terça-feira, 29 de julho de 2025

Temos preconceito na igreja? Tg 2.1-12 


Introdução

Existem muitas formas de preconceito, não somente o preconceito racial. Mas também o preconceito regionalista (nordestino, paulista, sulista), o preconceito machista (mulher x homem), o preconceito cultural (estudou e analfabeto), o preconceito econômico (quem tem dinheiro x quem não tem) etc.  Todos e mais outros estão presentes em nosso mundo.   Mas, aqui, o apostolo Tiago está apontando o dedo para algo que acontece no seio da igreja, no meio do povo de Deus e diz: dar prioridade aos ricos só pelo fato de serem ricos é pecado. 

1)     Uma palavra para a igreja

O apostolo Tiago está se dirigindo a igreja “caros irmãos”, “meus irmãos” (NVT), isto é, os que já tem fé em Cristo Jesus, aqueles que fazem parte da comunidade de Cristo, o corpo de Cristo. Em seguida, ele exalta o nome de Cristo lhe chamando de “Nosso Glorioso Senhor Jesus Cristo”. Então era uma comunidade que tinha uma mesma teologia, um grupo de irmãos que adorava o mesmo Senhor. 

Mas, depois, ele vai direito ao assunto: “Não façais acepção de pessoas, tratando-as com preconceito ou parcialidade” (Tg 2.1). O termo traduzido por “discriminação de pessoas” é prosopolempsia que é uma palavra composta que transmite a ideia de “receber o rosto”, isto é, voce vê a aparência (o rosto) de uma pessoa e recebe aquela imagem como expressão de realidade, isto é, fazer julgamentos, com base na aparencia. Essa mesma palavra é usada no Novo Testamento em relação a Deus: “Reconheço que Deus não trata as pessoas com base em preferencias” (Atos 10.34). 

Deus julga a veracidade de uma coisa olhando para o coração, não para o rosto. Quando o profeta Samuel foi ungir um dos filhos de Jessé “...viu Eliabe e pensou com certeza é este que o Senhor quer ungir” (1 Sm 6.6); talvez Eliabe era alto e de boa aparência. Então Deus lhe fala: “O Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1 Sm 16.7). E, nós como cristãos, somos exortados a refletir essa mesma visão.

2)     Sinagoga

O apostolo Tiago vai usar a cena de “reunião”, ou um culto para exemplificar esse principio. A palavra é synagoge, “reunião”, porque os primeiros cristãos judeus se reuniam nas sinagogas no começo da fé cristã, até que foram expulsos pelos judeus que não aceitavam Jesus como Messias. Esses versículos aplicados aos nossos dias, nos remetem a nosso local de culto, a igreja. Dois homens se destacam quando a igreja se reúne para o culto. 

O primeiro homem está muito bem-vestido – portanto joias e usando roupas elegantes. “...um anel de ouro no dedo e roupas caras” (Tg 2.2 A21). Nesse tempo, pessoas ricas ou nobres costumavam usar roupas de fina seda cravada de joias. Essas roupas sinalizavam que elas eram influentes, poderosas e que faziam parte da alta sociedade judaica. No tempo da igreja primitiva os mais ricos não costumavam ir à igreja. 

O segundo homem é um pobre, vestido com roupas sujas e surradas e entra na reunião, no culto. Suas roupas pendem de seu corpo franzino “...um pobre com roupas velhas e sujas” (Tg 2.2). Ele não carrega joias, nem se veste de seda, nem está acompanhado de seguranças e não tem influências sobre ninguém. Ele se destaca dos demais por ser extremamente pobre, assim como o rico se destaca por ser de uma riqueza invejável. 

O que acontece em seguida? O rico que tinha “...um anel de ouro no dedo e roupas caras” recebe um tratamento VIP, aliás, hoje tem igrejas com salas vips! Ele é “...tratado com atenção especial” e porteiro lhe diz: “Senta-te aqui neste lugar de honra”; o evangelista Mateus faz menção dos “primeiros assentos na sinagoga” (Mt 23.6). Logo, havia lugares preferencias para pessoas importantes, o púlpito ficava próximo ao centro do salão, ficava no centro do salão.

Portanto, o homem rico é encaminhado para um lugar de honra, mas o pobre nem sequer consegue um lugar. Mas o pobre “...um homem com roupas velhas e sujas” nem sequer consegue um lugar na sinagoga. O porteiro é ríspido, ignorante: “Você fique ali de pé” ou “Sente-se aqui no chão, perto dos meus pés” (Tg 2.3 VFL). O porteiro que representa, a igreja, é culpado de discriminação. Esse tipo de preconceito é pecado, não pode existir na igreja de Cristo.

Na igreja de Corinto estava acontecendo a mesma coisa, diz o apostolo Paulo: “...pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem” (1 Co 11.17). E mais: “...ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês” (v.18). Nesse contexto a ceia era uma grande festa, um grande banquete, um grande banquete chamado Ágape – festa do amor -, todos traziam um alimento para o banquete. Os ricos traziam pratos deliciosos, os pobres comiam o que restava. Havia, divisão, grupos, panelinhas, entre eles. 


3)     Por que não pode haver preconceito na igreja?

Primeiro, uma razão teológica. O apostolo Tiago diz: “Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu aos que o amam” (TG 1.5). Deus não faz discriminação de pessoas nem seus filhos devem fazer. O apostolo Paulo desenvolve esse princípio: “...não foram chamados muitos sábios, segundo critérios humanos, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Mas, Deus escolheu as coisas absurdas do mundo para envergonhar os sábios; e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que são nada para reduzir as que são, para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus” ( 1 Co 1.26-29). 

Segundo uma razão lógica. Tiago faz duas perguntas retóricas que nos revelam muita coisa sobre a situação em que se encontravam os cristãos judeus. Primeiro, não são os ricos e poderosos que estavam perseguindo os cristãos e entregando-os às autoridades? Os cristãos estavam sendo perseguidos, caluniados, maltratados, levados aos tribunais, denunciados pelos ricos da sociedade. 

