terça-feira, 3 de outubro de 2023

 Quando Deus propõe um enigma – Ez 17.1-10 

Introdução

“E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, propõe um enigma, e profere uma parábola para com a casa de Israel” (Ez 17.1.2). “Enigma” traduz o hebraico hidah, um ditado enigmático de difícil entendimento, um mistério. “Coisa difícil de definir, de conhecer a fundo, de compreender” (Dicionário da Língua Portuguesa). De tal modo, que é necessária uma interpretação para entender, compreender, discernir o enigma que se apresenta em parábolas ou alegorias. 


Sansão também propôs um enigma para os filisteus: “Do que come saiu comida, e do forte saiu doçura” (Jz 14.14). No final por causa da pressão da mulher revelou o enigma: “Que coisa é mais doce do que o mel? E o que é mais forte do que o leão?”( Jz 14.18).

A maioria dos enigmas ou parábolas ensinam lições morais, princípios para a vida. Jesus em seu ministério terreno usou várias vezes parabolas para fazer entender a dinâmica do reino de Deus. “O reino de Deus é como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu jardim: cresceu, tornou-se um arbusto, e os pássaros do céu foram fazer ninhos nos seus ramos” (Lc 13.18-21).

1)     Enigma das águias

“Assim diz o Senhor Deus...” “Adonai-Yahweh”, o Soberano Eterno. Apresenta um enigma cheio de ameaças que o seu poder realizará. Deus é Adonai, soberano, Senhor e Yahweh “eu sou o que sou”, o Deus que está acima de tudo e todos. Apresenta um enigma cheio de ameaças que o seu poder realizará. Esse titulo “Adonai-Yahweh” se refere para falar do poder que o soberano usa para restaurar em um tempo futuro. 

“Eis que uma poderosa águia, com grandes asas e plumagem, comprida, cheia de penas de várias cores, voou em direção ao Líbano e chegando lá pousou na copa do mais exuberante dos cedros” (Ez 17.3 BKJ). “...era uma vez uma águia gigantesca, de asas enormes, bem abertas, toda coberta de lindas penas...” (NTLH). Está águia com suas asas enormes, cheia de plumas de cores variegadas é uma grande ave de rapina implacável. Ela ataca com descidas rápidas, contra as quais não há defesa. ELA REPRESENTA O GRANDIOSO REI DA BABILONIA, NABUCODONOSOR. Em Daniel 2 temos o sonho de Nabucodonosor como cabeça de ouro, um dos maiores impérios da antiguidade. 

Arrancou o broto mais alto e o levou para uma terra de muitos negócios, onde plantou numa cidade de comerciantes” (Ez 17.4). A águia está cheio de penas, porque incorporou muitos países ao seu império; tem muitas cores, porque era rica e poderosa, arrogante e gloriosa, a ave topo do mundo.

Como uma grande e faminta ave, devora muitas presas e leva os seus bens para o seu ninho (Babilônia). A águia raivosa agarra o ramo e arranca, levando-o embora. O ramo representa Joaquim, rei de Judá (filho do rei Josias). Está em vista a primeira deportação do povo de Judá para a Babilônia. O ramo é alto por que representa um rei, o homem no topo da hierarquia de uma nação. “...transportou Joaquim à Babilonia; como também a mãe do rei...” (2 Rs 24.15). 

E o que a grande águia fez em seguida? “Em seguida apanhou um pouco de sementes da sua terra e as depositou em solo fértil e as plantou como se planta salgueiros próximo a muitas águas” (Ez 17.5). Nabucodonosor levou para Babilônia o rei de Judá, Joaquim, e deixou uma semente nativa na terra, o rei Zedequias (seu tio, irmão do rei Josias) que tomou o lugar do seu irmão Joaquim. A semente foi plantada em um lugar fértil, onde poderia florescer, e também haveria abundância de água para garantir uma vida razoável. “E o rei da Babilônia estabeleceu a Matanias, seu tio, rei em seu lugar; e lhe mudou o nome para Zedequias” (2 Rs 24.17). 

A planta cresceu e se tornou uma parreira baixa, mas esparramada. Os galhos se viraram para o lado da águia, e as raízes cresceram bem fundas. A parreira tinha galhos e estava coberta de folhas” (Ez 17.6). A videira cresceu e mostrou potencial. Espalhou-se, cobrindo o chão, mas não se estendeu para o céu. Tornou-se uma videira de pouca altura. A planta cresceu e produziu muitas folhas saudáveis; floresceu a respeito dos limites impostos pela grande águia, Babilônia. “Tinha Zedequias vinte e um anos de idade quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém...” (2 Rs 24.18).

