terça-feira, 4 de março de 2025

 Moisés: um nascimento fora de tempo. Ex 2.1-10 

Introdução

A expressão “fora de tempo” está em 1 Corintios 15.8, quando o apostolo Paulo refere-se a si mesmo como não digno de ser chamado apostolo de Cristo. O que podemos dizer sobre Moisés? Ele viveu ao todo cento e vinte anos. Seus primeiros quarenta anos viveu no Egito, sendo cuidado pela filha de Faraó e aprendendo nas escolas egípcias. Depois, passou seu segundo ciclo de quarenta anos no deserto, como pastor de ovelhas, vivendo na solidão e sendo trabalhado por Deus. Por fim, seus últimos quarenta anos passou no deserto com o povo judeu, alimentado pelas provações, desanimo e testes, ensinado pela lei que recebeu das mãos do próprio Deus.

O evangelista D.L. Moddy fez o seguinte comentário sobre as fases da vida de Moisés: “Moisés passou seus primeiros quarenta anos pensando que era alguém. Os seus quarenta anos no deserto passou aprendendo que era ninguém! Os últimos quarenta anos, ele os passou descobrindo o que Deus pode fazer com um ninguém”. Ou, pensamos que somos alguém, ou avançamos o suficiente para compreender que não somos ninguém, ou finalmente descobrimos o que Deus pode fazer com um ninguém!” Deus nunca desiste de nós... 

1)     Nascimento

Moisés nasceu em um tempo de perseguição, seu povo era estrangeiro na terra de Faraó, o seu povo vivia debaixo da escravidão construindo celeiros  e sofria horrivelmente sob os golpes da chibata “...em tudo os egípcios os sujeitavam a cruel escravidão” (Ex 1.14). Muitos judeus foram assassinados por Faraó e o pior: Faraó mandou matar todas os meninos que nascessem, todos deveriam ser jogados no rio Nilo (Ex 1.22). 

Nos primeiros versículos do capitulo 2 de Exôdo, lemos a respeito de um casamento celebrado sob essas condições difíceis, penosas: “Foi-se um homem da casa de Levi e casou com uma descendente de Levi. E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que era formoso, escondeu-o por três meses” (Ex 2.1-2). No livro de Hebreus, na galeria dos heróis da fé, lemos: “...Moisés...foi ocultado por seus pais, durante tres meses, porque viram que a criança era formosa...” (hb 11.23). 

Moisés não era o primogênito. Ele tinha uma irmã mais velha, Miriã, ainda menina, e um irmão mais velho chamado Arão, três anos mais velho. Os pais de Moisés se chamavam Anrão e Joquebede – eles esconderam seu terceiro filho por três meses ao verem que era um “menino formoso” (Ex 2.2). Não somente bonito fisicamente, mas tiveram um discernimento que aquele menino teria um destino especial...

Diante do decreto de Faraó e a busca constante dos egípcios por crianças do sexo masculino, os pais de Moisés chegaram a uma terrível conclusão: não podiam mais manter o segredo. Tinham de fazer algo. Naquele momento de agonia, desespero, tristeza, Joquebede inventou um plano criativo: “Quando não podia mais escondê-lo, pegou um cesto feito de papiro e vedou com betume e piche. Colocou nele o menino e deixou o cesto entre os juncos, à margem do Nilo” (Ex 2.3). 

Primeiro, ela pegou folhas de papiro as margens do Rio Nilo e fez um cesto. Depois, preparou uma parecida com betume, também achada as margens do Nilo e piche, tornando-o impermeável. O que percebemos nas entrelinhas do texto é que Joquebede não soltou o cesto nas correntezas do Rio Nilo, mas “colocou nele o menino e deixou o cesto entre os juncos, à margem do Nilo” (Ex 2.3).

Encontramos aqui uma mulher com grande fé em Deus. Não uma fé insensata, mas uma fé cheia de discernimento. Ela sabia o que estava fazendo. Joquebede conhecia os hábitos da filha de faraó, sabia que num certo lugar, numa determinada hora, a princesa ia banhar-se no rio. E se pusesse o cesto no lugar certo, na ocasião certa, a princesa e as suas criadas a veriam, ou pelos menos ouviriam o choro do bebê. E foi precisamente isso o que aconteceu...

