terça-feira, 4 de novembro de 2025

 CRIME E CASTIGO – Jz 20 

Introdução

As sutilezas são implícitas, são subentendidas, são sorrateiras, sempre ficam nas entrelinhas da história, mas nem sempre conseguimos discerni-la. As “verdades” podem ser editadas, divulgadas, colocadas em outdoor, em páginas das mídias socias, todas são frutos de narrativas construídas, até mesmo, fictícias, imaginadas por alguma mente capciosa. O livro de Juizes expõe abertamente essas sutilezas e o que pode produzir.

1)     Editando história

O livro de juízes é um livro pesado, difícil, mas também cheio da graça de Deus. Todo Israel ficou indignado diante do fato dos benjamitas terem abusado sexualmente da concubina do levita. Causou comoção nacional “...Todos os filhos de Israel, desde Dã até Berseba e Gileade, saíram, e a congregação se reuniu diante do Senhor em Mispa...”(v. 1).  Constrangimento, revolta, era o assunto do dia, da semana na boca do povo de Israel.  Logo, juntou-se um exercito de 400.000 homens para combater seus irmãos benjamitas.

O texto fala que esse juntamento de 400 mil soldados é “como se fosse um só homem” (v.1, 8, 11). O que é mais interessante e absurdo que é uma guerra contra uma das tribos de Israel, sendo que em muitos momentos de guerra do povo de Deus contra os inimigos externos (filisteus, midianitas, amonitas, moabitas, etc) nem todos quiseram lutar, nem todos ficaram do lado de Gideão (acovardaram-se), nem todos ficaram do lado de Jefté, nem todos ficaram do lado de Sansão. Mas agora, quando é contra uma das tribos de Israel, todo Israel vai como se “fosse um só homem”. 

O levita contou a história do que aconteceu em Gibeá, no entanto, em uma narrativa editada: “Chegamos para passar a noite em Gibeá de Benjamim, logo, os homens de Gibeá vieram para atacar-me e cercaram a casa, com a intenção de matar-me” (Jz 20.5). Primero, não foram todos os homens “alguns homens depravados” (Jz 19.22). Segundo, os homens perversos, depravados, disseram: “Tire o homem que tem em sua casa, queremos ter relações sexuais com ele” (Jz 19.22 VFL). Ele fala que os homens queriam mata-lo, mas o texto fala que os homens queriam ter relações sexuais com ele.

 Contou a história de forma seletiva, editou a história, omitiu detalhes, do que ele fez, isto é, “empurrou para fora” (Jz 19.25 VFL), “pegou sua concubina e a entregou a eles do lado de fora” (NAA) e: “obrigou a sair” (VFL). Ele empurrou, pegou a sua mulher e colocou para fora, jogando-a aos homens depravados para ser abusada, violentada. Em seguida, dormiu, sossegadamente. Pela manhã, sua mulher estava caída junto à porta da casa, morta, sem vida. E, quando chegou em casa, cortou sua esposa em dozes pedaços e enviou para as tribos de Israel! 

O livro de Romanos, nos capítulos 1 e 1, fala do pecado em evidencia, pecado descarado, imoral, feito à luz do dia, foram entregues “à impureza sexual, segundo as vontades pecaminosas do seu coração” (Rm 1.24); mas, no capitulo 2, fala dos religiosos, do levita, do que julga, que conhece a verdade, mas vive editando a verdade. O levita conseguiu passar uma versão que lhe era conveniente. Logo, todo povo de Israel, levantou-se contra a tribo de Benjamim.

2)     Briga entre irmãos

Os israelitas estão unidos como nunca estiveram antes, “como um só homem”.  Mas, antes da guerra, as tribos unidas, envia emissários para que entregassem os homens que molestaram e abusaram da moça e “dar a eles o que merecem” (v. 9,10). Mas os benjamitas “não quiseram ouvir” (v.13), ao invés disso, se agruparam em Gibeá “para lutar contra os israelitas” (v. 14). Reuniram 26.700 soldados, incluindo tropas de elite (v.15,16), para enfrentar quatrocentos mil israelitas (v.17).

