Carta aos gálatas – Gl
1.1-5
Introdução:
Paulo escreveu esta carta, que muitos creem ser a primeira
carta escrita por ele (cerca de 48 ou 49 d. C.). O objetivo dele era evitar que
os irmãos aceitassem a mensagem de certos pregadores que queriam torna-los
adeptos do judaísmo. Esses missionários vinham da Judéia (cf. Atos 15.1) e
ensinavam que os cristãos precisavam se circuncidar e guardar a lei de Moisés,
adotar a dieta judaica – abster-se de sangue, carne de porco e muitos outros
alimentos considerados impuros – e guardar as festas e datas do calendário
judaico, especialmente o sábado. Essa “religião das obras” encontra eco no
coração do homem pecador e cego para seu estado de perdição. Nada lhe parece
mais lógico e natural do que trabalhar e se esforçar para “pagar” por seus
pecados e merecer a salvação.
Onde ficavam essas igrejas? Situavam na região da Galácia (atualmente
Turquia) e eram quatro cidades: Antioquia da Psidia; Icônio, Listra e Derbe.
Essas cidades foram evangelizadas por Paulo e Barnabé na primeira viagem
missionária, narrada nos capítulos 13 e 14 de Atos. Em cada cidade havia agora
uma igreja. No Novo Testamento fica claro que a chamada “igreja de Deus” (Gl
1.13), a igreja universal, divide-se em “igrejas” locais, exemplos: Igreja de
Tiatira, igreja de Pergamo, Igreja de Sardes, igreja de Laodicéia, etc.
Portanto, o versículo 2 (parte b) poderia ser traduzido da seguinte maneira: “as
congregações cristãs da Galácia”.
2) Paulo, apóstolo.
“Paulo, apóstolo, não
da parte de homens, nem por intermédio de homens, mas por Jesus Cristo, e por
Deus Pai...”. Paulo
se apresenta como “Apóstolo”. Nas outras epístolas ele se contenta em
descrever-se como “chamado para ser apóstolo” (Rm 1.1). Ou, sem mencionar a sua
vocação, ele se intitula “apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus” (2 Co
1.1; Ef 1.1; Cl 1.1; 1 Tm 1.1). No entanto, nesta carta Paulo faz uma declaração
enérgica de que seu apostolado não é humano em qualquer sentido, mas
essencialmente divino. Literalmente, ele diz que é um apóstolo “não da parte de homem, nem por intermédio de
homem algum” (Am 7.14) . Paulo não obteve essa designação de algum patrono
influente que o protegeu e o inseriu nesse ministério. Antes, como ele afirma,
é apóstolo “por Jesus Cristo e por Deus Pai” (Gl 1.1). Isto é, seu ministério
apostólico é tão verdadeiro quanto o dos doze, porque foi recebido de Jesus
Cristo e Deus Pai.
3) Saudação à igreja (v. 3).
“Graça e Paz a vós outros da
parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”. A natureza da salvação é paz, ou
reconciliação: PAZ COM DEUS, COM OS HOMENS E PAZ INTERIOR. A fonte da salvação
é a graça, o favor livre de Deus, independente de qualquer mérito ou obras
humanas (Ef 2:8-10), sua benevolência para com os que não merecem e esta graça
e paz flui tanto do Pai quanto do Filho.
4)
O EVANGELHO.
Cristo morreu pelos
nossos pecados. O Novo Testamento nos ensina que a morte de Cristo foi
uma oferta pelo pecado, o único sacrifício através do qual os nossos pecados
poderiam ser perdoados e esquecidos. Martinho Lutero comenta que “estas
palavras são verdadeiros trovões do céu contra todo tipo de justiça”, isto é,
contra toda forma de justiça própria.
“Não há meio termo
entre a justificação cristã e a justificação pelas obras. Não existe
alternativa à justificação cristã, senão a justificação pelas obras; se você
não edificar sua fé sobre a obra de Cristo, deve edifica-la sobre suas próprias
obras”. Martinho Lutero.
Cristo morreu para
nos libertar deste mundo. Se natureza da morte de Cristo na cruz foi “pelos
nossos pecados”, seu objetivo foi “nos libertar deste MUNDO PERVERSO (V.4)”. A
palavra “mundo” nessa frase, se refere A ERA, SÉCULO OU TEMPO. Portanto, existe
a ERA PRESENTE, governada pelo mal, pelo pecado e pelo Diabo; é o mundo mau,
tenebroso e perverso em que vivemos. Há também, entretanto, a ERA VINDOURA, a
era de Deus, na qual ele receberá eternamente a glória, pelos séculos dos
séculos.
Outrossim, Cristo entregou-se VOLUNTARIAMENTE pelos nossos
pecados para NOS LIVRAR DA
ERA PERVERSA em que vivemos. O verbo grego que na versão Almeida 21 é traduzida
por “livrar” na ARA (revista e atualizada) é traduzida por “desarraigar”, o que
nos traz à mente uma imagem interessante. A árvore esta presa pela raiz no
local em que se encontra. Se você já tentou arrancar até mesmo um simples
arbusto bem enraizado, sabe que não nada fácil, porque a raiz o prende com
firmeza ao chão. E, quanto mais dura a terra, mais difícil será arrancá-lo. A
humanidade está arraigada no mundo presente, e aqui somos comparados com uma
arvore arraigada à impiedade de nossa época. Só Deus que ressuscita os mortos
pode nos arrancar – nos desarraigar – deste mundo mau.
O verbo grego é enfático (exaireo) e é usado em Atos
referindo-se à libertação dos israelitas da escravidão egípcia (Atos 7.34); à
libertação de Pedro da prisão e da mão do Rei Herodes (Atos 12.11) e à libertação
de Paulo da multidão enfurecida que estava para linchá-lo (Atos 23.27).
Cristo morreu de
acordo com a vontade de Deus. Jesus veio se entregar voluntariamente pelos nossos pecados
e nos desarraigar deste mundo perverso, e tudo isso estava de acordo com a
vontade do Pai. Observe como a Trindade trabalha em conjunto. O Pai planejou
segundo sua vontade, o Filho veio e executou esse plano de redenção no tempo e
no espaço, e o Espírito veio para aplicar os efeitos da obra do Filho aos
pecadores através dos séculos.
Conclusão:
Paulo encerra a saudação inicial de sua carta atribuindo a
Deus “a glória para todo o sempre” (1.5). Na ARA, traduz-se a parte final dessa
expressão por “pelos séculos dos séculos”. Nesses versículos, Paulo está
literalmente afirmando que Cristo veio nos desarraigar deste “século mau” e, no
versículo 5, ele diz: “a quem (Deus) seja a glória para todo o sempre”; ou
seja, a Bíblia fala de duas eras diferentes: a era presente – este mundo mau,
tenebroso e perverso, no qual estamos arraigados – e a era vindoura – a era de
Deus, a qual já adentrou a era presente e na qual Deus receberá eternamente a
glória, pelos séculos dos séculos.
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