Apocalipse – A trindade no Apocalipse Ap 1.1-8
Introdução
Para muitos o livro de apocalipse é um texto confuso, cheio de nuances incompreensíveis. Contudo, o livro de apocalipse é como uma pintura impressionista. Semelhante a pintura “O grito” de Edvar Munch, muito de perto o entendimento da pintura é complexo. Tudo que vê são pinceladas de várias cores de tinta e muito e cenas sobrepostas. Contudo, fique um pouco longe da pintura, e o quadro vai se tornando mensurável, interpretativo.
E o que emerge da pintura não é apenas uma cena, mas o estado
de espirito que ela evoca. É assim que devemos abordar o livro de apocalipse.
Se nos aproximarmos demasiadamente dele, observando apenas para os detalhes,
tudo parece um pouco desconcertante, difícil de entender. Mas de um passo para trás,
olhe para o panorama geral e o livro de apocalipse vai se tornando mais
claro...límpido.
Também, o livro de apocalipse baseia-se em um estilo de
literatura chamado “apocalíptico”, utilizado em textos escritos entre 400 a.c e
200 d.C. A característica fundamental do texto apocalíptico é a intenção de
oferecer uma perspectiva divina sobre a história. João está nos mostrando o
mundo – o mundo real em que vivemos -, no entanto olhando para ele da
perspectiva do céu.
1)
Saudação
Os tempos eram difíceis, o mundo era governado pelo imperador
Domiciano que perseguia vorazmente a igreja primitiva. Quem mandava e
desmandava era o Império Romano. Parecia
que a igreja seria consumida pelo império romano! João está na ilha de Patmos, perseguido,
preso, sozinho. Será que a igreja teria futuro? E lá na ilha, na prisão, é lhe
dado as revelações de tudo que irá acontecer.
Ele inicia com uma saudação “graça e paz” vindo das três pessoas
da trindade. “Daquele que é, que era e que
há de vir” (v.4) – que é Deus Pai. Depois “dos sete Espíritos” (v.4), Deus Espirito Santo. E por fim, “De Jesus Cristo” (v.5), Deus Filho. O
Pai, o Filho e o Espirito Santo – a santíssima Trindade – são a fonte de conforto
para os cristãos primitivos.
Deus o todo Poderoso, nossa primeira fonte de consolo. “Daquele que é, que era e que há de vir” (v.4). “Eu sou o Alfa e o Omega, diz o Senhor Deus, o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-Poderoso” (v.8). Portanto, a primeira benção para os cristãos perseguidos, é que eles têm um Pai Eterno que é Todo-Poderoso.
Arqueólogos encontraram uma inscrição em Éfeso, uma das
igrejas para a qual João escreveu, que diz: “Roma o teu poder nunca vai acabar”.
Para os discípulos, o poder romano era uma ameaça presente bastante sério. Parecia
que o poder romano duraria para sempre. Contudo, o poder romano foi destronado
pelos bárbaros em 476 d.C.
João enfatiza que a eternidade somente pertence a Deus, não a
Roma! Deus é aquele “que é, que era e
que há de vir” (vs 4, 8). O apostolo não começa no passado com alguém “que
era”, mas no presente eterno como alguém “que é”. Trata-se de um eco da
revelação de Deus a Moisés na sarça em chamas, quando ele diz: “Eu sou o eu sou”
ou “Eu serei o que serei” (Ex 3.14,15). Deus já existia antes de Roma e Deus
continuará existindo depois de Roma.
Deus é Todo-Poderoso. A inscrição em Éfeso afirmava “Roma o
teu poder nunca vai acabar”. Não diz “a tua gloria”, ou “a tua cultura”. Fala
sobre “o teu poder”. Roma pensava que era um império Todo-Poderoso. Mas em apocalipse
1.8, o Senhor diz: “Eu sou...o Todo-Poderoso”.
Segundo “que há de vir”.
Seria de esperar que ele dissesse que ele é “o que é, o que era e o que será”.
