terça-feira, 29 de março de 2022

 A couraça da justiça – Ef 6.10-14

Introdução

Temos uma ordem: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo”. Duas coisas: se fortalecer no Senhor e na força do seu poder e se revestir da armadura de Deus. Para quê? Poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo.

A primeira armadura é o “cingir os lombos com a verdade”, ou o “cinto da verdade”. É uma figura da nossa aceitação e o entendimento de toda salvação de Deus para nós. No entanto, o “cinto”, a “couraça”, o “capacete”, a “espada”, o “escudo”, as “sandálias”, são figuras, imagens para representar aspectos espirituais da vida cristã. Por exemplo, quando Paulo fala dos “lombos da verdade ou cinto da verdade” remetem para a vida cristã. Como diz o apostolo Pedro: “Assim sendo, estai com a mente preparada, prontos para agir...”(1 Pe 1.13). 

Em 1 Tessalonicenses 5.8 o apostolo diz: “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor”. Aqui se trata da “couraça da justiça”. Portanto, a preocupação do apostolo é no sentido de que compreendamos a importâncias destes diferentes aspectos da nossa guerra espiritual, e que compreendamos que Deus tem uma provisão especial para cada parte em particular.

1)     a importância da couraça

A couraça que Paulo tem em mente é aquela que nos tempos antigos era utilizada pelo soldado romano. Pode ser que ele estivesse acorrentado a soldados à direita e à esquerda quando estava ditando a sua epistola. Essa “couraça” geralmente ia da base do pescoço à parte superior das coxas, cobrindo o que agora costumamos denominar tórax e abdome.

Primeiramente e acima de tudo, ali há o coração. Depois os pulmões. Tanto um como os outros são vitais para a existência, para não mencionar a própria vida. Nessa região estão o tórax e o abdômen. No tórax temos: os dois pulmões e o coração, esôfago, 12 pares costelas, os músculos e os grandes vasos saindo e entrando no coração. Agora, o abdome: fígado, estomago, fígado, os rins, vesícula biliar e intestino delgado e grosso. 

Os escritores bíblicos com muita frequência se referem aos diversos órgãos da cavidade abdominal. O salmista diz: “Examina-me o Eterno, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração” (Sl 26.2). O profeta Jeremias exclama: “Ah! Meu coração! Meu coração! Eu contorço em dores. Oh! As paredes do meu coração! Meu coração se agita...”(Jr 4.19). Habacuque sente toda tensão dentro de si: “Ouvi-o, e o meu intimo se comoveu...”(Hc 3.16). O apostolo Paulo em Filipenses diz: “Se, portanto, há alguma consolação em Cristo, se há conforto de amor, se há alguma comunhão do Espírito, se algumas entranhas e misericórdias” (Fl 2.1).

Os antigos acreditavam que estes diversos órgãos eram a sede dos “afetos” e eles atribuíam significação praticamente a todos eles. Eles tinham consciência quando tinham vários sentimentos e sensações, de que havia algum tipo de referência local, e assim deduziam que a causa de uma perturbação particular estava num órgão local particular.

Portanto, o apostolo Paulo aqui, quando nos diz que coloquemos a couraça da justiça, está preocupado em que, neste conflito, neste combate no qual estamos engajados contra o mundo, a carne e o diabo, não deve haver parte com o qual sejamos mais cautelosos quanto a proteção do que os afetos e sentimentos. E não somente os sentimentos e os afetos, mas também a consciência, os desejos e a vontade. 

2)     A couraça da justiça

No terceiro capitulo de Filipenses o apostolo Paulo expõe o assunto com muita clareza. Começa fazendo referência à sua própria justiça natural, e diz: “Se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu”. Ele tem uma base boa e firme: “Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus...segundo a justiça que há na lei, irrepreensível”. Ele era um paradigma de todas as virtudes! Ele podia levantar-se e desafiar todos os candidatos ...

Ouçam, porém: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por causa de Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas as coisas; e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé”.  

Portanto, a “couraça da justiça” refere-se à “justiça que vem de Deus”. É oriunda de Deus, feita e preparada por Deus, dada a nós. É isso que quero dizer, diz o apostolo. É nisso que estou interessado; tudo mais é “escória” e perda, é inútil, não é digno de menção. Eu pensava que a minha justiça pessoal era maravilhosa, diz ele, mas os meus olhos foram abertos e passei a ver que ela não vale absolutamente nada. Quando Paulo vestia a couraça da sua própria integridade e justiça, estava totalmente derrotado. Agora, diz ele, quero “a justiça que vem de Deus pela fé”.

3)     A justiça que vem de Deus pela fé

“A justiça que vem de Deus” é entendida erradamente em nossos dias. Martinho Lutero, afirmou: “Se a justificação pela fé, está de pé, a igreja está de pé. Senão, a igreja está caída”. Está é a justiça da qual temos nos revestir, diz o apostolo Paulo. Por melhor que seja a sua vida, seja o que for que você é, seja o que for que tenha feito, quando comparecer à presença de Deus verá que você é um pecador sem esperança, completamente condenado. Nada que você faça, por si mesmo, seria em vão...

Por quê não? Porque “Deus sonda o coração” e porque o padrão de Deus é absoluto. Deus não exige apenas um pouco de bondade. A exigência de Deus vem exposta nestas palavras: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37-39). ESSE É O PADRÃO DE DEUS...

Foi por isso que Deus enviou o seu Filho Unigênito a este mundo, para que ele pudesse dar-nos a sua justiça. Ele veio, o filho de Deus, sem mácula, sem pecado e prestou perfeita obediência à lei de Deus, obedeceu-lhe em cada jota e til da lei. Viveu uma vida perfeitamente justa. Ele se fez responsável pelos nossos pecados, levou-os sobre o seu próprio corpo e foi crucificado por causa deles. “O Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (Is 53). 

Em 2 Corintios 5.21, lemos: “Aquele que não conheceu o pecado (Deus) o fez pecado por nós”. Noutras palavras, Deus tomou os nossos pecados e os “imputou” a seu Filho, colocou-os sobre ele, colocou-os na conta dEle. Agora, quando compareço à presença de Deus, Deus não me vê, Ele vê a justiça de Cristo me cobrindo, vestindo-me completamente.

 Como disse o Apostolo Paulo: “...tenho por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas essas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a quem vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (Fp 3.8-9).

Conclusão: E, agora?

Deus não para por aí. Ele começa a operar em mim a justiça de seu Filho. Ele “infunde” em minha alma. Isso acontece como resultado do Novo Nascimento, da nova vida. A justiça não é somente colocada em mim como um casaco, uma coberta, mas também é infundida em mim. É comparável a uma transfusão na qual o sangue de uma pessoa é posto em circulação no sangue da outra. Os verbos podem ser “transfudir” ou”infundir”, “injetar”, “transferir”.

Portanto, doravante, justificados e com uma nova natureza, o diabo nos ataca na esfera do desejo, da vontade e na esfera do sentimento. E o único modo de enfrenta-lo nestes pontos é: “vestir-se a couraça da justiça”. Esta justiça nos protegerá dos ataques, dos ardis, das setas, do adversário. Por que sabemos que “maior é aquele que está em nós, do que aquele que está no mundo”. 


 

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