terça-feira, 8 de setembro de 2020

 Os últimos apóstolos – Lc 6-14-16

Introdução

Chegamos aos últimos apóstolos de Cristo. Cada divisão é de quatro apóstolos, aos mais íntimos de Cristo, passando por aqueles citados esporadicamente e, aos últimos quatro, quase sem nenhuma citação nos evangelhos. No evangelho de Lucas, capitulo 6,  a lista aparece da seguinte forma: “Escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor.

1)    Tiago, filho de Alfeu

O nome que ocupa o nono lugar na lista de apóstolos apresentada por Lucas (Lc 6.14-16) é “Tiago, filho de Alfeu” (v.15). A única coisa que as escrituras nos dizem sobre esse homem é o seu nome. Não era o tipo de pessoa que chamava a atenção. Era absolutamente obscuro.

Há vários nomes de Tiago no Novo Testamento. Já falamos sobre Tiago, filho de Zebedeu. Havia outro Tiago que era filho de Maria e José e, portanto, meio irmão de Cristo (Gl 1.19). “E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor”. O Tiago, meio-irmão de Cristo tornou-se líder da igreja em Jerusalém. Ele foi o porta voz que transmitiu a decisão do Concilio de Jerusalém em Atos 15.13-21. Acredita-se que ele foi autor da epistola de Tiago. Portanto, não se trata do mesmo Tiago citado no terceiro grupo de quatro apóstolos. 


Praticamente tudo o que sabemos sobre Tiago em questão aqui é que ele era filho de Alfeu (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Marcos 15.40 nos informa que a Mãe de Tiago chamava-se Maria. Fica evidente que sua mãe, Maria, também era uma seguidora devota de Cristo. Ela presenciou a crucificação. Além disso, era uma das mulheres que foram preparar o corpo de Jesus para o sepultamento (Mc 16.1).

Em Marcos 15.40 ele é chamado de “Tiago, o menor”, ou “Tiago, o mais jovem” (NVT). A palavra grega que foi traduzida como “menor” é mikros. Significa, literalmente, “pequeno”. Seu principal significado é “de pequena estatura”, de modo que poderia tratar-se de uma referencia às suas características físicas. Talvez ele fosse um homem baixo ou franzino.

É possível que ele fosse mais jovem que Tiago, filho de Zebedeu; cuja família era abastada e era conhecida do sumo sacerdote e fazia parte do circulo mais intimo de Jesus. Portanto, Tiago, filho de Alfeu, era chamado de “Tiago, o menor”. Mikros, Tiaguinho.

 Então, “Tiaguinho” era uma pessoa franzina, jovem e quieta que, na maior parte do tempo, ficava nos bastidores. Podemos dizer que sua marca era a obscuridade. Ele nos faz lembrar das pessoas de hebreus 11.33-38:

“Pela fé, eles conquistaram reinos, governaram com justiça e receberam promessas. Fecharam a boca de leões, apagaram chamas de fogo e escaparam de morrer pela espada. Sua fraqueza foi transformada em força. Tornaram-se poderosos na batalha e fizeram fugir exércitos inteiros. Mulheres receberam de volta seus queridos que haviam morrido. Outros, porém, foram torturados, recusando-se a ser libertos, e depositaram sua esperança na ressurreição para uma vida melhor. Alguns foram alvo de zombaria e açoites, e outros, acorrentados em prisões. Alguns morreram apedrejados, outros foram serrados ao meio, e outros ainda, mortos à espada. Alguns andavam vestidos com peles de ovelhas e cabras, necessitados, afligidos e maltratados. Este mundo não era digno deles. Vagaram por desertos e montes, escondendo-se em cavernas e buracos na terra. Hebreus 11:33-38

Há indícios de que Tiago, o menor, levou o evangelho à Síria e a Pérsia. Quanto a sua morte, alguns dizem que ele foi apedrejado; outros, que ele foi espancado até a morte; ainda outros dizem que ele foi crucificado como seu Senhor.

2)    Simão, o zelote.

O próximo nome apresentado em Lc 6.15 é “Simão, chamado Zelote”. Em algum momento Simão foi membro de um partido politico de homens conhecidos como zelotes. No tempo de Cristo existiam quatro partidos.  Os fariseus: Eram seguidores inflexíveis da lei. Os saduceus: eram liberais religiosos e detinham o poder do sacerdócio. Os essênios: eram pessoas que viviam no deserto e dedicavam sua vida ao estudo da lei. E, o ultimo grupo, os zelotes, que eram mais voltados para a politica. Ele odiavam os romanos e seu objetivo era livrar-se da ocupação romana. Usavam táticas de guerrilhas através do terrorismo e muita violência.

 Acreditavam que somente o próprio Deus tinha o direito de governar sobre os judeus. Assim, tinham como certo que estavam realizando  a obra de Deus ao assassinar soldados romanos, lideres políticos e qualquer que se opusesse a eles. Os zelotes estavam esperando o Messias que iria libertá-los na expulsão da ocupação romana e restaurar o reino de Israel em sua glória salomônica.

