terça-feira, 22 de junho de 2021

 A beleza de Abigail – 1 Samuel 25


Introdução

O que dizer de Abigail? Abigail significa “alegria de meu pai”, “meu pai é alegre”. Ou seja, por meio dela, a beleza do Senhor emana, ela vive de tal modo que a beleza de Deus corre como um rio por seu intermédio. Ícone é a palavra para imagem – conotando uma imagem que libera a luz de um Cristo em nossa vida de oração. Aqui, no texto, Davi está cheio de si, cego, irado e vazio de Deus, um vazio tão visível quanto a feiura. Abigail, solitária e bela, se ajoelha no caminho, detendo a ira, ou a feiura, de um ato.

1)    Cenário

Davi está no deserto fugindo de Saul, com ele ajuntou-se 600 homens, homens marginalizados que encontrou em nele, um líder. Não era toda hora, ou todo momento, que Saul perseguia Davi. Nesses hiatos de tempo, Davi e seus homens eram guardiões, protetores de propriedades e seus animais, de inimigos do povo de Israel e de bandidos e ladrões.

Foi assim que possibilitou Davi conhecer Nabal, um próspero criador de ovelhas. Os pastores que cuidavam dos seus rebanhos estavam particularmente sujeitos aos ataques dos marginais e ladrões  de gado do deserto, e Davi e seu grupo passaram a lhes proporcionar proteção. Um dos servos de Nabal, depois testificaria a respeito de Davi e seus homens: “Dia e noite eles eram como um muro ao nosso redor, durante todo o tempo em que estivemos com eles cuidando das ovelhas” (1 Sm 25.16).

Nabal significa “insensato”, tinha muito dinheiro, muitas ovelhas, muitas cabras. De fato, o texto nos diz que ele possuía 3000 ovelhas e 1000 cabras. Além de carregar um nome que lhe denunciava, o texto nos diz que “o homem era duro” (1 Sm 25.3), no original, é “inflexível, obstinado,beligerante”. Também, o texto nos diz que ele era “maligno em todo o seu trato”. Então, Nabal era exigente, enganador e injusto. 


 No entanto, sua esposa, era justamente o oposto. Ele se chamava Abigail e o texto nos diz que era tanto inteligente como bonita (1 Sm 25.3). Era formosa por dentro e por fora. O apostolo Pedro consegue resumir em sua epistola: “...o que vos torna belas e admiráveis não devem ser os enfeites exteriores, como penteados extravagantes, joias de ouro ou luxos dos vestidos, em vez disso, vistam—se com a beleza que vem de dentro e que não desaparece, a beleza de um espírito amável e sereno, tão precioso para Deus” (1 Pedro 3. 2-4).

A beleza exterior é passageira; a interior, eterna. A primeira é atraente ao mundo, a segunda, agrada a Deus. “Os encantos são enganosos, e a beleza não dura para sempre, mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada” (Pv 31.30). “Demora apenas algumas horas para você se preparar para a mais elegante das noites, mas demora uma vida inteira para preparar-se e desenvolver a pessoa escondida em seu coração”.


2)    Tosquia

Então, chegou o tempo da tosquia, uma mistura de trabalho duro com grandes festividades. Recolhida a lã, mesas de banquete se enchiam de comidas e bebidas. As difíceis e longas horas da tosquia das ovelhas tinham sua culminância numa grande celebração. 


Davi estava nos arredores e, então, enviou dez de seus homens para pedirem algo para comer e beber, do banquete. Afinal, eles haviam protegido aqueles pastores o ano todo e certamente vinham se alimentando de pequenas rações, porquanto o deserto não tem muita opção. Um pouco de frutas frescas e dos bolos assados da mesa de Nabal seria muito bem vindo.

Como vimos, Nabal significa insensato, e em conformidade com seu nome, responde aos homens de Davi, embriagado: “...Quem é Davi?...” “Por que devo dar alguma coisa a esse servo que fugiu?” (1 Sm 25.10,11).

