que ore, mas suas conversas com Deus estão destituídas de fascínio, beleza, Maravilhamento, intimidade, lágrimas ou, simplesmente prazer de estar ali ajoelhado diante dEle. E quando ora, às vezes é por necessidade, e também seu discurso é totalmente voltado para as necessidades e pedidos, não para um louvor espontâneo e marcado por alegria. 

Conclusão:

Lucas 15 conta sobre três parábolas. A primeira é a da ovelha perdida, uma se perde das demais e o pastor deixa 99 no aprisco e vai em busca da ovelha perdida. Acha sua ovelha e convida seus amigos e vizinhos, dizendo: “Alegrem-se comigo, pois encontrei minha ovelha perdida” (Lc 15.6). A segunda parábola é da moeda perdida; uma mulher tem dez moedas, mas perde uma delas. Ela procura até acha-la. Quando a encontra, chama seus amigos e vizinhos e lhe diz: “Alegrem-se comigo, pois achei a moeda perdida" (Lc 15.9). 

Então, em cada uma das parábolas, alguma coisa está perdida: uma ovelha, uma moeda, um filho. Em cada uma das histórias, a pessoa que sofre a perda acaba encontrando o que tinha perdido. As três narrativas terminam com uma nota de alegria e celebração festivas com a recuperação do que estava perdido.

No entanto, há uma incrível diferença entre a terceira parábola e as outras duas. Nas duas primeiras, alguém “sai” para fazer uma busca diligente do que se havia perdido. Na terceira história, quando vemos o drama vivido pelo filho que se perdeu, ficamos na expectativa de que alguém saia à procura dele. Mas ninguém sai! Jesus está convidando seus ouvintes a fazerem a seguinte pergunta: “Quem deveria ter saído à procura do filho perdido?” 

É isso que o irmão velho da parábola deveria ter feito; é isso que faria um verdadeiro irmão mais velho. “Pai, meu irmão agiu como um tolo, mas vou procura-lo e o trarei de volta para casa. E se ele não tiver mais dinheiro, arcarei com todas as despesas para trazê-los de volta à nossa família”.

Jesus nos conta que os pai tinha dividido seus bens entre os dois filhos antes da partida do mais novo. O irmão mais novo recebeu um terço da herança do pai e gastou tudo, nada sobrou. Quando o pai diz ao irmão mais velho: “Meu filho... tudo o que eu tenho é seu”, ele está dizendo a mais pura verdade. Todas as roupas, todos os anéis, todos os novilhos da engorda eram dele por força de direito adquirido.

O primeiro ato da parábola nos mostra a gratuidade do perdão oferecido pelo pai, mas o segundo ato nos dá uma idéia do alto custo. O pai não podia simplesmente perdoar o filho mais novo – alguém tinha que pagar! O pai não poderia trazê-lo de volta a não ser à expensa do irmão mais velho. Não havia outro jeito. Mas, na história, não havia um irmão mais velho disposto a pagar o preço necessário para buscar e salvar o que havia perdido...o filho mais novo tem um irmão fariseu.

Esse irmão existe. Não precisamos de alguém que simplesmente se dirija ao pais vizinho para nos encontrar, mas alguém que desça do céu para a terra. Precisamos de um irmão que esteja disposto a pagar não apenas uma quantia finita, mas o valor infinitamente mais alto de sua própria vida nos reintegrar à família de Deus, visto que nossa divida é alta demais. E Jesus fez isso por nós... 


 

terça-feira, 23 de maio de 2023

 Vencendo o desprezo Jz 11.1-11

O que é o desprezo? Ação ou efeito de desprezar; ausência de consideração; sem apreço nem estima; ignorar; tratar uma pessoa como se fosse um poste; desdém; não prezar, não fazer caso de; desconsiderar; desatender ou rejeitar. Exemplo: o diretor tratava os funcionários com desprezo. O que aconteceu domingo com o Vinicius Junior, jogador do Real Madri é um exemplo luminoso do que é um desprezo; ele foi chamado de “macaco” por um torcedor; quase todo estádio começou a chama-lo de “macaco”. Dá pra perceber em seus olhos a humilhação, os olhos cheios de lágrimas...isso é desprezo, por causa da cor da pele! 

1)     Jefté

Primeiro Jefté nasceu em tempos obscuros. O povo de Israel estava localizado na Palestina mas “Serviram aos baalins, às imagens de Astarote, aos deus de Arão, aos deuses de Sidom, aos deuses de Moabe, aos deuses dos amomitas e aos deuses dos filisteus” (Jz 10.6). Os ídolos escravizam, os ídolos cegam, os ídolos tiram toda sensibilidade espiritual. Aos poucos vamos perdendo nossa essência, nossa identidade, e vamos nos curvando diante dos deuses do mundo. 

Segundo o significado do nome Jefté é de importância significativa. Jefté é “ele abre”, “aquele que abre”, ou “o que Jeová liberta”. O que era importante nessa cultura não era a sonoridade do nome, como acontece nos dias atuais. Mas o que era importante é o significado, é a etimologia do nome. Portanto o nome é era muito mais do que uma mera sonoridade, mas um caráter, uma sina, um destino. 

