terça-feira, 30 de maio de 2023

 Vencendo a capa religiosa – Lucas 15. 25-32 

Introdução

Em Lucas 15 temos dois filhos: um é considerado mau segundo os padrões tradicionais, e o outro é tido como “bom”, mas os dois estão separados do pai. O pai é obrigado a sair e convidá-los a participar da celebração do seu amor. O filho mau entra para o banquete do pai, mas o bom fica do lado de fora. Aquele que buscou a companhia de prostitutas é salvo, participa do banquete.

Por quê o irmão mais velho não quis participar do banquete? “Porque eu nunca desobedeci ao Senhor”. A barreira entre ele e o Pai não havia sido colocada por seus pecados, mas pelo orgulho decorrente de seu comportamento pautado pela moral. Portanto, o que o impede de participar do banquete do pai não é a sua iniquidade, mas sua retidão.

1)     O religioso - filho mais velho

Sabemos que muito fácil discernir o pecado do filho mais novo, porque é insensato, inconsequente, indisciplinado, em busca do seu autoconhecimento. E acaba sem dinheiro, sem amigos e sem recursos. Nessa hora, ele percebe que havia se “perdido pelo caminho” e volta para tentar reconstruir a vida. 

O filho mais velho é amargurado. No caso do irmão mais velho, o pecado é mais fundo. Mas no verso 28 deixa transparecer: “O filho mais velho encheu-se de ira”. Ou “ficou com raiva”. Quando a vida não é aquilo que queremos, não ficamos apenas “irados” ou com “raiva”, mas também cheios de amargura. Nosso raciocínio é: “Vivemos uma vida marcada pelas virtudes, pela obediência estrita aos mandamentos de Deus, logo, nossa vida não terá tantos percalços, ou solavancos, mas será um mar de rosas. 

Quando ele se defronta com a alegria do Pai pelo filho que volta, surge uma onda de revolta que explode, chegando a superfície. De repente, aparece ali nitidamente visível uma pessoa ressentida, orgulhosa, má, egoísta; alguém que permaneceu profundamente escondida apesar de estar crescendo e se fortalecendo ao longo dos anos.

O que causa mais dano: luxuria ou ressentimento? Há tantos ressentimentos entre os “justos” e os “corretos”. Há tanto julgamento, condenação, e preconceito entre os “santos” ...

O filho mais velho tem um senso de superioridade. “Mas quando volta para casa esse seu filho...” (Lc 15.30). Primeiro, ele ressalta o seu histórico de vida: “Olha! Todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens” (Lc 15.29).  Sua moral é bem superior do irmão que se envolveu com prostitutas. Sua autoimagem estava no trabalho árduo, na retidão moral ou de sentir parte do grupo da elite religiosa. Essa postura leva a um sentimento de superioridade em relação às pessoas que não tem as mesmas qualidades.

Ele não consegue perdoar o irmão mais novo porque este gastou todo seu dinheiro e desonrou o nome da família, “...esbanjou seus bens com as prostitutas” (Lc 15.30). Enquanto que ele vivia uma vida pura, casta, santa dentro de casa. “Eu jamais chegaria a esse nível de maldade”, é o que seu coração está dizendo. É impossível perdoar uma pessoa se você se sente superior a ela.

O irmão mais velho sente a necessidade de um irmão com desvios crônicos de comportamento, tem que ter sempre a ovelha negra, alguém que ele possa sempre criticar, apontar, o bode expiatório. Agora, quando o filho mais novo se desvencilha de sua postura de negação e o pai o acolhe de volta, o irmão mais velho percebe que o ciclo foi interrompido e dá vazão a toda sua fúria.

O filho mais velho não tem alegria. Quando ele chegou em casa, vindo do trabalho, ouviu a musica e danças. Percebeu que havia alegria na casa. Imediatamente, suspeitou do que estava acontecendo. A história da parábola diz: “Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo” (Lc 15.26). O servo, sem suspeitar, excitado e ansioso para dar boa nova, explica: “É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde” (Lc 15.27). Diz o texto: “Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar” (Lc 15.28). 


O filho mais velho tem uma folha de muitos anos junto ao Pai, mas não consegue esconder sua motivação nem sua postura quando diz: “Todos esses anos tenho trabalhado para o senhor feito um escravo”. Ou seja, ele revela que a sua obediência ao pai se resume ao cumprimento de deveres , obrigações, responsabilidades a cumprir. Mas, não tem alegria, nem amor, e tampouco se sente recompensado pelo simples fato de ter feito o que era do agrado do pai.

