Crescer ou não crescer? – Hb 5.11-14; 6.1-8
Introdução
O livro de Hebreus eleva Jesus acima de tudo. Ele é a ultima
voz de Deus aos homens “Havendo Deus...falado em várias ocasiões e de muitas
formas...nestes últimos dias, nos falou mediante seu Filho...” (Hb 1.2). Ele é maior do que os anjos; Ele é maior do
que Moisés (Hb 3); Ele é maior do que o sacerdócio aarônico. E, no capitulo 5,
fala-nos da dimensão do seu sacerdócio: “Tú és sacerdote para todo sempre,
conforme a ordem de Melquisedeque” (Hb 5.6). No entanto, apesar do escritor
mastigar o assunto ponderadamente, meticulosamente, eles eram “tardios em
ouvir” (Hb 5.11), “indolentes” (BKJ).
A palavra usada aqui é muito expressiva “nothoros” que
significa tardio de mente, duro de ouvido, néscia e insensatamente esquecido. Jesus se referiu
aos dois discípulos de Emaús como: “...néscios e tardos de coração” (Lc 24.25).
Não captam as verdades espirituais; são obtusos, lentos para entender. Aprendem
muito devagar.
1)
Obtusos
Os crentes já estavam na caminhada cristã há muito tempo, mas ainda viviam como meninos e estavam longe da maturidade, do crescimento. “Neste estágio da vida, vocês deveriam ser mestres da vida cristã. Mas, em vez disso, o que aconteceu? Ainda está na alfabetização, tendo, novamente, necessidade de alguém que lhes ensine as coisas mais básicas da fé cristã” (Hb 5.12). Qual é a diferença do cristão maduro em relação ao menino que ainda não cresceu? O tipo de alimento. Paulo diz: “Dei a vocês leite, não alimento sólido, pois não estavam em condições de recebe-lo, tampouco estão” (1 Co 3.2).
Vocês estão como crianças que nasceram há muito tempo, parecem Peter-Pan, não querem crescer, querem ficar na terra do Nunca, da Sininho, capitão Gancho e meninos perdidos, como se essa terra do Nunca existisse! São incapazes de se alimentar de comida sólida! Não conseguem enfiar os dentes em nada consistente. Não avançaram, não cresceram, além do que estavam quando nasceram de novo.
Limitando-se ao leite, vocês permanecem criancinhas quando já
deviam ter crescido. São inexperientes na palavra da justiça, no discernimento,
porque não conseguem mais, não estão preparados para tanto. Não conhecem a
Palavra, não sabem manejá-la. Não surpreende que não consigam entender como Cristo
“é sumo sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5.6).
A palavra usada para rudimentos é “stoiqueia”, em outra versão é “princípios elementares”, “conceitos mais básicos”. O termo tem uma variedade de significados: na gramática significa as letras do alfabeto ABC; na física os quatro elementos básicos dos quais se compõem o mundo (terra, água, ar e fogo); em geometria os elementos de prova como o ponto e a linha reta; na filosofia os primeiros filósofos mais importantes da Grécia antiga. O autor lamenta que depois de muitos anos de cristianismo seus fieis não tenham superado o elementar; são como os meninos que não conhecem a diferença entre o bem e o mal.
Temos de ter em mente duas figuras: uma de um bebê que cresce e outra de uma escola. Qual é a sua posição nessa escola? A de um infante aprendendo as primeiras coisas do maternal, o ABC ou de um mestre, aprendendo coisas mais sólidas. Somente um cristão maduro pode ingerir, introjetar alimentos sólidos. E como isso acontece? “Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, se tornaram apto para discernir tanto o bem quanto o mal” (Hb 5.14). Sim, sabem discernir a verdade do erro e o bom comportamento daquele que é mau.
2)
Perigo
O autor insiste conosco que não fiquemos alimentando de leite, mas que cresçamos para o alimento sólido. Que não nos contentemos em ficar no maternal espiritual e, sim, temos que crescer “prossigamos rumo à maturidade” (Hb 6.1 BKJ), evoluir a ponto de nos tornar adultos espiritualmente. “Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo...”. O autor não está incentivando colocar de lado, ou esquecer, mas ir para frente, avançar, aprofundar, “avancem para águas mais profundas” (Lc 5.4). O escritor menciona seis doutrinas básicas que se agrupam em três pares.