Terceiro “Jefté era um guerreiro corajoso”. Ou, “Jefté, o gileadita, era um guereiro hábil e corajoso” (BKJ) O texto inicia elogiando, falando sobre sua coragem destemida, sua habilidade numa guerra (talvez no manejo com a espada, ou, estrategista militar) conhecida por todos, mas tem uma conjunção adversativa, no entanto, todavia, não obstante, porém “era filho de Gileade e sua mãe era uma prostituta” (v.1). “Porém” é uma palavra pequenina, mas com grandes implicações. Muitas vezes ela se intromete como um estraga prazeres, jogando por terra sonhos e anulando todas as disposições que nos eram favoráveis. Existia um uma conjunção adversativa no caminho de Jefté. Existe algum no seu? 


Há feridas que não são vistas, mas que podem se alojar profundamente em nossa alma e conviver conosco pelo resto das nossas vidas. São feridas emocionais, adquiridas no decorrer da vida, que determinam a qualidade de vida que temos no presente. A rejeição é uma ferida emocional profunda; rejeitar é resistir, desprezar ou recusar.   

O rei Davi enfrentou também o desprezo: “Quando Eliabe, o irmão mais velho de Davi, o ouviu falando com os soldados, ficou furioso: O que está fazendo aqui? Não devia estar tomando conta daquelas poucas ovelhas? Conheço sua arrogância e suas más intenções. Voce quer apenas ver a batalha” (1 Sm 17.28).

Nosso Senhor foi desprezado, diz-nos o texto: “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem experimentado no sofrimento” (Is 53.3). Aqui a palavra “desprezado” é um termo que significa “considerar como desprezível ou sem valor”. Quando os fariseus olhavam para Jesus, diziam: “Ele não tem valor”. Este termo hebreu também significa “desaprovar” ou “tratar alguém com desprezo”. 

Quarto o poder do desprezo. Portanto aos olhos dos seus meios-irmãos e da comunidade a ele era de desprezo: “E aí filho de prostituta”. Diz-nos o texto: “A esposa de Gileade teve muitos filhos, e quando esse meios-irmãos cresceram, expulsaram Jefté, dizendo: Voce não receberá parte alguma da herança do nosso pai, pois é filho de outra mulher” (v.2). A família de Jefté era profundamente disfuncional, isto é, quando necessidades materiais, espirituais, afetivas, culturais deixam de funcionar corretamente e o resultado desse ambiente são filhos afetados psicologicamente.

2)     Terra de Tobe

“Então Jefté fugiu de seus irmãos e foi viver na terra de Tobe...” (v.3). Tobe ficava a leste do rio Jordão, cerca de vinte quilômetros a sudeste do Mar da Galiléia. Era um lugar desértico, um lugar árido, inóspito, selvagem e solitário.  Parece que o lugar onde ele escolheu para viver refletia bem o estado do seu coração. Muitas pessoas, ao sentirem-se rejeitadas, abandonam a família, os amigos e a igreja...passando a frequentar lugares perigosos e deprimentes, como que dizendo: “Eu não mereço coisa melhor”. 

E continua o texto: “...em pouco tempo, passou a chefiar um bando de desocupados que se uniram a ele” (Jz 11.3), ou “reuniu em torno de si um bando de vadios, que andavam com ele” (BKJ), ou “alguns marginais se juntaram a ele e formaram um bando” (A mensagem). Numa região despovoada, ele reuniu um bando de homens “desocupados” “vadios” e “marginais” (v.3).  


Ou seja, Jefté fazia parte do crime organizado; era um tipo de chefe do submundo. Era um marginal, na essência da palavra, e um bandido vindo de um lar arruinado. As ruas de nossas cidades estão hoje cheias de “jeftés”. Gente que foi desprezada, magoada, ferida que fez da revolta e rebeldia o seu jeito de sobreviver. 

O que Jefté está fazendo? Está tentando encontrar sua identidade e, assim, buscar segurança nas amizades. É fato que, se não encontrarem segurança no lar, os jovens encontrarão fazendo parte do grupo de amigos. A formação da identidade acontece dentro de casa, dentro do lar. A casa tem que ser um castelo, um refúgio, um local de afeto, de aceitação....

3)     De volta para casa

“Por essa época, os amonitas começaram a guerrear contra  Israel” (Jz 11.7). Agora, vejam como a vida dá volta: “...os lideres de Gileade mandaram buscar Jefté na terra de Tobe. Veja e seja o nosso comandante! disseram. Ajude-nos a lutar contra os amonitas” (Jz 11.5-6). Nosso Deus é aquele que joga por terra todas as previsões, diagnósticos, expectativas e “profecias” dos homens.

O filosofo francês Jean Paul Satre disse certa vez: “NÃO IMPORTA O QUE FIZERAM COM VOCE. O QUE IMPORTA É O QUE VOCE FAZ COM AQUILO QUE FIZERAM DE VOCE”.  