Segundo, não são os ricos e os poderosos que estavam difamando o bom nome de Cristo? Havia perseguição contra os cristãos, os ricos estavam difamando do nome de Cristo. Eles estava vilipendiando, rebaixando, zombando, tratando com desdém o nome de Cristo que era invocado pela igreja.

Terceiro, uma razão bíblica. Por fim, Tiago coloca seus leitores de frente com as Escrituras, que excluem todo tipo de discriminação. O texto que ele cita é Levitico: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19.18). Esse texto é citado por Jesus (Mt 19.19) e se referiu esse mandamento como o segundo dos dois mais importantes, vindo depois de amar a Deus com todo o coração, alma, entendimento e forças (Mt 12.29-31). O apostolo Paulo afirma que nele se resume todos os outros mandamentos da lei de Moisés (Rm 13.9).  e que “toda a lei se resume numa só ordenança, a saber: amarás ao próximo como a ti mesmo” (Gl 5.14). Por isso, o preconceito – a recusa de amar igualmente a todos – é uma transgressão do grande mandamento. 

Conclusão

Tiago termina dizendo: Sejam as Escrituras o vosso padrão! Seja o amor a vossa lei! Seja a misericórdia a vossa mensagem! Falai e procedei não sob influencia do condicionamento cultural, natural e superficial. O apostolo Tiago fala da “lei da liberdade” (Tg 2.12). No contexto de 2.8-11, sabemos que lei ele está se referindo – a lei que liberta, a lei que exclui todo o preconceito e elimina a discriminação – “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.  



 

domingo, 27 de julho de 2025

 Saudade de Deus Jr 2.1-7 

Introdução

Jeremias foi chamado por Deus para ser profeta. Ser profeta significava duas coisas: primeiro, Deus vive e é pessoal e ativo; Deus não é alguém que está longe de nós; não é nenhum conceito da filosofia. Mas Deus é vivo e real. Segundo, a função do profeta é ser a boca de Deus “...coloco as minhas palavras em tua boca” (Jr 1.9). O profeta é representante de Deus, fala a Palavra de Deus.

De inicio o profeta Jeremias recusou tamanha responsabilidade, dizendo: “Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança”. Mas o Senhor foi incisivo lhe exortando: “Não alegues que é muito jovem, a todos a quem Eu te enviar, irás, e tudo quanto Eu ordenar, falarás” (Jr 1.7).

1)     Tempo de aliança

Deus mandou o profeta Jeremias entregar uma mensagem ao seu povo: “A mim veio a palavra do Senhor”, Sim, Deus é vivo, o profeta é a boca de Deus, Deus fala e diz: “Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém...”. A palavra de Deus é inspirada, é pura, é reta. Quando Deus quer falar, sua palavra é a sua boca. Será que queremos ouvir a Palavra de Deus? Será que desejamos ouvir a voz do Eterno?

Deus sente saudade do seu primeiro amor: “Lembro-me do teu profundo e leal amor como minha noiva nos tempos da tua juventude...”. (Jr 2.2). Deus se recorda do seu primeiro amor, sim, da intensidade do seu amor para com Ele; voce não media quarteirão, voce não media distancia, sacrifícios para estar em minha presença. Deus se recorda da sua devoção: “...voce era apaixonado por mim”. Não cessava de falar do meu Santo Nome, voce me anunciava em todos os cantos;  nesse tempo Eu era prioridade em sua vida...Voce me amava com todo seu coração, com todo o seu entendimento e com toda a sua alma. 

Deus sente saudade quando “...me seguias pelo deserto, por terras áridas”. No deserto Deus cuidou do seu povo; Deus libertou o seu povo da escravidão de Faraó; depois Deus conduziu o seu povo pelo deserto. No deserto não faltou nada: de dia Deus lhe providenciou uma coluna de nuvem, de noite Deus estendeu uma coluna de fogo; Deus abriu o mar vermelho para o seu povo passar. Quando o povo estava com sede, da rocha saiu água; suas roupas não envelheceram. Deus pergunta ao seu povo: “Eu não estive com voce nos momentos mais difíceis de vossa caminhada?”, “Não andei com vocês no deserto?”

Deus sente saudade do tempo em que voce era consagrado para ele. Sim, voce era dele, totalmente Dele. Ele diz ao profeta Jeremias: “Antes mesmo de formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que viesse ao mundo, Eu te Separei...” (Jr 1.5). Voce era consagrado, separado para Deus, para viver em santidade.  Voce era dEle, voce era a menina dos olhos dele; Deus era o seu defensor, ele lutava suas batalhas. Como Davi disse ao gigante Golias: “Voce vem contra mim com espada, com lança e com dardo, mas eu vou contra voce em nome do Senhor dos Exércitos” (1 Sm 17.45).

2)     Ingratidão

Não obstante tudo que Deus fez por seu povo, não obstante seu cuidado, seu zelo, o povo virou as costas para o Senhor. Deus pergunta: “O que encontraram vossos pais de injusto em mim ou em minhas atitudes”. O que aconteceu, Deus pergunta. Será que Deus mudou sua natureza? Será que Deus não é mais Santo? E mais: “...afastaram de mim e partiram em busca do nada, do vazio...”. O povo agora está sem rumo, sem norte, sem bussola, andando tateando pra cima e pra baixo...

A pior facada que pode existir é a ingratidão, quando somos decepcionados por pessoas que ajudamos. Deus fez tudo por seu povo, Deus deu provisão, Deus cuidou do seu povo, Deus deu uma terra que mana leite e mel, Deus cumpriu toda sua promessa, aliás, nenhuma promessa que Deus fez caiu por terra, todas foram cumpridas. Mas o povo foi adorar Baal, o profeta Jeremias pergunta, extasiado: “Acaso há notícias que alguma nação tenha trocado os seus deuses? E eles, na realidade, nem sequer são deuses! Contudo, o meu povo trocou a minha Glória por um punhado de deuses nulos e inúteis” (Jr 2.11).

