terça-feira, 8 de julho de 2025

 Quando a tentação vem Tg 1.13-18 

Introdução

No texto anterior vimos o apostolo Tiago falando sobre a provação e exorta os cristãos a se alegrarem quando são provados “...motivo de grande alegria” (Tg 1.2). Por quê? A provação cria a perseverança, ou seja, nos molda e nos aproxima de Deus. O patriarca Jó, depois de ter passado pela provação, expressou: “Antes eu te conhecia de ouvir falar, mas agora te vejo com os meus próprios olhos”. Diferente da provação, a tentação, é insidiosa, perigosa, tirânica; e o seu intento é humilhar, derrubar, colocar o ser humano na lona. É disso que Tiago está falando nesses versículos... 

1)     Quatro verdades sobre a tentação

Primeiro a tentação sempre está presente. Ninguém está imune a ela. Ele não diz: “Se alguém for tentado”, mas “...quando tentado” (Tg 1.13). A semelhança das provações às quais nossa fé é submetida, as tentações são inevitáveis. Não existem vacinas espirituais, nem garantias que nos livrem delas, nem rotas alternativas para escapar das armadilhas colocadas em nosso caminho. 

Em segundo lugar, Deus nunca é fonte de tentação. “Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: Estou sendo tentado por Deus” (v.13 NVI). Ou: “ninguém ao ser tentado deve dizer: Esta tentação vem de Deus” (VFL). Pois a santidade de Deus é absoluta. O mal é uma impossibilidade para Deus. Disse o profeta Habacuque: “tu és tão puro de olhos que não pode ver o mal” (Hc 1.13). Portanto, a santidade de Deus tem dois lados: a incapacidade de ser afetado pelo mal e a incapacidade de causar o mal. 

Em terceiro lugar, Tiago na introdução de sua declaração coloca a conjunção “mas” indicando assim um contraste. Esse contraste é estabelecido entre a visão errônea de que Deus é o autor da tentação e sua verdadeira origem. Tiago afirma que a tentação tem origem em algum tipo de objeto externo de desejo. Ele diz que cada um é tentado ao ser “atraído por seu próprio desejo”, ou “...atraído por sua própria concupiscência”, que significa “desejo intenso e ardente”.

O termo “atraído” faz parte do vocabulário de pesca e significa “atrair com isca”. Assim uma isca é colocada em nossa vida – algo externo. A Isca em si não é pecado. Mas no fundo do nosso ser, temos a natureza pecaminosa, que deseja morder a isca – o pecado que habita em mim. Depois de acalentado, de alimentado, esse desejo intenso, inflamado essa concupiscência impele-nos para o pecado. Aqui, nesse estágio, vemo-nos caminhando na direção da isca, motivado pelo desejo próprio de ter... 

“.... arrastados e seduzidos”. Logo, Deus não é responsável pela tentação, nem mesmo de forma indireta, mas o nosso desejo intenso é a causa direta do pecado. O teólogo alemão Dietrich Bonhoffer, escreveu um livrinho intitulado “Tentação”, ele consegue resumir o processo: “Em nossos membros, jaz latente uma repentina e violenta inclinação ao desejo. Com força irresistível, o desejo domina a carne... acende um fogo secreto e imperceptível...nesse momento Deus deixa de ser real para nós, e somente o desejo é real para nós...”.

Em resumo, em Tiago 1.14, temos os elementos indispensáveis à tentação: uma isca externa atraente (pode ser sexo, pode ser dinheiro, pode ser poder, pode ser jogos, pode ser drogas etc.); depois o desejo interior. Quando esses dois elementos se juntam: isca externa + desejo = cede a tentação, o resultado é desastroso, atordoante, vil. 

