terça-feira, 12 de novembro de 2024

A graça se manifestou Tt 2.11-14 

Introdução

Estamos estudando a carta de Tito, escrita enquanto ele pastoreava a ilha de Creta. Havia uma caricatura sobre os cretenses: “...cretenses, sempre mentirosos, feras malignas, glutões e preguiçosos” (Tt 1.12). No texto anterior vimos o apostolo Paulo exortando os “os homens mais velhos”, “as mulheres mais velhas”, “as mulheres novas” e, por fim, “os jovens”. Insistiu para que Tito pregasse a “sã doutrina” (Tt 2.1), ou seja, a doutrina verdadeira, a palavra de Deus, pura, saudável, que edifica, que dá saúde para o povo de Deus. E, agora, Paulo nos ensina que a boa doutrina produz bom comportamento, produz santidade em nosso viver.

1)     “Porque a graça de Deus se manifestou...”

Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11). ou “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo a salvação a todos os homens” (Tt 2.11).

O termo “manifestou” no grego é Epifania, que significa a visível aparição de alguma coisa ou de alguém que estava invisível. Essa palavra é usada no grego em relação à alvorada, ao amanhecer, quando o sol transpõe a linha do horizonte e se torna visível. A graça de Deus brilhou como o sol sobre aqueles que viviam nas regiões de sombra da morte.  

No evangelho vemos essa epifania para os habitantes da Galileia: “Terra de Zebulom e Terra de Naftali, na direção do mar, do outro lado do rio Jordão, Galileia, onde moram os pagãos! O povo que vive na escuridão verá uma forte luz! E a luz brilhará sobre os que vivem na região escura da morte!” (Mt 4.15-16). A palavra “escuridão” é “muaph” dá a ideia de penumbra, tristeza, melancolia. Essa penumbra é o descaso ou ignorância sobre Deus; mas ali brilhou a luz de Cristo. Jesus cresceu em Nazaré, região da galileia; foi ali também que Jesus chamou os seus discípulos, aliás, a maioria deles eram galileus. 

O apostolo Paulo fala dessa graça: “Mas, quando chegou o tempo certo (a plenitude do tempo), Deus enviou o seu próprio filho, que veio como filho de mãe humana e viveu debaixo da lei” (Gl 4.4, NTLH). Essa graça se manifestou quando Jesus nasceu numa estrebaria, cresceu numa carpintaria. E foi batizado no rio Jordão, por João Batista, quando disse: “Vejam é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É sobre esse que falei: depois de mim vem um homem que está acima de mim, porque ele já existia antes de mim” (Jo 1.29-30). 

 Essa graça brilhou quando dos seus lábios se ouviam palavras de vida eterna, quando ele curava os enfermos, purificava os leprosos, lançava fora os demônios e ressuscitava os mortos. A graça se manifestou quando o Filho de Deus entregou sua vida na cruz e a reassumiu na gloriosa manhã de ressurreição. A graça se manifestou para resgatar o homem do seu maior mal e oferecer a ele o maior bem.

“Graça de Deus”. A graça tem sua origem em Deus. Ele emana de Deus “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito...” (Jo 3.16 NAA). A graça de Deus é totalmente imerecida, como disse o apostolo Paulo “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8). Portanto, não há nenhum merecimento em nós, a graça é um favor de Deus, é um presente de Deus. 

“A graça de Deus é salvadora”. A graça de Deus é o favor superabundante de Deus pelos pecadores indignos. A graça de Deus triunfa sobre os nossos pecados. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus” (Rm 5.20). Somos salvos pela graça, vivemos pela graça, dependemos da graça, respiramos a graça. Nada somos sem a graça. Por causa da graça, embora perdidos, fomos achados; embora mortos, recebemos vida. O Salmista Davi se expressou: “Tirou-me de um poço de destruição, de um atoleiro de lama; colocou os meus pés sobre uma rocha e firmou os meus passos”. (Sl 40.2 NAA).

