Marcos, dando a volta por cima – Atos 15.36-39
Introdução
João Marcos era primo de Barnabé (Cl 4.10) e filho de Maria.
Era na casa de Maria “...mãe de João também
chamado Marcos, onde muitas pessoas estavam reunidas em oração” (Atos
12.12). Talvez Maria fosse uma mulher relativamente rica, pois tinha pelos
menos uma empregada, Rode (Atos 12.13). João (cheio da graça) era o seu nome em hebraico, como
judeu e, Marcos (guerreiro) seu nome romano, mas com o tempo, predominou o nome romano.
Marcos tinha um apelido carinhoso "Colobodactylus", ou "dedo toco", é que Marcos era um homem grande com dedos desproporcionalmente pequenos - dedos curtos e grossos. Esse apelido surgiu em Roma, quando estava escrevendo o seu evangelho.
1)
Um
jovem com medo
O evangelho de Marcos fala que quando Jesus fora preso “...todos fugiram e o abandonaram. Certo jovem, vestido apenas um lençol de linho, estava seguindo Jesus, quando também tentaram prendê-lo. Mas ele, largando o lençol, fugiu desnudo”, ou “...ele fugiu nu, deixando o lençol para trás” (Mc 14.50-52).
Possivelmente, para Marcos, tudo o que estava acontecendo era novidade: um messias fazendo milagres por onde passava e, sua mãe, uma mulher piedosa começou a segui-lo. Portanto, de inicio, acompanhava sua mãe, ia com ela onde estava o Messias; a fé, era dela, não dele. Naquela noite, o alvoroço espalhou-se entre os seguidores de Jesus. E, Marcos, levantou-se correndo da cama e dirigiu-se ao Jardim, um local conhecido pelos discípulos.
Quando chegou presenciou o alvoroço, Jesus estava sendo preso
pelos soldados romanos e todos os discípulos fugiram, com medo da prisão.
Marcos, vendo que os soldados iriam prendê-lo, correu, mas o seu lençol ficou
na mão do soldado e fugiu desnudo, sem roupa, para casa, envergonhado.
2)
Uma
mãe piedosa
Maria, mãe de Marcos, é mencionada uma única vez nas Escrituras. Ela se destacou por sua coragem em um tempo onde a perseguição de Herodes Agripa aos cristãos estava muito grande. Ele já tinha mandado matar o apostolo Tiago e o apostolo Pedro estava preso, pronto para ser morto também. Não obstante, os riscos, essa mulher abriu as portas de sua casa para os cristãos.
Aliás, sua casa, transformou-se no quartel general da igreja
primitiva, um lugar de bálsamo espiritual, um local de comunhão entre os irmãos,
o local de culto e, um local de oração, de intercessão. Portanto, ela era um
exemplo de hospitalidade e coragem; um local também de pregação do evangelho
para que se expandisse em Jerusalém.
Pregar no tempo da igreja primitiva, ser testemunha de
Cristo, em Jerusalém, não era nada fácil. A igreja estava sendo perseguida de
todos os lados, pelos religiosos e pelo estado romano (na figura de Herodes
Antipas). Agora, pensa comigo, imagine ceder a sua casa como local de reunião
de cristãos, de culto, de oração! Era muita coragem, você teria essa coragem,
em ceder a sua casa?
3)
Fracasso
Era a primeira viagem missionaria da igreja e o Espirito
disse “Separem-me Barnabé e Saulo para a
obra que os tenho chamado” (Atos 13.2). Mas, também levaram consigo João
Marcos. Talvez por ser primo de Barnabé e por mostrar-se um jovem crente
promissor e ativo na obra do Senhor. “Chegando
em Salamina, anunciavam a Palavra de Deus nas sinagogas judaicas. João Marcos
os seguia para auxiliá-los” (Atos 13.5).
Mas quando chegaram para o espinhoso território da Panfília, uma cadeia de montanhas se alteava à sua frente; era uma região infestada de mosquito e febre. Devido as condições, as coisas ficaram tão duras e difíceis para João Marcos que ele perdeu o animo de continuar. E o texto diz: “...chegaram a Perge, da Panfília. Mas, João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém” (Atos 13.13).