O quarto elemento é a palavra “então”. Então o quê? “Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz ao pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte” (Tg 1.15 A mensagem). O rei Davi sintetiza todo esse processo citado pelo apostolo Tiago: Davi não foi na guerra, resolveu ficar em seu palácio. Numa noite sem sono, começou andando pelo terraço do palácio, os olhos do rei viram um pecado em si (uma isca). Mas seu desejo interior, sua natureza adâmica, desejou-a para si. A semelhança de alguém que cai numa armadilha, o salto que Davi deu da tentação para o pecado foi tão veloz quanto um fogo em mato seco: ele perguntou quem era, mandou buscá-la e deitou-se com ela – tendo plena consciência que a mulher era casada! 

O que é mais assustador no pecado de Davi é que ele foi cometido por “um homem segundo o coração de Deus” (1 Sm 13.14). Se esse grande homem de Deus, homem usado por Deus poderosamente, sofreu uma queda tão grave e repentina, não devemos pensar, nem por um momento sequer, que estamos imunes a algo desse tipo.

Mas podemos resistir ao desejo, voltar as costas para a isca e seguir outro caminho, interrompendo assim o ciclo. Mas se a pessoa que é tentada agasalha o desejo, abraça o objeto da tentação e corre para a armadilha, o resultado será o ato pecaminoso. Então, temos que tomar cuidado, primeiro, quando somos levados por alguma coisa que nos atrai, entramos no território da tentação. Segundo e quando o pecado é mantido sem que haja arrependimento, ele resulta em morte, uma morte espiritual, um afastamento da presença de Jesus. Em Cristo recebemos vida abundante, mas o pecado tem o poder de tirar essa vida de dento de nós. Por isso que precisamos nos arrepender... 

“...gera a morte”. Para os judeus a morte era uma trajetória não um destino. “Estar morto” é uma referência a um tipo de vida alienada, longe da presença de Deus. Em Deuteronômio lemos: “Vê que hoje coloquei diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal”. Essa escolha entre “existência de vida” e “existência de morte”. Em Provérbios também diz: “A vida se encontra na vereda da justiça; não há morte em seu caminho” (Pv 12.28). E mais: “O ensino sábio é uma fonte de vida que protege dos laços da morte” (Pv 13.14).

As pessoas estão no caminho da vida, andando com Cristo, vivemos uma vida de santidade; ou as pessoas estão no caminho da morte, andando em pecado, em desobediência. Quem está andando no caminho da vida, anda em comunhão com Deus, tem prazer de estar reunido com os irmãos na igreja, medita nas escrituras e tem uma vida constante de oração. Quem está no caminho da morte já perdeu a vitalidade espiritual; não frequenta mais a igreja, não medita nas escrituras e não ora mais. Vive uma vida na sina do pecado.

O apostolo Tiago admoesta: “Meus amados irmãos, não vos enganeis”. Ou seja, não se desviem. Os encantos da tentação chegam sob muitas formas e em momentos diferentes. Não permitam que seus pensamentos se desviem da verdade e sigam pelo caminho do engano e da falsidade. O processo de tentação começa na mente e, por isso, precisamos fazer todo o possível para encarar os fatos e fugir da tentação

Conclusão

O apostolo Tiago termina essa sessão afirmando que “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes...” (Tg 1.17). Sim, Ele é o Pai das luzes que dissipa toda escuridão, todo pecado. Ele é imutável em seu ser, em quem não há “mudança nem sombra de variação”. Em Deus temos o que há de melhor na criação, seu amor, sua graça, sua presença, a paz que excede todo entendimento, sabedoria, discernimento, dons espirituais, amigos espirituais, uma igreja para adorar o Nome do Senhor, somos batizados com Espírito Santo, enfim...

Fora de Cristo, somos como o filho prodigo, insaciáveis, buscando, tateando, experimentando, raspando o tacho do pecado, uma angustia deprimente, sim, vivendo uma existência de morte e não de vida! Mas ele termina afirmando: “Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou” (Tg 1.18).

Sim, a palavra de Deus, nos alimenta, nos abastece, nos purifica, nos levanta, o salmista expressou: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23-24). 

 

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