terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

 A lei e a graça – Ex. 24.1-8

Introdução

Nos capítulos 20-24 de Êxodo encontramos códigos, leis, preceitos, pertinentes ao trabalho no campo, à escravidão e à lei moral. Vejamos algumas:  “Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá de ser executado” (Ex.21.17). “Se emprestarem dinheiro a alguém do meu povo que seja necessitado, não tratem como se fosse um negócio; não cobrem juros” (Ex 22.25). “Celebrem as festas de pães asmos sem fermento” (Ex 23.15). “Não cozinhem o cabrito no leite da própria mãe” (Ex 23.19). 

Surgem algumas perguntas: “os cristãos devem obedecer a essas ordens? Devemos tentar impô-las na sociedade? Como interagir com a lei de Moisés?

1)     A velha e a nova aliança

A aliança com Deus confirmada em Êxodo 24 não é a aliança debaixo da qual vivemos. Vivemos debaixo daquilo que Jesus chama “nova aliança” (Lc 22.20). Em Êxodo 24, Moisés transmite essas leis aos israelitas, que assumem o compromisso de guarda-las “Nós obedeceremos a todas as palavras proferidas por Deus” (Ex 24.1,3,7) e Moisés asperge o sangue sobre o povo “Moisés tomou do sangue e o aspergiu sobre o povo, e proclamou: Este é o sangue da Aliança que Deus fez convosco, por meio de todos esses mandamentos” (EX. 24.8). 

Contudo, essa “antiga aliança” deu lugar a uma “nova aliança” quando Jesus foi sacrificado. Por isso, quando Jesus deu o vinho a seus discípulos, na última ceia, disse: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramada em favor de vocês” (Lc 22.20). Em Hebreus 8 o autor diz, fazendo comparação da antiga e da nova aliança: “Porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados...Jesus, no entanto, havendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus” (v.4,12). 


Na nova aliança, a lei de Moisés escrita em tabuas de pedra é substituída pela lei do Espirito escrita em nosso coração: “Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel... uma nova aliança. Não conforme a aliança que fiz com seus antepassados... gravarei as minhas leis na sua mente e as escreverei em seu coração...” (Hb 8.7-10).

 Agostinho de hipona, teólogo do quarto século, destacou a relação entre Sinai e Pentecostes. Israel chegou ao Sinai cinquenta depois de oferecer o cordeiro pascoal. O Espírito veio em Pentecostes cinquenta dias depois que Jesus foi oferecido como cordeiro pascal. Ambos os acontecimentos ocorrem cinquenta dias depois da Páscoa. Em ambos houve um fenômeno intenso: um tremor violento do solo e um vento forte. Em ambos, houve fogo. Vejamos nas palavras de Agostinho:

“Observemos como aconteceu lá e como aconteceu aqui. Lá, o povo ficou à distância; havia um ambiente de temor, e não de amor. Estavam tão aterrorizados que disseram a Moisés: Fale você mesmo conosco, e ouviremos. Mas que o Senhor não fale conosco, senão morreremos. Então, como está escrito, Deus desceu no Sinai em fogo; mas foi assustador para o povo que estava à distância, e as leis foram registradas em tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus, “e não no coração” (Ex 3.18). 

Agora, o africano fala da nova aliança: “Aqui, porém, quando veio o Espírito Santo, os fiéis estavam reunidos, e ele não os aterrorizou  em um monte, mas veio a eles em uma casa. De fato, veio um som repentino do céu e uma violenta rajada de vento soprou sobre eles; houve um ruído, mas ninguém se apavorou. Ouça o som, seja igualmente o fogo, pois ambos, o fogo e o som, estavam presentes no Monte; lá, no entanto, havia fumaça, enquanto aqui, era apenas fogo. As Escrituras dizem que “viram o que parecia línguas de fogo que se separaram: aterrorizando-os à distância? De modo nenhum. Porquanto “pousaram sobre cada um deles, e todos começaram a falar em línguas, à medida que o Espírito lhes dava expressão” (Atos 2.1-4). Ouça alguém falar em línguas e entenda que o Espírito está escrevendo não em pedra, mas no coração”.

2)     O Filho, O Espírito e a vontade de Deus.