O entusiasmo do rapaz se enfraqueceu. Seu sonho se transformou
em pesadelo pessoal. Sem dúvida embaraçado, ele admitiu: “Não posso continuar,
vou embora”. Um comentarista o chama de “desertor”; João Crisóstomo diz “o garoto
queria a mãe”. E mais: nessa viagem o
apostolo Paulo ficou doente; talvez tenha sido a malária e o começo das dores
de cabeça, atingindo seus olhos.
Esse foi um péssimo momento para João Marcos desertar. Nessa
viagem também o apostolo Paulo foi apedrejado e o deixaram como morto. No final
das contas, ele e Barnabé aguentaram os rigores da viagem, voltaram e retrataram
os esplendidos resultados.
4)
Tensão
“E alguns dias depois disse Paulo a Barnabé: tornemos a visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão. E Barnabé aconselhava que tomassem consigo a João, chamado Marcos” (Atos 15.36-37). De um lado temos Barnabé com uma disposição balsâmica, que acreditava em Marcos. Assim, como acreditou em Paulo, quando todo mundo suspeitava de sua conversão a Cristo.
Do outro lado, temos Paulo. Um homem de grande convicção,
colérico e forte compromisso com a verdade e a lealdade. Paulo examinou a questão
do ponto de vista do bem geral do ministério. Enquanto que Barnabé olhou a
questão do ponto de vista do bem geral de Marcos. Para Paulo: “...parecia razoável que não tomasse consigo
aquele que desde Panfília se tinha apartado deles e não acompanhou naquela obra”
(Atos 15.38).
O termo traduzido como “afastara” é aquele do qual obtivemos
o nosso apostasia. Para Paulo, Marcos fizera mais do que recuar e ir embora...
o jovem cometera apostasia. Paulo afiançava-se no livro de Proverbios: “Como dente quebrado e pé deslocado, é a
confiança no desleal, no tempo de angustia”. Ou, “quem em tempos de necessidade, confia no homem desleal, é como aquele
que procura morder com o dente quebrado e que se apoia num pé sem firmeza,
tropeçando e caindo”.
Por causa desse desentendimento Barnabé e Paulo se separaram.
Paulo estava convicto de sua decisão, enquanto que Barnabé pensava com o
coração. O apostolo Paulo juntou-se a Silas e foram em direção à Siria, com o objetivo
de visitar as igrejas fundadas. Enquanto que Barnabé e João Marcos foram em
direção a ilha de Chipre.
Barnabé era um discipulador, um mestre na paciência, conhecia o potencial das pessoas, principalmente conhecia o ministério que Deus dera a Marcos. Coube a Barnabé a tarefa de treiná-lo, discipular e dar musculatura ao ministério a ele. Talvez, a grande dificuldade de Marcos, era sua volubilidade, ou, sempre começava e nunca terminava. Começou querendo ser discípulo de Jesus, mas correu do soldado no Getsêmani; começou sendo missionário, mas fraquejou em sua primeira experiência.
Depois, como diz a tradição, ele foi com Pedro em Roma. Acompanhou Pedro em toda sua cruzada evangelística por Roma, anotando as histórias contadas por Pedro em seus sermões e nas conversas pessoais. O primeiro evangelho, a primeira narrativa da vida de Jesus e dos apostolos fora escrita por Marcos.
Conclusão
Durante os últimos anos da vida de Paulo, Marcos, aquele que
foi rejeitado pelo apostolo Paulo, lhe fez companhia, permanecendo ao seu lado
nas horas mais difíceis. Na carta aos colossenses, Paulo escreveu que Marcos
estava com ele em Roma (Cl 4.10). Paulo
também escreveu para Filemon, colocou Marcos na lista dos seus cooperados (Fm
24).
Paulo escrevendo para Timóteo, sua ultima carta antes de morrer, pediu que trouxesse Marcos “pois me é útil para o ministério” (2 Tm 4.11). Que mudança! Marcos passou a ser uma benção na obra do Senhor. O que dizer de tudo isso? O Senhor é cheio de misericórdia, cheia de graça, cheio de amor, cheio de verdade, cheio benignidade, cheio de longanimidade. E está aqui para te levantar, para te fortalecer, para te robustecer, para lhe conceder uma segunda chance.
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