“Sua irmã ficou de longe, para observar o que lhe haveria de suceder. Desceu a filha de Faraó para se banhar no rio, e as suas donzelas passeavam pela beiro do rio...” (Ex 2.4,5). É bem certo que Joquebede ensaiou várias vezes todo o plano com Miriã – onde ela ficaria, como agiria e o que diria. Podemos até ouvir a voz de Joquebede: “Faça parecer uma surpresa, Miriã. Algo espontâneo.  Voce pode fazer isso. Sei que pode. E estarei esperando. Estarei bem ali, pronta para aparecer....”.

E o texto diz: “A filha do rei do Egito foi até o rio e estava tomando banho enquanto as suas empregadas passeavam ali pela margem. De repente, ela viu a cesta no meio da moita de juncos e mandou que uma de suas escravas fosse busca-la” (Ex 2.5 NTLH). Imagina o coração da mãe nesse momento? Como poderia saber o que faria a mulher egípcia? Mas “Abrindo-o viu a criança; eis que o menino chorava. Teve compaixão dele, e disse: Este é menino dos hebreus” (Ex 2.6).

A próxima cena entra Miriã: “Então disse sua irmã à filha de Faraó: queres que eu vá chamar uma das hebreias que sirva de ama, e te crie a criança?” Ex 2.7). Ela fez tudo de acordo com o plano de sua mãe. Logo, Joquebede é chamada ao encontro da princesa, mas tinha que manter-se calma, sem chamar atenção: “Então lhe disse a filha de Faraó: Leva este menino, e cria-mo; pagar-te-ei o teu salário. A mulher tomou o menino, e o criou” (Ex 2.9). 

Portanto, o planejamento é essencial. Alguns estão desempregados e falam: “Estou esperando no Senhor para conseguir um emprego”. Como assim? Já levou o currículo? Ele responde: “Olhe, não faz isso. Estou apenas esperando em Deus. Mas, confiar em Deus não significa tornar-se desmazelado, preguiçoso, esperando tudo na mão.

Susanna Wesley, deu à luz dezenove filhos. Pode imaginar como seria sustentar e educar tantos filhos? O décimo quinto filho nascido nesse lar foi um garoto chamado John Wesley; o filho caçula chamado Charles, escreveu mais de oito mil hinos. No auge de sua carreira, Charles declarou que devia muito à fé e ao exemplo de sua mãe. Ela aplicava vinte e um princípios na educação dos filhos e filhas. Este é um deles: “Quando meu filho faz um ano, ensino a temer a vara e a chorar baixinho...”. 

2)     No palácio

“Sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, da qual passou ele a ser filho. Essa lhe chamou Moisés, e disse: “Porque das águas o tirei” (Ex 2.10). Ou seja, Joquebede manteve o menino em sua companhia até três ou quatro anos. Pela graça de Deus, Moisés permaneceu com sua família tempo suficiente para firmar suas raízes e aprender sobre Abraão, Isaque e Jacó. Durante a idade mais importante, ele ficou com a sua mãe. 

Os anos pré-escolares são ímpares, anos irrecuperáveis e cruciais da vida e do desenvolvimento do filho. Se a mãe precisar trabalhar, que trabalhe o mínimo de horas possível e certifique-se de que seu filho esteja recebendo o melhor cuidado que alguém lhe possa dar. Porque esses anos são preciosos e oportunos.

A filha de Faraó lhe chamou de Moisés: “Porque das águas o tirei”. Agora, Moisés ganhou um lar novo, uma casa nova. Que mudança! Do alojamento de escravo para o palácio; da segurança familiar para um local solitário e desconhecido. Com certeza, foram anos difíceis, solitários, para o jovem Moisés. Embora no palácio tinha lençóis de linho reais, mas sem o toque da mãe que lhe amamentou, as palavras de conforto do Pai, o sorriso da irmã ou as brincadeiras do irmão Arão.

Conclusão

Quando nos recordamos da nossa infância, das dificuldades, parece que nascemos fora de tempo. Muitos nasceram agasalhados, amados, cuidados, dentro de um lar, uma casa. Mas, outros nasceram em tempos de guerra, ou, em tempos de luto, de perdas e de necessidade material. Uma moça cresceu morando em várias casas, morando de favor, por falta de pai e mãe, ou uma família.

Quantos jovens afirmam: “Meus pais me disseram que eu fui um acidente”. Sim, não estava planejado, esperado. Contudo, mesmo que tenha passado por sofrimento, abuso sexual e insegurança desde os seus primeiros dias de vida. Mas você não foi um acidente e nunca será. O profeta Isaias afirma: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti.  Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei; os teus muros estão continuamente diante de mim” (Is 49.15).


 

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