Natanael, o apostolo sem dolo – Jo 1.45-51
Introdução
Natanael, o companheiro mais chegado de Filipe, aparece nas
quatro listas dos doze como Bartolomeu. Bartolomeu é um sobrenome hebraico que
significa “filho de Tolmai”. Natanael quer dizer “Deus deu”. Assim, ele é
Natanael, filho de Tolmai ou Natanael Bar-Tolmai.
Os evangelhos não contêm detalhes sobre a origem, o caráter,
ou a personalidade de Natanael. O evangelho de João mostra Natanael em apenas
duas passagens: João 1, que traz o relato de seu chamado, e João 21.2, onde
indica-se que ele foi um dos que voltou para a Galileia e foi pescar com Pedro
depois da ressurreição de Jesus. Portanto, Pedro, André, Tiago, João, Filipe e
Natanael e Tomé, eram pescadores.
Então, de acordo com João 21.2, Natanael era da pequena
cidade de Caná da Galiléia, lugar em que Jesus realizou seu primeiro milagre ao
transformar agua em vinho (Jo 2). Caná ficava bem próxima de Nazaré, a cidade
onde Jesus se criou. Ele foi levado até Jesus, após o encontro de Filipe com
Jesus. Assim, como André conduziu Pedro a Jesus, Filipe conduziu Natanael a
Jesus. De acordo com Joao 1.45: “Então, Filipe encontrou Natanael”. Filipe era próximo
de Natanael e sabia do anseio do coração do amigo: o Messias.
1)
Amor
pelas escrituras
“Filipe encontrou a Natanael e disse-lhe: Achamos aquele de
quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas” (Jo 1.45). Com
toda certeza Natanael ficaria curioso com a noticia de que Jesus era Aquele
sobre o qual Moisés e os profetas Haviam falado nas escrituras. “O Senhor,
suscitará um profeta como eu no meio de ti, dentre teus próprios irmãos; e a
ele ouvireis” (Dt 18.15).
Isso provavelmente indica que Natanael e Filipe estudavam o
Antigo Testamento juntos. Talvez, tenham ido juntos ao deserto para ouvir João
Batista. Possuíam um interesse comum pelo cumprimento da profecia do Velho
Testamento. Filipe sabia que a noticia sobre Jesus iria empolgar Natanael.
Observe que Filipe não disse: “Encontrei um homem que tem um plano maravilhoso para a sua vida!”. Também, não disse: “Encontrei um homem que resolverá as suas dificuldades pessoais e conjugais e dará sentido à sua vida”. Não apelou para Natanael tomando por base como Jesus tornaria melhor a vida dele. Mas, Filipe falou de Jesus como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, pois sabia que Natanael estudava com avidez as escrituras.
Portanto, Natanael sabia o que dizia as escrituras, de modo
que, quando viu seu cumprimento, ele o reconheceu. Ele sabia sobre Aquele a
respeito do qual Moisés e os profetas haviam escrito e reconheceu Jesus como o
cumprimento das escrituras. “Examinam as escrituras...elas de mim testificam”
(Jo 5.39). Filipe lhe disse: “É Jesus, o Nazareno, filho de José”. Jesus era um
nome comum – no aramaico, Y shua. Trata-se do mesmo nome traduzido como “Josué”.
Seu significado expressivo é “Deus é salvação”; ou, “ele salvará o seu povo dos
pecados deles” (Mt 1.21).
2)
Preconceito
O v.46 nos revela um pouco mais do caráter de Natanael. Não obstante, seu estudo meticuloso das escrituras, sua fidelidade e sua devoção a Deus, ele era humano. Eis sua resposta: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa”.
Ele poderia ter dito: “De acordo com que li no Antigo
Testamento o profeta Miquéias diz que o Messias virá de Belém (Mq 5.2) e não de
Nazaré”. “Mas Filipe, o Messias é identificado com Jerusalém pois irá reinar lá”.
Contudo, do fundo do seu preconceito vêm as palavras que escolheu “De Nazaré
pode vir alguma coisa boa”.
Por quê tanto preconceito? Afinal, Caná não era uma cidade de
muito prestigio! Era uma cidade fora de mão, enquanto Nazaré pelo menos ficava
numa intersecção de estradas. Para irem do Mediterrâneo à Galiléia, as pessoas
passavam por Nazaré. Agora, ninguém jamais “passava” pela pequena Caná. Mas,
para muitos, Nazaré era uma cidade tosca, de uma cultura pouco requintada e
nada cortês. Então, ninguém esperava que qualquer coisa boa pudesse sair de lá.
