terça-feira, 15 de outubro de 2024

 Meus últimos dias  2 Tm 4.6-8 

Introdução

Se você soubesse que morreria amanhã, o que você faria? Alguns olhariam em retrospectiva, ou faria um balanço de sua vida antes de entrar na eternidade.  Outros, se desesperariam, ficariam aterrorizados, sem chão, sem saber o que fazer. Outras pessoas, procurariam pessoas para se reconciliar, resolver o conflito. Diante das reações, ou ajustes, todos diriam que deviam ter se tornado outra pessoa. Poderia ter feito isso ... 

Infelizmente, muitos vivem suas vidas servindo a si mesmo, seu ego, seu interesse, bens materiais, etc. Deus não tem prioridade, a igreja não tem prioridade, aliás, a igreja é meramente algo conveniente. De vez em quando a gente dá um pulo na igreja para aliviar o peso da nossa consciência. E na sepultura como ficarão?

O apostolo Paulo, diferentemente de muitos, dedicou sua vida a Cristo. Ele fora algo de abuso durante anos. Teve que suportar dezenas de traições; suportou o peso das falsas acusações; sofreu perigo, aprisionamento e açoitamento, até mesmo apedrejamento por causa do evangelho. Nesse tempo em que ele escreveu essa carta, numa masmorra, parecia muito mais velho do que deveria, encurvado e cheio de cicatrizes.

Ele não tinha dinheiro, diferente de muitos narcisistas; nenhum rosto familiar (fora abandonado por muitos) a não o doutor Lucas, para encorajá-lo. É assim que ele pronuncia suas ultimas palavras “Eu já estou sendo derramado com uma oferta de bebida. Está próximo o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé...” (2 Timoteo 4.6-7).

1)     Últimas palavras

A Biblia King James explicita: “... já estou sendo derramado como vinho na oferta de libação”. E na versão A Mensagem, é mais realísta: “Assuma o comando, porque estou para morrer. Minha vida é uma oferta no altar de Deus”. Na Bíblia Linguagem de hoje, lemos: “Quanto a mim, a hora já chegou de eu ser sacrificado, e já é o tempo de deixar esta vida”.  

O apostolo Paulo usa duas figuras de linguagem interessante para descrever seus últimos dias. A primeira é “libação” era um costume judaico conhecido em que o adorador “derramava” vinho vermelho, ou azeite  na base do altar. O vinho representava o sangue de um cordeiro oferecido como sacrifício. Ser derramado é ser esvaziado de sua forma a ponto de morrer.

Paulo, durante seu primeiro período na prisão, escreveu para os cristãos de Filipos: “Contudo, ainda que eu seja derramado como libação sobre o sacrifício e o serviço da vossa fé, alegro-me e me congratulo com todos vós” (Fp 2.17). Ele sentiu sua vida exaurindo durante a longa espera pelo julgamento e estava preparado para dar a vida pelo Senhor. Ele considerava que o sacrifício de sua vida valia a pena por causa da salvação deles e continuava a crescer em graça. “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1.21).  

Sua segunda figura de linguagem descreve uma jornada, falando de sua morte como minha partida “o tempo da minha partida é chegado”. Esse termo grego tem várias nuances, retrata não menos que quatro palavras-imagens. A primeira imagem é a ideia do exame, a palavra incorpora a ideia de destrançar (abrir, desfazer) uma corda, ou seja, sua morte resultaria em sua vida e realizações serem vistas a olho nu para todos verem. 

A segunda imagem é a ideia de libertar da escravidão. Paulo considerava a morte como uma libertação, a quebra dos grilhões e ferro colocados na perna. A morte significa libertação. A terceira imagem é a ideia de mudar a residência da pessoa. Os gregos usavam o termo para descrever a desmontagem de uma tenda a fim de coloca-la em outro lugar. Paulo via a morte como uma transferência para outro lugar em uma terra muito melhor. 