Dificilmente o cananeu deixava de adorar o deus baal, dificilmente os midianitas deixavam de invocar seus deuses, dificilmente os filisteus deixa o seu deus dagon por outro deus. Mas, o povo de Deus, o povo que adorava o Deus verdadeiro, o criador dos céus e da terra; aquele que apareceu para Moisés numa sarça ardente, identificando-se como “Eu sou”, abandonou seu Deus. Hoje vemos pessoas que abandonam seu Deus mas não abandona seu time de futebol, quando morre a bandeira do time é colocada em cima do caixão!

Em tom de exclamação diz o profeta Jeremias: “Espantai-vos disso, todo o universo! Ó céus, horrorizai-vos e abismai-vos profundamente com tal atitude! declarou Yaweh”. (Jr 2.12). Esse espanto de Yaweh é inacreditável! Como assim? Deixou Deus por outros deuses. Para Abraão Deus é El-Shaday, o todo-poderoso; para Isaque é o Deus que cumpre promessas; para Jacó é o Deus que aparece em Betel; para Moisés Deus era o “Eu sou o que Sou”; para Josué Deus é o “general do exército do Senhor”; para o rei Davi Deus é o meu pastor e nada me faltará; para Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, Ele é aquele que anda no meio da sarça adente.

Conclusão

Por fim, Deus diz: “O meu povo cometeu dois crimes; eles me abandonaram, a mim, a própria fonte de água viva; e tentaram cavar as suas próprias cisternas, poços rachados que não conseguem reter a água” (jr 2.13). duas coisas diz o profeta Jeremias: primeiro, “...eles me abandonaram a mim, fonte de água viva...”. Jesus disse para a mulher samaritana: “Quem beber da água que eu lher der nunca mais terá sede...” (Jo 4.14). Jesus é a água da vida, que sacia nossa sede espiritual. 

 Segundo meu povo “...tentaram cavar as suas próprias cisternas, poços rachados que não conseguem reter água...”. Deixaram Deus, que é água viva, água transbordante, água cristalina, água que mata a sede e cavaram suas próprias cisternas, não consegue reter água.

 

 

terça-feira, 22 de julho de 2025

 Uma segunda lei Jr 36.1-16 


Introdução

O livro de Eclesiastes diz: “uma geração vai, e outra geração vem...” (Ecl 1.4). O que foi, o que aconteceu, pode ser que na geração que vem, não aconteça. Martinho Lutero iniciou um movimento espiritual que tomou conta da Europa espalhando para todos os lados do mundo; trazendo avivamentos espirituais profundos e significativos; o que dizer dos avivamentos dos Morávios; o que dizer do avivamento da Inglaterra e dos Estados Unidos; o que dizer do avivamento na rua Azuza, em 1902. Tudo esses movimentos ocorreram na Europa. Mas, atualmente, a Europa tem sido invadida pelo ateísmo e pela religião muçulmana. Igrejas tem se transformado em casas de show, discotecas, comércios etc.

1)     Uma cópia da lei

Quando Jeremias ainda era adolescente, Josias era o rei de Judá e uma grande reforma estava acontecendo no Templo (2 Rs 22.5). Então, revirando alguns documentos antigos o Sumo Sacerdote Hilquias disse a Safã, secretário do rei: “Encontrei o livro no templo do Senhor” (2 Rs 22.6). Então, Safã leu o livro ao rei Josias: “...rasgou suas roupas”, em sinal de arrependimento. Houve um grande avivamento em Judá nos dias do rei Josias. 

O livro de Deuteronômio foi o manual que o rei Josias seguiu para começar uma reforma religiosa. Jeremias cresceu lendo esse livro, participou ativamente desse tempo de avivamento, celebrou a páscoa do Senhor. Três elementos são importantes na leitura do livro de Deuteronômio:

Primeiro, ao ler o livro, o profeta Jeremias adquiriu uma memória, pois este livro recapitula, é uma “segunda lei”, reafirma os mandamentos de Deus a uma segunda geração. Escrito na forma de discurso proferido por Moisés na fronteira entre o deserto e a terra prometida. Moisés revive a experiencia de ser retirado do Egito, preservado no deserto e receber as promessas de uma vida plena de bençãos.

Segundo, Jeremias adquiriu também uma base teológica. Ele aprendeu a pensar em Deus de uma forma relacional. Para ele Deus é vivo, pessoal e ativo. Portanto, Deus é relacional, não é religião, nem mero conhecimento, muito menos abstração, mas um Deus que se mistura com o homem no seu cotidiano. Deus tem compromisso com o seu povo; Deus fala com o seu povo, Deus levanta homens e mulheres.

Terceiro, Jeremias tornou-se responsável em função da enorme quantidade de mandamentos presentes. O mandamento é uma é uma palavra que nos convida a viver além do que compreendemos, sentimos ou desejamos. O mandamento eleva as pessoas da animalidade para a humanidade. A primeira palavra que Deus dirigiu a Adão foi um mandamento: “Sede férteis e multiplicai-vos...” (Gn 1.28).

2)     Nos dias de Jeremias

Dezesseis anos se passaram desde a morte do Rei Josias, fora morto na batalha de Megido. O trono agora era ocupado por seu filho, Jeoaquim, que não tinha a mesma espiritualidade, a mesma disposição de buscar a Deus, como seu pai. O escritor o define: “Fez ele o que era mau perante o Senhor” (2 Rs 23.37) Uma pergunta: o que aconteceu para que o seu filho não andasse no mesmo caminho do seu pai? Por que Josias não conseguiu inculcar a fé de Deus em seu filho? E, agora, algo mais abrangente: “Por que temos dificuldade de transmitir nossa fé aos nossos filhos? 

Então, Jeremias foi instruído por Deus: “...pegue um rolo... – um livro – e escreva nele tudo o que lhe falei a respeito do povo de Israel e de Judá...” (Jr 36.2 NTLH). A palavra está para ser escrita em um material comum, ou seja, um pergaminho ou papiro. Em seguida, o processo é delineado: escrever, desenvolver-se, escutar, que por sua vez transforma-se em mudar e, depois em perdoar... 

