terça-feira, 18 de abril de 2023

 Judá e Tamar Gn 38 

Introdução

O capítulo 37 de Genesis conta o início da história de José, com seus sonhos (dois sonhos), suas diferenças com seus irmãos, seu privilégio (ganhou uma blusa do seu pai) e todas suas desventuras ao ser colocado no poço e depois vendido para os ismaelitas. No entanto, Deus estava com José em todas as circunstancias, boas ou ruins. Agora, no capitulo 38, temos Judá, irmão de José que segue um caminho totalmente oposto, o caminho da desobediência, do apartar-se das promessas de Deus.

1)     Na terra dos cananeus

Por essa época, Judá deixou seus irmãos e passou a viver na casa de um homem de Adulão, chamado Hira” (Gn 38.1). Judá distancia-se de sua família e busca novos ares, novas oportunidades, novos horizontes. O Salmo 1 fala da bem-aventurança daquele: “...que não segue o conselho dos ímpios... não imita a conduta dos pecadores...e nem se assenta na roda dos escarnecedores” (Sl 1.1-2). 

Ali Judá encontrou a filha de um cananeu chamado Suá e casou-se com ela” (Gn 38.2). Judá quebra a tradição de sua família. Abraão se preocupou com o casamento de Isaque e mandou seu servo Eliezer buscar uma esposa para seu filho no meio da sua parentela; o mesmo fizeram Isaque e Rebeca com respeito a Jacó. Judá é como Sansão, vê uma jovem cananéia e a toma para si como esposa. 


O que está em jogo nesse tipo de casamento não era apenas a questão racial (povos), mas sobretudo a questão espiritual, uma vez que os cananeus tinham outros deuses, costumes e valores. Ao casar-se com a filha de um cananeu, agiu deliberadamente contra o juramento que Abraão havia pedido ao seu servo Eliezer: “...para que eu faça...que não tomarás esposa para meu filho das filhas dos cananeus”.

2)     Filhos ímpios

Judá teve três filhos com sua mulher Suá – Er, Onã e Selá (Gn 38.3-5). Para o mais velho, ele escolheu uma moça cananéia chamada Tamar. “Mas o Senhor reprovou a conduta perversa de Er... por isso o matou” (Gn 38.7). Ou, “as contínuas atitudes perversas ...praticava” (BKJ) Em Provérbios fala de seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta: “olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente...coração que traça planos perversos...” (Pv 16.18). O texto afirma: “...e por isso o matou” (Gn 38.7). É a primeira vez que a Bíblia menciona de forma direta que Deus faz alguém morrer por causa de sua perversidade. 

De acordo com a lei do levirato se um irmão casado morresse sem ter filhos, seu irmão mais velho deveria se casar com a viúva para lhe suscitar descendência (Dt 25. 5,6). Portanto, o segundo filho de Judá, Onã, casou-se com Tamar, viúva de seu irmão, para lhe suscitar descendência. Porém, ele desonra a lei do levirato, desonra a memória do seu irmão e desonra Tamar, coabitando com ela, mas derramando o sêmen no chão, jogando-o fora. Isso também foi mau perante o Senhor, e também a este o Senhor fez morrer (Gn 38.8-10). 

Hoje temos um termo no meio cientifico chamado “Onanismo”. Pessoa que pratica o onanismo; quem se masturba ou obtém prazer através da estimulação de seus próprios órgãos genitais. Que exerce o onanismo; que interrompe o ato sexual antes da ejaculação. 

Pouco sabemos sobre o terceiro filho de Judá, Selá, mas era o mais novo. O que se observa, doravante, é que Judá, não sei se ficou com medo que seu filho também fosse morrer, como se ela fosse uma viúva negra. Ou, sonegou deliberadamente a Tamar, desonrando o Levirato. E mandou ela ir para casa do seu pai.

O que podemos inferir, que a associação de Judá com os cananeus lhe rende um casamento fora da aliança, filhos perversos e luto precoce. Outra coisa, a ausência de tristeza, de luto pela morte de seus filhos contrasta com a angustia inconsolável de Jacó pela perda de José.

3)     Lascívia

Dois fatos: Primeiro, a esposa de Judá faleceu. Segundo, depois de ter passado o luto, Judá foi para Timna ver os tosquiadores com o seu amigo Hira (Gn 38.12). Quando essa noticia chega a Tamar, ela se despe da sua roupa de viuvez, cobriu-se com o véu, disfarçou-se e se assentou à entrada de Enaim. O véu servia para lhe dar a aparência de prostituta (o véu escondia o rosto). Mas o proposito de Tamar era chamar a atenção de Judá e despertar seus desejos lascivos. 

