Moisés: um instante de ira – Ex 32. 1-24
Introdução
O que é ira? É um sentimento que se apodera do nosso corpo e imediatamente nos impele a enfrentar, e até atacar, aqueles que contrariaram a nossa vontade e interferiram em nossa vida. O decálogo diz: “Não matarás”. O ato de não matar não é somente no que se tange ao ato literalmente de tirar a vida de uma pessoa, vai mais longe. É quando voce despreza, como Jesus disse em seu sermão do Monte: “...disser ao seu irmão Raca....de idiota estará sujeito ao fogo do inferno” (Mt 5.22).
1)
Fases da ira
Primeiro, a ira começa com
uma “leve irritação”. É uma sensação de mal-estar, provocado por alguma
situação pessoal no trabalho ou até mesmo na igreja, algum comentário feito
sobre voce, enfim, algo desagradável. Mas essa “leve irritação”, sutil
irritação, no primeiro momento não é tão desproporcional ou nociva. Mas essa “leve
irritação” pode crescer..
Segundo a ira se desencadeia
é uma “indignação”, que é um nível mais profundo, com mais intensidade. Indignação
é uma reação a algo que parece injusto ou ilógico, é uma afronta, repulsa,
revolta. Pode ser expressa de uma forma
violenta, como algumas vezes acontece em um campo de futebol, como uma entrada
maldosa, desleal.
Terceiro a ira se manifesta
na cólera. O dicionário diz que cólera é sentimento violento diante de
uma situação revoltante, furor, fúria, ímpeto. Segundo os psicólogos a cólera
numa deixa de se manifestar, ninguém retém a cólera. Quando a irritação atinge esse
nível, surge um forte desejo de se vingar, revidar, ou se defender, e não é possível
voltar atrás. A cólera tem muitas caras, e todas são feias.
Quarto a ira pode se transformar
em fúria. Nessa fase já existe um descontrole emocional, uma perda
temporária da sanidade. Não há sobriedade, razoabilidade, mas “grande exaltação
colérica, ímpeto de valentia, delírio, insanidade. Esses conflitos insanos
podem acontecer dentro de casa, no trânsito, na empresa...
Quinto elemento da ira é a raiva,
o nível mais intenso, mais profundo da ira. Não é mais uma “leve irritação”, e
muito menos “indignação”, e não é cólera, e muito menos fúria. Mas dominar de
tal modo o individuo que inspira atos brutais de violência, algumas vezes
praticados sem percepção consciente. Especialistas dizem que a pessoa
enraivecida pode cometer um crime sem quase se dar conta do que está fazendo;
psicologicamente, ela fica fora de si.
1)
A história de um homem irado
Ira assassina
“Sendo o menino já
grande, ela o trouxe à filha de Faraó, da qual passou ele a ser filho. Esta lhe
chamou Moisés, e disse: Porque das águas o tirei. Naqueles dias, sendo Moisés
já homem, saiu a seus irmãos, e viu os seus labores penosos; e viu que certo egípcio
espancava um hebreu, um de seu povo” (Ex 2.10-11).
Mas Moisés logo se indignou: “Olhou de uma e de outra banda, e vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio, e o escondeu na areia” (Ex 2.12). Estevão em seu sermão sobre Moisés, no livro de Atos, diz que “Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras” (Atos 7.22). Por esse texto que fala da escolaridade de Moisés mostra que a ira é muito mais profunda. Depois de ter matado o egípcio Moisés fugiu para o deserto e lá ficou por durante quarenta anos seguintes, sendo educado na escola do deserto...
Ira desnecessária
Moisés quando voltou ao Egito
teve nove encontros com Faraó, antes da última praga sobre os primogênitos. Quando
visitou Faraó no meio da nona e a décima praga, ele ficou violentamente irado
com o rei. Embora Deus tivesse falado a Moisés: “Vou endurecer o coração de
Faraó”, Moisés enfureceu-se com Faraó, diz o texto: “Ardendo em ira, Moisés
saiu da presença do faraó” (Ex 11.8).
O sangue de Moisés chegou ao ponto de fervura. Podemos dizer que Moisés estava sendo “fritado”. Moisés saiu daquele lugar na agonia da fúria. Mas Deus já falara: “Olhe, vou endurecer o coração de Faraó. Não precisa ficar com raiva dele. Tudo o que tem de fazer é dizer-lhe: Homem, voce está condenado. Não tem outra saída, senão deixar libertar meu povo”.
Ira destrutiva
Quando o povo estava caminhando
pelo deserto do Sinai e chegando definitivamente ao Monte Sinai. Moisés subira
a montanha para receber as tabuas da lei das mãos do Senhor. Lá ficou durante
quarenta dias e quarenta noite recebendo os dez mandamentos e as instruções do
Senhor. Mas o povo que ficara à sombra do Sinai se cansou de esperar. O povo
começou a ficar inquieto com sua ausência e finalmente resolveu: “Vamos
fazer um bezerro de ouro e adorá-lo” (Ex 32.1-2). Na adoração ao besouro, o
povo começou a dançar e cometer obscenidade na frente do seu novo ídolo.