Eram tempos difíceis, os babilônicos estavam chegando em Jerusalém, chegavam noticiais que eles haviam reduzido a cidade costeira de Asquelom a ruinas. O rei estava apreensivo, com medo, o povo temia por suas vidas. Portanto, um dia de jejum foi convocado em consequência da crise, a cidade estava ansiosa e pessoas oravam (Jr 36.6). O momento era perfeito para ouvir a Palavra de Deus. A crise, o medo, havia levado as pessoas a dobrar os joelhos diante de Deus.

O que dizer do nosso Brasil? Vivemos uma crise institucional sem precedentes, inflação aumenta, aumento da pobreza, da miséria. Um governo que desviou bilhões de aposentados; gastando milhões em viagens desnecessárias; as escolas estão sem dinheiro para investir em merendas, etc. enquanto isso os juízes vivem como milionários e os políticos desviando dinheiro da população carente. 

Jeremias fora proibido de profetizar em público pelo rei Jeoaquim; sim sua liberdade de expressão foi cassada! Mas, como Deus ordenou, ele escreveu toda sua mensagem em um rolo para ser lido. Enviou seu secretário Baruque para ler o livro em voz alta diante do povo ali reunido (Jr 36.4-10). Um jovem chamado Micaías, “...ouviu todas as palavras de Yahweh” (Jr 36.11) lida por Baruque e as palavras impactaram o coração desse jovem.

Correu para junto do seu pai e contou-lhe tudo o que havia escutado. Seu pai, com outros membros do governo, mandou chamar Baruque para que lesse o rolo diante deles: “Senta-te aqui, pois, entre nós e lê o livro para que todos ouçamos o que diz” (Jr 36.15). Assim, como Micaías, o pai ficou impressionado; os demais ouvintes, também foram atingidos por aquelas palavras (Jr 36.16). Eles ouviram a verdade e sentiram-se confrontados por ela. Todos eram homens responsáveis e sabiam que suas vidas, bem como a vida da nação, haviam sido advertidas pela Palavra de Deus.  

Esses homens tinham consciência de que o rei Jeoaquim precisava ser informado do ocorrido. No entanto, conheciam o coração do rei e sabiam que quando o rei ouvisse tais palavras, Jeremias e Baruque poderiam ser considerados mortos. Por seguranças, os oficiais, recomendaram que os dois permanecessem em local seguro e ignorado. O rei já tinha mandado matar um profeta, Urias, que ousou enfrentá-lo (Jr 26.20-33). Com certeza, não hesitaria em matar mais um... 

Agora, era a hora do rei ouvir a leitura do rolo. Jeoaquim estava em sua casa de inverno, especialmente construída para este período (era o mês de dezembro), e havia uma lareira acesa no aposento em que o rei estava, para manter o ambiente aquecido. Ele enviou um servo, Jeudi, para apanhar o rolo e lê-lo diante dele. O rei tinha um canivete em sua mão, quando o servo terminou de ler a terceira ou quarta folha do livro, o rei, com desdém e ar de sarcasmo, cortou o rolo com o canivete, lançando-a a seguir na lareira acesa. O livro foi lido e destruído, coluna por coluna foi reduzida a tirar e queimadas no fogo. 

Conclusão

Dezessete anos antes, o pai de Jeoaquim, Josias, recebeu das mãos do escrivão Safã um rolo e ordenou que o lessem em voz alta para ele. Sua reação foi penitencial – “ele rasgou suas vestes”. Josias reconheceu aquele rolo como a Palavra do Deus verdadeiro e compreendeu a vida de pecado que todo o povo incluisive ele, na ignorância, estava vivendo. Hulda, uma profetisa, descreveu a reação de Deus ao arrependimento de Josias ( 2 Rs 22.19).

Agora, uma geração depois, a mesma cena se repete. Jeoaquim, o filho de Josias, é apresentado ao rolo pelo filho de Safã, Gemarias. A reação de Jeoaquim também foi imediata, porém o que havia em seu interior era escárnio e desprezo por aquela palavra. Ao invés de rasgar as suas vestes em sinal de arrependimento, como seu pai fizera, ele rasgou o livro, ridicularizando-o. Há uma palavra profética que termina esta narrativa, mas ao contrário das palavras de aprovação expressas por Hulda, é uma profecia sobre a condenação de Jeoaquim (Jr 36.29-30). 


sábado, 19 de julho de 2025

 O desejo de amar Ef 5.31-33 

Introdução

Num programa de televisão no qual o homem e a mulher que moram juntos discutiam se deviam se casar. Ele queria, ela não: “Por que a gente não casa? ele perguntou. Ela atordoada, brava disse ao homem: “Porque a gente não precisa de um pedaço de papel para amar um ao outro”. Este pedaço de papel, como todos sabemos, é a certidão de casamento!

1)     Somos assim

A resposta dessa mulher é um retrato da sociedade moderna, que chamamos de pós-moderna ou sociedade liquida, onde tudo que é solido se desfaz. Para essa sociedade o casamento (“o pedaço de papel, a certidão de casamento) e o romance são essencialmente incompatíveis, duas coisas diferentes. Pois todos querem a liberdade, não querem compromisso, não querem dedicação. A liberdade, para muitos, confina, prende as pessoas em um relacionamento.

Um exemplo dessa maneira de pensar é o poema “Soneto da felicidade” de Vinicius de Moraes que diz: “Eu possa me dizer do amor (que tive): que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. Esse poema é uma pintura do que vemos diante dos nossos olhos.  Primeiro, ele diz: “que tive”, então não tem mais! Segundo ele diz “que não seja imortal”, isto é, que não dure a vida inteira. Terceiro ele diz que o amor é “chama”, desejos, sentimento, paixão e sexo. Esse poema é um retrato vivido da vida que o poeta viveu, pois teve nove mulheres e incontáveis casos...

O rei Salomão em seu livro “Cânticos dos Cânticos”, que escreveu durante seu tempo juvenil, diferencia o amor verdadeiro com o mero sentimentalismo. Ele diz: “Beije-me o meu amado com os beijos da tua boca, pois os seus afagos são melhores do que o vinho mais nobre”. A expressão “beijo” em Cantares fala de intimidade, aliança, cumplicidade, verdade, vontade, determinação, luz etc. Enquanto que “vinho” é diversão, somente prazer, irresponsabilidade, status, etc.