A graça salvou os homens mais miseráveis. A graça salvou Saulo de Tarso, um fariseu que perseguia a igreja de Jesus e que consentiu na morte de Estevão, sim a graça salvou! A graça salvou Agostinho de Hipona, um homem cheio de desejos, prazeres mundanos, experimentou todas as filosofias do seu tempo, mas a graça lhe salvou. A graça salvou John Newton, um mercador de escravos, um homem ímpio, sem princípios, valores, mas a graça lhe salvou. A graça ainda salva, estende as mãos, não importa o que você fez! 

“Salvadora a todos os homens”. A graça de Deus não tem limite. O apostolo Paulo convida a igreja compreender, discernir, mensurar a respeito da graça de Deus “Vos seja possível compreender, juntamente com todos os santos, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade desse amor” Ef 3.18 A21). A graça é suficientemente larga para abranger a totalidade de todos os homens; a graça é suficientemente cumprida para durar por toda eternidade; a graça é suficientemente profunda para alcançar o maior de todos os pecadores; a graça é suficientemente alta para lhe conduzir aos céus dos céus, onde tem morada para todos nós! 

O que dizer da graça de Deus?  O poeta tentou mensurá-la, ponderar:

“Se os mares todos fossem tintas, E o céu sem fim, fosse papeis,

Se as aves todas fossem penas, e os homens todos escrivães.

Nem mesmo assim, o amor ou a graça de Deus seria descritos em seu fulgor”.

2)     O efeito da graça

“Ela nos educa para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas...”(Tt 2.12). o termo traduzido por educar é paideuo que nos coloca no papel de criancinhas recebendo a instrução de pais amorosos. Somos ensinados sobre o que não fazer e sobre o que devemos fazer. Portanto, a graça de Deus nos educa, ela é pedagógica. Ela nos ensina a viver, ser cristão é ser matriculado na escola da graça. 

“Renegadas” é rejeitar, desdenhar, negar, repudiar. Sim, o homem que foi alcançado pela graça de Deus deve repudiar o caminho do pecado. A conversão é ter fé em Cristo e arrependimento é virar as costas para o pecado.  O que devemos renegar, rejeitar? 

“Impiedade” que é a rejeição de todo o que é reverente e de tudo o que tem a ver com Deus. A palavra grega é “asebeia” que aponta para o passado, para uma vida sem Deus e contra Deus. O ímpio é aquele que não leva Deus em conta e, por isso, não leva Deus a sério.

“Paixões mundanas”, são paixões sexuais, pecado de adultério (pessoas casadas tendo relacionamento com outras pessoas) e imoralidade sexual (jovens praticando sexo antes do casamento). Essas paixões são adjetivadas por “mundanas”, apontando para aquilo que era comum aos cretenses. Em suma, refere-se aos anelos desordenados de prazeres, poder e possessões, ou seja, sexo, poder e dinheiro. 

Portanto, a graça de Deus nos disciplina, nos educa a renunciar à nossa velha vida, a passar da impiedade para a piedade, do egoísmo ao autocontrole, dos caminhos desonestos a um tratamento justo com todos os demais. Quando as paixões não são renegadas, a graça se torna barata e a pessoa se evade da escola da graça.

E nos exorta “Vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente”. Como devemos viver? “Vivamos sensatamente” que traz a ideia de prudência, autocontrole e moderação, ou seja, sensatez é ter seus impulsos, instintos, ações e reações sob controle. “Vivamos, no presente século... justamente”. A justiça fala do nosso correto relacionamento com o próximo. Uma pessoa justa é aquela que não se coloca acima dos outros nem tenta diminui-los. Ela concede aos outros o que lhes é devido.

“Vivamos no presente século...piedosamente”. A piedade está ligada ao nosso correto relacionamento com Deus. É o verdadeiro fervor e reverencia com o único que é objeto da nossa adoração.

Conclusão

“Enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.13).

O cristão olha para o passado e glorifica a Deus porque a graça o libertou da impiedade e das paixões mundanas. Ele olha para o presente e exalta a Deus porque tem uma correta com Deus, consigo e com o próximo. Ele olha para o futuro e se santifica porque vive na expectativa da epifania, do aparecimento dos seu grande Deus e Salvador Cristo Jesus. Fomos salvos pela graça, salvos de nossas mazelas, maldições e agora, estamos na ponta dos pés aguardando o glorioso aparecimento do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário