terça-feira, 27 de junho de 2023

 A festa das primícias/ressurreição Dt 26.1-10 


Introdução

A festa da páscoa era celebrada no décimo quarto dia de Nisã. No décimo quinto dia era a festa dos pães asmos, pães sem fermento. Quase sem folego depois das cerimonias, com a barriga cheia do banquete farto e a mente e o coração atordoados com tantas verdades densas e necessárias, continuavam a festejar na sombra da redenção e esperança que as duas festas projetavam quando o décimo sexto dia de Nisã chegava de modo repentino. Era o dia das primícias, a terceira festa de primavera. 

1)     As primícias

A festa das primícias não foi celebrada no Egito, nem tampouco durante a jornada de Israel pelo deserto. Porque no deserto, Israel era um povo nômade, sem moradia fixa, e não plantava e nem colhia. Antes, era sustentado pelo Senhor com o maná que caia todos os dias e água que saia da rocha. A festa só começou quando Israel entrou na terra de Canaã, o maná cessou e foi substituído pelas dádivas rotineiras, porém, igualmente graciosas, do amor de Deus, que cresciam com fartura na terra de leite e mel.

Nos primeiros dias de Israel na terra de Canaã, era uma comemoração simples. Quando as chuvas da primavera regavam os campos e o sol do mediterrâneo aquecia as plantações, a cevada e o linho começavam a mostrar os primeiros sinais de amadurecimento na época correspondente ao sétimo mês do calendário agrícola. Quando os campos, ainda era um mar de verde profundo, começavam a mostrar as primeiras ondas douradas, o agricultor israelita ceifava o primeiro feixe de cereal maduro de sua colheita e o levava ao sacerdote. 

O sacerdote, por sua vez, o movia (estendia o primeiro feixe) diante do Senhor no dia depois do sábado em sinal de gratidão e louvor pela dádiva bondosa de Deus. Essa oferta era acompanhada de outro holocausto de um cordeiro de um ano, sem defeito, bem como de uma oferta de manjares, constituída de 4.5 litros de flor de farinha misturados com azeite e uma oferta de libação de um litro de vinho.

 Em louvor à graça maravilhosa de Deus, Deuteronômio 26.11 descreve o que acontecia em seguida: “Alegar-te-ás, então, por todas as bênçãos e produtos que o Senhor teu Deus concedeu a ti e à tua casa...” Havia muita celebração e muita alegria! O povo e os levitas, e até mesmo os estrangeiros em seu meio se alegravam “Por todo bem” que Deus havia concedido ao seu povo. 

2)     Um olhar mais adiante

A festa das primícias possuía um sentido espiritual. O povo apresentava feixes de cereais novos, uma oferta que trazia em sua essência sinais de esperança de uma nova vida. Era um modo de encarar a vida que precisava não apenas de olhos, mas também do coração para enxergar. Enquanto que os cananeus realizavam negociações angustiantes com seus deuses ou queimavam seus filhos (ao deus moloque) para garantir prosperidade. Mas, Israel não precisava negociar com Deus para garantir uma boa colheita, pois Deus havia prometido com demonstração do seu amor.

Não só isso, era uma festa de misericórdia. Lemos em Deuteronômio: “Quando estiveres ceifando a colheita em seu campo e esqueceres um feixe, não retornes para pegá-lo; permita que ele seja encontrado pelo estrangeiro, pelo órfão e pela viúva...Quando sacudirem as azeitonas das suas oliveiras, não voltem para colher o que ficar nos ramos. Deixem para o estrangeiro...orfão...viuva. E quando colherem as uvas da sua vinha, não passem de novo por ela. Deixem o que sobrar para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva. Lembrem-se de que vocês foram escravos no Egito...” (Dt 24.20-22) 

Com o passar do tempo o povo se esqueceu tanto das primícias quanto do gesto de misericórdia. O profeta Malaquias revelou a corrupção do coração de Israel quando apontou para os depósitos vazios do templo: “Pode um ser humano roubar algo de Deus? No entanto estais me roubando...” (Ml 3.8). Já nos dias de Jesus, vemos os fariseus entregarem o dizimo das ervas e temperos, “...da hortelã, do endro e do cominho”, mas se mostram hipócritas ao desconsiderar “...a justiça, a misericórdia e a fé” (Mt 23.23).