“E, voltando-se, desceu
Moisés do monte com as duas tábuas do Testemunho na mão; tábuas escritas de
ambas as bandas; de uma e de outra banda estavam escritas. As tábuas eram obra
de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas”
(Ex 32.15-16). São os dez mandamentos escritos pelo Deus de Deus, do Todo-Poderoso,
eram os documentos mais preciosos que o homem já tivera em sua posse.
Quando desceu do Sinai com as tábuas, viu o povo dançando diante do bezerro de ouro. E sua velha ira se inflamou-se. “Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se lhe a ira...” (Ex 32.19). No caso como esse não é pecado sentir ira, uma “ira justa”, todos nós sentimos quando vemos o nome de Deus desonrado, como Davi sentir ira diante de Golias. Mas, Moisés foi além disso, ele pegou os preciosos documentos de Deus e, num momento de fúria “...jogou as tábuas de pedra no chão e as despedaçou ao pé do monte” (Ex 32.19 NVT).
Aqui vemos um homem de temperamento fora do controle, sem autodomínio. Não tem como justificar o comportamento de Moisés, Deus não aprovou a atitude dele. Quando Deus lhe entregou a lei pela segunda vez, diz o texto: “Lavra duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nelas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste” (Ex 34.1). Não somente quebrou as tábuas da lei, como reduziu o bezerro de ouro em pó e obrigou o povo a tomar aquele liquido.
Ira rebelde
Agora o povo se achava na fronteira de Canaã. O povo já tinha peregrinado por um ano e quatro meses anos e se queixado a cada passo do caminho. Quando, finalmente, chegou perto da terra prometida, em Cades Barnéia, o povo recusou entrar por incredulidade. Eles não acreditavam que Deus poderia dar-lhes força suficiente para vencer os inimigos e derrotar os filhos dos enaques, homens gigantes. Como resultado dessa obediência, Deus disse a eles: “Toda essa geração vai morrer; nenhum dos adultos entrará na terra; exceto Calebe e Josué. Não vou enviar nenhum de vocês da antiga geração, porque não creram no meu poder” (Nm 14.23-24).
Agora, trinta e nove anos
depois, novamente estão em Cades Barnéia, no mesmo local onde murmuraram,
queixaram contra o Senhor e Moisés. Diz o texto: “...não havia agua para o
povo tomar: então se ajuntaram contra Moisés e Arão” (Nm 20.2). A mesma
conversa de quarenta anos, a mesma ladainha: “Porque nos trouxeste a este
deserto, para morrermos aqui, nós e os nossos animais. E porque nos fizeste subir
do Egito...” (Nm20. 3-5). É sempre o mesmo refrão, a mesma lamúria, a mesma
queixa, como se fossem dignos de pena...
Então Deus diz a Moisés: “...toma
a vara, ajunta o povo, tu e Arão, teu irmão, e, diante dele, falai à rocha, e
darás sua água; assim lhes tirareis água da rocha, e dareis a beber à
congregação e aos seus animais” (Nm 20.8). Não havia nada de complexo
nessas instruções. Ou seja, toma a vara, vai até a rocha, fala com a rocha e
deixa o resto por minha conta. No entanto, Moisés estava furioso, bravo,
sanguinário. Então, ele toma a vara, como ordenado pelo Senhor, vai até a rocha,
mas por causa da sua ira, veja o que aconteceu:
“Então Moisés tomou a
vara de diante do Senhor, como lhe tinha ordenado...ouvi, agora, rebeldes,
porventura faremos sair água desta rocha para vós outros? (Ex 20.10). Deus
não lhe falou para fazer nenhum discurso, mas Moisés estava transbordando de
ira, de hostilidade, de pavio curto. Aliás, quando foi que Moisés tirou água da
rocha? Não foi Deus, o poder de Deus, que fez com que o milagre acontecesse!
Deus lhe dissera para falar à rocha. Moisés a feriu, não uma, mas duas vezes. “Voces pensam que vamos dar-lhes água, seus insubordinados? Sonhem então!”. Ele bate na rocha duas vezes e as escrituras dizem: “saíram muitas águas; e bebeu a congregação e seus animais” (Nm 20.11).
Conclusão
Por causa da sua desobediência Deus diz a Moisés e a Arão: “Como vocês não confiaram em mim para honrar minha santidade diante dos filhos de Israel, por isso vocês não conduziram este povo para a terra que lhes dei” (Números 20:12). Somente permitiu que subisse ao Monte Nebo, defronte com Jericó para espiar a terra (Dt 34.1).
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