terça-feira, 15 de agosto de 2023

 Setenta vezes sete – Mt 18. 21-35 

Introdução

Hoje a sociedade está adoecida, disfuncional. Muita gente carrega dentro de si raiva e amargura. Pais contra filho, parentes que não se falam, amigos no trabalho e, mormente, no casamento. Os casais chegam com história de infidelidade conjugal, abuso físico, abuso emocional ou verbal, dificuldades quanto ao gerenciamento financeiro, falta de comunicação, pequenas queixas que se transforma em grandes diferenças, falta de amor, falta de respeito, etc. 

Todo casal tem as mesmas dúvidas. Há esperança para o casamento? Será que vou conseguir confiar no meu marido (esposa) depois do que aconteceu? Ou, nosso casamento tem salvação? Devemos entregar os pontos e pedir o divórcio ou existe uma alternativa melhor? Mas, uma coisa é certa: sempre que um casal tem dificuldade conjugal, precisa tratar, mais ou cedo ou mais tarde, das questões da raiva e da amargura.

1)     Quantas vezes devo perdoar?

O apostolo Pedro se dirige a Jesus e lhe apresenta uma pergunta que todos nós já fizemos alguma vez. Alguém falhou com Pedro e ele perdoou. O mesmo sujeito o ofendeu novamente, e Pedro o perdoou mais uma vez. Por fim, a história se repetiu, e Pedro perdoou o sujeito, mas dessa vez ficou zangado. 

Então, perguntou a Jesus: “Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão quando ele peca? Então, perguntou a Jesus: “Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão quando ele peca contra mim?” Ou seja, Pedro queria saber quantas vezes tinha de engolir o que faziam contra ele. Quando é hora de parar de oferecer a outra face? Quando é justificado perder as estribeiras? Chutar o pau da barraca? E emendou, já querendo dá sua resposta: “Até sete vezes?” 

Os rabinos (os mestres, como: Gamaliel, Hilel, Shamai, etc, os que interpretavam a Torá) ensinavam que uma pessoa devia perdoar a outra pessoa três vezes, depois desse número, tinha o direito de retaliação. Assim, Pedro pensou: Vou multiplicar por dois e acrescentar um. Afinal, sete é o numero da perfeição, o numero de Deus, “no sétimo dia o Senhor descansou”. Para a dizer a verdade, perdoar uma pessoa sete vezes é algo louvável, virtuosismo: “Eu já perdoei sete vezes”.

Pedro fora na verdade extremamente generoso com essa pessoa. Mas, observe a resposta de Jesus: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Pedro ficou estarrecido, desnorteado! Setenta vezes sete! O total é 490 vezes!?! Ou seja, Jesus estava afirmando: “Pedro, você entendeu tudo errado. Voce não deve contar quantas vezes perdoou alguém. O perdão, Pedro, é ilimitado! 

NÃO HÁ LIMITES PARA O NUMERO DE VEZES EM QUE DEVEMOS PERDOAR ALGUÉM. DEPOIS DE PERDOAR UMA PESSOA 490 VEZES, TEREMOS DESENVOLVIDO O HABITO DE PERDOAR CONTINUAMENTE. 

2)    Uma parábola

Então, Jesus vai lhe contar uma parábola (parábola é uma pequena história inventada com o objetivo de comunicar uma mensagem) para transmitir, para ilustrar o principio do perdão. Ele começa dizendo: “Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram um que lhe devia dez mil talentos” (Mt 18.24). Ou, “trouxeram à sua presença um servo que lhe devia o equivalente a trezentas toneladas de prata” (A mensagem).

O talento era uma medida de peso, usada para pesar ouro e prata, equivalente, a cerca de 35 quilos. Cada talento valia cerca de 6.000 denários. O “denário” era uma moeda de prata que equivalia a um dia de trabalho braçal. Para se ter uma idéia, um homem podia trabalhar a vida inteira e ganhar, no total, dez talentos, ou talvez trinta talentos. Mas o temos diz que o homem devia dez mil talentos! Seria equivalente a cem milhões de reais...impossível pagar. 

O Salmo 14 afirma: “Dos céus o Senhor se inclina sobre a humanidade, para ver se há alguém que tenha juízo e sabedoria, alguém que busque a Deus de coração” (v.2). Parece que o Salmista está fazendo uma pergunta e, logo responde: “todos se desviaram, igualmente se corromperam; não há ninguém que faça o bem, não há um sequer” (v.3). Nossa dívida é impagável, somos pecadores. O rei Davi afirmou que o pecado é algo congênito à humanidade: “Em pecado me concebeu a minha mãe e em iniquidade foi formado” (Sl 51).

