Moisés e a sarça ardente Ex 3.1-14
Introdução
Há um provérbio do século XIX que tem sido citado em várias
ocasiões, que é: “O pássaro com asa quebrada nunca mais voará tão alto”.
Isto é, uma vez que voce tenha falhado, jamais conseguirá atingir as alturas como
fez antes. Mas será que esse ditado é verdadeiro? Senão, vejamos: Veja Abraão,
que mentiu duas vezes para salvar sua pele, mas depois tornou-se amigo de Deus
e voou mais alto que havia voado antes. E, Jacó, aquele que “segura o
calcanhar”, depois de ter errado com seu pai e seu irmão, teve um encontro com
Deus e tornou-se “príncipe de Deus”. E Raabe, uma prostituta de Jericó, depois
de esconder os espias tornou-se parte do povo de Deus. Poderia citar o caso de
João Marcos, primo de Barnabé, o apostolo Pedro que negou Jesus por três vezes,
enfim, esse ditado não se sustenta.
1)
Certo
dia...
“Certo dia, Moisés estava cuidando do rebanho de seu sogro, Jetro, sacerdote de Midiã. Ele levou o rebanho para o deserto e chegou a Sinai, o monte de Deus” (Ex 3.1).
Durante quarenta anos, Moisés apascentou o rebanho do seu sogro. E, durante quarenta anos, não temos informação de Deus ter falado com Moisés uma vez sequer. Mas, naquele dia, ou “certo dia”, amanheceu como igual aos demais dias, nada de diferente. Aliás, na noite seguinte, Moisés não tivera nem um sonho profético, ou uma visão noturna, nenhum sinal. É assim que Deus opera, sem o menor sinal de advertência, Ele fala as pessoas comuns, em dias comuns.
Nossa lição da escola dominical “Os milagres de Jesus” fala
do primeiro sinal de Jesus, ou seja, transformar agua em vinho, um gesto
magnifico que aconteceu numa festa de casamento. E nos pergunta: Será que
enxergamos o agir maravilhoso de Jesus em nosso dia a dia? Sim, pode ser no
ônibus do trabalho ou Van, no hospital, no serviço, ou pode ser na escola, ou
na faculdade, ou dentro de casa lavando louça, ou arrumando a casa. Enfim, Deus
ele ainda fala... Moisés estava levando o rebanho para apascentar no Monte
Sinai...
Olha o que Palavra de Deus diz sobre a vinda de Jesus: “Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto assim como nos dias anteriores ao diluvio comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o diluvio e os levou a todos...” (Mt 24.37-39). Será num dia comum, as pessoas estarão se casando e sendo sepultadas. Sim, viveremos nossas vidas, assistindo os noticiários, indo ao supermercado, ou na farmácia. De repente “...surgirá no céu o sinal do Filho do Homem, e todos os povos da terra prantearão e verão o Filho do homem chegando nas nuvens do céu com poder e majestosa gloria” (Mt 24.30).
2)
Uma
sarça ardente
“Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia” (Ex 3.2). Sim, uma sarça do deserto, no hebraico é “arbusto espinhoso”, no deserto de Midiã havia milhares espalhadas. No entanto, o texto diz que o anjo do Senhor apareceu a Moisés em meio à sarça. Ou seja, a sarça não estava ardendo “...embora a sarça estivesse em chamas, mas não era consumida pelo fogo”. O fogo não estava queimando a sarça. E o fogo chamou a atenção de Moisés, o fogo na sarça...
O que fazer? O versículo 2 nos diz que Moisés fez duas
coisas: Primeiro, olhou; segundo, disse algo para si mesmo. Não é todo dia que
vemos sarça se incendiar sem que se consuma! O normal é por causa do calor do
deserto, uma sarça se consumia pelo fogo em alguns segundos. Mas Moisés pensou:
“Que coisa esquisita! A sarça não era estranha, e sim o fogo. Ele ardia, mas
não consumia a sarça.
E o profeta Elias numa caverna no Monte Sinai, depois de ter viajado quarenta dias e quarenta noites? Veio um “...vento muito forte, que fendeu os morros e partiu as rochas em pedaços. Contudo, Yawheh não estava no vento...ocorreu um forte terremoto, porém o Senhor não estava no tremor das terras...caiu um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. E depois do vento veio um sussurro de brisa suave e tranquilo...” (1 Rs 19.11-12). Elias percebeu que o Senhor estava no sussurro da brisa suave “Quando Elias o ouviu, cobriu o rosto com seu manto...(1 Rs 19.13 VFL).
As coisas não acontecem ao acaso, ou acontecem apenas. Nosso
universo não é algo feito de uma grande explosão, não, foi feito por Deus, Bereshit
“No princípio criou Deus os céus e a terra”, além de ter criado os céus,
criou a natureza, criou o mundo e criou homem e a mulher a sua imagem e
semelhança (Gn 1). Existe um plano preparado por Deus para este mundo, que
inclui um plano específico para você. Em todo dia comum e em todo momento
extraordinário há um Deus que o procura constantemente.
3)
O
que fazer?
“Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou, e disse: “Moisés! Moisés! Ele respondeu: eis-me aqui!” (Ex 3.4). Observe a primeira palavra “vendo” que significa “irei para lá” (v.3). Ou seja, Moisés interrompeu seu movimento, deixou suas responsabilidades de lado por alguns instantes e seguiu em outra direção. Ele se moveu rumo ao evento que atraíra sua atenção. Moisés disse: “Que coisa espantosa! Por que o fogo não consome o arbusto? Preciso ver isso de perto” (Ex 3.3).
