terça-feira, 23 de abril de 2024

 Oferecer o corpo como sacrifício vivo a Deus Rm 12.1.1-2 

Introdução

O capitulo 12 marca uma virada, pois nos capítulos 9,10 e 11 de Romanos a temática foi o povo de Israel. Agora, o apostolo inicia um novo assunto. Começa traçando o perfil da vida cristã que deve brotar do conhecimento e da confiança no evangelho. Assim, os versículos 1 e 2 são um resumo de toda vida cristã!

1)     Por que obedecer?

Qual é a motivação para a vida cristã? O versículo 1 nos dá a principal delas, resumida em duas palavras, primeira: “Portanto...”, ou seja, indica que nos entregamos a Deus pelo fato de sermos justificados (pecados perdoados) só pela graça, só por meio da fé, só por causa de Cristo. A segunda palavra é “...misericórdia...” que aparece em “...pelas misericórdias de Deus...” (NVI). Ou seja, as muitas e variadas manifestações da misericórdia divina sobre nós. 

O que é o evangelho? É a demonstração da misericórdia de Deus aos pecadores indignos e indesculpáveis, dando-lhes seu filho, para morrer por eles, justificando-os graciosamente pela fé, enviando-lhes o seu Espirito de vida e tornando-os filhos seus. Pois o apostolo afirma que a salvação “não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus” (Rm 9.16). Resumindo, a única motivação suficiente para a vida cristã é a gratidão pela graça.

Em seguida, o apostolo exorta os irmãos a fazerem duas coisas. Uma está no versículo 1, e a outra, no versículo 2. A primeira é: “...apresenteis o vosso corpo como sacrifício vivo....” A metáfora “sacrifício vivo” é do adorador que chega ao templo com uma oferta. No Antigo Testamento algumas ofertas eram “pelo pecado”, quando o adorador derramava sangue e pedia perdão dos seus pecados. 

No Novo Testamento, Jesus é a nossa oferta pelo pecado, no entanto, a oferta pela qual Paulo aponta não é pecado. Mas o aponta para a “oferta queimada”, na qual se sacrificava um animal valioso do rebanho. Ele tinha de ser sem defeito (santo e sem mácula). Por quê? Um animal desses era caro! Indicava que tudo que você tinha estava à disposição de Deus. A oferta era sempre queimada por completo e representava a total consagração e devoção a Deus. 


Portanto ser um “...sacrifício vivo...” é estar à disposição de Deus por inteiro. Significa se dispor ativamente a obedecê-lo em qualquer coisa que ele diga em relação a qualquer área da vida, isto é, uma obediência absoluta a Deus e sua palavra; e, passivamente, estar disposto a agradecer a Deus por tudo que ele envia em qualquer área da vida, gratidão por tudo. Nunca se esqueçam: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam e agradam a Deus...” (Rm 8.28). 

E ofereçam o próprio “...corpo...”. os gregos pensavam, que “o corpo é uma tumba”, nessa “tumba” o espirito humano viveria aprisionado e dela ansiavam escapar. Mas, o apostolo afirma que Deus não deseja somente uma adoração só para dentro de si, mas prática e completa. Quer que lhe demos tudo o que fazemos! Temos que oferecer todo nosso corpo a Deus como “instrumento de justiça” (Rm 6.13).

Usar os nossos pés para anunciar as boas novas de salvação em lugares distantes para que o reino de Deus e a sua justiça cresçam. Usar nossos lábios, como profetas, para falar que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida; em cima do céu e embaixo na terra não há outro nome para alcançar a salvação. Usar nossa língua para trazer cura, trazer vida, levar os caídos e usar nossas mãos para envolver o solitário e o não amado, nossos ouvidos ouvirão os gritos dos aflitos e nossos olhos olharão com humildade e paciência para Deus. 

“...vivo e santo...” Vivo significa que o sacrifício é constante, temos que renovar o tempo todo nossa posição em obediência completa e estar à disposição de Deus. Jesus exorta que o discipulo precisa negar “...a si mesmo, (tomar) a cada dia a sua cruz (diariamente) e siga-me....salvará a vida” (Lc 9.23-24). “Santo” é ser separado, ser de Jesus, consagrado, vive para Deus e não para o mundo.