Paulo lembra que éramos antes: “Lembre-se de quem vocês eram quando foram chamados para esta vida. Não vejo entre vocês....representantes da elite intelectual, nem cidadãos influentes, nem muitas famílias da alta sociedade...Deus, deliberadamente, escolheu homens e mulheres que a sociedade despreza, explora e abusa...escolheu gente do tipo “zé-ninguém” para desmascarar as pretensões vãs dos que se julgam importantes...Tudo o que temos – cabeça no lugar, vida correta, pecados perdoados e novo inicio – vem de Deus, por meio de Jesus Cristo...” (1 Co 26-31 – A mensagem).

Conclusão

Antes de sermos concedidos no ventre materno, fomos gerados no coração de Deus: “Eu o conheci antes de formá-lo no ventre de sua mãe” (Jr 1.5). Desde a eternidade ele nos conheceu, chamou-nos pelo nome, quis que existíssemos, sonhou conosco, planejou grandes coisas para a nossa vida, providenciou o sacrifício do próprio filho para a nossa redenção.

Nossas experiencias, nas mãos de Deus, podem tornar-se instrumentos poderosos para uma vida útil e vitoriosa. Afinal, foi graças ao seu treinamento nas batalhas do deserto que Jefté veio a ser o israelita mais capacitado para conduzir seu país numa guerra de libertação. Como lhe foram valiosos, agora, aqueles anos passados na terra de Tobe! Foi assim que ele derrotou o exército dos amonitas. 


 

domingo, 21 de maio de 2023

O filho que queria embora da casa do pai 



 O filho não gostava de morar na casa do pai.

Isso era por causa da constante "irritação" de seu pai.

 

- “Você está saindo da sala sem desligar o ventilador.”

- “A TV está ligada na sala onde não há ninguém. Desligue!"

- “Mantenha a caneta no suporte.”

 

O filho não gostava que seu pai o importunasse por causa dessas pequenas coisas.

Ele teve que tolerá-las até receber um convite para uma entrevista de emprego.

“Assim que conseguir o emprego, devo deixar esta cidade. Não haverá nenhuma reclamação do meu pai.”, foram seus pensamentos.

Quando estava saindo para a entrevista, o pai aconselhou:

“Responda às perguntas que lhe forem feitas sem qualquer hesitação. Mesmo se você não souber a resposta, mencione isso com confiança.”

Ele deu a ele mais dinheiro do que ele realmente precisava para poder comparecer à entrevista.

O filho chegou ao centro de entrevistas e percebeu que não havia seguranças no portão.

Embora a porta estivesse aberta, a trava estava projetando-se para fora, provavelmente era um incómodo para as pessoas que entravam pela porta.

Ele colocou a trava de volta corretamente, fechou a porta e entrou no escritório.

Em ambos os lados do caminho ele pode ver lindas flores.

O jardineiro deixou a torneira aberta e a água na mangueira que não parava de jorrar.

A água transbordava no caminho. Ele ergueu a mangueira e colocou-a perto de uma das plantas e foi mais longe.

Não havia ninguém na área de recepção. Porém, havia um aviso informando que a entrevista seria no primeiro andar.

Ele subiu lentamente as escadas.

A luz que estava acesa desde à noite anterior, ainda estava acesa às 10h da manhã.

Ele se lembrou da advertência de seu pai:

"Por que você está saindo da sala sem desligar a luz?" e pensou que ainda podia ouvir isso agora. Mesmo se sentindo irritado com esse pensamento, ele procurou o interruptor e apagou a luz.

No andar de cima, em um grande salão, ele viu mais pessoas sentadas, esperando por sua vez. Ele olhou para o número de pessoas e se perguntou se teria alguma chance de conseguir o emprego.

Ele entrou no corredor com alguma apreensão e pisou no tapete de “boas-vindas” colocado perto da porta e percebeu que o tapete estava de cabeça para baixo.

Ele endireitou o tapete com alguma irritação.

Hábitos são difíceis de esquecer.

Ele viu que em algumas fileiras na frente haviam muitas pessoas esperando por sua vez, enquanto as fileiras de trás estavam vazias e vários ventiladores estavam funcionando sobre esses assentos. Ele ouviu a voz de seu pai novamente:

"Por que as ventoinhas estão ligadas na sala onde não há ninguém?"

Ele desligou as ventoinhas que não eram necessárias e se sentou em uma das cadeiras vazias.

Ele viu muitos homens entrando na sala de entrevista e saindo imediatamente por outra porta. Portanto, não havia como alguém adivinhar o que estava sendo perguntado na entrevista.

Quando chegou a sua vez, Ele parou diante do entrevistador com alguma apreensão e preocupação.

O responsável pegou os certificados dele e, sem olhar para eles, perguntou: "Quando você pode começar a trabalhar?"

Ele pensou: "é uma pergunta capciosa que está sendo feita na entrevista ou é um sinal de que me ofereceram o emprego?"

"O que você está pensando?", perguntou o chefe.

Não fazemos perguntas a ninguém aqui. Pois acreditamos que através delas não seremos capazes de avaliar as habilidades de alguém. Portanto, nosso teste é avaliar as atitudes da pessoa.

Fizemos alguns testes com base no comportamento dos candidatos e observamos todos por meio de câmeras CCTV.

Ninguém que veio aqui hoje fez nada para consertar a trava da porta, a mangueira, arrumar o tapete de boas-vindas, desligar os ventiladores ou as luzes funcionando inutilmente.

Você foi o único que fez isso.

Por isso decidimos selecioná-lo para o trabalho ”, disse o chefe.

Ele sempre costumava ficar irritado com a disciplina de seu pai, mas percebeu que graças a ela, conseguiu o seu trabalho.

Sua irritação e raiva pelo pai desapareceram completamente, decidiu que levaria seu pai também para o trabalho e voltou para casa feliz.

Tudo o que nossos pais nos dizem é apenas para o nosso bem, visando um futuro brilhante para nós!

Uma pedra não se torna uma bela escultura se resistir à dor do cinzel que a lascou.

Para nos tornarmos uma bela escultura e um ser humano de valor, precisamos aceitar admoestações que esculpem os maus hábitos e comportamentos de nós mesmos. É isso que nossos pais fazem quando nos disciplina.

A mãe levanta a criança pela cintura para alimentá-la, acariciá-la e colocá-la para dormir.

Mas o pai levanta a criança nos ombros para que ela veja o mundo que ele não pode ver.

Podemos perceber a dor de uma mãe quando sofre; mas a dor do pai pode ser percebida apenas quando outros nos dizem.

Nosso pai é nosso professor quando temos cinco anos; um vilão quando temos cerca de vinte anos e um guia enquanto viver.

As mães podem ir para a casa de seus filhos quando envelhecer; mas o pai não sabe fazer isso.

Não adianta machucar seus pais quando eles estão vivos e lamentar quando eles partirem.

Trate-os bem sempre!  



 Dá-me parte da herança que tenho direito.

Olhando para Lucas 15 que conta a história do filho pródigo, podemos dividi-la em três atos.

Primeiro ato

O filho mais novo dirige-se ao pai e diz: “Dê-me minha parte da herança”. Era natural que quando o pai morria, o filho mais velho herdava dois terços da herança do pai, ao passo que o filho mais novo recebia um terço da herança do pai. 

Contudo, a partilha acontecia quando o pai morria. Na parábola, o filho mais novo pede que sua parte da herança lhe seja dada agora, e essa atitude era um sinal de profundo desrespeito. Fazer esse pedido enquanto o pai estava vivo era o mesmo que desejar sua morte.

No fundo, o filho mais novo estava dizendo era que desejava os bens do pai, mas não o pai. Seu relacionamento com o pai constituía o meio pela qual ele desfrutaria de seus bens, mas agora ele está dizendo que está cansado desse relacionamento. Ele quer embora.

E o pai? A reação do pai da parábola causa mais perplexidade que o pedido do filho. Afinal, era uma sociedade patriarcal; em uma sociedade patriarcal, expressões de deferência e respeito pelos mais velhos, principalmente pelos pais eram de altíssima importância! No oriente médio, a reação esperada de um pai tradicional seria expulsar o filho sem direito a nada, a não ser uma boa surra. Mas, o pai lhe dá sua parte...

Segundo ato

Então, o filho parte para uma terra distante longínqua “onde desperdiçou tudo o que tinha por viver de forma irresponsável” e desperdiça tudo o que tem. Quando ele se vê literalmente prostrado na lama com os porcos “cai em si” e pensa em algo. Então diz a si mesmo que irá voltar a casa do Pai, admitir que estava errado e que, portanto, perdeu os direitos de filho. Em segundo lugar, ele pretende pedir ao pai que o trate “como um de seus empregados”. Então, ali no chiqueiro, o filho mais novo ensaia deu discurso. Quando sente que está pronto para conversar com o pai, ele se levanta e começa a viagem de volta para casa... 

Terceiro ato

Por fim, o jovem chega a certa distancia da casa de onde já podia ser avistado. O pai o vê e corre – corre até ele! Os patriarcas do Oriente Médio, por serem figuras notáveis, não corriam. As crianças podiam correr; as mulheres podiam correr, os jovens podiam correr..., mas não o pai da família, o digníssimo pilar da comunidade. Ele, no entanto, corre em direção ao filho e, sem esconder nenhuma emoção, atira-se sobre ele o beija.

O filho já vai falando: “Pai, pequei contra o céu e contra o Senhor, e não sou mais digno de ser chamado teu filho”. O pai o interrompe, não apenas ignorando o discurso ensaiado, mas contrariando-o diretamente: “Depressa!” ele diz aos servos “tragam a melhor roupa e vistam nele!”. A melhor roupa na casa era a roupa do próprio pai...O que o pai está dizendo: “Não vou esperar você liquidar sua dívida, não vou esperar que você cumpra o seu protocolo de humilhação. Você não vai precisar conquistar o direito de voltar e fazer parte da família. Vou simplesmente aceita-lo de volta. Vou cobrir sua nudez, sua pobreza e seus farrapos com as roupas do meu oficio e de minha honra.