No sexto ano depois de Cristo, um grupo de zelotes rebelou-se contra o imposto censitário romano. O líder e fundador dos zelotes, era Judas, o Galileu, cujo nome é citado em Atos 5.37. Judas, aproveitou a oportunidade, organizou suas forças e iniciou uma revolta de assassinatos, saques e destruição. No entanto, não tardou para que os romanos suplantassem a rebelião, matassem Judas, o galileu, e crucificassem seus filhos. 


 Simão era um deles. É interessante que quando Mateus e Marcos apresentam a relação dos doze, colocam Simão logo antes de Judas Iscariotes. Na ocasião em que Jesus enviou os discípulos dois a dois em Marcos 6.7, é possível que Simão e Judas tivessem formado uma das duplas. No entanto, em algum ponto, ao longo do caminho, Simão tornou-se um verdadeiro crente e foi transformado.

Porque Simão teve que se relacionar com Mateus, o qual encontrava-se ao lado do governo romano, coletando impostos abusivamente. Em certo momento de sua vida, Simão provavelmente teria matado Mateus. No fim, tornou-se irmãos espirituais, trabalhando lado a lado pela mesma causa – a expansão do evangelho – adorando o mesmo Senhor.

Depois da destruição de Jerusalém em 70 d.C., Simão levou o evangelho para o Norte e pregou nas ilhas britânicas. No final, ele foi morto por pregar o evangelho.

 3)    Judas, filho de Tiago

O ultimo nome da lista de discípulos fiéis é “Judas, filho de Tiago”. O nome Judas, em si, significa “Jeová Conduz”. No entanto, por causa da traição de Judas Iscariotes, o nome Judas sempre terá uma conotação negativa.

Judas, filho de Tiago, na verdade tinha três nomes. Em Mateus 10.3 ele é chamado de Tadeu. Lebeu e Tadeu eram, em essência, apelidos. Tadeu significa “criança de peito”, evocando a idéia de um bebê sendo amamentado. Chega a ter quase um tom pejorativo, como “queridinho da mamãe”. Talvez ele fosse mais jovem de sua família e assim, o caçula dentre vários irmãos, recebendo carinho especial de sua mãe. Seu outro nome, Lebeu, é parecido. Vem de um radical hebraico que se refere ao coração – literalmente, “criança do coração”. 


Portanto, os dois nomes sugerem um coração terno e semelhante ao de uma criança. É interessante pensar que uma alma tão gentil poderia estar no meio do grupo de quatro apóstolos como Simão, o zelote. No entanto, o Senhor poderia pode usar os dois tipos de pessoas. Os zelotes podem transformar-se em grandes pregadores. Mas almas gentis, doces, compassivas e meigas, como Judas Tadeu, também podem.

O Novo Testamento registra um episódio envolvendo Judas Tadeu. Em João 14.21 Jesus diz: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele”. 

Então, João acrescenta: “Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-se a nós e não ao mundo?” (v.22). Ou, “Por que o Senhor vai se revelar somente a nós, e não ao mundo em geral? (NVT). Ele não diz nada ousado, impetuoso ou excessivamente confiante. Sua pergunta é cheia de brandura e humildade, e desprovida de qualquer orgulho. Ele não pode crer que Jesus iria manifestar-se a esse grupo de onze homens da ralé e não o faria ao mundo todo.

 Afinal, Jesus era o salvador do mundo. Era o herdeiro legitimo da terra, rei dos reis e Senhor dos Senhores. Todos eles haviam partido do pressuposto de que ele havia vindo para fundar o seu reino e subjugar todas as coisas debaixo de si. As boas novas do perdão e salvação certamente eram boas novas para todo mundo. Assim, Judas Tadeu queria saber: Por que você vai se revelar a nós e não ao mundo todo?

Jesus lhe deu uma resposta maravilhosa, que foi tão cheia de ternura quanto a pergunta. “Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e eu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada”. Cristo iria manifestar-se a qualquer um que o amasse.

Judas Tadeu ainda estava pensando em termos políticos e materiais: “Como você ainda não dominou o mundo? Por que você não se manifesta para o mundo?” A resposta de Jesus é significativa: “Não vou assumir o controle do mundo exteriormente; vou dominar corações, um de cada vez. Se alguém me ama, vou manter minha palavra. Juntos , meu Pai e Eu vamos estabelecer o reino em seu coração”.

Conclusão:

A maioria das tradições sugerem que Judas Tadeu levou o evangelho para o Norte, para Edessa, uma cidade real na Mesopotamia, na atual região da Turquia. Existem diversos relatos antigos sobre como ele curou o rei de Edessa, um homem chamado Abgar.

O símbolo tradicional de Judas Tadeu é uma clava, pois diz a tradição que, por causa de sua fé, ele foi espancado até a morte com uma clava. 



 

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