A quarta imagem é mais pungente, é a ideia de uma viagem. Os marinheiros usavam essa palavra no sentido de partida. Eles desamarravam o navio do ancoradouro a fim de lança-lo ao mar. A morte de Paulo libertou-o do seu ancoradouro terreno para fazer a viagem ao reino de seu Pai celestial. A ancora já foi levantada, as amarras estão soltas e o barco está prestes a fazer-se à vela, rumo a outra praia.

2)     Combati o bom combate

O apostolo Paulo olhou em retrospectiva para ver um combate travado até o fim; uma carreira concluída e a fé mantida. Ele escreve ao pé da letra: “O bom combate combati, a carreira terminei, a fé mantive”. Combate é “empenho por vitória”; nossa palavra “agonia” vem desse conceito grego de dar tudo de si mesmo para vencer uma disputa ou alcançar um objetivo.

Os atletas de elite – profissionais e campeões mundiais – conhecem a “agonia” do treinamento. E, no dia da competição, eles “agonizam” para alcançar a vitória. 

O apostolo Paulo se lembra do dia que o Senhor o parou no caminho com uma revelação cegante de si mesmo, desafiou e condenou o homem sincero e ardente, todavia arrogante, e depois o chamou, equipou, enviou, apoiou e fortaleceu para o ministério. Ele revê uma carreira árdua que teve que correr – uma supermaratona de trinta anos – e afirma que deu tudo que tinha nela, não reteve nada!

Ele afirma em sua carta: “São servos de Cristo? Sou ainda mais (falo como se estivesse louco), muito mais em trabalho; muito mais em prisões; em chicotadas sem medida; em perigo de morte muitas vezes; cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove chicotadas. Três vezes fui espancado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei um dia e uma noite em mar aberto. Muitas vezes passei por perigos em viagens, perigos em rios, perigos entre bandidos, perigo entre os do meu próprio povo, perigos entre gentios, perigos na cidade entre gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos; em trabalho e cansaço, muitas vezes em noite sem dormir, com fome e com sede, com frio e com falta de roupas. Além de outras coisas, ainda pesa diariamente sobre mim a preocupação com todas as igrejas” (2 Co 11.23-28).

Paulo não só correra bem; ele terminara bem. Sua declaração “terminei a carreira” usa uma palavra que combina as ideias de proposito e conclusão. Ele afirmara antes: “Em nada considero a minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus” (Atos 20.24).

A carreira de Paulo o levou por algumas curvas aterradoras e mais que alguns buracos traiçoeiros. No fim, a carreira o levou para uma masmorra, abaixo das ruas de Roma. Mas esse não é o fim da sua jornada. Foi apenas uma parada para outra etapa. O fim da jornada de Paulo na terra o colocou em um curo em direção a gloria.

A terceiro declaração de Paulo, guardei a fé, tem um duplo sentido. Primeiro, ele continuou a confiar no Senhor e na correção e solidez do evangelho que fora comissionado a pregar. Segundo ele guardou o tesouro que lhe fora confiado, preservou a verdade divina. Ou seja, “Guardei com toda segurança, como bom guardião ou despenseiro, o tesouro do evangelho confiando aos meus cuidados”. 

Conclusão

“Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda”. Paulo termina vindicando, não reclamando de nada, ou exigindo qualquer coisa. Ele olha para frente, totalmente liberto do perigo, é a consciência de saber que maior é o Deus que está em você.

Vindicar é acreditar justificação, sim tem uma coroa da justiça lhe aguardando. O atleta nos dias de Paulo recebia uma coroa de louro, simbolizando tudo que ele estava para receber: uma placa de bronze com seu nome, todas as dividas eram perdoadas e ficaria livre de imposto pelo resto da vida.

Vindicar “coroa da justiça” é a justiça do filho de Deus, seus sacrifício, seu amor por nós na cruz. Em Apocalipse 4,  os vinte e quatro anciãos, lançam suas coroas diante do trono de Deus  e cantam um louvor: “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a gloria, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e forma criadas” (Ap 4.11). Sim, a coroa da justiça é a salvação, é o direito de andar em ruas de ouro e cristais. 



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