E ordena: que os servos preparem um banquete para comemorar e o prato principal era um novilho cevado: “Faremos um banquete e celebraremos, pois, este meu filho estava morto e voltou à vida. Estava perdido e foi achado”. 




bibliografia: Bíblia de Estudo Swindoll NovaVersão Internacional
O Deus pródigo - Timothy Keller - Editora Vida Nova. 

 

terça-feira, 16 de maio de 2023

 Vencendo a ambiguidade Is 29:13-16 

Introdução

Ambiguidade é indecisão, hesitação, é não ser quente nem frio mas morno, é alguém que vive coxeando entre dois pensamentos, imprecisão, hipocrisia, etc. Jesus em seu sermão do Monte nos alerta para sobre duas portas: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que levam à perdição, e muitos são os que entram por esse caminho. Como estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida! Sãos poucos os que a encontram” (Mt 7.13-14). 

1)     Ambiguidade na Bíblia

O texto lido fala sobre o profeta Isaias, o profeta messiânico. Ele profetizou nos reinados de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequiel (Is 1.1). O capitulo seis narra a vocação ao ministério profético, essa vocação aconteceu no ano em que morreu o Rei Uzias. Ele nos diz: “No ano em que faleceu o rei Uzias, eu vi o Eterno sentado sobre um trono alto e exaltado...em torno dele haviam serafins. Cada um tinha seis asas...e clamavam: Santo, Santo, santo, é o Senhor dos Exércitos, eis que toda terra está cheia da sua glória” (Is 6.1-3). 

É aqui que a ambiguidade do profeta aparece, suas rachaduras, suas sombras: “seus lábios impuros” (Is 6.5). Enquanto estamos longe da presença do Santo, o mais longe possível, nossa consciência é aliviada pela conivência da sociedade que nos cerca. Mas, quando a glória do Eterno se manifesta não tem para onde fugir: “Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos contemplaram o Rei, o Senhor dos Exercitos”(Is 6.5). 

Em 1 Reis 18, vemos o profeta Elias confrontando o povo de Israel que estava se curvando diante de Baal. O povo vivia em indecisão, em ambiguidade, ora adorava a Deus ora adorava a baal. “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o. Porém, o povo nada lhe respondeu” (1 Rs 18.21). Ou seja, chega de indecisão, chega de ficar em cima do muro, chega de titubear, é hora de decisão. “Até quando ficares estacionados entre duas possibilidades?” ou “Até quando vão oscilar de um lado para o outro”. 

O apostolo Pedro, discipulo de Cristo, é outro que teve ambiguidade na sua caminhada. Depois de cear com seus discípulos, Jesus lhes disse: “Ainda esta noite todos vocês me abandonarão...”.  Mas Pedro protesta: “Ainda que todos te abandonem, eu nunca te abandonarei” (Mt 26.31-33). Mas, Jesus que está acima de toda a ambiguidade é incisivo: “Asseguro-lhe que ainda esta noite, antes que o galo cante, três vezes você me negará” (Mt 26.34). 

E o que dizer da igreja de Laodiceia? Uma cidade rica, imponente. Lá tinha bancos para trocar moeda; importantes fabricas de lã preta e sofisticada; famosos centros médicos de oftalmologia. Em 60 d.c a cidade foi quase destruída por causa de um terremoto, mas não precisou de ajuda do império romano. Mas, Jesus é incisivo, faz um diagnostico preciso: “Conheço as tuas obras, sei que nem és frio nem quente. Antes fosse frio ou quente” (Ap 3.15).  Então é o que? “...és morno...”. Laodicense é sinônimo de alguém morno, sem posicionamento espiritual. 

2)     Honra com os lábios, mas o coração está longe...

Deus se preocupa com o coração, ele pede “Filho dá-me o teu coração” (Pv 23.26). Por que é o do coração de onde vem nossas decisões e as razões de fazermos o que fazemos “...é dele que procedem todas as saídas da vida” (Pv 4.23). Deus vê além da superfície, além da mera aparência e vai direito as motivações. Não se ilude com aqueles que recitam as palavras da Bíblia – que fazem e dizem coisas para serem vistos com seus seguidores – mas que no fundo não tem interesse em conhecer a Deus verdadeiramente. É DESESPERADOR ESTAR NESSA CONDIÇÃO. 

Em algum momento da nossa vida haverá essa ambiguidade, ou seja, um distanciamento entre os lábios e o coração. Nessas horas você não encontrará muita ajuda de conselheiros humanos – seja psicólogo, seja psicanalista, psiquiatra, etc –, pois é algo puramente espiritual.  Em vez disso, Deus lhe diz: “Meu Espírito Santo trabalhará em seu coração à medida que você o tornar disponível a mim. Faça isso e eu o trarei de volta a vida”.