No capitulo 8, o rei Salomão acentua, intensifica a intensidade do amor: “O amor é tão forte como a morte, nem as muitas águas conseguem apagar o amor, os rios não conseguem levá-los nas correntezas” (Ct 8). O que é mais certo, para nós humanos, do que a morte? Todos sabemos que um dia morreremos. Tão certo como a morte, tão certo, resoluto, puro, deve ser o amor do casal. E ele diz mais: “...nem as muitas águas conseguem apagar o amor...”. Na linguagem bíblica “águas” falam de dificuldades, de adversidades, provações, lutas por todos os lados. E nem “...correntezas” podem carregar o nosso amor, levar embora de nós.

2)     O significado do casamento

A Bíblia fala de aliança, primeira aliança com Deus, comunhão com Deus; depois a Bíblia fala de conjugalidade. O texto lido diz: “Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher e os dois serão uma só carne” (Ef 5.31). O apostolo Paulo está citando o texto de Genesis, capitulo 2, onde aconteceu a primeira cerimônia de casamento. O texto chama esse acontecimento de “unir-se”, mas ARC chama de “apegar-se”. É um termo hebraico que significa, literalmente “ser colado a algo”, uma aliança, uma promessa, um juramento.

Portanto o casamento apresenta aliança horizontal e vertical. O casamento é uma instituição divina. Em Malaquias diz que Deus “...tem sido testemunha entre ti e a tua companheira e a mulher da tua aliança matrimonial” (Ml 2.14). Logo, em Provérbios descreve a mulher fiel como aquela “abandonou o companheiro da mocidade e se esquece da aliança que fez com o seu Deus” (Pv 2.17). O casamento é uma aliança não apenas entre noivo e noiva, mas também com Deus. Quando estamos perto da familia estamos perto de Deus. Longe da familia, longe de Deus. 

O Novo Testamento foi escrito na língua grega e temos três palavras para amor que coloca em gradação o relacionamento entre um homem e uma mulher. A primeira palavra para amor é “eros” que significa atração, desejo paixão, algo que ocorre no início do namoro. A segunda é “phileo” que significa companheirismo, estar juntos, ter os mesmos sonhos, sonhar na mesma direção etc. E a terceira palavra é “agaphe” que é o amor que sela no casamento, é o amor que tira toda condicionalidade, é o amor de Cristo por sua igreja.

Conclusão

Quem somos nós? Algumas pessoas esperam em sentimentos, em namoros românticos e casos passageiros. Mas são “chamas” passageiras que logo apagam facilmente!

Quem somos nós? Algumas pessoas pensam que suas realizações lhe darão suficiência. Mas por mais que façamos e realizamos um monte de coisa, sempre haverá um vazio na alma.

Quem somos? Algumas pessoas estão em busca de uma identidade, em busca de uma autoestima, em busca de uma resposta para o seu eu. Mas por mais que vocês procurem sua identidade, sempre haverá essa busca insaciável...

Quem somos? Somos quando amamos, somos quando conjugamos, somos quando casamos, somos quando renunciamos, somos quando amamos, somos quando prometemos. Nossas promessas nos conferem uma identidade estável. Nossas promessas nos conferem uma identidade, nossas promessas nos conferem uma autoestima.

Promessas ou Juramentos

Eu, Luis Fernando, venho diante de Deus e de todas as testemunhas lhe prometer o meu amor, não o amor do vinho que é passageiro, mas o amor do beijo que é verdadeiro. Lhe prometo ser fiel nos momentos bons e nos e quando as águas das adversidades vieram contra nós; lhe prometo ser fiel na saúde e na doença; lhe prometo que a minha identidade a partir de agora estará vinculada à sua, seremos uma só carne. Mais do que isso: seremos um cordão de tres dobras: eu, voce e Deus.  

Eu, Quesia, venho diante de Deus e de todas as testemunhas lhe prometer o meu amor; não o amor do vinho que é passageiro, mas o amor do beijo que é verdadeiro, que real. Lhe prometo ser fiel nos momentos bons e quando as aguas das adversidades vierem contra nós; lhe prometo ser fiel na saúde e na  doença; lhe prometo que a minha identidade a partira da agora estará vinculada a sua, seremos uma só carne. Mais do que isso: seremos um cordão de tres dobras: Eu, voce e Deus.

 

 

 

terça-feira, 15 de julho de 2025

 Apelos a igreja cristã.  Tg 1.19-25 

Introdução

Há uma doença se espalhando pelo meio da igreja, infelizmente essa epidemia tem atingido a maioria dos irmãos. Essa doença tira toda imunidade do cristão e o deixa fraco, amarelo, sem vida e, principalmente, sem testemunho. Que doença é essa? Uma ruptura entre a confissão e a prática, ou seja, vem na igreja ouve a Palavra de Deus que é pura, reta, verdadeira, da qual fomos gerados (Tg 1.18) e no dia seguinte, na segunda feira, não a colocamos em prática, não vivenciamos em nosso trabalho, na escola etc. 

1)     Um apelo

Diante desse fato o apostolo Tiago inicia com um apelo: “Meus amados irmãos, tende certeza”; ou “Lembre-se disto, meus queridos irmãos...” (NTLH);  ou, “Sabeis destas coisas...” (ARA).  É um pastor velho falando para sua congregação, exortando, para que nunca se esquecesse do que já sabiam. E aqui, ele lembra de três coisas importantes para o plantio da palavra de Deus na vida do cristão. 

Em primeiro lugar, Tiago nos recomenda que estejamos prontos para ouvir (Tg  1.19) “...cada um esteja pronto para ouvir...”.  A palavra “pronto” no grego é “taxýs”, que literalmente significa rápido. Se o ônibus está demorando para chegar “apressa-se num táxi”. Portanto, para os cristãos, deve haver rapidez em ouvir, mas ouvir, para Tiago, do que falar. A grande dificuldade é, estamos ouvindo e não praticando, como Jesus disse aos fariseus: “Ouvindo, ouvireis, e nunca entendereis” (Mt 13.14).