Isso seria o presente, o passado e o futuro do verbo “ser”. Mas Deus muda o verbo
quando fala do futuro. Ele é. Ele era. E ele está por vir. Deus vai intervir na
história. Ele voltará, cumprirá a sua promessa.
“Onde está essa sua vinda
que ele prometeu?”
(2 Pe 3.3-4). Ou, “não vemos nenhum sinal de julgamento divino, por isso deve
se tratar de um mito”. No entanto, Pedro diz que as pessoas “se esquecem deliberadamente”
que Deus interveio para destruir o mundo no tempo de Noé (Vs. 5,6). Há aqui um
precedente, Deus interveio para julgar o mundo, ele intervirá novamente para fazer
o julgamento do mundo.
“Olhe, ele está vindo com as nuvens” e “todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram”, e todos os povos da terra “se lamentarão por causa dele”. Assim será! Amém (Ap 1.7).
Espirito Santo, nossa segunda fonte de consolo. A graça e a paz vêm do Espirito que está sempre presente “Graça e paz para vocês...da parte dos sete espíritos diante do seu trono” (v.4). Precisamos nos conectar ao mundo do apostolo João. Ele usa constantemente símbolos, números e imagens para transmitir sua mensagem. E um dos símbolos favoritos é o numero sete. Os sete estão entrelaçados ao longo do livro. O numero sete é um símbolo de completude ou perfeição.
Assim, os sete espíritos ou o Espírito Sétuplo é a maneira de
João dizer que o Espirito é completo ou perfeito. O Espirito de Deus está
sempre presente e observa tudo. Ele está em toda parte e tudo é patente aos
seus olhos. O Espirito nos conecta ao Pai (Ap 1.4) e ao Filho (Ap 5.6). O próprio
Pai e também Jesus estão presente conosco por meio do Espirito. Pelo Espirito
somos filhos de Deus e nos relacionamos como “Aba Pai”.
“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus... Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.14-16,26).
Jesus Cristo é a nossa
terceira fonte de consolo. O versículo 5 fala de “Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito
dentre os mortos e o governante dos reis da terra”. Ao longo do livro de
apocalipse, João usa repetidamente a palavra “testemunho” ou “testemunha” e é
uma das maneiras favoritas de João falar sobre os cristãos. O que é ser
cristão? São aqueles que servem como testemunhas de Jesus, mesmo que isso significa
a morte deles.
“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por
causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram
a própria vida Apocalipse” (Ap 12:11).
Todavia, aqui no versículo 5, somos apresentados a Jesus, a ultima “testemunha fiel”. Ele é nosso modelo e padrão. Devemos ser fieis como ele foi; devemos ser testemunhas como ele foi uma testemunha. Em Atos 11, pela primeira vez os discípulos foram chamados de “cristãos”.
O testemunho de Jesus o levou ao sofrimento, ao Gólgota e, a
morte e morte de cruz. No entanto, a morte não era o fim. Pois ele ressuscitou
e se tornou “o primogênito dentre os mortos” (Ap 1.5). Ele ressuscitou, ele venceu
a morte e recebeu um corpo perfeito. Para onde ele for seu povo o segue.
Segui-lo poderá nos conduzir ao sofrimento, no entanto também nos conduzirá
muito além, para a gloria”
“Amados, não estranheis
o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma
coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na
medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também,
na revelação de sua glória, vos alegreis exultando” (1 Pedro 4:12-13).
Conclusão
Nos dias dos apóstolos o império romano estabeleceu o culto
ao imperador. Augusto foi deificado pelo senado romano e chamado de “filho de
Deus”. Os imperadores começaram a ser conhecidos como “o salvador do mundo”, “o
senhor”, “o benfeitor”. Caligula, o pior imperador romano, se autodeificou e
proclamou a “boa nova”.
No entanto, no versículo 5, ele é chamado de “soberano dos
reis da terra”. Para o cidadão romano, o governante era Domiciano, para os
cristãos, para as testemunhas, o governante era Jesus Cristo. O Apostolo Paulo
em sua carta a igreja de Filipenses afirma a superioridade de Jesus em relação
aos governantes desse mundo.
“Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fl 2:9-11).
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