Então, chegou o dia do acertar de contas, e o homem estava falido, não tinha nada, absolutamente nada! Gastou tudo e não tinha mais um centavo“Como não tinha condições de pagar, o Senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida” (Mt 18.25). Mas de algum modo, a súplica toca o coração do rei. A Bíblia diz que o rei se compadeceu do devedor. “O homem se curvou diante do senhor e suplicou” (Mt 18.26). O texto diz que o rei se compadeceu do devedor. Ele não apenas liberta o homem, mas também perdoa sua dívida. Ele volta a estaca zero e limpa os registros. O homem não lhe deve mais nada. O rei perdoa essa dívida absurda, essa soma inacreditável. 


E Nosso Senhor continua sua parábola: “Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufoca-lo dizendo: Pague-me o que me deve!” (Mt 18.28). Um denário correspondia ao salario de um dia de trabalho, de modo que cem denários equivaliam a cerca de três meses de salario de um trabalhador do primeiro século. Nos dias de hoje, no Brasil, poderia equivaler à (quase) 4000,00, três meses de salário, baseando em alguém que ganha um salário mínimo, mas tem gente que ganha mais do que isso. 


Duas coisas: em primeiro lugar, cem denários não era uma quantia pequena, mas também não era uma divida grande demais para ser quitada. O homem que tomou essa quantia pretendia pagá-la. Ao contrário do primeiro, quando o segundo pediu: “Seja paciente e lhe pagarei”. Não estava prometendo algo impraticável.

Em segundo lugar, apesar de não ser uma quantia pequena, cem denários são uma ninharia quando comparados com a divida de dez mil talentos! O primeiro homem não conseguiria jamais, em circunstancia alguma, pagar a sua dívida. Se não fosse pela graça do rei, teria passado o resto da vida preso. Portanto, a primeira divida era impagável, a segunda não. 

“Onde está a grana que você me deve, seu infeliz? Quero meu dinheiro agora? O versículo 29 é quase uma repetição exata do versículo 26. Esse homem tinha todo direito de exigir que a divida fosse paga. Não é essa a questão. O problema é que o primeiro homem recusou dar o segundo a chance e pagar a dívida. Ele queria o dinheiro no ato. Mas, o segundo servo, precisava de algum tempo para juntar essa soma. No entanto, o primeiro servo não quis esperar: “Antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida” (v.30).

Conclusão

  "Quando outros servos, companheiros dele, viram isso, ficaram muito tristes. Foram ao senhor e lhe contaram tudo que havia acontecido” (v.31). A noticia logo se espalhou e acaba chegando aos ouvidos do rei, que ficou furioso e manda os soldados prenderem o servo perdoado. Dessa vez, não tem dó nem piedade e diz: “Servo malvado, perdoei-te aquele divida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti” (Mt 18.32,33).

O rei havia perdoado a divida impagável do primeiro servo. Havia perdoado quando seria justo tê-lo mandado para a cadeia para o resto da vida. Merecia o castigo severo, mas, em vez disso, recebeu misericórdia. Essas palavras, portanto, são dirigidas aos cristãos. Jesus está dizendo: “O que aconteceu com esse homem também acontecerá com vocês, a menos que aprendam a perdoar, e perdoar, e perdoar” Senão, os torturadores os levarão...

Quem são os torturadores? São os torturadores ocultos da raiva e da amargura, que corroem por dentro. São os torturadores da frustração e da maldade que provocam úlceras, hipertensão, enxaquecas e dores na coluna. São os torturadores que o fazem passar a noite em insônia, remoendo as coisas horríveis que lhe aconteceram. Tudo isso porque você se recusa a perdoa de coração.

Uma pesquisa afirmou, o perdão atua de duas formas distintas: primeiro, reduz os problemas de saúde associados à raiva, ao ódio e ao rancor...esses sentimentos apresentam consequências fisiológicas, como aumento da pressão sanguínea e alterações hormonais, doenças cardiovasculares, sistema imune fragilizado, e também afeta a memória. 


Segundo o perdão promove o bem estar, pois lhe permite construir um conjunto sólido de relacionamentos sociais. “Se você dedicar a vida à busca por vingança, certifique-se, antes, de cavar duas sepulturas” (Confúcio). 


 

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