Mas “havia uma outra grande águia, com asas muito fortes e rica plumagem” (Ez 17.7 BKJ). Está segunda águia toda magnifica, com grandes asas e plumagem decorativa é uma representação do faraó Hofra, soberano do Egito. E o que o texto fala sobre o posicionamento da videira:  “A parreira virou as suas raízes e os seus galhos na direção da águia, esperando que ela lhe desse mais água do que havia no pomar onde estava plantada” (Ez 17.7).  Agora, Zedequias lançou toda sua esperança no rei do Egito. 


E os versículos 9 e 10 fala sobre o fim da videira: “Agora, eu, o SENHOR Deus, pergunto: “Será que essa parreira vai crescer? Será que a primeira águia não vai arrancá-la pelas raízes, apanhar as uvas e quebrar os ramos, deixando-os secar?  (NTLH).  Essas perguntas retóricas dizem que a videira não vai florescer, mas murchará e se tornará poeira “Será que não vai secar quando o vento leste a castigar?” (NTLH) O vento oriental ressecaria a planta, totalmente. Isto equivale à retirada das raízes do chão.

2)     Advertência pelo enigma

O que podemos falar de Zedequias, rei de Judá? O profeta Jeremias esteve perto dele por vários momentos. Era inseguro. Não conseguia liderar, sempre se deixava levar pelos bajuladores. Era cheio de ambiguidades em suas convicções, ora queria ouvir o profeta Jeremias ora se afastava das palavras do profeta. O homem era como uma massa de modelar. Ele se deixava influenciar por qualquer um que falasse mais alto com ele. 

Ambiguidade é indecisão, hesitação, é não ser quente nem frio mas morno, é alguém que vive coxeando entre dois pensamentos, imprecisão, hipocrisia. Em 1 Reis 18, vemos o profeta Elias confrontando o povo de Israel que estava se curvando diante de Baal. O povo vivia em indecisão, em ambiguidade, ora adorava a Deus ora adorava a baal. “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o. Porém, o povo nada lhe respondeu” (1 Rs 18.21).

Por exemplo, quando o profeta Jeremias falou que por causa da parceira com o Egito “o que ficar nesta cidade morrerá à espada, de fome e de pestilência; mas o que sair aos caldeus viverá...”. Os lideres procuraram o rei para fazer mal ao profeta e o rei permitiu que fosse jogado numa cisterna, cheia de lama (Jr 38.6). Até que o eunuco etíope Ebede-Meleque, pediu ao rei para tirar o profeta do poço, senão morreria. Assim, trinta homens, retiraram Jeremias com cordas do poço. 

Mais, depois disso, o rei Zedequias pediu para falar com o profeta Jeremias, querendo uma palavra de Deus pra sua vida. E Jeremias lhe adverte. Advertir é admoestar, arguir, acautelar, inteirar, notificar, orientar, prevenir, intimar. Portanto o profeta lhe diz:  “Se voluntariamente saíres aos príncipes do rei de Babilônia, então viverá a tua alma, e esta cidade não se queimará a fogo, e viveras tu e a tua casa” (Jr 38.17). 

No entanto, se não obedecer a voz do Senhor: “Mas, se não saíres aos príncipes do rei de Babilônia, então será entregue esta cidade na mão dos caldeus, que queimá-la-ão, e tu não escapará da mão deles” Jr 38.17). E o profeta Ezequiel acrescenta: “Estenderei uma rede de caçador e o pegarei nela. Eu o levarei à Babilônia e o castigarei ali, pois foi infiel a mim. Os seus melhores soldados serão mortos em batalha, e os que ficarem vivos serão espalhados em todas as direções” (Ez 17.20-21).

 Se obedecer, nada de mal iria acontecer com o rei e sua família e com Jerusalém, Deus pouparia todos os moradores de Jerusalém. Mas, se não obedecesse a voz do Senhor o mal viria sobre sua casa, sobre Jerusalém e sobre a população de Jerusalém. Nada restaria. Deus advertiu, Deus avisou, através do profeta.

Conclusão

No dia 18 de julho de 586 a.C., o rei Zedequias abriu uma brecha no muro da cidade de Jerusalém, não somente o rei “e todos os homens de guerra, fugiram, saindo de noite da cidade, pelo caminho do jardim do rei, pela porta entre os dois muros; e seguiram pelo caminho da campina” (Jr 39.4). Contudo, foram alcançados pelos exércitos babilônicos. E rei Zedequias foi levado diante de Nabucodonosor em Ribla, ali fora sentenciado.

Qual foi a sentença do rei? Matou em Ribla diante dos seus olhos os seus filhos e todos os nobres que fugiram com ele, foram mortos. “E cegou os olhos de Zedequias, e o atou com duas cadeias de bronze, para leva-lo a Babilonia” (Ez 17.7). E o que mais fizeram? “...incendiaram a casa do rei e as casas do povo, e derrubaram os muros de Jerusalém. E o restante do povo, que ficou na cidade, e os desertores .... levou cativo para a Babilonia” (Jr 39.8-9).  


  

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