“agradável a Deus”. O Espirito nos transforma de pessoas cuja mente era “...inimiga de Deus...” (Rm 8.7) em pessoas cuja real natureza deseja amar e servir a Deus, ou seja, uma mentalidade espiritual. Assim como o Pai se agrada do Filho, também se agrada de nós. Então, vivemos de um modo que agrade a Deus, em gratidão, em alegria por tudo que tens feito em nossas vidas.

2)     Culto racional

Todas essas coisas fazem parte do “culto racional”. O sentido do termo aqui é “lógico”. O fato de oferecer a Deus o culto espiritual é a única resposta sensata, lógica e apropriada aos olhos de Deus, tendo em vista sua misericórdia. É um culto oferecido de mente e coração, é um ato de adoração inteligente, contrapondo-se, um culto cerimonial, um culto sem vida, religioso. John Stott coloca uma ilustração: “Se eu fosse um rouxinol, faria que é próprio de um rouxinol. E, se eu fosse um cisne, faria o que é próprio de um cisne. Como eu sou racional tenho de adorar a Deus”. 

“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente” (Rm 12.2). Paulo exorta “não se amoldem ao mundo”. Moisés também exortou o povo no deserto: “Não procedam como se procede no Egito...nem como se procede na terra de Canaã...Não sigam as suas práticas” (Lv 18.3). Não devemos ser como camaleão, que assume as cores daquilo que o cerca.

E essa mesma intimação Paulo lança agora ao povo de Deus, desafiando-os a que não se acomodem, ou amoldem à cultura predominante, mas sim que sejam transformados. “Não permitam que o mundo os esprema para dentro do seu próprio molde, mas deixem que Deus remodele as mentes de vocês a partir de dentro” (J.B. Philips). Então existem dois modelos: o modelo deste mundo (literalmente “esta era”); e o modelo da vontade de Deus, que é boa, agradável e perfeita. 


O texto exorta: “Não se amolde” é algo externo, mundano, desta era, é midiático, que se vê e ouve, ou seja, que vem de fora. Mas é para “transformar”, já é algo interno, mudança que acontece interiormente. Então seria: “Não adotem o padrão exterior e transitório deste mundo, mas sejam transformados em sua natureza intima”.

Outrossim, transformados no grego é metamorphoo, que é o verbo que Mateus e Marcos usaram quando descreveram a transfiguração de Jesus. Marcos escreve que o próprio Jesus “foi transfigurado diante deles” (Mc 9.2). Ocorreu-lhe uma mudança completa, o interno sobrepôs o externo. Seu corpo inteiro tornou-se translucido: suas vestes ficaram resplandecentes e brancas, seu rosto resplandecia como o sol. 

Assim, também, os cristãos têm que ser “transfigurados” mudados, renovados, de dentro para fora. Éramos pecadores, vivíamos a mercê do pecado, enganados pelo diabo e iludidos pelo mundo e conduzidos pela carne. Mas, agora, fomos transformados, aconteceu uma metarformose, uma mudança em nossa natureza. Estávamos mortos, mas fomos vivificados pelo poder de Deus. Agora, andamos em novidade de vida, na presença de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espirito Santo.

Portanto, diz Paulo, não assuma a expressão externa, as modas, aos hábitos, aos trejeitos, as expressões de linguagem (todas e todes) e a artificialidade dessa geração corrompida, uma geração que endeusa o corpo. Mas, deixa o Espirito Santo nos mudar, nos transfigurar, nos renovar...

Conclusão

Como se dá essa transformação? Primeiro, acontece pela regeneração por intermédio do Espirito Santo, todo nosso ser interior é renovado e nos tornamos nova criatura. Segundo, pela Palavra de Deus, ela é “lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos” (Sl 119) ; ela “é a palavra viva e eficaz e mais cortante do que espada de dois gumes e que penetra na dvisão da alma e do Espirito e de juntas e medulas, e discerne as intenções e os propósitos do coração” (Hb 4.12);  ela “é como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que despedaça a rocha”(Jr 23.29). E, por fim, “Assim será a palavra que sair da minha boca, ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz e prosperará naquilo que a enviei” (Is 55.11).

 


 

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