Portanto, ouvir é mais do que uma função acústica, em apocalipse temos a exortação: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas...” (Ap 2.7); ouvir é uma atitude espiritual. Jesus condenou um dos ouvintes na parábola do semeador, quando contou: “E o que foi semeado no solo pedregoso, esse é o que ouve a Palavra e a recebe imediatamente com alegria; mas não tem raiz em si mesmo e dura pouco. Quando vem a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo tropeça” (Mt 13.20-21). Tiago nos falou da provação e do seu efeito positivo na vida do cristão; depois falou da tentação e do perigo na vida do cristão. Aqui, é um alerta, temos que ouvir a palavra de Deus com seriedade para não acontecer uma hecatombe na vida do cristão. 

Em segundo lugar, “...mas seja tardio para falar e tardio para ficar irado” (NAA). A palavra tardio no grego é “Bradýs”, que é o mesmo termo para estúpido, insensato e o que o apostolo Tiago está querendo nos dizer é: “Não fale de imediato. É preciso saber a hora de falar. Quem muito fala, muito erra”. Mas o que fazemos? Falamos antes de pensar; falamos antes de orar; falamos antes de pensarmos as consequências de nossa fala. Temos um ditado: “Falar sem pensar é o mesmo que atirar sem apontar...seja dono do seu silencio para não se tornar refém das próprias palavras”. 

No livro de provérbios lemos: “...na multidão das palavras não falta transgressão; mas o que refreia os seus lábios é prudente” (Pv 10.19). “O coração do justo medita no que há de responder; mas a boca dos ímpios derrama coisas más” (Pv 15.28). Portanto, devemos tomar muito cuidado com nossas palavras. Elas podem levantar ou, então, destruir a reputação de uma pessoa. Há um sábio provérbio que diz: “Tú és o Senhor da Palavra não dita; a palavra dita é o teu Senhor”.

O terceiro apelo de Tiago é: “...tardio para se irar”. Vimos tardio para falar e agora tardio para se irar, no original grego, não inclui a conjunção “e” entre esses dois apelos; elas se relacionam como se fossem elos de uma mesma corrente, uma causa e um efeito. “Tardio”, novamente, “Bradýs”, estúpido, insensato.  Com muita propriedade, provérbios diz: “Melhor é longânimo do que valente; e o que domina o seu espirito do que o que toma uma cidade” (Pv 16.32). E Tiago diz porque: “Pois a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tg 1.20 NVI) ou, “Porque a raiva humana não produz o que Deus aprova” (BLH). 

Como atender aos apelos do apostolo Tiago? O versículo 21 dá a resposta: “Pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal, recebei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas” (Tg 1.21) ou, “...deixem todo costume imoral e toda má conduta...” (NTLH). Primeiro que “despojar (grego é “apothémenoi), cuja idéia é “deixar, remover, afastar”. A expressão “apó” é algo que vem de dentro para fora; não é algo que é posto em cima, mas algo que está dentro. E o apostolo exorta: “A noite é passada, e o dia é chegado. Dispamo-nos, pois das obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.12). 

E mais: “Recebei com mansidão a palavra em vós implantada” (Tg 1.21). Tiago exorta-nos a tirarmos a roupa suja do passado – falar precipitado e a ira desmedida – e colocar a Palavra de Deus no seu lugar. A expressão “implantada” é também “...enxertada” (ARC), que é um implante, ou um enxerto no tronco origina (nossa natureza), para que os frutos sejam melhores. Então, quando implanto ou enxerto a palavra de Deus em mim, posso produzir bons frutos. Portanto, quando deixo que as Escrituras sejam guardadas dentro de mim e que brotem do meu intimo, do meu ser, então meu caráter é mudado. 

2)     Olhando no espelho

O apostolo Tiago continua falando da necessidade de termos a Palavra de Deus em nossas vidas e vai usar três figuras: A primeira figura está no verso 18: “Ele nos gerou pela palavra da verdade”. Nos tornamos novas criaturas por um ato divino. A segunda figura está no v.21, ela é enxerto, implantada no tronco da nossa vida, para produzir novos frutos. A terceiro figura está no v.23, a palavra é um espelho, pois o espelho reflete a imagem do que somos. 

Diante disso Tiago nos diz que existem dois tipos de ouvintes da Palavra. Há o tipo de ouvinte que se limita a ouvir. “Se alguém é ouvinte da Palavra e não cumpridor, é semelhante a um homem que contempla no espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo e vai-se, e logo esquece de como era” (Tg 1.23). Aqui, a palavra é espelho. No tempo de Tiago o espelho era de bronze, diferente do espelho atual. Portanto, não se tinha em mente, com muita facilidade, os contornos do próprio rosto. A pessoa não se olhava no espelho todos os dias; somente para alguns eventos. O espelho nos mostrará como estamos.

A palavra de Deus é um espelho e nos mostra como que estamos; tem gente que se submete constantemente as Escrituras (participa dos cultos regularmente) e tem gente que é como os espelhos nos dias de Tiago, somente se vê uma vez por semana ou, leva mais tempo para se vê. Quanto mais olhamos para o espelho mais santos nos tornamos, quanto mais perto, mais próximo de Deus, mais santo! 

Será que temos santos nos dias de hoje? Estamos olhando mais celebridades, quem tem mais seguidores no Instagram, pastores populares, políticos,  jogadores de futebol, modelos, etc. Mas será que temos vivenciado nossa santidade? Quanto mais nos apegamos a Deus, quanto mais nos apegamos a sua palavra, quanto mais nos apegamos em oração, mais a santidade de Deus estará implantada em nossos corações.

