A lei e a graça – Ex. 24.1-8
Introdução
Nos capítulos 20-24 de Êxodo encontramos códigos, leis,
preceitos, pertinentes ao trabalho no campo, à escravidão e à lei moral.
Vejamos algumas: “Quem amaldiçoar seu
pai ou sua mãe terá de ser executado” (Ex.21.17). “Se emprestarem dinheiro a
alguém do meu povo que seja necessitado, não tratem como se fosse um negócio;
não cobrem juros” (Ex 22.25). “Celebrem as festas de pães asmos sem fermento”
(Ex 23.15). “Não cozinhem o cabrito no leite da própria mãe” (Ex 23.19).
Surgem algumas perguntas: “os cristãos devem obedecer a essas
ordens? Devemos tentar impô-las na sociedade? Como interagir com a lei de
Moisés?
1) A velha e a nova aliança
A aliança com Deus confirmada em Êxodo 24 não é a aliança debaixo da qual vivemos. Vivemos debaixo daquilo que Jesus chama “nova aliança” (Lc 22.20). Em Êxodo 24, Moisés transmite essas leis aos israelitas, que assumem o compromisso de guarda-las “Nós obedeceremos a todas as palavras proferidas por Deus” (Ex 24.1,3,7) e Moisés asperge o sangue sobre o povo “Moisés tomou do sangue e o aspergiu sobre o povo, e proclamou: Este é o sangue da Aliança que Deus fez convosco, por meio de todos esses mandamentos” (EX. 24.8).
Contudo, essa “antiga aliança” deu lugar a uma “nova aliança” quando Jesus foi sacrificado. Por isso, quando Jesus deu o vinho a seus discípulos, na última ceia, disse: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramada em favor de vocês” (Lc 22.20). Em Hebreus 8 o autor diz, fazendo comparação da antiga e da nova aliança: “Porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados...Jesus, no entanto, havendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus” (v.4,12).
Na nova aliança, a lei de Moisés escrita em tabuas de pedra é
substituída pela lei do Espirito escrita em nosso coração: “Dias virão, diz o
Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel... uma nova aliança. Não
conforme a aliança que fiz com seus antepassados... gravarei as minhas leis na
sua mente e as escreverei em seu coração...” (Hb 8.7-10).
“Observemos como aconteceu lá e como aconteceu aqui. Lá, o povo ficou à distância; havia um ambiente de temor, e não de amor. Estavam tão aterrorizados que disseram a Moisés: Fale você mesmo conosco, e ouviremos. Mas que o Senhor não fale conosco, senão morreremos. Então, como está escrito, Deus desceu no Sinai em fogo; mas foi assustador para o povo que estava à distância, e as leis foram registradas em tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus, “e não no coração” (Ex 3.18).
Agora, o africano fala da nova aliança: “Aqui, porém, quando
veio o Espírito Santo, os fiéis estavam reunidos, e ele não os aterrorizou em um monte, mas veio a eles em uma casa. De
fato, veio um som repentino do céu e uma violenta rajada de vento soprou sobre
eles; houve um ruído, mas ninguém se apavorou. Ouça o som, seja igualmente o
fogo, pois ambos, o fogo e o som, estavam presentes no Monte; lá, no entanto,
havia fumaça, enquanto aqui, era apenas fogo. As Escrituras dizem que “viram o
que parecia línguas de fogo que se separaram: aterrorizando-os à distância? De
modo nenhum. Porquanto “pousaram sobre cada um deles, e todos começaram a falar
em línguas, à medida que o Espírito lhes dava expressão” (Atos 2.1-4). Ouça
alguém falar em línguas e entenda que o Espírito está escrevendo não em pedra,
mas no coração”.
2)
O
Filho, O Espírito e a vontade de Deus.
Na carta aos Gálatas,
Paulo fala de alguns falsos mestres que estavam voltando à lei de Moisés e
impondo-a como guia para os cristãos: “Meus filhos queridos, pelos quais sofro
novamente dores de parto até que Cristo seja formado em vocês...” (Gl 4.19).
Portanto, não é a lei de Moisés que dá forma à vida cristã, mas Jesus. Somos
chamados a ser semelhantes a Cristo e não guardar a lei. Paulo resume em
Gálatas: “a lei de Cristo” (Gl 6.2).
Novamente, o apostolo Paulo, depois de escrever em Gálatas que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”, Paulo acrescenta: “contra essas coisas não há lei” (Gl 5.22-23). Em outras palavras, o Espírito cultiva em nós virtudes que não podem ser criadas nem mesmo expressas por lei alguma. É impossível codificar amabilidade, paciência e bondade. Então, é o Espirito que nos concede poder para que obedeçamos à vontade de Deus.
O símbolo maior de participação na lei mosaica era a
circuncisão. Agora, porém, Paulo diz: “Circuncisão é a do coração, realizada
pelo Espírito, e não pela lei escrita” (Rm 2.29). Em outras palavras,
pertencemos ao povo de Deus e fazemos a vontade de Deus “pelo Espírito, e não
pela lei escrita”. DIANTE DISSO, as palavras da lei de Moisés não se aplicam
mais aos cristãos como se aplicavam a Israel.
Por exemplo, Êxodo 20.8-10 diz: “Lembra-te do dia de sábado, para santifica-lo. Seis dias trabalharás e farás todo o teu trabalho, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor, teu Deus. Nele não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho ou filha, nem teu servo ou serva, nem teus animais, nem o estrangeiro que moras em tuas cidades”. No Novo Testamento, porém, Paulo diz que essa questão tornou-se indiferente.
“Uma pessoa considera um dia mais santo que o outro; outra
considera todos os dias iguais. Cada uma deve estar plenamente convicta em sua
mente” (Rm 14.5). De fato, em Gálatas 4.8-11, Paulo diz: “Impor dias especiais
sobre as pessoas é o mesmo que voltar a escravizá-las. Isso não as leva de volta
ao Sinai, mas ao Egito!” “Portanto”, diz ele em Colossenses 2.16, “não permitam
que ninguém os julgue ... com respeito a alguma festa religiosa, celebração da
lua nova ou sábado”.
Conclusão:
Então, isso significa que podemos arrancar essas páginas de
nossa Bíblia? Se são “antiquadas” e não se aplicam mais, podemos descartá-las?
Podemos pulá-las em nossas leituras devocionais? Não! Paulo declara: “Tudo que
foi escrito no passado, foi escrito para nos ENSINAR, de forma que por meio da
PERSEVERANÇA ensinadas nas escrituras e do ANIMO que elas proveem, tenhamos
esperança” (Rm 15.4).
Em 1 Corintios Paulo expondo esses capítulos de Êxodo, nos adverte: “...Não quero que ignoreis que nossos antepassados estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual, e todos beberam da mesma bebida espiritual...entretanto, Deus não se agradou da maioria deles; e, por isso, seus corpos ficaram espalhados pelo chão do deserto”. A grande advertência para nós é: “Tudo isso lhes aconteceu como exemplo, e foi escrito como advertência para nós sobre quem o final dos tempos já chegou” (1 Co 10.11).
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