Deus é como o médico que examina a garganta do paciente, ou coloca um estetoscópio sobre o seu coração, ele avalia os sintomas antes de apresentar o diagnóstico. Ainda que você pronuncie palavras piedosas de louvor em sua presença, o Senhor não deixa de avaliar os corações. 

Depois de olhar, de averiguar, encontramos dois diagnósticos: O primeiro diagnóstico é: “O Senhor diz: Este povo fala que me pertence; honra-me com os lábios, mas o coração está longe de mim. A adoração que me prestam não passa de regras ensinadas por homens” (Is 29.13 NVT). Na versão contemporânea de Eugene Peterson, é contundente: “Este povo faz um grande show, dizendo as coisas certas, mas o coração deles não está nem aí para o que dizem. Fazem de conta que me adoram, mas é tudo encenação” (Is 29.13 A mensagem). 

Segundo diagnóstico:eles procuram esconder seus planos do Senhor” (v.15). “Que aflição os que procuram esconder seus planos do Senhor...O Senhor não nos vê, não sabe o que passa. Como são tolos! Ele é o oleiro e certamente é maior que vocês, o barro...Pode o vaso dizer: o oleiro não sabe o que faz? (Is 29.15,16). Quando nosso coração está longe de Deus, tendemos a nos mover por caminhos desagregadores e enganosos. 

Terceiro diagnóstico: hipocrisia. “O Senhor não nos vê, não sabe o que passa”. Infelizmente, a hipocrisia é uma enfermidade que pode atingir todos. O que é hipocrisia? “Ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade”. Hipocrisia vem do latim e do grego e significava a representação no teatro, dos atores que usavam máscaras, de acordo com o papel que representavam em uma peça. O hipócrita é alguém que oculta a realidade através de uma mascara de aparência. 

Voce pode estar na igreja desde a época em que engatinhava, conhecer todos os hinos de cor, ser capaz de orar em línguas ou até mesmo profetizar, saber localizar com muita facilidade os livros do Antigo Testamento e Novo Testamento. Mas cuidado! Como alertou o apostolo Paulo: “Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!" Podemos cultivar em nosso coração a hipocrisia.

3)     Um autoexame. 


Algumas sondagens para saber se o coração está frio, distante, duro e calejado. Para saber se o coração está interpretando um papel, ao invés de viver totalmente para Deus.

Adoração tornou-se meramente formal e apropriada para mim? Não me rendo aos pés do Senhor, não me entrego...totalmente.

A oração tornou-se uma série de palavras sem sentido, um simples mover de lábios impuros, como diz Isaias?

Deus parece estranhamente distante e fora de alcance?

Esqueci-me de que ele realmente me vê e sabe exatamente onde estou, o que estou fazendo e por quê? Esqueci de que Deus me sonda e me conhece, conhece os pensamentos, conhece o meu deitar e o meu sentar...

Estou preocupado demais com as aparências? Muito preocupado com roupas, com creme de cabelo, etc...

A opinião humana é demasiadamente importante para mim? Estou preocupado com que as pessoas vão achar, não o que Deus pensa.

Permito que a minha vontade invalide a autoridade da Palavra de Deus em minha vida?

Existem coisas pecaminosas sendo toleradas, ou mesmo cultivadas, nos recessos mais fundos do meu ser?

Permaneci tempo demais nessa condição a ponto de não mais nota-la?

Conclusão:  Quando os lábios e o coração estão unidos. 

Quando o coração está bem, os pés andam rápido na direção de Deus. Quando o coração está bem, a carteira se abre para o Senhor. Quando o coração está bem, você se prontifica a servir a Cristo. Quando o coração está bem, você não espera meses para se envolver com as necessidades do mundo ou tocar aquela alma perdida que está perto de você. Quando o coração está bem, suas mãos se dispõem ao trabalho. QUEM FAZ DIFERENÇA NÃO SÃO AS MÃOS, MAS O CORAÇÃO. 


 

sexta-feira, 12 de maio de 2023

 O Cântico dos cânticos  

O livro de Cantares de Salomão ou “Cânticos dos Cânticos”  expressa a relação de Salomão pela sua noiva, Sulamita, de Sulamita por Salomão. É o um cântico que fala sobre o amor em todas as suas vicissitudes: sua reciprocidade, sua intensidade, suas idas e vindas, os dramas familiares, etc. O Cântico é a quintessência das quintessências, a mais bela canção de amor. É o “santo dos santos” do relacionamento humano...é uma alegoria do relacionamento entre Jesus e a sua igreja...

