terça-feira, 29 de julho de 2025

Temos preconceito na igreja? Tg 2.1-12 


Introdução

Existem muitas formas de preconceito, não somente o preconceito racial. Mas também o preconceito regionalista (nordestino, paulista, sulista), o preconceito machista (mulher x homem), o preconceito cultural (estudou e analfabeto), o preconceito econômico (quem tem dinheiro x quem não tem) etc.  Todos e mais outros estão presentes em nosso mundo.   Mas, aqui, o apostolo Tiago está apontando o dedo para algo que acontece no seio da igreja, no meio do povo de Deus e diz: dar prioridade aos ricos só pelo fato de serem ricos é pecado. 

1)     Uma palavra para a igreja

O apostolo Tiago está se dirigindo a igreja “caros irmãos”, “meus irmãos” (NVT), isto é, os que já tem fé em Cristo Jesus, aqueles que fazem parte da comunidade de Cristo, o corpo de Cristo. Em seguida, ele exalta o nome de Cristo lhe chamando de “Nosso Glorioso Senhor Jesus Cristo”. Então era uma comunidade que tinha uma mesma teologia, um grupo de irmãos que adorava o mesmo Senhor. 

Mas, depois, ele vai direito ao assunto: “Não façais acepção de pessoas, tratando-as com preconceito ou parcialidade” (Tg 2.1). O termo traduzido por “discriminação de pessoas” é prosopolempsia que é uma palavra composta que transmite a ideia de “receber o rosto”, isto é, voce vê a aparência (o rosto) de uma pessoa e recebe aquela imagem como expressão de realidade, isto é, fazer julgamentos, com base na aparencia. Essa mesma palavra é usada no Novo Testamento em relação a Deus: “Reconheço que Deus não trata as pessoas com base em preferencias” (Atos 10.34). 

Deus julga a veracidade de uma coisa olhando para o coração, não para o rosto. Quando o profeta Samuel foi ungir um dos filhos de Jessé “...viu Eliabe e pensou com certeza é este que o Senhor quer ungir” (1 Sm 6.6); talvez Eliabe era alto e de boa aparência. Então Deus lhe fala: “O Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1 Sm 16.7). E, nós como cristãos, somos exortados a refletir essa mesma visão.

2)     Sinagoga

O apostolo Tiago vai usar a cena de “reunião”, ou um culto para exemplificar esse principio. A palavra é synagoge, “reunião”, porque os primeiros cristãos judeus se reuniam nas sinagogas no começo da fé cristã, até que foram expulsos pelos judeus que não aceitavam Jesus como Messias. Esses versículos aplicados aos nossos dias, nos remetem a nosso local de culto, a igreja. Dois homens se destacam quando a igreja se reúne para o culto. 

O primeiro homem está muito bem-vestido – portanto joias e usando roupas elegantes. “...um anel de ouro no dedo e roupas caras” (Tg 2.2 A21). Nesse tempo, pessoas ricas ou nobres costumavam usar roupas de fina seda cravada de joias. Essas roupas sinalizavam que elas eram influentes, poderosas e que faziam parte da alta sociedade judaica. No tempo da igreja primitiva os mais ricos não costumavam ir à igreja. 

O segundo homem é um pobre, vestido com roupas sujas e surradas e entra na reunião, no culto. Suas roupas pendem de seu corpo franzino “...um pobre com roupas velhas e sujas” (Tg 2.2). Ele não carrega joias, nem se veste de seda, nem está acompanhado de seguranças e não tem influências sobre ninguém. Ele se destaca dos demais por ser extremamente pobre, assim como o rico se destaca por ser de uma riqueza invejável. 

O que acontece em seguida? O rico que tinha “...um anel de ouro no dedo e roupas caras” recebe um tratamento VIP, aliás, hoje tem igrejas com salas vips! Ele é “...tratado com atenção especial” e porteiro lhe diz: “Senta-te aqui neste lugar de honra”; o evangelista Mateus faz menção dos “primeiros assentos na sinagoga” (Mt 23.6). Logo, havia lugares preferencias para pessoas importantes, o púlpito ficava próximo ao centro do salão, ficava no centro do salão.

Portanto, o homem rico é encaminhado para um lugar de honra, mas o pobre nem sequer consegue um lugar. Mas o pobre “...um homem com roupas velhas e sujas” nem sequer consegue um lugar na sinagoga. O porteiro é ríspido, ignorante: “Você fique ali de pé” ou “Sente-se aqui no chão, perto dos meus pés” (Tg 2.3 VFL). O porteiro que representa, a igreja, é culpado de discriminação. Esse tipo de preconceito é pecado, não pode existir na igreja de Cristo.

Na igreja de Corinto estava acontecendo a mesma coisa, diz o apostolo Paulo: “...pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem” (1 Co 11.17). E mais: “...ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês” (v.18). Nesse contexto a ceia era uma grande festa, um grande banquete, um grande banquete chamado Ágape – festa do amor -, todos traziam um alimento para o banquete. Os ricos traziam pratos deliciosos, os pobres comiam o que restava. Havia, divisão, grupos, panelinhas, entre eles. 


3)     Por que não pode haver preconceito na igreja?

Primeiro, uma razão teológica. O apostolo Tiago diz: “Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu aos que o amam” (TG 1.5). Deus não faz discriminação de pessoas nem seus filhos devem fazer. O apostolo Paulo desenvolve esse princípio: “...não foram chamados muitos sábios, segundo critérios humanos, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Mas, Deus escolheu as coisas absurdas do mundo para envergonhar os sábios; e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que são nada para reduzir as que são, para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus” ( 1 Co 1.26-29). 

Segundo uma razão lógica. Tiago faz duas perguntas retóricas que nos revelam muita coisa sobre a situação em que se encontravam os cristãos judeus. Primeiro, não são os ricos e poderosos que estavam perseguindo os cristãos e entregando-os às autoridades? Os cristãos estavam sendo perseguidos, caluniados, maltratados, levados aos tribunais, denunciados pelos ricos da sociedade. 

Segundo, não são os ricos e os poderosos que estavam difamando o bom nome de Cristo? Havia perseguição contra os cristãos, os ricos estavam difamando do nome de Cristo. Eles estava vilipendiando, rebaixando, zombando, tratando com desdém o nome de Cristo que era invocado pela igreja.

Terceiro, uma razão bíblica. Por fim, Tiago coloca seus leitores de frente com as Escrituras, que excluem todo tipo de discriminação. O texto que ele cita é Levitico: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19.18). Esse texto é citado por Jesus (Mt 19.19) e se referiu esse mandamento como o segundo dos dois mais importantes, vindo depois de amar a Deus com todo o coração, alma, entendimento e forças (Mt 12.29-31). O apostolo Paulo afirma que nele se resume todos os outros mandamentos da lei de Moisés (Rm 13.9).  e que “toda a lei se resume numa só ordenança, a saber: amarás ao próximo como a ti mesmo” (Gl 5.14). Por isso, o preconceito – a recusa de amar igualmente a todos – é uma transgressão do grande mandamento. 

Conclusão

Tiago termina dizendo: Sejam as Escrituras o vosso padrão! Seja o amor a vossa lei! Seja a misericórdia a vossa mensagem! Falai e procedei não sob influencia do condicionamento cultural, natural e superficial. O apostolo Tiago fala da “lei da liberdade” (Tg 2.12). No contexto de 2.8-11, sabemos que lei ele está se referindo – a lei que liberta, a lei que exclui todo o preconceito e elimina a discriminação – “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.  



 

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