O segundo tipo de ouvinte é “...aquele que atenta bem...não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem-aventurado no que fizer”. É prometido aqui uma bem-aventurança em tudo àquele que é obediente à Palavra. A expressão “...atenta bem” nos traz a idéia de uma pessoa debruçada sobre a Palavra de Deus, examinando-a com muita atenção. Não é um visitante, alguém que aparece de vez em quando, que diz que está muito ocupado. Mas alguém que leva a sério, alguém que tem o compromisso, alguém que paga o preço, ele não somente escuta mas coloca  em prática.

Conclusão

Tiago chama o evangelho de “...a perfeita lei da liberdade” (Tg 1.25). Não há nada mais para se acrescentar ao evangelho. O evangelho, a revelação de Jesus Cristo, é a última palavra de Deus, sim, é a “lei da liberdade”. Não mais a lei do Antigo Testamento, mas o evangelho que nos dá a verdadeira liberdade. As regras nos aprisionam ao tradicionalismo humano, enquanto que o evangelho nos liberta. Obedecer ao evangelho  é encontrar o caminho da liberdade. 



 

sábado, 12 de julho de 2025

 Há feitiçaria contra o povo de Deus? Nm 23.19-26

Introdução

O livro de Numeros narra a saga do povo judeu no deserto do Sinai, depois de quarenta anos o povo está quase chegando na terra prometida. Os exércitos israelitas venceram os reis Seom e Ogue, agora estão quase acampados nas terras de Moabe. Então, o rei Balaque, com medo, com receio, envia emissários em busca de um velho profeta chamado Balaão, que residia na atual Siria, fronteira com o rio Eufrates. E manda um recado: “Vem, portanto, eu te suplico, e amaldiçoa por mim esse povo” (Nm 22.6). Depois de idas e vindas, depois de uma jumenta falar, finalmente Balaão acompanhou os emissários do rei Balaque.

1)     “amaldiçoa esse povo”

Os moabitas montaram todo o ambiente para a maldição contra o povo de Deus: subiram no Monte Balmote Baal, e edificaram sete altares e prepararam sete novilhas e sete carneiros para sacrificar. Depois de todo o sacrifício, de todo ritual, o velho profeta de Arã, virou-se para Balaque e os príncipes de Edom e disse-lhes: “...como amaldiçoaria eu, aquele a quem Deus não amaldiçoou?” (Nm 23.8). E mais: “Como posso pronunciar condenação sobre aquele que o Senhor não quis condenar?”

Mas o rei Balaque não se contentou, levou o velho profeta no topo do Monte Pisga, agora a visão do povo de Deus era panorâmica, dava pra ver toda a nação de Israel e disse ao velho profeta: “Amaldiçoa-a por mim...”

Novamente levantou-se mais sete altares e ofereceu em holocausto um novilho e um carneiro sobre cada altar, depois do sacrifício o Balaão olhou para Balaque e seus príncipes e disse-lhes: “Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa. Acaso ele promete e deixa de cumprir, afirma que faz e não realiza” (Nm 23.19). E diz mais: “Portanto, recebi uma ordem para abençoar; e ele abençoou, e não posso mudar isso” (Nm 23.20).

Como assim? E os seus pecados? Mas o profeta respondeu: “Ele não olhou para as ofensas de Jacó, nem para os erros encontrados em Israel! O Eterno, o Deus de Israel, está com eles; o brado de aclamação do rei ressoa no meio desse povo” (Nm 23.21). E finaliza afirmando: “Não há feitiçaria que tenha poder contra Jacó, nem magia alguma contra Israel”.

Então chega, a terceira profecia de Balaão, desta vez em cima do Monte Peor. Novamente edificaram sete altares e preparam sete touros e sete carneiros. E de novo, o velho profeta, fala a Palavra de Deus: “Quão admiráveis são as tuas tendas, ó Jacó! E famosas as tuas moradas, ó Israel! Como vales que se estendem, como jardins que margeiam os rios, como plantas perfumadas e medicinais que Yahweh plantou, como cedro junto às águas cristalinas” (Nm 24.6).

E termina dizendo: “Sejam abençoadas os que os abençoarem, e amaldiçoadas os que os amaldiçoarem” (Nm 24.9).

Conclusão

Por fim, o velho profeta, chama Balaque ao seu lado e profetiza o futuro do povo de Israel. “Eu vejo, mas não agora; eu avisto, mas não de perto. Um rei, como uma estrela poderosa, surgirá de Jacó; um cetro se levantará dentre os filhos de Israel. Ele esmagará a cabeça dos moabitas e aniquilará todos os arrogantes...”

 

 

terça-feira, 8 de julho de 2025

 Quando a tentação vem Tg 1.13-18 

Introdução

No texto anterior vimos o apostolo Tiago falando sobre a provação e exorta os cristãos a se alegrarem quando são provados “...motivo de grande alegria” (Tg 1.2). Por quê? A provação cria a perseverança, ou seja, nos molda e nos aproxima de Deus. O patriarca Jó, depois de ter passado pela provação, expressou: “Antes eu te conhecia de ouvir falar, mas agora te vejo com os meus próprios olhos”. Diferente da provação, a tentação, é insidiosa, perigosa, tirânica; e o seu intento é humilhar, derrubar, colocar o ser humano na lona. É disso que Tiago está falando nesses versículos... 

1)     Quatro verdades sobre a tentação

Primeiro a tentação sempre está presente. Ninguém está imune a ela. Ele não diz: “Se alguém for tentado”, mas “...quando tentado” (Tg 1.13). A semelhança das provações às quais nossa fé é submetida, as tentações são inevitáveis. Não existem vacinas espirituais, nem garantias que nos livrem delas, nem rotas alternativas para escapar das armadilhas colocadas em nosso caminho. 

Em segundo lugar, Deus nunca é fonte de tentação. “Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: Estou sendo tentado por Deus” (v.13 NVI). Ou: “ninguém ao ser tentado deve dizer: Esta tentação vem de Deus” (VFL). Pois a santidade de Deus é absoluta. O mal é uma impossibilidade para Deus. Disse o profeta Habacuque: “tu és tão puro de olhos que não pode ver o mal” (Hc 1.13). Portanto, a santidade de Deus tem dois lados: a incapacidade de ser afetado pelo mal e a incapacidade de causar o mal. 

