terça-feira, 3 de dezembro de 2024

 E o mundo, como está? Rm 1.18-32 

Introdução

Qual é a concepção que as pessoas têm de Deus? Na verdade, a sociedade erigiu um “deus” para si, segundo sua imagem e semelhança. O “deus” erigido é muito bondoso e gentil, aliás, é como uma vovó com seus netinhos, na maioria das vezes é complacente, aceita normalmente o comportamento dos netos. Às vezes, fica chateada quando os netos aprontam, mas sem nenhuma punição.

Sim, é um “deus” passivo, que fica apenas contorcendo as mãos, incapaz de irar; um “deus” que não precisa temer, ou ficar com medo das consequências de suas ações. No entanto, esse não é o Deus da Biblia, aliás, o Deus da Palavra de Deus puniu Adão e Eva pelo pecado cometido; aliás, o Deus da Bíblia puniu Sodoma e Gomorra pelo comportamento imoral; aliás, o Deus da Bíblia puniu a geração de Noé, matando todos naquele diluvio.

1)     A ira de Deus

Paulo começa afirmando sobre Deus: “A ira de Deus se revela do céu...” (Rm 1.18).  A palavra “ira” no grego é “orge” que é uma resposta justa, santa à natureza pecaminosa e rebelde da humanidade. “Orge” ou “ira” é uma expressão inflamada de indignação contra a transgressão, o pecado. Ela é inflamada, mas completamente consistente com o caráter de Deus, que também é amor. 

Sua ira é sem dúvida apavorante, mas não é desmedida, sim, na medida certa. Todo o ser de Deus opera em sua ira. Todo o seu caráter se manifesta.

Ele se enfurece contra “a impiedade”. Impiedade vem da palavra grega “asebeia” que significa desprezo pelas coisas, e tem a ver com a nossa relação vertical com Deus. Fala de uma pessoa irreverente, irresponsável, inconsequente, como se nada tivesse que responder diante de Deus, tanto nesta vida quanto na eternidade. Como disse Dostoievski em seu livro “Os irmãos Karamazov: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. 


Ele se enfurece contra toda “injustiça”. Injustiça vem do grego “adikia” que significa violação da lei divina. Essa lei é a Palavra de Deus, é o Antigo Testamento e o Novo Testamento. É a palavra “...viva e eficaz” (Hb 4.12), é a palavra “inspirada” (2 Tm 3.16), é a palavra que é “...lâmpada para os meus pés e luz para os meus caminhos” (Sl 119.105). E toda lei divina são uma expressão do caráter de Deus. Isto é, quando pecamos, pecamos contra Deus!

Portanto, quando falamos de “impiedade e injustiça” não está falando de uma violação de certas regras de conduta, mas uma total rejeição ao próprio Deus, sua divindade, sua autoridade, sua própria natureza, sua essência. Quando optamos por pecar, desobedecer, seguir nossos ditames, estamos praticando “impiedade e injustiça”. 

E o que mais: “Eles suprimem a verdade pela injustiça humana”. A imagem pintada pela palavra “suprimida” retrata um homem lutando para manter a tampa de uma caixa fechada de modo o que quer que esteja dentro não possa escapar. O pecado da humanidade, suprime a vontade de Deus;

O pecado impede o mundo funcionar como Deus originalmente desejou. O pecado tampa a nossa visão, o pecado escraviza, o pecado condiciona, o pecado nos impede de viver uma vida totalmente livre e para Deus.

2)     A natureza criada

“Pois o que de Deus se pode conhecer é evidente entre eles...”. Ou seja, Deus nos cerca de evidências de seu agir, de seu poder. Olhe para o espaço profundo usando um telescópio e você verá evidências de seu tamanho e poder. Olhe para os mares, os imensos oceanos, sua imensidão, seus peixes e você verá evidências do seu poder. 

João Calvino, comenta: “Ao dizer o que de Deus se pode conhecer, ele quer dizer que o homem foi criado para ser um expectador desse mundo formado, e que os olhos lhe foram dados para que, ao olhar para tão bela imagem, fosse levado ao próprio autor, ao próprio Deus”.