 “Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos” (Lc 15.29). Ele se submete as normas éticas, às responsabilidades da família, da comunidade e aos deveres cívicos...mas nem tudo isso passa de um trabalho árduo e enfadonho, típico de um escravo que trabalha sem alegria. Um escravo trabalha movido pelo medo...no fundo...levava uma vida baseada no medo, não no amor e na alegria. 

O filho mais velho não tem certeza do amor do pai. “O Senhor nunca me deu um banquete”. Não há dança nem banquete no relacionamento do irmão mais velho com o pai. E mais: toda as vezes que algo dá errado em sua vida ou quando sua oração não é respondida, você fica se perguntando se está vivendo corretamente nesta ou naquela área.

Mais: não suporta receber criticas de terceiro, ou de ninguém. Não somente as criticas lhe deixam para baixo, mas o deixam arrasado. Sua percepção do amor de Deus é abstrata, como disse Jó: “Antes eu lhe conhecia somente de ouvir falar”, alguém me falou, uma tradição familiar. Mas depois, da prova, ele afirma: “...mas agora os meus olhos te viram” (Jó 42.5). Agora, te experienciaram ou se relacionaram contigo, vejo Deus face a face...

Mais: talvez o sintoma mais nítido dessa falta de certeza é uma vida de oração árida. Pode ser que ore, mas suas conversas com Deus estão destituídas de fascínio, beleza, Maravilhamento, intimidade, lágrimas ou, simplesmente prazer de estar ali ajoelhado diante dEle. E quando ora, às vezes é por necessidade, e também seu discurso é totalmente voltado para as necessidades e pedidos, não para um louvor espontâneo e marcado por alegria. 

Conclusão:

Lucas 15 conta sobre três parábolas. A primeira é a da ovelha perdida, uma se perde das demais e o pastor deixa 99 no aprisco e vai em busca da ovelha perdida. Acha sua ovelha e convida seus amigos e vizinhos, dizendo: “Alegrem-se comigo, pois encontrei minha ovelha perdida” (Lc 15.6). A segunda parábola é da moeda perdida; uma mulher tem dez moedas, mas perde uma delas. Ela procura até acha-la. Quando a encontra, chama seus amigos e vizinhos e lhe diz: “Alegrem-se comigo, pois achei a moeda perdida" (Lc 15.9). 

Então, em cada uma das parábolas, alguma coisa está perdida: uma ovelha, uma moeda, um filho. Em cada uma das histórias, a pessoa que sofre a perda acaba encontrando o que tinha perdido. As três narrativas terminam com uma nota de alegria e celebração festivas com a recuperação do que estava perdido.

No entanto, há uma incrível diferença entre a terceira parábola e as outras duas. Nas duas primeiras, alguém “sai” para fazer uma busca diligente do que se havia perdido. Na terceira história, quando vemos o drama vivido pelo filho que se perdeu, ficamos na expectativa de que alguém saia à procura dele. Mas ninguém sai! Jesus está convidando seus ouvintes a fazerem a seguinte pergunta: “Quem deveria ter saído à procura do filho perdido?” 

É isso que o irmão velho da parábola deveria ter feito; é isso que faria um verdadeiro irmão mais velho. “Pai, meu irmão agiu como um tolo, mas vou procura-lo e o trarei de volta para casa. E se ele não tiver mais dinheiro, arcarei com todas as despesas para trazê-los de volta à nossa família”.

Jesus nos conta que os pai tinha dividido seus bens entre os dois filhos antes da partida do mais novo. O irmão mais novo recebeu um terço da herança do pai e gastou tudo, nada sobrou. Quando o pai diz ao irmão mais velho: “Meu filho... tudo o que eu tenho é seu”, ele está dizendo a mais pura verdade. Todas as roupas, todos os anéis, todos os novilhos da engorda eram dele por força de direito adquirido.

O primeiro ato da parábola nos mostra a gratuidade do perdão oferecido pelo pai, mas o segundo ato nos dá uma idéia do alto custo. O pai não podia simplesmente perdoar o filho mais novo – alguém tinha que pagar! O pai não poderia trazê-lo de volta a não ser à expensa do irmão mais velho. Não havia outro jeito. Mas, na história, não havia um irmão mais velho disposto a pagar o preço necessário para buscar e salvar o que havia perdido...o filho mais novo tem um irmão fariseu.

Esse irmão existe. Não precisamos de alguém que simplesmente se dirija ao pais vizinho para nos encontrar, mas alguém que desça do céu para a terra. Precisamos de um irmão que esteja disposto a pagar não apenas uma quantia finita, mas o valor infinitamente mais alto de sua própria vida nos reintegrar à família de Deus, visto que nossa divida é alta demais. E Jesus fez isso por nós... 


 

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