Hoje em dia, muitos veem o cristianismo como Natanael via
Nazaré. O cristianismo era de Nazaré na época e continua sendo hoje. As pessoas
adorava desdenhar do cristianismo e suas afirmações acerca de quem é
Cristo, do que ele tem feito e do que pode fazer em seu favor. Gente que
se diz importante diz: “Ah, o cristianismo. Sei bem como é. Fui criado dentro
dele, percebi muito cedo que não era para mim e já tenho minha opinião
formada”. Portanto, Jesus continua sendo de Nazaré.
O que diferencia o cristianismo das demais religiões e formas de
pensamento é: todas as outras religiões dizem que, se quiser encontrar Deus, se
quiser se aperfeiçoar, se quiser ter uma consciência mais elevada, se quiser
conectar-se com o divino, não importa como ele seja definido, você tem DE FAZER
ALGUMA COISA. Tem de reunir suas forças, seguir as regras, libertar a mente
para então enchê-la e tem de ficar acima da média. ENQUANTO O
CRISTIANISMO diz: “Não, Jesus veio FAZER em seu lugar o que você não podia
fazer por si próprio”.
John Bunyan, em seu livro Guerra Santa, retrata as forças do
Messias vindo para trazer o evangelho à cidade da Alma Humana. Elas
concentraram seu ataque na entrada do ouvido, pois a fé vem pelo ouvir. Porém diabolôs
e suas forças, desejava manter Alma Humana cativa ao inferno. Assim, Diabolus
decidiu atacar colocando um guarda especial na entrada do ouvido. O guarda que
escolheu foi o velho Sr. Preconceito, um sujeito irado e de péssima disposição.
De acordo com Bunyan, fizeram do Sr. Preconceito capitão daquela porta e
colocaram sob o seu comando sessenta homens, chamados de homens surdos; homens
que apresentavam uma vantagem para aquele serviço, uma vez que não faziam caso
de nenhuma palavra dos capitães e nem dos soldados.
John Bunyan usou a imagem da surdez. O apostolo Paulo
empregou a metáfora da cegueira. “Mas, se o nosso evangelho ainda está
encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste
século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a
luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Co 4.3-4).
Ensurdecidos e Cegados pelo preconceito a verdade, não entenderam a mensagem. As
coisas ainda são assim nos dias de hoje.
Felizmente, seu preconceito não foi forte o suficiente para
impedi-lo de chegar a Cristo: “Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê” (v.46). Essa é a
forma de lidar com o preconceito: confrontá-lo com os fatos.
3)
Sinceridade
de coração
O mestre já conhecia Natanael. Ele “não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2.25). Jesus viu Natanael vindo em sua direção e disse sobre ele: “Eis um verdadeiro israelita em que não há dolo!” (Jo 1.47).
Essas palavras dizem muito sobre o caráter de Natanael. Desde
o principio, ele possuía um coração puro. Tinha imperfeições pecaminosas e seu
entendimento era prejudicado por certo grau de preconceito. No entanto, em seu
coração não havia má-fé. Ele não era hipócrita. Seu amor a Deus era sincero e
sem malicia. Jesus refere-se a ele como um “verdadeiro israelita”. A palavra
usada no texto grego é alethos, que significa “autentico, genuíno”.
Sua sinceridade era o que o definia como autentico israelita.
Grande parte dos israelitas do tempo de
Jesus não eram pessoas autenticas, e, sim hipócritas. Eram falsos. Em romanos
9.6-7 o apostolo Paulo diz: “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas;
nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos”. Em Romanos
2.28-29, ele escreve: Pois ser judeu exteriormente ou ser circuncidado não
torna ninguém judeu de fato. Judeu verdadeiro é quem o é no íntimo, e
circuncisão verdadeira é a do coração, feita pelo Espírito, e não pela letra da
lei, recebendo assim a aprovação de Deus, e não das pessoas”.
Conclusão: “Como o
Senhor sabe a meu respeito?”, perguntou Natanael. Jesus respondeu: “Vi você sob
a figueira antes que Filipe o chamasse” (v.48). Qual o significado dessa
figueira? É bem certo que fosse o lugar aonde Natanael ao para estudar e
meditar sobre as escrituras. Era uma espécie de recanto particular, ao ar
livre, ficar a sós.
Para Natanael, isso bastou: “Mestre, tú és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!” (v.49). Ao que Jesus respondeu: Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês? Pois maiores coisas do que estas verás. E acrescentou: Em verdade, em verdade, vos digo, que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem (Jo 1.50-51). Jacó teve um sonho no qual havia “uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela” (Gn 28.12). Jesus é a escada, o véu do templo foi rasgado, os nossos pecados foram perdoados.
A tradição nos diz que Natanael pregou o evangelho na Persia
e na India. Quanto a sua morte tem várias narrativas: diz que ele foi amarrado
dentro de um saco e lançado ao mar; e foi crucificado. Mas, que morreu
martirizado.
Site: https://www.isaltino.com.br/
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