terça-feira, 6 de agosto de 2024

 Sansão, o impulsivo – Jz 14.1-9 

Introdução

Estamos meditando sobre Sansão em suas etapas de vida. Iniciamos com o seu milagroso e poderoso nascimento. Diz-nos o texto: “...a mulher deu à luz um filho, a quem chamou de Sansão” (Jz 13.24). Sansão significa “pequeno sol”. Em um tempo de escravidão e servidão ao filisteus “o pequeno sol” brilha sobre o povo de Deus.  A medida que vai crescendo, ele é abençoado por Deus. 

A primeira vez que Sansão sentiu a presença do Espirito Santo foi quando estava em Mané-Dã, “...entre Zorá e Estaol...começou a sentir que o Espirito de Deus o dirigia” (Jz 13.24). Em resumo: Sansão fora concebido de modo milagroso, fora escolhido por Deus, separado para ser nazireu. Ele será o ultimo juiz de juízes, a ultima grande esperança de Israel.

1)     Sansão em Timna

Sansão já é adultos, alguns anos se passaram e o Espirito Santo começa a trabalhar nele. No entanto, no inicio do capitulo 14 – assim como por toda vida -, Sansão é movido por um impulso muito mais humano. Um dia, ele “desceu a Timna e viu ali uma jovem mulher filisteia”. E disse aos seus pais: “Vi uma mulher em Timna, do povo filisteu. Quero me casar com ela” (Jz 14.2 A mensagem). 

Vimos que a promessa de Deus para Sansão era a libertação do jugo dos filisteus, ou servidão aos filisteus. Imagine a angustia ou a decepção dos seus pais quando ele volta para casa e, em vez de lutar contra os inimigos de Israel – que eram os filisteus -, fala que quer casar com uma mulher daquele povo! Logo, os pais perguntam se não há uma mulher entre os parentes, ou pelo menos em Israel, com quem ele possa se casar “para que vás tomar mulher entre os filisteus, aqueles incircuncisos?” (Jz 14.3). 

O pai fica transtornado e lhe pergunta: “será que não há mulher entre os seus parentes ou entre o seu povo?” (Jz 14.3). Aliás, olhando para o mapa dos dias de juízes temos além da tribo de Dã, a tribo de Manassés ao norte, a tribo de Efraim e Benjamin ao leste e, a tribo de Judá ao Sul. É como o crente, tantas mulheres ou homens abençoados no meio da sua igreja, ou em outras igrejas que professa a mesma fé, e a pessoa vai procurar gente fora da igreja! 

Incircuncisos! A circuncisão começou com Abraão e era um sinal de que a família tinha uma aliança ou um relacionamento pessoal com Deus, como parte de seu povo. A grande dificuldade não era o preconceito racial (“judeu não casa com filisteu”), e sim o casamento com alguém fora da aliança com Deus, com alguém que não possui a mesma fé, a mesma crença, as mesmas convicções.

No entanto, Sansão não quer saber de conversa: “Tomai-me está”, ele insiste com grosseria e completa: “Ela agrada aos meus olhos”, em outra versão: “É esta a jovem pela qual me apaixonei!” (Jz 14.3). Ou, “Consiga a moça para mim. É ela que eu quero” (NVT). O que mais sobressai é a expressão “ela agrada aos meus olhos”. Esse verso era o padrão de comportamento nos dias de juízes e nos dias atuais: fazer o que era mau aos olhos do Senhor, porque era certo aos próprios olhos”. 

Duas coisas aprendemos com esse versículo. Primeiro, Sansão é totalmente sensual, no sentido mais básico da palavra. Ele é controlado pelos sentidos – ele reage ao que sente a partir do que vê, sem ponderações ou considerações. Ele vê – e, a seguir, ele toma. Vê e quer! Ou seja, tinha total falta de autocontrole sexual, uma pessoa levada pelos sentidos, pelos desejos, pelos prazeres.

Em segundo lugar, Sansão é indócil, desobediente aos pais. Ele desdenha dos conselhos e da autoridade dos pais. O sábio Salomão exorta: “Meu filho, se aceitares os meus conselhos e abrigares contigo os meus mandamentos” (Pv 1.1). Dentro do seu contexto de vida, sua indocilidade e desdém era anormal. Hoje, infelizmente, é mais comum os filhos contrariarem os pais.

Diante disso surge uma pergunta: Por que a Bíblia ordena que os crentes não entrem em casamentos desiguais? O texto de Exôdo 34.15-16 manda que Israel não faça aliança “com os habitantes da terra” (ou seja, com aqueles que não conhecem o Senhor) nem tomem “para os teus filhos mulheres entre as filhas deles”. Por quê? Porque essas uniões vinculativas, levariam os israelitas a se juntar às suas esposas quando elas se “prostituissem com os seus deuses” (Ex 34.16).

