Passando pela noite escura – Jó 1.12-21
“Tendes ouvido da paciência de Jó” (Tg
5:11). Ao fazer uso do termo grego, hupomone, Tiago estava dizendo, na verdade:
“Vocês ouviram falar do homem que ficou
firme, suportando o fardo”. As perdas de Jó o golpearam como uma carga de
tijolos de duas toneladas. O homem permaneceu firme apesar dos golpes após golpes
que recebeu. Seu nome tornou-se um exemplo de perseverança heroica. Jó é uma
inspiração para pais e mães que perderam seus filhos; para pacientes internados
em hospitais; para pessoas que faliram e não perderam a esperança, ou a paciência.
Embora Jó não sabia do por quê do seu sofrimento, teve paciência. Jó não sabia do enredo, do que acontecera antes, da conversa entre Deus e Satanás. Deus testificou de Jó: “Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém como ele, irrepreensível, integro, homem que teme a Deus e evita o mal” (Jó 1.8). Satanás acredita que todo ser humano tem preço, é vendido por algo. Então, ele diz a Deus: “Então, o Senhor acha que Jó é assim por pura bondade de coração? O Senhor o mima como se fosse uma criança, cuida de tudo para que nada de mal aconteça a ele, à sua família ou à sua riqueza e ainda abençoa em tudo que ele faz! Desse modo, quem não seria fiel?” (Jó 1.9-10 – A mensagem).
E,
por fim, Satanás desafia: “Mas o que
aconteceria se tirasse tudo o que ele tem? Com certeza, ele amaldiçoaria o Senhor
abertamente. Sem sombra de dúvida” (Jó 1.11 A Mensagem).
1) Noites difíceis
O Senhor disse a
Satanás: "Pois bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não
encoste um dedo nele". Então Satanás saiu da presença do Senhor. (Jó
1.12). Preste
atenção no ponto critico do relato bíblico: “Satanás saiu”. Ele não perdeu
tempo: “Sucedeu”, “Certo dia”. Depois de algum tempo “os filhos e as filhas de Jó estavam num
banquete ...na casa do irmão mais velho”. Jó está em casa, com certeza,
orando pelos seus filhos, levantando altar em favor de suas vidas. Talvez Jó
estivesse preocupado com o seu filho mais velho, primogênito. Parecia um dia
comum. Um dia como os demais. Um sol lindo, uma brisa soprando calmamente. Mas,
o reino espiritual começara a se mexer...
Enquanto ele ainda falava, outro mensageiro entra em cena.
Sem hesitação, grita: “Raios caíram do
céu e fulminaram as ovelhas e os pastores. Fui o único sobrevivente para contar
o que aconteceu” (Jó 1. 16 A Mensagem). Eram sete mil ovelhas. Um outro o
empurra, agarrando a manga de Jó: “Amo,
o senhor não acreditaria, mas três grupos de caldeus invadiram a área em que estávamos
preparando os camelos para a próxima viagem... Eles levaram todos os seus
camelos, e antes de partir assassinaram cada um dos seus servos. Só eu escapei”
(Jó 1.17). Eram três mil camelos...
Os caldeus eram habitantes ferozes e saqueadores da Mesopotâmia, eram cruéis. Sabe-se que esse povo se misturou a árabes vagabundos e, com eles, viviam do saque e do assassinato.
Enquanto Jó procurava recuperar o ânimo, ele deve ter certa mente
pensado: “Pelo menos tenho meus filhos.”
Esse pensamento fora, no entanto, interrompido por outro empregado, que entrou
de supetão, lutando com as lágrimas: “Seus
filhos estavam numa festa na casa do irmão mais velho quando um furacão veio do
deserto e destruiu a casa toda. Os jovens foram atingidos e morreram. Fui o único
sobrevivente para contar o que aconteceu” (Jó 1. 18-19). Eram 10 filhos, sete
homens e três mulheres...
O vento soprou no deserto, aparentemente atacando com a força de um tornado. O vento demoliu tudo em seu caminho, incluindo a casa na qual os filhos de Jó se divertiam. O tornado foi satanicamente orientado...
As pinturas de Gustavo Doré, de 1860, tenta retrata esse momento na vida de Jó. Ambas têm o título: “Jó ouvindo sobre a sua ruina”. Uma delas mostra o homem agoniado, com o antebraço e a palma da mão cobrindo os olhos. Sua boca está aberta, seu sofrimento é visível. Voce pode ouvir a noticia de que tudo se foi – inclusive os filhos. Tudo. Todos...
