terça-feira, 23 de março de 2021

 Ana, uma mulher angustiada. 1 Sm 1


Introdução: “Cada um fazia o que lhe parecia certo aos seus próprios olhos”. Os livros de 1 Samuel e 2 Samuel eram originariamente um só livro, o livro de Samuel. Na Bíblia hebraica, ele vem imediatamente após juízes 21.25: “Naquela época não havia rei em Israel; cada um faz o que lhe parecia certo”, ou, “Naqueles dias, Israel não tinha rei, cada um fazia o que parecia certo a seus próprios olhos” (NVT). Esse poderia ser o lema de nossa época: cada um fazia o que lhe parece certo.

1)    A situação de Ana

O livro de Samuel inicia assim: “Havia um homem de Remataim-Zafim, na região montanhosa de Efraim, chamado Elcana...”(1 Sm 1.1). O versículo 2 sugere que Ana era a primeira esposa de Elcana; o versículo 5 diz que ele era o seu primeiro amor “...dava uma porção em dobro a Ana, pois a amava...”. O nome “ANA” significa “favorecida”. Mas ela é estéril, e, assim, Elcana toma uma segunda esposa, Penina, cujo significado do nome é “fértil” e, portanto, Penina tem filhos. O versículo 2 acentua essa diferença: “...Penina tinha filhos, Ana, porém, não tinha” 


O fato de uma mulher ser estéril nesses dias era extremamente doloroso, por dois motivos. Primeiro, a promessa de um Salvador a Adão (Gn 3.15) e de descendência de Abraão (Gn 22.17-18) significava que as pessoas estavam procurando um salvador que viesse de dentro de Israel. Sempre que nascia uma criança, surgia a pergunta: “Será que é este?”. Sem filhos, não havia futuro para o povo de Deus e fundamentalmente nenhuma esperança para o mundo. Igualmente, a esterilidade, trazia um sentimento de exclusão, de marginalização na sociedade. Ser mulher, em essência era ser mãe.

2)    Em Siló

“Todos os anos, Elcana subia de sua cidade até Siló para adorar o Senhor dos Exércitos e oferecer sacrifícios a ele. Nesse tempo, os sacerdotes do Senhor eram Hofini e Finéias, os dois filhos de Eli”(v.3).

 E, ano, após ano, Ana é lembrada mais uma vez de que é estéril enquanto Penina é fértil. E Penina aproveita a oportunidade todo ano, para provocar Ana (v.6). E isso “acontecia ano após ano”; vez após vez, Ana sofria: “...chorava e não comia” (v.7). IMAGINEM, AGORA, A SITUAÇÃO DE CADA UM NA ADORAÇÃO QUE ERA REALIZADA EM SILÓ, DIANTE DE ELI E SEUS FILHOS. 



Para Penina, ir em Siló virou um pretexto para zombar de Ana. O texto diz que sua rival a provocava e zombava dela. “QUE MOTIVO VOCE TEM PARA ADORAR A DEUS?” “Ana” significa “favorecida”, então, Como foi que Deus a favoreceu? Fechando o seu ventre!”

Para Elcana, o culto em Siló, é um motivo para se compadecer de Ana. Ele diz: “Ana porque você está chorando? Por que não come? Porque está infeliz? Será que eu não sou melhor para você do que dez filhos? Talvez Elcana queria que Ana evidenciasse mais interesse por ele do que pela esterilidade.

Já para Ana, diante da angustia vai orar. Se meu ventre está fechado, se não consigo dar luz à um filho, a melhor ação é oração. Talvez, durante muitos anos, ficou angustiada e solitária em seu canto, no momento do culto. Mas, agora, ela se levanta e vai falar com Deus.

3)    A oração de Ana

Em sua oração, Ana está em angústia profunda “sua alma profundamente sofrida” (v.10); havia um choro incontido: “chorou muito e orou ao Senhor”, “chorava sem parar” (NVT); estava infeliz: “se quiseres dar atenção à humilhação da tua serva”(v.15); imensa perturbação: “sou uma mulher atribulada de espírito; grande angustia e tristeza (v.16): “estou muito infeliz e desesperada” 



Se você está experimentando angustia ou amargura, está em boas condições para orar adequadamente. A oração, portanto, não é uma técnica que precisamos dominar, mas é derramar a alma diante do Senhor.