“Por meio de tudo o que ele fez desde a criação do mundo, podem perceber claramente seus atributos invisíveis: seu poder eterno e sua natureza divina. Portanto, não tem desculpa alguma” (Rm 1.20 NVT). 


Uma pergunta: O que acontece quando as pessoas se recusam a reconhecer Deus e dele depender como Deus? Não paramos de adorar, apenas mudamos o objeto da nossa adoração! O apostolo Paulo afirmou que “...trocaram a glória de Deus imortal por imagens de seres humanos mortais, bem como de aves, vermes e repteis” (Rm 1.23 NVT).

Eles dizem que eram sábios, mas se tornaram loucos” (Rm 1,22 VFL). São loucos, néscios, indesculpáveis, insensíveis, tolos, insensatos, homens de belial. Não estão preocupados das implicações eternas de suas decisões ou atitudes. 

3)     Deus os entregou

“Deus os entregou a ...”. A palavra no grego é “paradidomi”. Assim como Jesus foi entregue para morrer pelos nossos pecados; assim como Jesus foi entregue para o Sinédrio; assim como Jesus foi entregue aos sedentos de sangue; assim como Jesus entregou o seu espirito e morreu. Portanto, entregar, descreve uma decisão ativa. Portanto. Deus entregou a humanidade ao seu próprio desejo.

O povo de Israel estava no deserto sendo sustentado por maná (Nm 11.7-9). Mas, eles desejavam a comida dos egípcios e diziam: “Ah, se tivéssemos carne para comer!” (Nm 11.4-6). O Senhor respondeu: “Voces não comerão carne apenas um dia, ou dois, ou cinco, ou dez ou vinte, mas um mês inteiro, até que lhes saia carne pelo nariz e vocês tenham nojo dela...” (Nm 11.19-20).

“Deus os entregou à impureza sexual”. “...Deus os abandonou e deixou que eles seguissem os desejos de seus corações, cometendo imoralidades e usando seus corpos para terem relações sexuais uns com os outros de forma vergonhosa”. Como disse Oscar Wilde: “Quando os deuses querem nos punir, atendem ás nossas orações”. Ou “desejos pecaminosos”, ou “desejo ardente” no grego é ephithumia que é desejo excessivo, um impulso, um anseio que toma conta de tudo. O homem se empanturra de desejos, de prazeres, de vícios, como os hebreus se empanturraram de carne! 

Deus os entregou a paixões vergonhosas (Rm 1.26). “Por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até as mulheres trocaram a relação sexual natural por outra contrária á natureza” (NVT). E quanto aos homens? “...em vez de ter relações sexuais normais com mulheres, arderam em desejo uns pelos outros. Homens praticaram atos indecentes com outros homens e, em decorrência desse pecado, sofreram em si mesmos o castigo que mereciam” (Rm 1.27).   

“Deus os entregou a uma disposição mental reprovável” (Rm 1.28). O termo reprovável significa depravado. Depravado não significa “ser ruim quanto se é possível ser”; significa “ser ruim além do que é possível ser”. A humanidade decidiu deixar Deus de lado, tratá-lo com indiferença, desprezo. Por outro lado, Deus colocou a humanidade à prova, entregando-a à sua cobiça, provando que não é digna de Deus.

Quando fala de depravação envolve miríades de vícios: “tornaram-se cheios de toda espécie de injustiça, maldade, ganancia e depravação. Estão empanturrados de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malicia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; vivem criando maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor e respeito à família, sem qualquer misericórdia para com o próximo” (Rm 29-31).

Conclusão

Esse é o estado do mundo, sim, o mundo está assim! O que o mundo precisa? Do evangelho de Jesus que é “...poder de Deus para salvação de todo aquele que nele crê...visto que a justiça de Deus se revela no evangelho...” (Rm 1.16-17). O mundo precisa de Jesus, precisa ressuscitar, vivificar e viver uma vida nova em Cristo Jesus.