Na carta  aos Gálatas, Paulo fala de alguns falsos mestres que estavam voltando à lei de Moisés e impondo-a como guia para os cristãos: “Meus filhos queridos, pelos quais sofro novamente dores de parto até que Cristo seja formado em vocês...” (Gl 4.19). Portanto, não é a lei de Moisés que dá forma à vida cristã, mas Jesus. Somos chamados a ser semelhantes a Cristo e não guardar a lei. Paulo resume em Gálatas: “a lei de Cristo” (Gl 6.2).

 A lei de Cristo não é uma série de regras ou mandamentos. Romanos 7.6 menciona: “Mas agora, ao morrer para aquilo que antes nos prendia, fomos libertos da lei para que sirvamos conforme o novo caminho do Espirito e não conforme a velha forma do código escrito”. Agora o Espírito Santo ilumina a Palavra de Deus, para que conheçamos a vontade de Deus.

Novamente, o apostolo Paulo, depois de escrever em Gálatas que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”, Paulo acrescenta: “contra essas coisas não há lei” (Gl 5.22-23). Em outras palavras, o Espírito cultiva em nós virtudes que não podem ser criadas nem mesmo expressas por lei alguma. É impossível codificar amabilidade, paciência e bondade. Então, é o Espirito que nos concede poder para que obedeçamos à vontade de Deus. 

O símbolo maior de participação na lei mosaica era a circuncisão. Agora, porém, Paulo diz: “Circuncisão é a do coração, realizada pelo Espírito, e não pela lei escrita” (Rm 2.29). Em outras palavras, pertencemos ao povo de Deus e fazemos a vontade de Deus “pelo Espírito, e não pela lei escrita”. DIANTE DISSO, as palavras da lei de Moisés não se aplicam mais aos cristãos como se aplicavam a Israel.

Por exemplo, Êxodo 20.8-10 diz: “Lembra-te do dia de sábado, para santifica-lo. Seis dias trabalharás e farás todo o teu trabalho, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor, teu Deus. Nele não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho ou filha, nem teu servo ou serva, nem teus animais, nem o estrangeiro que moras em tuas cidades”. No Novo Testamento, porém, Paulo diz que essa questão tornou-se indiferente. 

“Uma pessoa considera um dia mais santo que o outro; outra considera todos os dias iguais. Cada uma deve estar plenamente convicta em sua mente” (Rm 14.5). De fato, em Gálatas 4.8-11, Paulo diz: “Impor dias especiais sobre as pessoas é o mesmo que voltar a escravizá-las. Isso não as leva de volta ao Sinai, mas ao Egito!” “Portanto”, diz ele em Colossenses 2.16, “não permitam que ninguém os julgue ... com respeito a alguma festa religiosa, celebração da lua nova ou sábado”.

 O autor de hebreus expressa a mesma idéia de modo ainda mais enérgico, ao falar sobre a nova aliança que o Espirito escreve em nosso coração, ele diz em Hebreus 8.13: “Ao proclamar nova esta aliança, ele transformou em antiquada a primeira. E o que se torna superado e envelhecido, está próximo do aniquilamento”. No capitulo nove, o autor particulariza: “Eram tão somente ordenanças que tratavam de comida e bebida e de várias cerimonias de purificação com água; esses mandamentos exteriores foram impostos até a chegada do tempo da nova ordem” (Hb 9.10).

Conclusão: 

Então, isso significa que podemos arrancar essas páginas de nossa Bíblia? Se são “antiquadas” e não se aplicam mais, podemos descartá-las? Podemos pulá-las em nossas leituras devocionais? Não! Paulo declara: “Tudo que foi escrito no passado, foi escrito para nos ENSINAR, de forma que por meio da PERSEVERANÇA ensinadas nas escrituras e do ANIMO que elas proveem, tenhamos esperança” (Rm 15.4).

 Em 1 Corintios Paulo expondo esses capítulos de Êxodo, nos adverte: “...Não quero que ignoreis que nossos antepassados estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual, e todos beberam da mesma bebida espiritual...entretanto, Deus não se agradou da maioria deles; e, por isso, seus corpos ficaram espalhados pelo chão do deserto”. A grande advertência para nós é: “Tudo isso lhes aconteceu como exemplo, e foi escrito como advertência para nós sobre quem o final dos tempos já chegou” (1 Co 10.11). 


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