 Enquanto que Davi o trata com respeito como se fosse seu filho e com diplomacia (1 Sm 25.8). Mas Nabal intencionalmente se refere a ele como “esse filho de Jessé” (1 Sm 25.10). Vemos ecos na forma como Saul chamava Davi, uma forma depreciativa, pejorativa, porque seu pai era um simples camponês, com algumas ovelhas. Ele usa o pronome possessivo de forma repetida: “Tomaria eu o MEU pão, a MINHA agua e a MINHA carne do animal que abati para MEUS tosquiadores e os daria a homens que não sei de onde vem?” (1 Sm 25.11).

3)    Abigail

“Davi perdeu a cabeça cada um prepare sua espada e a coloque no cinto” (1 Sm 25.13). Perdeu todo o senso de identidade como ungido de Deus. Davi perdeu contato com a beleza da santidade do deserto. Ele, que fora capaz de ver o maníaco rei Saul como templo do Espírito Santo, não conseguia, agora, ver Nabal senão como escória, que cheirava mal em sua vida. 


Abigail é informada por um servo (1 Sm 25.14-17), os insultos de Nabal e resolveu evitar as consequências. Pegou diversas iguarias do magnifico banquete: “duzentos pães, dois odres de vinho, cinco ovelhas assadas, cerca de quinze quilos de trigo torrado, cem bolos de uva passa e duzentos bolos de figos prensados, e os carregou em jumentos” (1 Sm 25.18).

Colocou tudo sobre os lombos dos animais e partiu para interceptar Davi e seus homens. No momento em que os viu, desceu do jumento e ajoelhou-se, colocando seu rosto no chão em sinal de reverencia e respeito a Davi e lhe disse: “Por favor, por favor, não faça isso. Essa não é uma atitude digna de um príncipe de Israel. Lembre-se de quem você é. Lembre-se da unção de Deus e da sua misericórdia. Não perca tempo em batalhas vãs; sua missão é lutar as batalhas do Senhor”.

E profetiza: “...a vida do meu senhor estará firmemente segura como a dos que são protegidos pelo Senhor, o teu Deus. Mas a vida dos teus inimigos será atirada para longe como por uma atiradeira (1 Sm 25.29).


 “Se alguém quiser impedir tua caminhada,

Se alguém tentar do teu rumo te afastar.

Sabe que tua vida é segura e por Deus honrada,

Como a vida daqueles que Deus quer guardar;

Mas a dos teus inimigos será longe lançada

Como a pedra uma funda pode atirar

Em outras palavras, ela resumiu todo o que Deus fez e faria em sua vida: o chamado de Deus, as promessas de Deus, o pacto de Deus, a Palavra de Deus. A vida de Davi estava entrelaçada com a obra e a revelação de Deus que não havia como ele pudesse se separar dessa verdade e ainda continuar sendo ele mesmo.

“A vida dos teus inimigos será atirada para longe como por uma atiradeira”, essas palavras de Abigail, tocou, sem duvida, a memoria de Davi, fazendo-o retornar àquele dia algum tempo atrás, quando, em espírito de oração, no vale de Elá, derrubara Golias como uma simples pedra que lançara de sua funda.

O que Abigail estava dizendo era: “Sua missão, Davi, não é de exercer vingança; a vingança pertence a Deus, e você não é Deus. Você está aqui no deserto para compreender o que Deus está fazendo e quem é você diante de Deus. O deserto não é um lugar no qual você deva testar a si mesmo para saber quão forte e resistente é. Mas onde você deverá descobrir a foça e os caminhos fiéis de Deus operando em sua vida e mediante a sua vida. Nabal é um tolo; não se torne um tolo igual a ele. Chega de tolice nesta história”.

De maneira marcante  - quase inacreditável -, Davi pára, olha e ouve Abigail, no meio do nada, de joelhos diante dele, falar, trazendo Deus de volta à sua vida por meio de oração e poesia. A beleza de Abigail surpreende Davi, e ele volta a ver e ouvir Deus de novo.

 Conclusão:

No espelho de Abigail, Davi vê a si mesmo como Deus o vê. Abigail recobra a Davi a identidade que Deus lhe havia dado. Abigail de joelhos fez Davi de novo ajoelhar-se.



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