terça-feira, 10 de maio de 2022

 Escolhas e tragédias – Rt 1.1-5 

Introdução

O que dizer do livro de Rute? É uma das Jóias mais ricas e encantadoras de toda literatura mundial; é um livro inspirado que encerra lições magnificas. O livro de Rute é a história perfeita da graça de Deus. Este livro que contém apenas 85 versículos é como um jardim engrinaldado de rosas perfumadas, cuja beleza e conteúdo jamais podem ser suficientemente enaltecidos. “Nenhum poeta do mundo escreveu um conto mais belo”. Neste livro temos vários temas: crise financeira, imigração, doença, morte, viuvez, pobreza e amargura contra Deus. Mas temos também: amizade, providencia divina e a exaltação da virtude.

1)     No tempo dos Juízes

A vida está seguindo em Belém, então surge uma situação difícil. O verso 1 nos indica que se trata de um momento conturbado, difícil, turbulento; crises política, econômica e social. Afinal era i tempo dos Juízes! Nesse tempo o povo não tinha um governo centralizado, enfrentavam muitas batalhas internas e externas; o povo vivia como um elevador, ora caminhando para cima, ora caminhando para baixo. E o lema era: “Naqueles dias não havia Rei em toda terra de Israel e cada pessoa fazia o que lhe parecia direito”. 

O povo nesse período somente buscava a Deus nos tempos de necessidade, de aflição. Agora, nos tempos de bonança material, o povo virava as costas para Deus, adorando seus ídolos; provocando a ira do Senhor. Surge uma pergunta para nós: Será que essa situação não descreve bem a situação das famílias atuais? Vemos crianças e adolescentes fazendo o “que é certo a seus próprios olhos”. Maridos abandonando esposa, esposa abandonando marido fazendo o “que é certo a seus próprios olhos”, ou em busca da minha “vida”, “felicidade”. O tempo de Juízes para os nossos dias são de 3000 anos, mas, infelizmente, parece que vivemos nos tempos dos juízes!

Então, no texto que estamos estudando, surge uma dificuldade: “Na época dos juízes houve fome na terra” (Rt 1.1). Aliás, fome era um fato que se repetia constantemente, como na época de Abraão, Jacó, Isaque, etc. Mas aqui especificamente no tempo dos juízes, essa fome era uma forma de Deus pesar a mão sobre o povo dele a fim de que se voltem para ele. Como afirmou C.S.Lewis: “Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é o seu megafone para despertar o homem surdo”. 

O povo havia conquistado a terra prometida, pactualmente dada por Deus com condições de obediência que gerariam bênçãos e maldições. Deus havia alertado seu povo, dizendo que, para viver na terra prometida, eles deveriam andar perto do Senhor, ou ele iria fazer secar os campos e os ventres de Israel. “Vossa terra não dará mais os seus produtos, e as arvores do campo não darão mais os seus frutos” (Lv 26.20).

2)     Escolhas

Belém (Beth = casa, lehem = pão) significa “casa do pão”. O livro de Rute inicia assim, com uma surpreendente declaração: Não havia mais pão na casa do pão. Faltou pão onde menos esperávamos. Belém era conhecida por ser um grande celeiro, com produção de uvas, oliveiras, trigo e muito mais. E agora o celeiro está vazio. O tempo dos juízes já era complicado, agora está desolador. Economia em frangalhos. Desemprego. Filhos para alimentar. Eram muitas as perspectivas que nos assombram a respeito do futuro. 

O texto nos apresenta a um homem com uma mulher e dois filhos. Seu nome é Elimeleque, sua esposa é Noemi e seus filhos Malom e Quiliom. Ele decide sair de Belém de Judá e ir habitar na terra de Moabe. Por que ir a Moabe? Essa região ficava do outro lado do Mar Morto, local de terras baixas e férteis. Era uma região que experimentava boa colheita, mesmo sendo uma região pagã! O texto nos diz que ele foi apenas habitar, o verbo utilizado indica uma mudança temporária, não uma mudança definitiva. 

Provavelmente Elimeleque e família poderiam ter aguentado mais na terra de Judá; ainda não estava passando fome, eles eram de posse “...de mãos cheias eu parti...”(Rt 1.22). No entanto, a atitude dele era: para mim é mais importante tem abundancia do que estar na terra que Deus nos chamou para viver. Será que Elimeleque pediu conselho para o sacerdote? Afinal, a terra que ele pisava era a terra prometida por Deus à Abraão, Isaque e Jacó, é a terra que “mana leite e mel”. O povo passara quatrocentos anos de escravidão ansiando por essa terra; no deserto, andaram 40 anos para tomar posse da terra.