Quantos de nós, quando envolve família prefere proteger ao invés de agir com justiça! Um dos ídolos mais perniciosos ao relacionamento humano é o nosso sangue ou parentesco, a atitude que defende minha família ou meu país, estejam eles certos ou errados. Mas, não podemos nos fazer de surdos, mudos e cegos diante do pecado, da transgressão dos nossos filhos, parentes. Isso chama-se disciplina. Disciplina é um direito de todo crente; somos responsáveis uns pelos outros. Se a igreja não disciplina, o caminho torna-se largo. 

Eles preferem lutar, soltar suas espadas, entrar numa guerra, uma guerra civil. De um lado 400. 000 mil soldados, e do lado deles 26.700 soldados. um acréscimo é que os 700 homens eram treinados, melhores soldados, escolhidos. O que faziam? “Eram canhotos. Qualquer um deles podia atirar com funda uma pedra num fio de cabelo, sem nunca errar” (Jz 20.16 NTLH). Primeiro, eram canhotos, ou seja, quando a pedra é jogada do lado direito é previsível qual é a direção, mas quando é lançada pelo lado canhoto, é impossível saber com exatidão o lado, por causa da curva que a pedra faz ao ser jogada. Segundo, era tamanha precisão de grupo especializado que conseguiam acertar um fio de cabelo à distância. Eles tinham uma vantagem tática na guerra. 

Antes da guerra, foram para Betel, lugar de adoração, consultar ao Senhor. E perguntaram: “Qual das nossas tribos atacará primeiro a tribo de Benjamim? E o Senhor respondeu: a tribo de Judá” (Jz 20.18). Judá era proeminente, sobre Judá havia a promessa do cetro, do reinado. No primeiro combate entre os dois exércitos 22.000 homens de Israel perecem no campo de batalha. No segundo dia, de combate, mais 18.000 homens de Israel morrem na batalha. Toda luta por uma justa que seja, não é fácil, é renhida, difícil.

Depois de perder 40.000 soldados os israelenses se desesperaram. “Subiram até Betel e ali se assentaram e choraram diante do Senhor. Naquele dia, eles jejuaram até a tarde e ofereceram holocaustos e ofertas pacificas ao Senhor” (Jz 20.26). Choraram, angustiaram, clamaram, suplicaram ao Senhor. A arca do Senhor estava com eles em Betel, e mais, “...Fineias, filho de Eleazar, filho de Arão, ministrava diante dela naqueles dias” (Jz 20.28). E “o Senhor respondeu: vão, amanhã eu os entregarei nas suas mãos” (Jz 20.28). 

O exercito de Israel armou uma emboscada (alguns homens se esconderam ao redor da cidade de Gibeá), atraiu a principal defesa dos benjamita para fora de sua fortaleza (vs. 30-33). Diante dos homens de benjamim o exercito de Israel fugiu descendo, como se estivesse com medo. Recuaram diante da batalha, e o exercito de benjamim foram ao encalço deles, pensando que novamente iriam ganhar a guerra. Mas dessa vez benjamim foi derrotado terrivelmente. Os homens que estavam escondidos em Gibeá saíram e arrasaram a cidade e foi ao encontro do homens, matando todos pelo caminho.

“O Senhor ajudou Israel a derrotar Benjamim e, naquele dia, os israelitas mataram 25.100 guerreiros de Benjamim, todos hábeis no uso da espada. Então os homens de Benjamim viram que estavam derrotados” (Jz 20.35-36). O Senhor pesou a mão sobre seu povo; benjamim fica pasmo diante de tal calamidade, diante das mortes e da derrota. Todos morrem, mulheres, homens, animais, somente 600 homens sobrevivem e se escondem numa caverna.  

Conclusão

Uma pergunta: precisava tanto? Matar todo mundo, matar as pessoas da cidade, crianças, mulheres, animais, etc. cometeram um genocídio! Infelizmente a raiz de amargura se alaga e causa uma destruição descomunal no seio da igreja. Temos que entender o que é perdão. Perdoar não é jogar na cara o erro da pessoa, não pensar mais na pessoa. Mas perdoar é uma promessa de não guardar mágoas contra quem nos feriu e nem lhe desejar mal nenhum.

Segundo o perdão é possível. Somente quando vemos e sentimos a realidade do perdão monumental e valioso que Deus operou por meio de Cristo. Reconhecer a divida que temos com Deus é a única maneira de colocar em perspectiva a divida que alguém tem conosco. O perdão oferecido por Cristo nos dá humildade emocional para perdoar e recursos emocionais para perdoar.  



 

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