E inicia no verso 1: "Beija-me o meu amado com os beijos da tua boca, pois os seus afagos são melhores do que o vinho mais nobre". O que é melhor para a Amada? O beijo ou o vinho? Para Sulamita o mais importante é a intimidade, o mais importante é o convívio, é a intensidade do relacionamento é o conhecimento. Enquanto que o vinho é mentiroso, é inconsequente, é irracional e artificial.... Em Efésios Paulo exorta os cristãos a “não se embriagarem com vinho que há contendas, mas enchei-vos do Espirito”

Depois ela diz: “O cheiro do seu perfume é suave; o seu nome é como perfume derramado”. Perfume é intimidade, caracteriza, o perfume é o seu nome, diz o Cantico. O seu nome é o seu caráter, é aquele que é. É o grande eu Sou; o Elohim, criador de tudo que há no mundo. Yahweh é aquele que faz a promessa, se relaciona... Eu sou o que sou. Eu sou o pastor, eu sou a porta, eu sou a ressureição e a vida. Quando chamamos pelo seu nome, nos despertamos para o infinito e a eternidade...

No meio da jornada da vida cristã enfrentamos adversidades, ela diz “A noite me feriu. Sou negra, no entanto, sou bela, filhas de Jerusalém”. A noite aqui é o sinônimo de sombra, provações, errancias. É quando confessamos nossas sombras intimas, nossa tristeza recorrente, nosso desespero oculto...ela diz: tu sabes quem sou, no entanto, sou bela. Minha beleza está no meu amado, que irradia sua luz sobre a minha noite...

Ela vai mais longe e diz para o amado:

“Dize-me tu, que meu coração ama

 Onde levarás o teu rebanho a pastorear

 onde será teu repouso na hora do meio dia

para que eu não tenha que me cobrir à aproximação dos teus companheiros.

Ela quer saber onde ele estará ao meio dia! Afinal, o que a bem amada pede nessa hora do meio dia, na qual as sombras são banidas? Ela pede para estar na luz, una (sem disfarce, sem noite) e nua (verdadeira), desvelada. Ela pede seu apocalipse – revelação o que está oculto, ela pede seu desvelamento. Ela não quer esconder mais nada, pois é apenas na aceitação da sua verdade que ela poderá conhecer o repouso, o perdão, não mais pensamentos acusatórios, agora....nada mais para esconder do seu noivo....

O noivo então lhe diz: Se tu ignorares a bela dentre as mulheres sai, escuta os sinais...

O noivo lhe diz duas coisas: “Sai” e “escuta os sinais”. “Sai” é sair da escuridão, saia do medo; “sai” será dizer “Abre-te”; abre o teu ser, confessa ao Deus que é infinito e eterno. “Sai” é a palavra que Yeshua dirige a seu amigo lazaro “sai do tumulo”, Sai desse falso eu, desse eu que não lhe caracteriza, mas lhe engana....

“Escuta os sinais” escuta a palavra de Deus, escuta os profetas, escuta o antigo e o novo testamento. Escuta os homens de Deus que dão testemunho a respeito de Deus....

terça-feira, 9 de maio de 2023

 Vencendo as memorias amargas Sl 129

Há uma grande arvore nos Estados Unidos, além de ser muito grande é muito antiga também, alguns afirmam que ela tem mais de cem anos. Ela é tão imponente, tão conhecida que quase todos os dias muitas pessoas de todos cantos da América vão vê-la de perto. Um fato curioso que quando alguém se aproxima do imenso tronco daquela centenária arvores, está todo marcado, cheio de cicatrizes. No decorrer dos anos, muitos passaram por ali e com um objeto pontiagudo deixaram suas marcas na arvore.

Assim, somos nós, seres humanos, desde a nossa mais tenra infância, trazemos marcas, algumas leves, outras profundas. Dependendo do trauma que vivenciamos em algum momento de nossa vida, pode ser algo que nos acompanha por toda nossa história.

1)     Angustias

“Muitas vezes me angustiaram...” O que o Salmista está afirmando que a angustia que sentiu era grande, demasiadamente grande, como se fosse uma espada enfiada em seu coração. Os motivos dessas angustias não foram acidentais – como terremotos, maremotos, secas, enchentes, tsunamis, covid, etc – mas sim, pessoas.

A angustia foi tão grande que era inclusive possível de observação, tão grande que poderia ser contada, tão grande que poderia ser narrada, tão grande que poderia ser mensurável, tão grande que poderia ser observada. A angustia foi tão dolorida que ele repete os versos nos dois versículos iniciais do Salmo, verso 1 e 2. No verso 2, ele convida para o coro musical todo o povo de Israel: “Muitas vezes me oprimiram desde a minha juventude; que Israel o repita...” 

Quantas angustias enfrentou o povo de Deus? No Egito, trabalhou pesado sob o chicote do carrasco. No deserto, na conquista da terra prometida, no longo período dos juízes e no tempo dos reis de Israel...o povo sempre foi angustiado por seus adversários. 


“Muitas vezes me angustiaram...” Eles me angustiaram. Este “eles” o salmista não dá meia volta, mas aponta no versículo 4 que são “os ímpios”. Nenhum de nós passa pela vida sem encontra opositor, sem encontrar um antipatizante gratuito, sem encontrar um adversário obstinado, querendo nos fazer o mal. O mal pode vir de alguém do seu trabalho (por exemplo seu chefe), da sua escola (o professor ateu, tribulado), de alguém da sua rua (vizinha, vizinho) e para piorar, o mal pode vir de dentro da sua casa, de alguém que mora debaixo do mesmo teto que você, de alguém que tem o mesmo sangue ... alguém da sua casa.