“Ele vê a mulher a distância”, diz João Calvino, “e, portanto não é possível que tenha sido atraído por sua beleza”. Ou, “ele nem sequer viu a face da mulher que desejou. Já era o suficiente o fato de ser uma mulher”.

Mas o texto bíblico diz: “Ela fez isso porque viu que, embora Selá já fosse crescido, ela não lhe tinha sido dada em casamento” (Gn 38.14). Tudo o que ela sabe sobre si mesma é que foi cruelmente ofendida e que, agora, está sendo levada a fazer um protesto publico contra uma injustiça.

Então, ele se dirigiu a ela no caminho e lhe disse: “Venha cá, quero deitar-me com você” (Gn 38.16). Enquanto que seu irmão José, lá no Egito, disse não para a esposa de Potifar, Judá é cedeu, guiado pelos olhos cheios de luxuria e que age de acordo com a torrente impetuosa de suas paixões.

Ela lhe perguntou: “O que você me dará para deitar-se comigo”. Disse ele: “Eu lhe mandarei um cabritinho do meu rebanho”. Não confiando em suas palavras exige que lhe entregue o selo, o cordão e o cajado, como garantia de que ele enviaria um cabritinho como pagamento pelo favor que ela faria. “Não existe paixão que, mesmo por um breve momento, não destitua um homem de si mesmo”. 

“Existe em nós uma inclinação latente para o desejo, a qual desperta súbita e ardentemente. Com poder irresistível, o desejo domina a carne. De repente, um fogo secreto, sem chamas, se acende. A carne queima e arde. Não faz diferença que seja um desejo sexual, ambição, vaidade, desejo de vingança, amor pela fama e poder, ou cobiça pelo dinheiro... Neste momento Deus é praticamente irreal para nós. Ele perde toda a realidade e só o desejo pela criatura é real. A única realidade é o diabo. Satanás  não nos enche aqui com ódio de Deus, mas nos faz esquecer dele...A cobiça assim despertada envolve a mente e a vontade do homem na mais profunda escuridão. Os poderes da discriminação e das decisões claras são tiradas de nós. Portanto, a Bíblia ensina que em tempos de tentação da carne, HÁ UM SÓ MANDAMENTO: FUJA DA FORNICAÇÃO. FUJA DA IDOLATRIA. FUJA DAS PAIXÕES DA JUVENTUDE. FUJA DA SENSUALIDADE DO MUNDO”. Dietrich Bonhoeffer. 

Conclusão:

No dia seguinte, Judá mandou seu amigo levar o cabritinho para a prostituta cultual, mas não foi achada. E a comunidade respondeu em uma só voz: “Aqui não há nenhuma prostitua cultual” (Gn 38.21).

Cerca de três meses mais tarde”, diz o texto, “sua nora Tamar prostitui-se, e na sua prostituição ficou gravida” (Gn 38.24). A ira de Judá se inflama, sentenciando-a às chamas tal qual um justo juiz, agindo sem qualquer piedade”. Ele deu a sentença: “Tragam-na para fora e queimem-na viva” (Gn 38.24).

Mas, ela declara: “Estou grávida do que é dono destas coisas”. “E acrescentou: veja se o Senhor reconhece a quem pertence este selo, este cordão e este cajado” (Gn 38.25).

Sabe o que é levar um tapa na cara no meio de todo mundo; sabe quando a verdade grita de cima do telhado; sabe quando Davi ouviu da boca do profeta “tú és o homem”; sabe quando você não tem pra onde correr, a não ser encarar os fatos de frente”

E justifica, apequenando o seu pecado, sem nenhum sentimento, ou arrependimento: “Ela é mais justa do que eu, pois eu devia tê-la entregue a meu filho Selá” (Gn 38.26).

Tamar dá luz a dois filhos. Um deles foi Perez, outro Zerá. Os filhos de Tamar são contados entre o povo de Deus. Mais do que isso, eles estão na genealogia de Jesus: “Abraão gerou Isaque; Isaque gerou Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos; Judá gerou Perez e Zerá, cuja mãe foi Tamar” (Mt 1.2-3). Não há impossível para Deus, da vergonha, da humilhação, do desespero, de famílias disfuncionais, Deus faz o impossível, Deus exalta, Deus restaura, Deus transforma e coloca na genealogia do seu Filho.   


 

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