 Veja a oração do Salmista: “Em alta voz clamo ao Senhor; elevo a minha voz ao Senhor, suplicando misericórdia. Derramo diante dele o meu lamento; a ele apresento a minha angustia ... Clamo a ti, Senhor, e digo: Tu és o meu refúgio; és tudo o que tenho na terra dos viventes” (Sl 142.1,2,5)

O sacerdote Eli vê Ana orando. Os lábios dela estão se movendo, mas não é possível ouvi-la (vs. 12-13). “...Ana estava orando silenciosamente, seus lábios se mexiam, mas não se ouvia o som de sua voz”. “Até quando vai se embriagar?”, disse ele. “Largue esse vinho!” (v.14). Ana respondeu: “Meu Senhor, não bebi vinho, nem outro coisa mais forte. Eu estava derramando meu coração diante do Senhor, pois sou uma mulher profundamente angustiada. Não pense que sou uma mulher sem caráter! Estava apenas orando por causa de minha grande angustia e aflição” (vs, 15 e 16).

Eli reconhece isso, pois diz: “..Vá em paz, e que o Deus de Israel lhe conceda o que você pediu” (v.17). Ana responde: “...possa tua serva achar favor aos teus olhos” (v.18). Lembre-se, o nome “Ana” significa “favorecida”; ela está fazendo um trocadilho com seu nome, dizendo de fato: “que a favorecida seja favorecida”.

Então, Ana se alimenta, sinal de que não está mais angustiada. Diz o texto que “seu rosto não está mais abatido” (v.18). Ana ainda não sabe como Deus responderá à sua oração. Mas a questão é que ela orou e agora está contente em deixar isso com ele. “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e suplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Fl 4.6-7).

4)    A resposta de Deus

A favorecida é favorecida. Ana fica grávida e dá à luz um menino (vs. 19-20). Ela não somente dá o nome a seu filho, mas explica por quê: “Eu pedi ao Senhor” (v.20). O nome “Samuel” na verdade significa “SEU NOME É DEUS”. Samuel é o filho que foi pedido dAquele que é Deus.

 Na verdade, no versículo 17, diz literalmente “o pedido que você pediu”. De fato, ele diz: “Que Deus te dê o Samuel que você Samuelou”. Quando cumpre seu voto e apresenta Samuel para o serviço no tabernáculo, Ana diz: “Era este menino  que eu pedia, e o Senhor concedeu-me o pedido. Por isso, agora eu o dedico ao Senhor. Por toda a sua vida será dedicado ao Senhor” (vs. 27-28).



Em hebraico, a palavra “dar”, “dedicar” ou “conceder” tem a mesma raiz que a palavra pedir. Literalmente, o que Ana diz é: “O Senhor concedeu-me o pedido que lhe pedi. Por isso, agora, dedico ao Senhor a resposta ao meu pedido. Por toda a sua vida, ele será dedicado como uma resposta ao meu pedido ao Senhor”

Ana pede e o Senhor atende “Peçam, e lhes será dado” (Lc 11.9). Mas quantas vezes nós não pedimos. Achamos que podemos depender de nós mesmos ou achamos que não podemos depender de Deus “...não tem, porque não podem...(Tg 4.2).

Conclusão: O cântico de Ana

Assim como Ana somos estéreis e inférteis. Mas o movimento na história de Ana é de uma mulher estéril para uma mulher fértil. Vemos Deus gerando vida onde não há vida “...a mulher que não tinha filhos agora tem sete, e a que tinha muitos desfalece” (v.5) 



Como Ana, estamos cercados de inimigos de todos os lados. Os inimigos de Israel eram os filisteus, e dela tinha também a Penina “...sua rival lhe provocava”. Como nós, igreja de Jesus, temos inimigos. Mas o movimento na história de Ana é de uma mulher infeliz, amargurada, para uma mulher que pode dizer: “Minha boca se exalta sobre os meus inimigos” (1 Sm 2.1) “Minha alma engrandece no Senhor, o Senhor me fortaleceu”

O Senhor é mencionado nove vezes no cântico. Ele é o agente nesse cântico. Ele é soberano: “Não há ninguém santo como o Senhor; não há outro além de ti, não há rocha alguma como o nosso Deus”. Portanto, no cântico de Ana, é a opinião de Deus que importa, e não a nossa ou daqueles em volta de nós (1 Sm 2.3).

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