 3)     Primícias e redenção

Como as outras festas, as primícias era um tipo (uma sombra) da redenção mais plena que viria com Cristo. Mais uma vez a data é significativa: a páscoa terminava em 14 de Nisã e a festa dos pães asmos era no dia 15 de Nisã. Cristo foi oferecido como cordeiro pascal na páscoa e sepultado na véspera da festa dos pães asmos. No 16 dia de Nisã, era a festa das primícias, ou seja, Jesus ressuscitou no terceiro dia dentre os mortos. 

A ressureição de Cristo foi as primícias da sepultura física. Paulo em sua cara aos Coríntios é esperançoso: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos os mais dignos de compaixão. Mas de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias do que dormem” (1 Co 15.17-20). 

Há muito, a morte marca nossa vida e nosso mundo e, um dia, todos nós teremos de encarar o fim de nossa existência física. E, pior ainda, enquanto caminhamos para a sepultura, derramamos lágrimas de tristeza pela perda de entes queridos que a morte toma de nós. A morte dói! Mas Paulo declara: esse não é o fim! “Tragada foi a morte pela vitória...Onde está, ó morte, a sua vitória? (1 Co 15.54-55)”.

Em Cristo, portanto, temos essa confiança. Agora, estamos no “reino de Deus” (Mc 1.15) e “reino dos céus” (Mt 4.17). O evangelho de João se refere ao novo tipo de vida como “vida eterna” (Jo 3.16). Paulo fala que estamos “nas regiões celestiais em Cristo Jesus” (Ef 1.3). O “novo céu e nova terra” não são apenas futuro, mas já se manifestam aqui e agora. Ainda, vivemos no mundo pecaminoso, contudo, somos de Cristo.

Paulo afirma: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17). Quando falamos de nova criatura, não nos referimos apenas no individuo; antes, devemos pensar numa “nova criação”, no novo mundo que Deus recriou e deu inicio com Cristo, e no qual todos estão em Cristo incluídos. 

Aqueles que seguem a Cristo são primícias, a vida deles produz uma colheita diferente. São movidos pelo impulso do novo mundo, são diferentes por dentro. Não são mais marcados pela raiva, malicia, violência, cobiça, concupiscência e egoísmo, ou seja, pela colheita característica da carne. Antes, sua vida revela o inicio de uma transformação autentica:

“...o fruto do Espirito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio... e os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências” IGl 5.22-24). Paulo afirma também: “Nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espirito” (1 Co 2.9-10).

Conclusão

A ressurreição de Jesus Cristo no décimo sexto dia de Nisã ressoa em dois tons. Primeiro, permitem que os cristãos experimentem e, portanto, percebam e celebrem, já no presente, as dádivas graciosas do Espirito Santo. Jonh Newton, era um comerciante de escravo na costa oeste da Africa. Um dia em meio a uma tempestade, ele se converteu a Cristo, voltou à Inglaterra e tornou-se um pastor. Ele escreveu o famoso hino: “A graça maravilhosa”:

“Graça Maravilhosa, como é doce

Que salvou um miserável como eu

Eu estava perdido, mas agora fui encontrado

Era cego, mas agora vejo”

Segundo a ressurreição de Cristo anseia por uma colheita mais abundante. Em uma de suas parábolas, Jesus falou da nova vida que seria plantada e como amadureceria. A palavra de Deus é lançada no solo como uma pequena semente e produziria: a cem, sessenta e a trinta por um” (Mt 13.8). Cada cristão leva essa semente em sua nova vida de fé, pois a igreja de Cristo ressurreto é constituída de pessoas com uma missão. 



  




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