Deixar a terra prometida e ir para a terra de Moabe. Quem eram os moabitas? Primeiro, Moabe (o nome significa “do pai”) é fruto de incesto entre pai e filha, Ló e sua filha (Gn 19). Também, os moabitas impediram o povo de Israel passar por dentro do território deles para chegar à terra prometida; os moabitas contrataram o profeta Balaão para amaldiçoar o povo de Deus, mas não conseguiu “Não há magia que possa contra Jacó, nem encantamento contra Israel” (Nm 23.23). Depois o profeta contratou as mulheres moabitas para seduzir os homens e também fizeram com que adorasse Ball-Peor, tudo isso resultou na morte de 4000 pessoas.

Em Moabe não havia local de adoração a Deus. Os moabitas adoravam Quemoz. Portanto, a família de Elimeleque iriam passar muito tempo longe da possibilidade de adorar com o povo de Deus. Não havia sacerdote em Moabe da descendência de Arão; não havia um sistema sacrificial em Moabe como em Israel. Em Moabe não comemorariam as festas religiosas: pascoa, tabernáculo, pentecoste, Yom Kippur, etc. Em Moabe não havia ninguém adorando e cantando e recontando as maravilhas do Senhor. Aqui vale lembrar a declaração explicita de 1 Ts 4.3, que afirma que a vontade de Deus é sempre nossa santificação, obediência e crescimento.

3)     Tragédias

Elimeleque significa “Deus é meu rei”. Será? Infelizmente, ele age como alguém que não confia na proteção e cuidado do seu rei; preferindo tomar em suas próprias mãos a vida de sua família. E vai em direção a Moabe. Contra as promessas de Deus. A rota para chegar à Moabe era passar pelas ruinas de Jericó, um lembrete do poder de Deus a quem serve, o Deus do impossível. Mas eles seguem adiante. 

Quantas vezes pensamos algo como: “Deus não me impediu de chegar ao local. Então, logo deve ser da vontade dele”. Como Jonas rumamos para longe do que Deus manda e nos confortamos em que tudo parece estar indo bem, até que chega à tempestade da vida. Essa ânsia de “se descobrir”, por si mesmo querer levar o barco da vida sem a direção de Deus nos coloca dentro de uma jaula. O CAMINHO DA VIDA NÃO É SIMPLESMENTE BUSCAR O MELHOR PARA SI, MAS BUSCAR VIVER O AMOR SACRIFICIAL DO CAMINHO PROPOSTO PELO SENHOR, MESMO QUE ESSE CAMINHO SEJA DURO, DIFICIL.

Olhando para o texto em questão, a imagem que vem é de uma onda do mar que te dar uma bordoada e depois vem outra e mal consegue se levantar antes da terceira onda e com os olhos ardendo do sal. Também essa é a vida, as ondas do sofrimento atingem a família em sequencia desoladora. Porque, primeiro morreu Elimeleque. O plano de habitar somente por um tempo se torna algo permanente, que acabou sendo enterrado fora da terra prometida, em Moabe. 

Quando decidimos, ou tomamos uma decisão, sem consultar ao Senhor, nunca pensamos que a decisão será tão custosa quanto as pessoas imaginamos. Então, se era somente algo temporário, vira uma década. Lá em Moabe, eles meramente existem, sem um plano ou um projeto maior. Vivem sem pensar na eternidade, estão vivendo para comer, paga gastar, para possuir coisas. Etc.

Vejam, Elimeleque morreu, mas seus filhos – Malom e Quiliom – preferem permanecer em Moabe. Infelizmente, infelizmente, escolhemos conforto e estabilidade, ao invés de fidelidade. Ficar longe do contato do povo de Deus é muito perigoso para nossas almas ão deixemos de nos reunir como igreja, segundo o costume de alguns, mas nos encorajemos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêm que se aproxima o dia” (HB 10.25). O costume de ficar longe do culto vai ficando forte, até o dia que você deixa de sentir falta...

Talvez Noemi tenha pensado algo como: “Estou viúva, mas ao menos meus filhos fortes e vistosos cuidarão de mim”. Então, mais uma onda bravia chega na vida de Noemi. Morreu também os filhos, Malom e Quiliom, de maneira inesperada. Ela que já enterrara o marido em terra estranha, agora tem de viver a dor de enterrar seus filhos! Esse é um dos piores tipos de tragédia que ocorre em um mundo caído. 

Conclusão: E agora? Noemi perdeu o marido, não tem mais  filhos para cuidar dela, logo, não tem mais filhos para cuidar dela, as noras não são do seu povo, está longe de sua terra e de seu povo e não tem dinheiro, está pobre, sem nada. Está em apuros e se percebe sem saída. Sabe quando as coisas começam a ruir e não param? Quando seu castelo de areia se desmorona e você sabe que tem culpa nessa tragédia? O que fazer? Ficar lamentando? No espirito de autocomiseração? Não, vou me levantar e voltarei ao meu povo... 


ibliografia: As boas Novas em Rute - Emilio Garofalo Neto - Editora Monergismo
Comentário de Rute - Hernandes dias Lopes - editora Hagnos
Biblia Nova Versão Internacional
Biblia King James
Biblia A Mensagem - Eugene Petersen

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