terça-feira, 9 de maio de 2023

 Vencendo as memorias amargas Sl 129

Há uma grande arvore nos Estados Unidos, além de ser muito grande é muito antiga também, alguns afirmam que ela tem mais de cem anos. Ela é tão imponente, tão conhecida que quase todos os dias muitas pessoas de todos cantos da América vão vê-la de perto. Um fato curioso que quando alguém se aproxima do imenso tronco daquela centenária arvores, está todo marcado, cheio de cicatrizes. No decorrer dos anos, muitos passaram por ali e com um objeto pontiagudo deixaram suas marcas na arvore.

Assim, somos nós, seres humanos, desde a nossa mais tenra infância, trazemos marcas, algumas leves, outras profundas. Dependendo do trauma que vivenciamos em algum momento de nossa vida, pode ser algo que nos acompanha por toda nossa história.

1)     Angustias

“Muitas vezes me angustiaram...” O que o Salmista está afirmando que a angustia que sentiu era grande, demasiadamente grande, como se fosse uma espada enfiada em seu coração. Os motivos dessas angustias não foram acidentais – como terremotos, maremotos, secas, enchentes, tsunamis, covid, etc – mas sim, pessoas.

A angustia foi tão grande que era inclusive possível de observação, tão grande que poderia ser contada, tão grande que poderia ser narrada, tão grande que poderia ser mensurável, tão grande que poderia ser observada. A angustia foi tão dolorida que ele repete os versos nos dois versículos iniciais do Salmo, verso 1 e 2. No verso 2, ele convida para o coro musical todo o povo de Israel: “Muitas vezes me oprimiram desde a minha juventude; que Israel o repita...” 

Quantas angustias enfrentou o povo de Deus? No Egito, trabalhou pesado sob o chicote do carrasco. No deserto, na conquista da terra prometida, no longo período dos juízes e no tempo dos reis de Israel...o povo sempre foi angustiado por seus adversários. 


“Muitas vezes me angustiaram...” Eles me angustiaram. Este “eles” o salmista não dá meia volta, mas aponta no versículo 4 que são “os ímpios”. Nenhum de nós passa pela vida sem encontra opositor, sem encontrar um antipatizante gratuito, sem encontrar um adversário obstinado, querendo nos fazer o mal. O mal pode vir de alguém do seu trabalho (por exemplo seu chefe), da sua escola (o professor ateu, tribulado), de alguém da sua rua (vizinha, vizinho) e para piorar, o mal pode vir de dentro da sua casa, de alguém que mora debaixo do mesmo teto que você, de alguém que tem o mesmo sangue ... alguém da sua casa.

“...me angustiaram ...desde a minha juventude” (v.2). Ou seja, não é de hoje que tenho enfrentado angustia. Davi passou angustias durante os treze anos em que foi perseguido por Saul, depois vieram outras angustias. O que é certo? Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais embrenhados, mais encharcados do Senhor, mais habitantes da republica divina, do reino de Deus...tanto mais oposições, conflitos, angustias, dores haverá. “No mundo tereis aflições, mas eu venci o mundo” (Jo 16.33).

2)     Dores marcantes

“Passaram o arado em minhas costas e fizeram longos sulcos” (NVI) , ou “Minhas costas estão cobertas de feridas, como os longos sulcos feitos pelo arado na terra” (NVT). A cena é rural, bucólica, imagem do dia a dia do campo. Um boi puxando um arado, com pontas pau agudas, ou pontas de ferro, finas, duras e penetrantes, rasgando, cortando e dilacerando o coração da terra. 

O que o Salmista está afirmando? Meus inimigos lavraram, rasgaram, dilaceraram as minhas costas; afundaram em mim o aguilhão, nele abriram longos sulcos para o plantio da desgraça. Pode haver figura mais forte para um homem que está se sentindo atraiçoado, usado, sendo alvo do chicotear dos adversários? Quem já não cruzou com a língua ferina, ou com palavras agressivas, com o desdém do invejoso, ou rostos sedentos de vingança contra nós?

Em Cantares de Salomão a noiva confessa: “A noite me feriu. Sou negra, no entanto, sou bela, filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como os véus de Salma” (Ct 1.5). É uma noite de exilio, noite de angustia, noite de sombra; a pele foi dilacerada e ficou escurecida pelas provações e errancias do tempo. A noite é um retrato da nossa tristeza recorrente.... 


E o que dizer do Nosso Senhor? Ele foi cuspido, esbordoado e torturado com dores excruciantes. Carregou a viga da cruz na via dolorosa, colocaram em sua cabeça uma coroa de espinho, surraram seu corpo com açoites, abriram sulcos até os ossos “Pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). 

3)     O que fazer com as memorias amargas?

Primeiro, é preciso ver Deus como um Salvador justo, não somente como Salvador dos nossos pecados, mas um Salvador justo que advoga a nossa causa, que vem ao meu encontro, que não concorda com as injustiças feitas contra a minha vida – um salvador das minhas causas. O verso 4 diz: “Mas o Senhor é justo; cortou as cordas dos ímpios”. O boi ia puxando o arado, lavrando as nossas costas; mas o Senhor é justo, cortou as cordas... 

Segundo preciso ver meus inimigos como inimigos de Deus. O verso 5 diz: “Sejam envergonhados e repelidos todos os que aborrecem a Sião”. Esses que estão me fazendo mal, me angustiando, compraram uma briga com o Deus do povo de Deus. Em Atos 9, quando Paulo vai pelo caminho de Damasco querendo matar cristãos, ou leva-los presos. Jesus lhe aparece e diz: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (Atos 9.4). Ou seja, a briga é minha! Mexeu neles, mexe em mim!”.

Terceiro os ímpios têm uma vida curta sem fruto algum. O verso 6 diz: “Sejam como erva dos telhados, que seca antes de florescer”. Quem odeia vive pouco, pois odeia tanto que não tem tempo para viver. O verso 7 afirma que eles não dão fruto e não produzem nada, são como “capim que não é colhido pelo ceifeiro, deixado de lado por aquele que amarra os feixes” (NVT). Só comeram ódio e amarguras, alimentaram-se de azedume. O ódio não tem poder de construir absolutamente nada.

E o verso 8 diz: “E também os que passam não dizem: a benção do Senhor seja convosco...”. Eles não inspiram nada, pois só são abençoados os que abençoam. Eles não têm frutos, são inúteis, vãs, inaproveitáveis, que não inspira ou comove o coração de ninguém. 

Conclusão: a vida é benção e não amargura.

O Salmo termina “Nós os abençoamos em Nome do Senhor” (v.8).

Depois de escrever: eu sofri, padeci, me angustiaram, me trilharam, não me deram descanso a vida inteira; desde a minha mocidade andam no meu encalço; lavraram o meu dorso, me traíram, abriram valas na minha vida; os ímpios me oprimiram...Ele poderia sair dessa experiencia amargurado, desesperança, depressivo, angustiado, desanimado, no espirito de autocomiseração... tomando antidepressivos, etc.

 Mas, ele diz: “A benção do Senhor seja convosco”. Que maravilha! Ele vê a vida como um cenário de bênçãos, não de maldição. Nada de viver fechado dentro de um quarto escuro, nada de viver acaçapado, encurralado pela agonia, fechado em lamurias, em algum lugar do passado.... não! Fomos chamados para abençoar e viver na benção de Deus. 


  

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