Primeiro fala da salvação, segundo das ordenanças e, no
terceiro estágio, o estado final. Ou seja, aquele que conhece e compreende
apenas isso ainda é um bebê que depende do leite para sobreviver. “Sem
lançar novamente o fundamento do arrependimento de atitudes inúteis e que
conduzem à morte; da fé em Deus, da instrução acerca do batismo, da imposição
de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno” (Hb 6.1-2).
O primeiro “par”, é sobre salvação “arrependimento de obras mortas e da fé em Deus” “uma vida inútil” (NTLH). Nós entendemos como nossa vida cristã começou, com a constatação que não tínhamos nada em nós para agradar a Deus. Portanto, resolvemos dar as costas a tudo o que vivíamos no passado. Nos entregamos a Ele, nossos fardos caíram na cruz e recebemos o perdão dos nossos pecados e fomos salvos pela graça de Deus. Como diz o apostolo Paulo: “...pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não por intermédio de obras, a fim de que ninguém venha a se orgulhar por esse motivo” (Ef 2.8-9).
O segundo “par” central da passagem, ou seja, a doutrina “de batismos e da imposição de mãos”. Por intermédio do Espirito Santo fomos iniciados na vida espiritual. A experiencia do batismo nos coloca como membros do corpo de Cristo, podemos participar do pão e do cálice, fazemos parte da igreja que se reúne. “A imposição de mãos”, fala de consagração dos diáconos e presbíteros para o serviço no corpo de Cristo, homens e mulheres separados para trabalhar frontalmente no reino de Deus, para implantação de discipulados e igrejas.
O terceiro “par” fala da “ressurreição dos mortos e do juízo eterno” (Hb 6.2). Todos sabemos o que acontece depois dessa vida, todos sabemos que existe dois caminhos: o céu e o inferno. Existe uma certeza que todos os que estão em Cristo ressuscitará e estará com Cristo; como existe uma certeza absoluta que haverá um juízo final para aqueles que rejeitaram, desprezaram a mensagem de Cristo.
3)
Uma
advertência
O escritor diz: “É impossível para aqueles que uma vez
foram iluminados, experimentaram o dom celestial e se tornaram participantes do
Espirito Santo e provaram os benefícios da Palavra de Deus e os poderes da era
que há de vir, mas apostataram da fé, sim, é impossível que tais pessoas sejam
reconduzidas ao arrependimento...” (Hb 4.4-6).
A parábola do semeador (Mc 4.1-9), faz uma comparação com esses versículos de hebreus 6.4-8. A palavra de Deus é pregada e causa várias reações. Primeiro, existem aqueles que ouvem a palavra, mas não tem nenhum efeito sobres eles, pois as sementes caíram “...à beira do caminho” (Mc 4.15). Em segundo lugar, há aqueles que recebem com entusiasmo, mas rapidamente perdem o interesse, isto é, descobrem que há um preço a pagar para andar no caminho de Deus (Mc 4.16-17) e se “sucumbem”. Em terceiro, existem pessoas que acolhem a Palavra de Deus e ela tem sobre eles um efeito duradouro; a semente germina, o broto cresce forte para o alto e parece que tudo vai bem. Mas ao mesmo tempo, outras coisas também crescem “...sedução da riqueza e todas demais ambições...” (Mc 4.19) e a palavra de Deus se torna infrutífera.
Conclusão
Finalmente, há quem recebe a palavra e é transformada para sempre (Mc 4.20). A semente germina, cresce, produz fruto e permanece. Em alguns casos, a semente se multiplica trinta vezes – o fruto do Espirito se evidencia e há transformação de caráter, de atitude, percebe nele o fruto do Espirito. Nos outros casos, o fruto se multiplica sessenta vezes, a semelhança do caráter de Cristo fica mais evidente, existe vontade, existe desejo de se parecer com Cristo. E, existem alguns casos em que o fruto se multiplica cem vezes, pessoas que querem alargar suas fronteiras, que querem servir no reino de Deus, que querem servir ao seu próximo.
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