As sarças ardem, os aviões caem, carros capotam e colidem, salvos
de um afogamento, pessoas são curadas de enfermidades, vidas são tomadas e
poupadas e acontecimentos estranhos passam na paisagem da nossa vida, como as
sombras das nuvens sopradas pelo vento. O que a maioria das pessoas faz então? Encolhe
os ombros, considerando tudo coincidência. Tudo normal, como se nada tivesse
acontecido. Se ouvir uma voz falar, estão ocupadas demais para prestar
atenção...Há coisas mais importantes para fazer.
Somente quando Moises se virou que Deus finalmente falou. Então, Moisés ouviu uma voz saindo do meio da sarça: “Moisés! Moisés!” Sabe o que ele respondeu? Na língua original temos duas respostas que se equivalem: “eis-me aqui”, ou “sou eu”. Sim, depois de quarenta anos no deserto e na obscuridade, depois de quarenta anos na escola do deserto, Moisés, tornara-se um NINGUÉM, antes achava que era alguém! Quando o chamado finalmente chega, sua resposta é um sereno e relutante: “Eis-me aqui”.
“Vendo o Senhor que ele se voltava para ver...” e o versículo
5 diz: “Não se aproxime mais”, O Senhor advertiu. Tire as sandálias,
pois voce está pisando em terra santa” (Ex 3.5). Aqui, Moisés, é necessário que
remova suas sandálias. Por quê? “Pois o lugar em que voce está é terra santa”
(Ex 3.5). O termo “santo” significa “diferente”, ou “separado”. Deus não é semelhante
a nós, pecadores. Ele é santo, glorioso, majestoso, verdadeiro. Então Deus lhe
diz: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus
de Jacó. Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus”. (Ex 3.6). Eu
sou o Deus de promessa, que cumpre sua promessa com o seu povo...
“Quando Moisés ouviu isso, cobriu o rosto, porque teve medo de olhar para Deus” (Ex 3.6). Moisés escondeu o rosto enrugado, queimado do sol do deserto. Ali, diante daquela voz, se sentia humilhado, indigno, tão preso no emaranhado do passado. Mas era precisamente assim que Deus o queria, porque esse é exatamente o tipo de pessoa que Deus pode usar. Moisés ficou atônito diante da face do Senhor, diante da sua glória, ele escondeu o seu rosto. Até mesmo os serafins que não tem pecado algum, cobrem o rosto na presença de Deus (Is 6.2).
Moisés, meu povo está sofrendo no Egito e Deus lhe diz: “Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito” (Ex 3.10). Deus está lhe chamando, Ele está ordenando. Mas Moisés, como muitos de nós, respondeu: “Quem sou eu para me apresentar ao faraó? Quem sou eu para tirar o povo de Israel do Egito?” (Ex 3.11). Ele sente inadequado em razão de sua fraqueza (“quem sou eu”), do poder do Faraó (“para ir ao Faraó”) e do tamanho da tarefa (“e tirar os israelitas do Egito”).
Quem sou eu? Sou como Jeremias que diante da chamada de Deus,
respondeu: “Eu não passo de uma criança”. Quem sou eu? Sou como Jonas, ao invés
de ir para Nínive, faço meu caminho para Társis. Quem sou? Sou como o profeta
Ezequiel, diante do chamado de Deus, dobrei-me, com o rosto ao pó da terra.
Quem sou eu? Sou como Gideão, escondido e malhando o trigo no lagar, com medo
dos midianitas. Quem sou eu? Sou como Moisés que justificando afirmou que nunca
teve facilidade para falar, nem no passado, nem agora...
“Quem sou eu?” E a
resposta de Deus é: “estarei com você” (v.12). Deus está dizendo a
Moisés que sua identidade está ligada à identidade de Deus. Moisés pergunta: “Quem
sou eu para ir a Faraó?” Mas, Deus diz: “Estarei com você”. Deus é
quem faz a diferença.
Moisés diz: “Quem sou eu?” E
Deus afirma: “Estarei com você”. O que nos leva à pergunta: Quem é Deus?
Quem é o “eu” que estará com Moisés? “Suponhamos que eu vá aos
israelitas e lhes diga: O Deus de seus pais me enviou a vocês, e eles
perguntarem: Qual é o nome dele? Que lhes direi?” Portanto, Deus revela
seu nome a Moisés: “Eu sou o que sou. É isso que você deve dizer aos
israelitas: Eu sou me enviou a vocês” (Ex 3.14).
No versículo 15, “Eu sou
o que sou” revela seu nome: “O Senhor”. Esse é o termo “YHWH” ou com as
vogais “YAHWEH”, esse termo é usado 6700 vezes no Antigo Testamento, enquanto
que “Elohim” aparece 2500 ocorrências no Antigo Testamento. “Eu sou o que
sou”, pode ser traduzida das seguintes formas:
“Eu sempre fui quem eu sempre fui”. O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó (Ex 3.6), sempre agirá de forma coerente com seu histórico. É o mesmo Deus que apareceu para Abraão em Ur dos Caldeus, é o mesmo Deus de Isaque, o mesmo Deus de Jacó, o mesmo Deus de José. É o Deus da aliança.
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