“...me angustiaram ...desde a minha juventude” (v.2). Ou seja, não é de hoje que tenho enfrentado angustia. Davi passou angustias durante os treze anos em que foi perseguido por Saul, depois vieram outras angustias. O que é certo? Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais embrenhados, mais encharcados do Senhor, mais habitantes da republica divina, do reino de Deus...tanto mais oposições, conflitos, angustias, dores haverá. “No mundo tereis aflições, mas eu venci o mundo” (Jo 16.33).

2)     Dores marcantes

“Passaram o arado em minhas costas e fizeram longos sulcos” (NVI) , ou “Minhas costas estão cobertas de feridas, como os longos sulcos feitos pelo arado na terra” (NVT). A cena é rural, bucólica, imagem do dia a dia do campo. Um boi puxando um arado, com pontas pau agudas, ou pontas de ferro, finas, duras e penetrantes, rasgando, cortando e dilacerando o coração da terra. 

O que o Salmista está afirmando? Meus inimigos lavraram, rasgaram, dilaceraram as minhas costas; afundaram em mim o aguilhão, nele abriram longos sulcos para o plantio da desgraça. Pode haver figura mais forte para um homem que está se sentindo atraiçoado, usado, sendo alvo do chicotear dos adversários? Quem já não cruzou com a língua ferina, ou com palavras agressivas, com o desdém do invejoso, ou rostos sedentos de vingança contra nós?

Em Cantares de Salomão a noiva confessa: “A noite me feriu. Sou negra, no entanto, sou bela, filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como os véus de Salma” (Ct 1.5). É uma noite de exilio, noite de angustia, noite de sombra; a pele foi dilacerada e ficou escurecida pelas provações e errancias do tempo. A noite é um retrato da nossa tristeza recorrente.... 


E o que dizer do Nosso Senhor? Ele foi cuspido, esbordoado e torturado com dores excruciantes. Carregou a viga da cruz na via dolorosa, colocaram em sua cabeça uma coroa de espinho, surraram seu corpo com açoites, abriram sulcos até os ossos “Pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). 

3)     O que fazer com as memorias amargas?

Primeiro, é preciso ver Deus como um Salvador justo, não somente como Salvador dos nossos pecados, mas um Salvador justo que advoga a nossa causa, que vem ao meu encontro, que não concorda com as injustiças feitas contra a minha vida – um salvador das minhas causas. O verso 4 diz: “Mas o Senhor é justo; cortou as cordas dos ímpios”. O boi ia puxando o arado, lavrando as nossas costas; mas o Senhor é justo, cortou as cordas... 

Segundo preciso ver meus inimigos como inimigos de Deus. O verso 5 diz: “Sejam envergonhados e repelidos todos os que aborrecem a Sião”. Esses que estão me fazendo mal, me angustiando, compraram uma briga com o Deus do povo de Deus. Em Atos 9, quando Paulo vai pelo caminho de Damasco querendo matar cristãos, ou leva-los presos. Jesus lhe aparece e diz: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (Atos 9.4). Ou seja, a briga é minha! Mexeu neles, mexe em mim!”.

Terceiro os ímpios têm uma vida curta sem fruto algum. O verso 6 diz: “Sejam como erva dos telhados, que seca antes de florescer”. Quem odeia vive pouco, pois odeia tanto que não tem tempo para viver. O verso 7 afirma que eles não dão fruto e não produzem nada, são como “capim que não é colhido pelo ceifeiro, deixado de lado por aquele que amarra os feixes” (NVT). Só comeram ódio e amarguras, alimentaram-se de azedume. O ódio não tem poder de construir absolutamente nada.

E o verso 8 diz: “E também os que passam não dizem: a benção do Senhor seja convosco...”. Eles não inspiram nada, pois só são abençoados os que abençoam. Eles não têm frutos, são inúteis, vãs, inaproveitáveis, que não inspira ou comove o coração de ninguém. 

Conclusão: a vida é benção e não amargura.

O Salmo termina “Nós os abençoamos em Nome do Senhor” (v.8).

Depois de escrever: eu sofri, padeci, me angustiaram, me trilharam, não me deram descanso a vida inteira; desde a minha mocidade andam no meu encalço; lavraram o meu dorso, me traíram, abriram valas na minha vida; os ímpios me oprimiram...Ele poderia sair dessa experiencia amargurado, desesperança, depressivo, angustiado, desanimado, no espirito de autocomiseração... tomando antidepressivos, etc.

 Mas, ele diz: “A benção do Senhor seja convosco”. Que maravilha! Ele vê a vida como um cenário de bênçãos, não de maldição. Nada de viver fechado dentro de um quarto escuro, nada de viver acaçapado, encurralado pela agonia, fechado em lamurias, em algum lugar do passado.... não! Fomos chamados para abençoar e viver na benção de Deus.