Em terceiro lugar, Tiago na introdução de sua declaração coloca a conjunção “mas” indicando assim um contraste. Esse contraste é estabelecido entre a visão errônea de que Deus é o autor da tentação e sua verdadeira origem. Tiago afirma que a tentação tem origem em algum tipo de objeto externo de desejo. Ele diz que cada um é tentado ao ser “atraído por seu próprio desejo”, ou “...atraído por sua própria concupiscência”, que significa “desejo intenso e ardente”.

O termo “atraído” faz parte do vocabulário de pesca e significa “atrair com isca”. Assim uma isca é colocada em nossa vida – algo externo. A Isca em si não é pecado. Mas no fundo do nosso ser, temos a natureza pecaminosa, que deseja morder a isca – o pecado que habita em mim. Depois de acalentado, de alimentado, esse desejo intenso, inflamado essa concupiscência impele-nos para o pecado. Aqui, nesse estágio, vemo-nos caminhando na direção da isca, motivado pelo desejo próprio de ter... 

“.... arrastados e seduzidos”. Logo, Deus não é responsável pela tentação, nem mesmo de forma indireta, mas o nosso desejo intenso é a causa direta do pecado. O teólogo alemão Dietrich Bonhoffer, escreveu um livrinho intitulado “Tentação”, ele consegue resumir o processo: “Em nossos membros, jaz latente uma repentina e violenta inclinação ao desejo. Com força irresistível, o desejo domina a carne... acende um fogo secreto e imperceptível...nesse momento Deus deixa de ser real para nós, e somente o desejo é real para nós...”.

Em resumo, em Tiago 1.14, temos os elementos indispensáveis à tentação: uma isca externa atraente (pode ser sexo, pode ser dinheiro, pode ser poder, pode ser jogos, pode ser drogas etc.); depois o desejo interior. Quando esses dois elementos se juntam: isca externa + desejo = cede a tentação, o resultado é desastroso, atordoante, vil. 

O quarto elemento é a palavra “então”. Então o quê? “Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz ao pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte” (Tg 1.15 A mensagem). O rei Davi sintetiza todo esse processo citado pelo apostolo Tiago: Davi não foi na guerra, resolveu ficar em seu palácio. Numa noite sem sono, começou andando pelo terraço do palácio, os olhos do rei viram um pecado em si (uma isca). Mas seu desejo interior, sua natureza adâmica, desejou-a para si. A semelhança de alguém que cai numa armadilha, o salto que Davi deu da tentação para o pecado foi tão veloz quanto um fogo em mato seco: ele perguntou quem era, mandou buscá-la e deitou-se com ela – tendo plena consciência que a mulher era casada! 

O que é mais assustador no pecado de Davi é que ele foi cometido por “um homem segundo o coração de Deus” (1 Sm 13.14). Se esse grande homem de Deus, homem usado por Deus poderosamente, sofreu uma queda tão grave e repentina, não devemos pensar, nem por um momento sequer, que estamos imunes a algo desse tipo.

Mas podemos resistir ao desejo, voltar as costas para a isca e seguir outro caminho, interrompendo assim o ciclo. Mas se a pessoa que é tentada agasalha o desejo, abraça o objeto da tentação e corre para a armadilha, o resultado será o ato pecaminoso. Então, temos que tomar cuidado, primeiro, quando somos levados por alguma coisa que nos atrai, entramos no território da tentação. Segundo e quando o pecado é mantido sem que haja arrependimento, ele resulta em morte, uma morte espiritual, um afastamento da presença de Jesus. Em Cristo recebemos vida abundante, mas o pecado tem o poder de tirar essa vida de dento de nós. Por isso que precisamos nos arrepender... 

“...gera a morte”. Para os judeus a morte era uma trajetória não um destino. “Estar morto” é uma referência a um tipo de vida alienada, longe da presença de Deus. Em Deuteronômio lemos: “Vê que hoje coloquei diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal”. Essa escolha entre “existência de vida” e “existência de morte”. Em Provérbios também diz: “A vida se encontra na vereda da justiça; não há morte em seu caminho” (Pv 12.28). E mais: “O ensino sábio é uma fonte de vida que protege dos laços da morte” (Pv 13.14).

As pessoas estão no caminho da vida, andando com Cristo, vivemos uma vida de santidade; ou as pessoas estão no caminho da morte, andando em pecado, em desobediência. Quem está andando no caminho da vida, anda em comunhão com Deus, tem prazer de estar reunido com os irmãos na igreja, medita nas escrituras e tem uma vida constante de oração. Quem está no caminho da morte já perdeu a vitalidade espiritual; não frequenta mais a igreja, não medita nas escrituras e não ora mais. Vive uma vida na sina do pecado.

O apostolo Tiago admoesta: “Meus amados irmãos, não vos enganeis”. Ou seja, não se desviem. Os encantos da tentação chegam sob muitas formas e em momentos diferentes. Não permitam que seus pensamentos se desviem da verdade e sigam pelo caminho do engano e da falsidade. O processo de tentação começa na mente e, por isso, precisamos fazer todo o possível para encarar os fatos e fugir da tentação

Conclusão

O apostolo Tiago termina essa sessão afirmando que “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes...” (Tg 1.17). Sim, Ele é o Pai das luzes que dissipa toda escuridão, todo pecado. Ele é imutável em seu ser, em quem não há “mudança nem sombra de variação”. Em Deus temos o que há de melhor na criação, seu amor, sua graça, sua presença, a paz que excede todo entendimento, sabedoria, discernimento, dons espirituais, amigos espirituais, uma igreja para adorar o Nome do Senhor, somos batizados com Espírito Santo, enfim...

Fora de Cristo, somos como o filho prodigo, insaciáveis, buscando, tateando, experimentando, raspando o tacho do pecado, uma angustia deprimente, sim, vivendo uma existência de morte e não de vida! Mas ele termina afirmando: “Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou” (Tg 1.18).

Sim, a palavra de Deus, nos alimenta, nos abastece, nos purifica, nos levanta, o salmista expressou: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23-24).