Ana, uma mulher angustiada. 1 Sm 1
Introdução: “Cada um fazia o que lhe parecia certo aos seus próprios
olhos”. Os livros de 1 Samuel e 2 Samuel eram originariamente um só livro, o
livro de Samuel. Na Bíblia hebraica, ele vem imediatamente após juízes 21.25: “Naquela
época não havia rei em Israel; cada um faz o que lhe parecia certo”, ou, “Naqueles
dias, Israel não tinha rei, cada um fazia o que parecia certo a seus próprios olhos”
(NVT). Esse poderia ser o lema de nossa época: cada um fazia o que lhe parece
certo.
1)
A
situação de Ana
O livro de Samuel inicia assim: “Havia um homem de Remataim-Zafim, na região montanhosa de Efraim, chamado Elcana...”(1 Sm 1.1). O versículo 2 sugere que Ana era a primeira esposa de Elcana; o versículo 5 diz que ele era o seu primeiro amor “...dava uma porção em dobro a Ana, pois a amava...”. O nome “ANA” significa “favorecida”. Mas ela é estéril, e, assim, Elcana toma uma segunda esposa, Penina, cujo significado do nome é “fértil” e, portanto, Penina tem filhos. O versículo 2 acentua essa diferença: “...Penina tinha filhos, Ana, porém, não tinha”
O fato de uma mulher ser estéril nesses dias era extremamente
doloroso, por dois motivos. Primeiro, a promessa de um Salvador a Adão (Gn
3.15) e de descendência de Abraão (Gn 22.17-18) significava que as pessoas
estavam procurando um salvador que viesse de dentro de Israel. Sempre que
nascia uma criança, surgia a pergunta: “Será que é este?”. Sem filhos, não
havia futuro para o povo de Deus e fundamentalmente nenhuma esperança para o
mundo. Igualmente, a esterilidade, trazia um sentimento de exclusão, de
marginalização na sociedade. Ser mulher, em essência era ser mãe.
2)
Em
Siló
“Todos os anos, Elcana subia de sua cidade até Siló para
adorar o Senhor dos Exércitos e oferecer sacrifícios a ele. Nesse tempo, os
sacerdotes do Senhor eram Hofini e Finéias, os dois filhos de Eli”(v.3).
Para Penina, ir em Siló virou um pretexto para zombar de Ana.
O texto diz que sua rival a provocava e zombava dela. “QUE MOTIVO VOCE TEM PARA
ADORAR A DEUS?” “Ana” significa “favorecida”, então, Como foi que Deus a
favoreceu? Fechando o seu ventre!”
Para Elcana, o culto em Siló, é um motivo para se compadecer
de Ana. Ele diz: “Ana porque você está chorando? Por que não come? Porque está
infeliz? Será que eu não sou melhor para você do que dez filhos? Talvez Elcana
queria que Ana evidenciasse mais interesse por ele do que pela esterilidade.
Já para Ana, diante da angustia vai orar. Se meu ventre está
fechado, se não consigo dar luz à um filho, a melhor ação é oração. Talvez,
durante muitos anos, ficou angustiada e solitária em seu canto, no momento do
culto. Mas, agora, ela se levanta e vai falar com Deus.
3)
A
oração de Ana
Em sua oração, Ana está em angústia profunda “sua alma profundamente sofrida” (v.10); havia um choro incontido: “chorou muito e orou ao Senhor”, “chorava sem parar” (NVT); estava infeliz: “se quiseres dar atenção à humilhação da tua serva”(v.15); imensa perturbação: “sou uma mulher atribulada de espírito; grande angustia e tristeza (v.16): “estou muito infeliz e desesperada”
Se você está experimentando angustia ou amargura, está em
boas condições para orar adequadamente. A oração, portanto, não é uma técnica
que precisamos dominar, mas é derramar a alma diante do Senhor.
O sacerdote Eli vê Ana orando. Os lábios dela estão se
movendo, mas não é possível ouvi-la (vs. 12-13). “...Ana estava orando
silenciosamente, seus lábios se mexiam, mas não se ouvia o som de sua voz”. “Até
quando vai se embriagar?”, disse ele. “Largue esse vinho!” (v.14). Ana
respondeu: “Meu Senhor, não bebi vinho, nem outro coisa mais forte. Eu estava
derramando meu coração diante do Senhor, pois sou uma mulher profundamente
angustiada. Não pense que sou uma mulher sem caráter! Estava apenas orando por
causa de minha grande angustia e aflição” (vs, 15 e 16).
Eli reconhece isso, pois diz: “..Vá em paz, e que o Deus de
Israel lhe conceda o que você pediu” (v.17). Ana responde: “...possa tua serva
achar favor aos teus olhos” (v.18). Lembre-se, o nome “Ana” significa “favorecida”;
ela está fazendo um trocadilho com seu nome, dizendo de fato: “que a favorecida
seja favorecida”.
Então, Ana se alimenta, sinal de que não está mais
angustiada. Diz o texto que “seu rosto não está mais abatido” (v.18). Ana ainda
não sabe como Deus responderá à sua oração. Mas a questão é que ela orou e
agora está contente em deixar isso com ele. “Não andem ansiosos por coisa
alguma, mas em tudo, pela oração e suplicas, e com ação de graças, apresentem
seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará
o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Fl 4.6-7).
4)
A
resposta de Deus
A favorecida é favorecida. Ana fica grávida e dá à luz um
menino (vs. 19-20). Ela não somente dá o nome a seu filho, mas explica por quê:
“Eu pedi ao Senhor” (v.20). O nome “Samuel” na verdade significa “SEU NOME É
DEUS”. Samuel é o filho que foi pedido dAquele que é Deus.
Em hebraico, a palavra “dar”, “dedicar” ou “conceder” tem a
mesma raiz que a palavra pedir. Literalmente, o que Ana diz é: “O Senhor
concedeu-me o pedido que lhe pedi. Por isso, agora, dedico ao Senhor a resposta
ao meu pedido. Por toda a sua vida, ele será dedicado como uma resposta ao meu
pedido ao Senhor”
Ana pede e o Senhor atende “Peçam, e lhes será dado” (Lc
11.9). Mas quantas vezes nós não pedimos. Achamos que podemos depender de nós
mesmos ou achamos que não podemos depender de Deus “...não tem, porque não
podem...(Tg 4.2).
Conclusão: O cântico de Ana
Assim como Ana somos estéreis e inférteis. Mas o movimento na história de Ana é de uma mulher estéril para uma mulher fértil. Vemos Deus gerando vida onde não há vida “...a mulher que não tinha filhos agora tem sete, e a que tinha muitos desfalece” (v.5)
Como Ana, estamos cercados de inimigos de todos os lados. Os
inimigos de Israel eram os filisteus, e dela tinha também a Penina “...sua
rival lhe provocava”. Como nós, igreja de Jesus, temos inimigos. Mas o
movimento na história de Ana é de uma mulher infeliz, amargurada, para uma
mulher que pode dizer: “Minha boca se exalta sobre os meus inimigos” (1 Sm 2.1)
“Minha alma engrandece no Senhor, o Senhor me fortaleceu”
O Senhor é mencionado nove vezes no cântico. Ele é o agente
nesse cântico. Ele é soberano: “Não há ninguém santo como o Senhor; não há
outro além de ti, não há rocha alguma como o nosso Deus”. Portanto, no cântico de
Ana, é a opinião de Deus que importa, e não a nossa ou daqueles em volta de nós
(1 Sm 2.3).
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