Em 2 Corintios 6.14-16, o apostolo reitera seu apelo aos crentes para que não se unam àqueles que não cultuam o Deus verdadeiro. Paulo chama essa união de “jugo desigual” e a tentativa de fundir “a justiça e a injustiça” ou “a luz e as trevas”, ou “harmonia entre Cristo e Belial”, etc. Portanto, em 2 Corintios, assim como em Exodo, o motivo principal é que tais casamentos fragilizam a lealdade do crente a Deus. E Paulo é irônico: “Que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos?” (v.16). 

O primeiro juiz de Israel, Otoniel, lutou contra os inimigos de Israel e, por isso, casou-se com Acsa, filha de Cabele, uma israelita virtuosa, fiel e confiável (Jz 1.12-13). Enquanto que o ultimo juiz de Israel, Sansão, quer se casar com alguém que pertencia as inimigos do seu povo e, para piorar, com uma filisteia que não tinha temor a Deus.

2)     O leão, a carcaça e o mel.

E o nosso texto continua sua narrativa: “...Sansão foi com seu pai e sua mãe para Timna. Quando se aproximava das vinhas de Timna, de repente um grande leão partiu rugindo na direção de onde estava Sansão. Foi então que o Espirito do Senhor apoderou-se de Sansão, e ele, sem nada nas mãos, rasgou o leão ...como se fosse um cabrito...” (Jz 14.5-6). Duas coisas, os pais de Sansão não estavam nesse momento; alguém já rasgou um cabrito com a mão? 

Os leões eram comuns nesses dias. Aliás, Davi matou um leão, não com as mãos! Benaia, guerreiro de Davi, também matou um leão (2 Sm 23.20). O leão não é do tipo que espreita sua presa, ele se atira imediatamente. Um animal de quase 250 kg! Portanto, topar com um leão, enquanto andava pelo território de Israel, era um acontecimento de grande perigo, realmente.

O que dizer? O leão não é um animal que um ser humano é capaz de enfrentar. Aliás, nenhum ser humano é capaz de enfrentar um leão e rasga-lo sem nada na mão. Não temos essa força! Mas, Sansão tinha algo em sua vida: “O Espirito do Senhor se apoderou de Sansão, e ele sem nada nas mãos, rasgou o leão com se fosse um cabrito” (Jz 14.6).

O poder de Sansão não estava nos músculos dos seus braços, muito menos estava nos músculos de sua perna, muito menos na habilidade de saber lutar com um leão. Mas o poder de Sansão era o Espirito do Senhor na vida dele. Davi disse a Golias: “Você vem contra mim com espada, com lança e com dardo, mas eu vou contra você em nome do Senhor dos Exercitos, Deus dos Exercitos de Israel, a quem você desafiou” (1 Sm 17.45). O Salmista Davi exulta nessa confiança: “alguns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós confiamos no nome do Senhor, o nosso Deus” (Sl 20.7).

O que dizer do rei Josafá? Quando os moabitas e amonitas e mais alguns povos se juntaram para atacar Judá? Alguém lhe disse: “Um exercito enorme vem contra ti...” (2 Cro 20.2) O que fez Josafá? Foi orar, buscar ao Senhor, aleluia! Ele disse em sua oração: “...não temos força para enfrentar esse exército imenso que vem nos atacar. Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos se voltam para ti” (2 Cro 20.12).

Mas a narrativa não acaba de forma alvissareira, gloriosa. Diz o texto: “algum tempo depois, quando voltou a timna para o casamento, saiu do caminho para ver o cadáver do leão. Descobriu que um enxame de abelhas havia feito mel dentro da carcaça. Pegou um pouco de mel com as mãos e foi comendo pelo caminho...”. Duas coisas são importantes olhar para o texto: Primeiro, Sansão saiu do caminho para ver o cadáver do leão (curiosidade de saber como ficou “sua” presa”). Segundo, fez o que não devia fazer um nazireu, tocar na carcaça de um animal morto.

Conclusão

O nazireu não podia cortar o cabelo enquanto o voto durasse: “...não raspará a cabeça com navalha” (Nm 6.5); não podia beber nenhum produto da videira “...não tomará produto algum da videira, desde as sementes até as cascas” (Nm 6.4).  E, por ultimo, não podia tocar em nenhum cadáver “...não se aproximará de um morto” (Nm 6.6). 

Uma pergunta: e caso quebrasse o voto? Se alguém morresse perto dele ou se tocasse em algo impuro teria que raspar o cabelo e trazer uma oferta ao sacerdote pelo seu pecado. No entanto, Sansão, não fez de acordo com a lei de Moisés. No entanto, o que mais chama a atenção, além de sua insensibilidade quanto ao pecado é, arrastar seus pais com ele.  Diz-nos o texto: “Também deu um pouco a seu pai e a sua mãe, e eles comeram. Mas Sansão não lhes contou que havia tirado o mel da carcaça do leão” (Jz 14.9).

Todo pecado cometido, toda aliança quebrada, não diz respeito somente a nós, ou não trará consequências somente para quem peca. Mas, também para quem está conosco, para nossa casa, para nossa família, para o nosso casamento, para os nossos filhos. Todos são atingidos pela nossa impulsividade. 


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