“Foi em um domingo, 7 de setembro de 1941, que bombas caíram sobre Pearl Harbor. Voce ora e uma criança morre! Voce participa da ceia do Senhor e, ao voltar para casa, recebe a noticia de alguém que se foi? Que espécie de mundo é esse?”
Quatro mensageiros, quatro cavaleiros do Apocalipse! Mas, o
maior perturbador foi o quarto cavaleiro. Perdeu todos os seus filhos amados
numa tempestade caprichosa, saída do nada, sem razão aparente. Pela primeira
vez, em 35 ou 40 anos, Jó e a mulher ficaram sozinhos, sem filhos. Além disso,
Deus ocultou daquele pai e daquela mãe o significado dessa situação imponderável.
Ele não deu explicações. Não ofereceu consolo. O céu estava em silêncio...
Esse é um momento de desespero, calamidade humana, em todos
os sentidos. Esta é a vida em sua maré baixa, o fim absoluto do caminho. O
único que está apreciando a cena é a criatura sobrenatural que a provocou.
Satanás e suas hostes demoníacas estão na beirada de seus assentos no império invisível
do mal, vigiando ansiosamente, esperando pelo veneno que sem dúvida jorrará dos
lábios daquele homem. “Ele não vai surportar isto sem amaldiçoar o seu Deus, o
homem mimado que é. Tomamos tudo dele, e não restou nada a que se agarrar...”
2)
Reação de Jó
Não sabemos como foi todo o processo de alimentação de todo o sofrimento. Deve ter sido muito difícil para Jó enterrar os dez filhos no mesmo dia. Depois de suportar golpes tão brutais, as palavras não têm grande proposito. Aliás, as tristezas de Jó não vieram uma de cada vez, mas em batalhões”. O homem talvez tenha ficado ao relento, sob as estrelas, até que o orvalho o molhasse. Finalmente, porém, falou. E quando o fez, que resposta notável!
O versículo 20 é composto de nove palavras no texto hebraico.
Essas palavras descrevem o que Jó fez, antes que o texto nos diga o que ele
disse. Cinco das nove palavras são verbos. Ao ler a Bíblia, sempre preste
atenção nos verbos. No versículo 20, temos 4 verbos: , “levantou-se”, “rasgou”,
“rapou”, “prostrou-se”...
Em primeiro lugar, Jó se ergueu do chão. Ele “se levantou”. O verbo seguinte nos diz
algo esquisito.
Ele “rasgou o seu manto”. O manto era uma peça de vestuário que se ajusta frouxamente ao corpo, como uma roupa usada por cima de outras; era a peça que o mantinha aquecido à noite. Rasgar o manto é um símbolo de tristeza profunda, luto profundo.
Lemos então o terceiro verbo: “Rapou a cabeça”. O cabelo é sempre representado nas Escrituras como
a gloria da pessoa, uma expressão do seu valor. Rapar a cabeça é, portanto, um símbolo
da perda da glória pessoal.
Seu quarto ato é cair
no chão, mostrando o seu sofrimento em nível aterrador. O verbo hebraico
significa “cair prostrado em completa submissão e adoração”. Estava com o rosto
no chão, deitado de comprido.
Satanás e os demônios ficaram boquiabertos, ao observarem um
homem que reagiu a todas as adversidades com adoração; que concluiu todos os
seus ais adorando. Nenhuma acusação. Nenhuma amargura. Nada de punhos cerrados
contra os céus, gritando: “Como ousas fazer isto comigo, depois de ter andado
contigo todos esses anos?” Nada disso.
Suas palavras foram estas: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor deu e o Senhor
tomou; bendito seja o nome do Senhor”. Isso diz tudo. NADA TEMOS AO NASCER, NADA TEMOS AO PARTIR. Tudo
o que possuímos nesse intervalo é dado pelo DOADOR da vida. Ou seja, “Aquele
que me deu vida e concedeu tudo por empréstimo durante a mesma decidiu (e tem
esse direito) tirar tudo. Não vou levar nada comigo de forma alguma. Bendito
seja o seu nome por esse empréstimo enquanto o tive. E bendito seja o seu nome
por decidir removê-lo”.
Tudo o que temos é Deus quem nos deu: nossa casa, nosso carro, nosso movéis, aliás, nossos filhos, tudo é Deus, tudo é dEle. Paulo afirma em sua carta: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.7,8).
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